• Nenhum resultado encontrado

CONVERGÊNCIA CONDICIONAL

REGRESSÃO (22): RENDA INICIAL, VARIÁVEISGEOGRÁFICAS E DESIGUALDADE DE RENDA Períodos 1970 – 1980 1980 – 1991 1991 2000 1970 –

4.8 Qualidade das instituições locais

North e Thomas (1973) já argumentavam que nível educacional, inovações, economias de escala e acumulação de capital não seriam as causas do crescimento econômico. Essas características da sociedade seriam derivadas do próprio processo de crescimento. A causa principal para o crescimento relativo seria a qualidade das instituições,

69

entendida como a capacidade de uma sociedade definir regras claras e duradouras para a interação entre os indivíduos.

Diversos trabalhos empíricos10 vêm sendo realizados atribuindo ao desenvolvimento das instituições de um país o seu crescimento econômico. Desde Barro e Sala-i-Martin (1992), vários indicadores já foram propostos. Número de assassinatos políticos, número de revoluções, reformas constitucionais, ausência de democracia, agilidade do poder judiciário, respeito ao direito de propriedade, ausência de corrupção, grau de liberdade comercial e nível de burocracia são algumas variáveis já utilizadas para mensurar a qualidade das instituições.

Uma forte argumentação contrária é a existência de diversos contra-exemplos. Coréia do Sul, Chile e Brasil obtiveram elevados índices de crescimento econômico com instituições políticas precárias devido a regimes extremamente autoritários. Atualmente, a China possui um alto nível de crescimento econômico, sob um regime não-democrático e socialista. Evidentemente, a simples análise da conjuntura política não mensura adequadamente todo o arcabouço institucional de um país ou região. O modo como regimes autoritários organizam sua economia e tratam os investimentos privados podem influenciar os resultados econômicos.

A expectativa é que as instituições não difiram muito entre as unidades regionais de um mesmo país. No Brasil, devido a imensas desigualdades espaciais, essa assertiva não é verdadeira. Apesar das unidades regionais terem que se submeter às políticas federais e respeitar a legislação nacional é improvável que não existam diferenças locais entre, por exemplo, desempenho da burocracia, qualidade do judiciário e nível de corrupção.

As bases de dados com informações municipais existentes são bastante diminutas. Com exceção das séries organizadas pelo IPEA/PNUD, verifica-se uma carência quase absoluta de dados. A opção de proxy para o desenvolvimento das instituições municipais utilizada neste trabalho é a razão entre o número total de votos brancos ou nulos e o número total de votos válidos nas eleições de 1982 e 1996 para vereadores. Para Brasília utilizou-se, em 1996, as eleições para deputado distrital.

10 Glaeser et al (2004) sintetiza e critica as variáveis já utilizadas no debate sobre a influência da qualidade das instituições no crescimento econômico.

A participação no processo político, devido a pouca disponibilidade de dados, não foi suficientemente explorada no Brasil. Oliveira (2001) utilizou variável similar a deste trabalho e verificou a existência de correlação positiva entre participação política e crescimento econômico.

A premissa assumida é que quanto maior o desenvolvimento das instituições de uma unidade geográfica, maior será a participação popular nas eleições municipais. Um desinteresse da população sobre a política local seria refletido num elevado percentual de votos brancos ou nulos. Esse desinteresse geraria vereadores eleitos pouco compromissados com o eleitorado e conseqüentemente a fiscalização do poder legislativo sobre o executivo seria prejudicada.

Apesar das desigualdades regionais de renda, educação e das próprias instituições locais influenciarem as eleições, não se registram no Brasil, fraudes eleitorais sistematizadas. Observa-se apenas a utilização do poder econômico com a compra de votos. Mesmo assim, não se tem notícia sobre o violabilidade do voto secreto.

