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Este trabalho procurou investigar a hipótese de convergência entre as unidades geográficas brasileiras. Procurou-se, por meio de diversas metodologias e abordagens, verificar a ocorrência de convergência, sua intensidade e seus condicionantes. A escassez de estatísticas padronizadas e desagregadas por estados ou municípios impede um aprofundamento da questão. O período utilizado neste trabalho, que compreende 30 anos, é, sem dúvida, heterogêneo. A década de 70 foi caracterizada pelo milagre econômico do regime militar. A década de 80 foi um período extremamente recessivo e politicamente instável com o processo de redemocratização do país. Os anos 90 caracterizaram-se pela consolidação da estabilidade política e pela superação do longo processo inflacionário. Essa heterogeneidade conjugada com o diminuto intervalo temporal estudado fazem com que as conclusões deste trabalho não sejam definitivas, e muito menos, consideradas como de longo prazo.

Por meio de regressões cross-section, propostas por Barro e Sala-i-Martin, verificou- se a inexistência do processo de convergência da renda per capita entre os estados brasileiros. A renda inicial, quando significativa, respondeu por parcela diminuta na explicação do crescimento econômico. Em relação aos municípios, embora todos os coeficientes estimados da renda inicial sejam estatisticamente negativos, o poder explicativo da variável também é bastante limitado e a velocidade de convergência é muita lenta, produzindo uma “meia-vida” de 99 anos. A análise temporal observou que a década de 80 foi um período de manutenção e aprofundamento das desigualdades regionais, tanto para estados como para municípios.

Demonstrou-se também que estados e municípios, quando divididos em duas macrorregiões: Norte e Nordeste (NO/NE) e Sudeste, Sul e Centro-Oeste (SE/SU/CO), encontram-se em forte processo de convergência, exceto na década de 80. A velocidade de convergência manteve-se sempre superior aos 2% registrados por Barro e Sala-i-Martin, com meia-vida sempre inferior a 32 anos.

A introdução de uma variável dummy para as regiões próximas da capital demonstrou uma concentração do crescimento econômico nas regiões metropolitanas. Verificou-se também, que o Estado de Minas Gerais possui municípios localizados no semi- árido com características econômicas mais próximas da Região Nordeste do que da Região

Sudeste. Um registro interessante é que na década perdida de 80, as rendas dos municípios do NO/NE, diferentemente de todos os outros grupos, inclusive os estados da própria região, convergiram rapidamente.

A análise da dispersão da renda per capita ratificou as conclusões atingidas com a verificação de β-convergência. A tendência dos indicadores de dispersão utilizados foi ligeiramente decrescente, com algumas exceções, principalmente na década 80. A redução mostrou-se mais acentuada quando estados e municípios foram separados nos dois grupos NO/NE e SE/SU/CO.

Utilizou-se a estimação de funções não-paramétricas da distribuição da renda per

capita, concluindo-se que existem diversos processos de polarização entre as unidades

subnacionais. Detectou-se a formação de dois clubes de convergência entre os estados e entre os municípios brasileiros. A distribuição da renda dos estados do SE/SU/CO evoluiu de bimodal em 1970 para unimodal em 2000, indicando convergência. A distribuição da renda dos municípios do NO/NE e SE/SU/CO foi unimodal em todos os períodos. Entre 1970 e 2000, houve uma observável redução da dispersão nos dois grupos. Apesar de não explorado neste trabalho, verificou-se a formação de dois clubes entre os estados do NO/NE. O subgrupo mais rico relativamente seria composto pelos antigos territórios federais: Amapá, Rondônia e Roraima. Mesmo com essa polarização, observa-se uma redução na dispersão da renda entre os estados das regiões Norte e Nordeste.

A estimação de matrizes de transição de Markov revelou o baixo grau de mobilidade e convergência da renda per capita entre os estados. Considerando as distribuições dos quatro anos analisados, as matrizes de transição rejeitaram a hipótese de convergência. Registrando ainda, uma tendência de empobrecimento relativo das unidades geográficas do NO/NE. Efetuaram-se previsões para o final do século XXI e foi observado um profundo distanciamento entre os municípios do NO/NE e SE/SU/CO.

