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A cadeia produtiva de tecnologia da informação e comunicação apresenta algumas peculiaridades que a diferenciam das demais. A pervasividade das aplicações TIC na rotina diária atual e a capacidade de renovação e de criação de novas demandas e mercados constituem umas de suas características mais marcantes.

Tal pervasividade implica um amplo mercado de atuação e de possibilidades para as empresas. Pesquisas de campo, conduzidas pelo IPEAD/UFMG e que objetivaram captar a percepção dos empresários do setor, explicitaram, entre outros, dois aspectos merecedores de ênfase especial. Para este empresariado, as empresas de produção de software e serviços estão tendendo a se especializar na oferta de serviços para as áreas de saúde, aplicações financeiras, educação e comércio, as quais constituem um mercado consumidor com grande potencialidade de contribuir com toda a cadeia produtiva. Adicionalmente, de acordo com a percepção desses agentes, o setor público, considerado como um importante componente do elo consumidor, ainda não despertou para a importância de direcionar suas demandas pelos produtos e serviços do setor para as empresas locais.

A constante renovação dos produtos e serviços ofertados, que caracteriza a cadeia produtiva TIC, torna evidente a importância do investimento constante em pesquisa e desenvolvimento por parte das empresas assegurando-lhes a sobrevivência nesse mercado altamente competitivo. Ainda que não criem novas tecnologias, a adequação às inovações tecnológicas apresentadas pelo mercado de forma quase permanente, cria a necessidade de investimento constante em aprendizado. Neste sentido, Belo Horizonte, seguindo o padrão nacional, apresenta

significativas deficiências em relação a infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento, tanto internamente nas empresas, quanto em termos de interação empresa, universidades e centros de pesquisa.

As principais tendências apresentadas pela cadeia produtiva de tecnologia da informação e comunicação, atualmente, são a convergência digital, as cooperações e alianças estratégicas e a agregação de conteúdos e serviços aos produtos ofertados. No caso específico dos serviços de tecnologia da informação destaca-se a tendência de desenvolvimento da computação em nuvem e da terceirização do desenvolvimento de software e de serviços baseados em tecnologias da informação e comunicação. Tais tendências vêm orientando o padrão de atuação das empresas no mercado.

No caso das telecomunicações, por ser um segmento onde predominam as grandes empresas, o posicionamento diante de tais tendências e a competição em âmbito nacional, é substancialmente dependente da regulação da concessão de novas licenças, que usualmente estão ligadas à utilização de novas freqüências e tecnologias.

Considerando-se, por um lado, a tendência atual de uma importância maior dos softwares e dos serviços vis a vis à dos equipamentos e instalações físicas e, por outro, o papel proeminente de Belo Horizonte no segmento de softwares e prestação de serviços, infere-se um cenário altamente favorável ao desenvolvimento do setor no município.

De acordo com os entrevistados, o setor de TI de Belo Horizonte tem capacidade para desenvolver produtos e participar de forma protagonista no cenário das novas tendências tecnológicas, apesar de existir pouco investimento em pesquisa no Brasil, e especialmente em Belo Horizonte.

A pesquisa de campo mostrou que, na percepção dos entrevistados, os processos de fusão e incorporação têm acontecido com frequência na cadeia produtiva. Tal fato pode ser considerado como reflexo das tendências mundiais apresentadas pelo setor e enumeradas anteriormente. Os padrões de concorrência, de certa forma, exigem a atuação de empresas capacitadas tecnicamente, com escala para atender demandas cada vez maiores e com capacidade de adaptação e de utilização das novas tecnologias. Tais exigências requerem recursos que, muitas vezes, as micro, pequenas e médias empresas não possuem, o que as torna pouco competitivas no mercado e, conseqüentemente, alvo das grandes empresas.

Os resultados da pesquisas evidenciaram que as empresas locais devem desenvolver produtos diferenciados, tanto em qualidade quanto em inovações, para conseguirem sobressair-se na competição tanto com outros estados como com as empresas internacionais. Para isso é necessário mão de obra qualificada e em número suficiente para atender a demanda. Este aspecto é, na percepção dos entrevistados, o principal obstáculo para o avanço do setor na capital. Apesar de qualificada, a mão de obra disponível é insuficiente para atender a demanda, o que compromete a competitividade das empresas.