A Tabela 4.12 expõe os coeficientes de correlação das taxas de crescimento da renda e renda inicial contra regressores utilizados neste capítulo. A inspeção da tabela demonstra que as variáveis institucionais possuem sempre um dos maiores coeficientes de correlação com as taxas de crescimento. Por outro lado, possuem sempre o menor coeficiente quando confrontados com a renda inicial. Esse resultado ressalta a independência das variáveis institucionais com relação ao nível de renda.

Tabela 4.12

Brasil: Coeficientes de Correlação entre Variáveis Selecionadas para os Municípios 1970 - 2000

1980 - 1991 1991 - 2000 1970 - 2000 VARIÁVEIS

GR REN GR REN GR REN Taxa de Crescimento da Renda (GR) -0.26 -0.21 -0.27 Renda Inicial (REN) -0.26 -0.21 -0.27

Votos Brancos-Nulos em 1982 (BN-82) -0.09 -0.14 -0.30 -0.06 Votos Brancos-Nulos em 1996 (BN-96) -0.19 -0.15 -0.31 -0.01 Dummy Geográfica (DN) 0.00 -0.72 -0.13 -0.70 -0.30 -0.62 Desigualdade de Theil (DEST) -0.20 0.35 -0.12 0.24 0.03 0.34 Média de Anos de Estudo (EST) -0.03 0.85 0.02 0.89 0.11 0.77 Esperança de Vida ao Nascer (EV) -0.03 0.55 0.07 0.76 0.23 0.42 Percentual População Urbana (URB) -0.01 0.64 -0.18 0.62 -0.09 0.60 Fonte: elaborada pelo autor com dados brutos do IPEA/PNUD e TSE.

71

A Tabela 4.13 apresenta a regressão (24) incluindo as variáveis institucionais como regressores da taxa de crescimento da renda per capita. A variável BN-82 é utilizada como o nível inicial da qualidade das instituições municipais na década de 80 e como uma aproximação para a década de 70. BN-96 é usada como uma aproximação do nível institucional na década de 90.

Todos os coeficientes estimados tiveram os sinais esperados. O único coeficiente não significativo foi o da dummy MN-91/00. Nas três regressões, os coeficientes estimados das variáveis institucionais são significativamente negativos, indicando que quanto maior a participação da população no processo eleitoral local, maior seria a taxa de crescimento da renda. O resultado confirma que entre os municípios brasileiros existe uma diferença considerável nas estruturas político-institucionais e que essa diferenciação influencia o desempenho econômico das unidades geográficas.

Tabela 4.13

Regressões (OLS): Taxas de Crescimento da Renda per capita dos Municípios Brasileiros contra Variáveis Indicadas - 1970-2000

REGRESSÃO (24): RENDA INICIAL, VARIÁVEIS GEOGRÁFICAS E INSTITUCIONAIS Períodos 1970 – 1980 1980 – 1991 1991- 2000 1970 – 2000

Observações 3947 3985 5471 3947

VARIÁVEL COEF t COEF t COEF t COEF t C 0.237 38.23 0.117 21.28 0.187 44.48 0.118 63.93 RENDA INICIAL -0.033 -22.27 -0.024 -22.54 -0.028 -33.76 -0.018 -38.55 DN -0.041 -28.51 -0.020 -16.75 -0.029 -28.14 -0.019 -37.37 DMG -0.026 -8.05 -0.018 -8.44 -0.028 -15.88 -0.015 -16.35 DMET 0.016 6.85 0.020 8.84 0.014 7.33 0.011 9.86 MN-80/91 -0.002 -3.28 0.001 3.22 MN-91/00 0.00 1.10 0.000 1.20 BN-82 -0.027 -3.40 -0.029 -2.89 -0.027 -8.20 BN-96 -0.050 -9.91 -0.016 -5.03

R

2 0.27 0.18 0.25 0.51 2 R 0.27 0.18 0.25 0.50 F 292.48 143.43 302.74 504.19

Notas: 1- Foi utilizado nível de significância de 5%. 2- A definição e detalhamento dos regressores estão no Anexo I; 3- Estatísticas t calculadas com os erros padrões consistentes em heterocedasticidade de White.

Documentos relacionados