Além das variáveis geográficas, verificou-se por meio das regressões de Barro e Sala-i-Martin, a relevância de diversas variáveis estruturais condicionantes do processo de convergência da renda per capita entre os municípios. A instalação de municípios novos mostrou-se irrelevante como variável explicativa do crescimento econômico, possuindo, quando significante, influência positiva, embora muito pequena. Investigaram-se também, variáveis educacionais como proxies de capital humano. A média de anos de estudo foi significante em todos os períodos. A desagregação dos anos de estudo por faixas indicou

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que a relevância para o crescimento econômico da alfabetização da população vem se esgotando ao longo do tempo.

Outro indicador relevante detectado foi o grau de urbanização do município, demonstrando que o crescimento econômico foi preponderante em áreas urbanas. As condições de saúde da população também foram significantes como esperado. A participação no processo eleitoral do legislativo municipal, utilizada como proxy da qualidade das instituições locais, mostrou-se positivamente relacionada com o crescimento da renda. Desigualdade pessoal da renda, crescimento do nível de escolaridade e crescimento populacional apresentaram resultados inconclusivos.

As únicas variáveis que aceleraram significativamente o processo de convergência em todos os períodos analisados foram as variáveis educacionais que mensuram a educação básica (entre quatro e oito anos de estudo), a educação intermediária-superior (mais de oito anos de estudo) e a média de anos de estudo da população. Esse resultado confirma a importância de investimentos em educação para a redução das desigualdades regionais.

Este trabalho também investigou os condicionantes do crescimento nos dois grupos de regiões separadamente. Confirmou-se, em ambas as amostras, a relevância do capital humano. Verificando-se que, entre os municípios do NO/NE, o efeito do acréscimo de um ano na média de estudos da população eleva a taxa de crescimento em 1.2 pontos percentuais, enquanto no SE/SU/CO o aumento na taxa de crescimento seria de apenas 0.7.

Os mesmos resultados sobre a velocidade de convergência foram registrados para as variáveis educacionais, que aceleraram o processo de convergência entre todos os municípios. O grau de urbanização também aumentou significativamente a velocidade de convergência em todos os períodos nos dois conjuntos de municípios.

Uma constatação presente subsidiariamente em praticamente todo o trabalho associa a hipótese de convergência à própria taxa de crescimento da renda. A renda inicial perdeu substancialmente seu poder explicativo durante os períodos recessivos. Fato que não ocorreu com as demais variáveis estruturais.

Este trabalho rejeita a hipótese de convergência absoluta da renda per capita entre as unidades regionais do Brasil e detecta dois clubes de convergência entre os estados e

entre os municípios, ratificando com metodologia distinta os resultados de Laurini et al (2003) e Barreto e Gondim (2004).

A opção pela utilização da renda per capita em detrimento ao produto per capita não produziu divergências significativas em relação aos resultados dos trabalhos que optaram pela segunda variável. A fraca convergência verificada em trabalhos empíricos, notadamente em Ferreira (1999), Azzoni et al (2000) e Azzoni e Barossi (2003), deve ser influenciada por dois fortes processos de convergência entre as unidades geográficas das regiões Norte e Nordeste e das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Trabalhos posteriores poderão estender a análise da convergência condicional para inúmeras variáveis disponíveis, principalmente para a década de 90. Um estudo, com um maior aprofundamento teórico e um melhor tratamento da base de dados, pode obter resultados relevantes a respeito da instalação de novos municípios. A inclusão de variáveis que mensurem os resultados das políticas públicas municipais e estaduais contribuiria para avaliar as iniciativas das gestões regionais mais significativas para o crescimento econômico e para a supressão das desigualdades regionais. A inserção de variáveis que quantifiquem as transferências diretas governamentais para as populações carentes, permitiriam uma análise crítica sobre a focalização dos gastos do governo.

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