A falta de linhas de financiamento, as dificuldades de obtenção de crédito, especialmente por parte das pequenas empresas e a falta de uma política de compras públicas que priorize as empresas locais foram apontados, pelos entrevistados, como os principais obstáculos ao desenvolvimento do setor, além da escassez de mão-de-obra.

Por outro lado, a capacidade técnica e a infraestrutura (aeroporto, rede de internet, capaciade instalada) do município foram apontados como suas principais vantagens comparativas.

Cabe destacar que a cadeia de TIC tem obtido status privilegiado em diversas políticas e programas estaduais e nacionais para a ampliação do acesso às telecomunicações, aceleração da informatização e mitigação da exclusão digital.

No âmbito estadual destacam-se as políticas de apoio ao APL de Software na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a criação da marca “Software de Minas”, o lançamento do “Atlas Tecnológico de Minas Gerais” e a implantação do “Bureau de Inteligência”.

No âmbito nacional destaca-se a implantação do Plano Brasil Maior, que constitui a política industrial, tecnológica, de serviços e de comércio exterior para o período 2011 a 2014. O Plano tem como objetivo o estimulo à inovação e produção nacional e, para tanto, contempla medidas que visam a conquista da liderança tecnológica em setores estratégicos e a internacionalização das empresas nacionais e o enraizamento das empresas estrangeiras localmente, para que estas passem a investir cada vez mais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil. As principais políticas do Plano Brasil Maior estão relacionadas ao fortalecimento das cadeias produtivas, à proteção nacional contra práticas comerciais ilícitas, ao investimento em formação e qualificação de mão de obra e à desoneração (folha de pagamentos, dos investimentos e das exportações).

A consulta realizada aos diversos estudos existentes, conjugada com as considerações anteriormente apresentadas permite sugerir uma estratégia de atuação constituída por doze

pontos, descritos a seguir, e que devem ser entendidos como complementares às políticas já existentes para o setor.

(1) Constituição de um arranjo institucional, no qual participem a administração pública (federal, estadual e municipal), as empresas, universidades e centros de pesquisa, articulados com o sistema educacional e de financiamento. Um arranjo dessa natureza permitiria tanto um aumento da competitividade da cadeia produtiva de tecnologia da informação e comunicação em Belo Horizonte, como sua inserção sustentável no mercado nacional e internacional.

(2) Elaboração e manutenção de um sistema de indicadores que permita o acompanhamento do desempenho dos diversos segmentos da cadeia. Este é um instrumento essencial para os processos de elaboração, de implantação, de acompanhamento, de gestão e planejamento de políticas em prol do desenvolvimento da cadeia;

(3) Criação de um pólo empresarial, centralizando empresas e ações em um ambiente de geração de negócios, que priorize a produção de tecnologia com qualidade e inovação, e que seja apoiado por entidades gerenciais e de crédito;

(4) Investimento em formação de mão de obra qualificada para atender a demanda do setor, tanto de nível técnico, como de nível superior.

(5) Criação do Programa Residência de Softwares para atrair profissionais já formados e oferecer processos de formaçào complementar e inserção no mercado de trabalho. (6) Criação de linhas de crédito específicas para micro, pequenas e médias empresas. (7) Desenvolvimento e implantação de política de ciência e tecnologia focada na

promoção de pesquisa e desenvolvimento para a cadeia produtiva TIC.

(8) Priorização da contratação de empresas locais para a compra e prestação dos serviços de TI. Revisão das exigências apresentadas nas licitações públicas para ampliar o acesso das empresas locais.

(9) Fortalecimento do marketing institucional, divulgando Belo Horizonte como capital da tecnologia da informação;

(10) Capacitação dos gestores: Promoção de cursos de gerenciamento por meio de instituições de suporte às empresas;

(11) Envolvimento das universidades: Desenvolvimento e implantação de projetos de incubação relacionados ao desenvolvimento de softwares;

(12) Incentivo à constituição de consórcios e parcerias entre as micro e pequenas empresas, para que estas se fortaleçam e se tornem mais competitivas.

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