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Apostar na educação como forma de emancipar o sujeito na perspectiva de construir uma sociedade mais humana e mais justa foi, sem dúvida, o eixo motor do caminho investigativo traçado na consciência de ser esta a finalidade social da escola. Um país que investe em educação e em políticas públicas que assegurem os direitos dos cidadãos tende a avançar para o desenvolvimento.

Nesse sentido, a escola, como instituição que se ocupa do ensino, enfrentou o desafio de reformular seu currículo e sua pedagogia, ante às crescentes mudanças sociais, reinventando as concepções e as formas de desenvolver a função de ensinar, na relação com a função de cuidar e de educar. Cabe à escola responsabilidades educacionais diversificadas, a exemplo do enfrentamento do desafio que hoje lhe é exigido, o de ampliar sua função junto aos sujeitos que educa. Isto, demanda assumir ações que devem ser tratadas coletivamente em cada nova situação da realidade, não de meros pacotes de normativas legais postos pelas políticas educacionais.

As mudanças sociais trazidas pelo modo capitalista de produção tornam crescente a necessidade de mais tempo na escola, tempo para brincar, para aprender, para se relacionar enquanto os pais trabalham. Amparadas pela LDBEN, como direito de cidadania, ela oportuniza educação pública gratuita a todos que dela necessitarem. Ante ao direito das crianças de terem acesso à cultura historicamente produzida pela humanidade, cabe a cada escola, junto e articuladamente com o seu sistema de ensino, empreender esforços para criar as condições mais adequadas para o favorecimento da criação e implementação de novos projetos curriculares e pedagógicos, que venham ao encontro das reais necessidades da cidadania que muito necessita de contar com uma educação pública de qualidade, para todos.

Desenvolver estudos e contar com contribuições da literatura é imprescindível, tal como Cavaliere (2002), na perspectiva de entender mais amplamente a responsabilidade e o compromisso como instituição educativa. Também contribuições de Arroyo (1988), a exemplo do entendimento da escola pública de tempo integral como importante aos trabalhadores em prol do crescimento na esfera humana, sócio/política/cultural, para além do mero tempo ampliado de permanência na escola.

Guará (2006) é outro exemplo, na concepção de educação integral, em que o sujeito está no centro do processo, compreendido em sua totalidade. Ao encontro de Gadotti (2009), na defesa da educação integral como integralidade, ou seja, em que o ensino das disciplinas não

acontece em separado da educação emocional e humana, vista como um todo, como formação da cidadania para um mundo melhor.

O projeto de Educação Integral ganha sentido segundo Moll (2008) a partir das muitas possibilidades que a escola é capaz de fazer em seus tempos, espaços e aprendizagens em parceria com os diferentes setores da sociedade. Para isso, ao tempo em que a escola começar a pensar na ampliação do tempo diário de permanência dos estudantes nela, é importante pensar na construção de uma proposta que priorize a educação integral, levando em conta que condições mínimas necessitam ser criadas para reconhecer e possibilitar o desenvolvimento pleno do sujeito com inserção numa sociedade em melhoria, vista como um todo. Isso implica entender e oportunizar condições para uma educação integral, como desenvolvimento humano/social.

Um projeto político pedagógico preocupado com a emancipação do sujeito vislumbra ações sustentáveis que tenham em foco o ser humano nas suas múltiplas dimensões (sociais, psíquicas, físicas, cognitivas, socioculturais) em prol de princípios éticos, culturais, estéticos fundados numa sociedade mais justa, solidária e consciente de suas responsabilidades socioambientais.

São complexas e desafiadoras as discussões que giram em torno dos entendimentos da perspectiva crítica do currículo em prol de uma educação e de um ensino capazes de promover a emancipação humana/social pela apropriação de um conhecimento escolar efetivamente transformador das condições concretas de existência de cada cidadão, para melhor. Contribuições de autores que tratam da perspectiva crítica de currículo, nesta dissertação, foram associadas com contribuições de autores que tratam da educação integral e de tempo integral com foco no (re)conhecimento da potencialidade da escola para promover o pleno desenvolvimento dos estudantes, na perspectiva da emancipação humano/social.

Ampliar o conhecimento sobre o currículo e a educação integral contribui nessa direção, sendo este um tema que se coloca como sistematicamente relevante e presente nos debates acerca das justificativas e razões que fundamentam o reconhecimento da finalidade da escola e da educação que se pretende assumir e desenvolver como válidas para a promoção da qualidade da vida socioambiental para todos. Tal como se entende na perspectiva crítica do currículo, ele constitui em meio a inerentes embates, tensionamentos, conflitos e estranhamentos, o que exige sistemáticos embates e discussões coletivas, muito estudo, persistência, ao longo de cada situação de enfrentamento dos dilemas e conflitos que se apresentam.

Nem sempre prevalecem os consensos entre os sujeitos que atuam no processo (professores, gestores, comunidade), mas muitas possibilidades iam se desdobrando em

processos de mudança da realidade cotidiana, pelo enfrentamento das dificuldades e desafios que acompanham o processo complexo e difícil por sua natureza. Cabe destacar, aqui, a relevância do permanente espírito coletivo para assumir o desenvolvimento da mudança curricular com seriedade, responsabilidade e comprometimento por parte de cada sujeito envolvido no processo, na imprescindível e constante relação de parceria entre a escola e a Secretaria Municipal de Ensino.

Foi a partir de tal adesão que a proposta da escola foi se aperfeiçoando no sentido de reforçar a importância de uma visão integral e integradora da humanização do homem, em que interdisciplinaridade é ponto de partida para a construção de um currículo ampliado, que compreende todas as áreas do conhecimento como sendo importantes ao desenvolvimento do sujeito cidadão capaz de contribuir para uma sociedade melhor, a partir de sua própria realidade sociocultural. Não se trata de ampliar o tempo como mera ampliação de listas de conteúdo, mas de instruir, cuidar e educar da vida, vista como um todo, sem nunca deixar de lado a vivência de situações reais que levam o sujeito cidadão a atribuir sentidos de valor ao que lhe é ensinado.

Assim, cabe referendar a importância e a necessidade de prosseguir desenvolvendo estudos como esse, com vistas a avançar no (re)conhecimento dos planejamentos, ações e investigações em prol da sistemática validação de saberes, proposições, práticas e considerações, seja na dimensão curricular ou pedagógica, no nosso amplo e vital campo da educação.

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