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Percepção sobre os três elos da cadeia produtiva em Belo Horizonte: FORNECEDOR,

3 PARTE 2: PERCEPÇÃO DOS AGENTES QUE INTEGRAM A CADEIA

3.2 Pesquisa qualitativa

3.2.8 Percepção sobre os três elos da cadeia produtiva em Belo Horizonte: FORNECEDOR,

perspectivas de solução).

Para os entrevistados ouvidos nesta pesquisa, os principais problemas da cadeia produtiva são, além da falta de mão de obra qualificada, a falta de linhas de crédito para as empresas e a falta de uma política de compras públicas que priorize as empresas locais. Eles apontam como solução uma maior oferta de cursos técnicos e de nível superior, a viabilização de cooperativas

de crédito e uma decisão política de priorizar as empresas locais por parte do Estado e da Prefeitura que são grandes consumidores dos produtos de TI.

“Porque se a gente for parar para pensar, quando uma prefeitura contrata uma empresa para prestar um serviço qualquer, se essa empresa for de Belo Horizonte, o ISS vai ser passada para ela própria. Enquanto que se comprar de fora, o ISS não vai para outra cidade. A mesma coisa acontece com o Governo do estado. Eles deviam fomentar as empresas mineiras, privilegiar as empresas mineiras nas suas contratações.”

O representante da FUMSOFT considera que o elo “fornecedor” é responsável por dois insumos: infraestrutura (que inclui hardware) e mão de obra. Em relação ao primeiro, o entrevistado não identifica dificultadores, uma vez que o mercado oferece equipamentos cada vez mais baratos e de melhor qualidade. Em relação ao segundo insumo, o entrevistado afirma que o problema está na escala da oferta de mão de obra, uma vez que a existente é de boa qualidade, mas não em número suficiente para atender a demanda do setor de software, e a solução seria uma maior oferta de cursos ou de vagas nos existentes.

“O elo fornecedor é composto de recursos humanos e uma infraestrutura. A infraestrutura cai de preço, que é o hardware em geral. Tem mais opções tecnológicas, mais computadores, mais acesso a máquinas. Então o ponto crítico continua sendo ter mão de obra qualificada. No desenvolvimento de software, se você tem a mão de obra, eu acho que existe um bom posicionamento.”

Para o elo “produtor”, o representante da FUMSOFT afirma que o principal dificultador é a falta de financiamento, e a solução seria a concretização da Sociedade de Garantia de Crédito (SGC), um programa do SEBRAE em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, que está parado há mais de um ano. Em relação ao elo “consumidor”, o entrevistado lamenta não haver uma política pública de compras que privilegie os produtores locais. Ele propõe que o poder público, nos processos de compra, considere, além do preço, outros aspectos como geração de impostos e de empregos, modificando sua política de compras para fortalecer as empresas locais.

“Do ponto de vista do produtor, de uma maneira em geral, nós temos boas empresas brigando no mercado. Precisa é ter alguma política de auxilio. Está no forno do SEBRAE e da Prefeitura a Sociedade Garantidora de Crédito, e crédito para empresa de TI é muito difícil porque ela não tem garantia real. É o SGC, que eu acompanho isso tem mais de um ano e não sai. Se isso já estivesse funcionando, eu acho que a gente já estaria avançando também”.

“(...) No setor de clientes, do consumidor, o próprio poder público não dá nenhum tipo de privilégio, seja de TI ou não. Quando contrata uma empresa de Goiás para imprimir o IPTU, através de um pregão eletrônico, e uma empresa mineira perde, só os impostos que

foram arrecadados em Goiás, já valia a pena ter contratado uma empresa de Belo Horizonte. Então a conta não pode ser o preço mais barato em um pregão eletrônico.”

Para o presidente da SUCESU, as dificuldades estão no elo “produção”, retomando a questão da falta de mão de obra qualificada. Em relação à ausência de empresas de hardware, o entrevistado não considera esse aspecto um empecilho para o setor, por conta das facilidades de acesso aos produtos. O entrevistado afirma também que o consumidor mineiro apresenta alguma resistência para absorver inovações, o que não ocorre em outros grandes centros.

“Na parte de fornecedor de insumos, nós somos muito fracos. Aqui você está falando de grandes players que fornecem hardware, que a gente não tem quase nada. Mesmo suprimentos, a gente está falando de periféricos, como impressora, como scanner, e tudo o mais. A gente quase não tem isso aqui. E infraestrutura de TI, a mesma coisa, está muito centrado em São Paulo. A gente não tem fomento nessa área. Mas isso não é dificultador. Seria bom se aqui tivesse porque movimenta a economia, mas vir de fora não compromete a produção. (...)”

“O consumidor está ai. Em Minas tem um dificultador que é o perfil do mineiro, que é mais resistente à inovação. Aqui primeiro você tem que quebrar um paradigma do novo, e em outros lugares a inovação é aceita mais fácil, então o consumidor aqui é mais resistente, mas tem muito mercado.”

Discutindo a questão das dificuldades do elo “produtor”, o representante da ASSESPRO as relaciona ao acesso a linhas de crédito para o desenvolvimento das empresas, afirmando que existe uma diferença entre capital de giro e capital de investimento. Para ele, os produtores de TI, especialmente de software, o custo de desenvolvimento de novas linguagens e novos programas é muito alto, mas quando recorrem a instituições de crédito, os financiamentos são propostos como capital de giro, o que torna inviável esse aporte financeiro. Reclama também da prática de juros altos de maneira geral. Ainda em relação à dificuldade dos “produtores”, discute a indisponibilidade de mão de obra e pondera o papel da PBH na solução do problema, haja vista ser de sua competência apenas o ensino fundamental.

“O maior problema é o acesso a capital para desenvolver produtos novos. Se eu for desenvolver com recursos próprios, eu vou demorar dois, três anos, se eu consigo o recurso, em uma fonte barata, eu pego e desenvolvo rápido, e termino rápido. Esse setor não recorre muito a linhas de crédito porque os juros são altos, e o capital teria que ser alto também, e porque esse dinheiro que a gente poderia pegar, ele é para investimento, mas ele é visto pelo setor bancário como capital de giro, que é muito mais caro, mas ele era para investimento”.

“(...) Desenvolver software é muito caro, para você atualizar sua linha de produto com recursos próprios é muito difícil, porque os juros são muito altos.”

“Em relação à capacitação de mão de obra, tem que ver no que a Prefeitura pode fazer, porque a obrigação do município é apenas com o ensino fundamental, e o que a gente

precisa ou é de nível técnico ou de nível superior, mas na Prefeitura de Contagem, eles atuam. Falta mão de obra, principalmente técnica.”

Em relação ao elo “fornecedor”, o entrevistado da ASSESPRO/MG afirma que não existem entraves e que a presença de equipamentos importados é positiva, uma vez que permite ao elo produtivo ter acesso a computadores melhores e a preços menores.

“(...) Eu vou falar a verdade, o que a gente precisa, na produção, é máquina barata, então, se é chinês, isso não importa, nós precisamos comprar computador barato e rápido, porque ai nossos funcionários vão produzir mais em menor tempo.”

3.2.9 Percepção sobre os três elos da cadeia produtiva em Belo Horizonte: FORNECEDOR, PRODUTOR, CONSUMIDOR. (Potencialidades).

Para todos os entrevistados, a qualidade técnica é a grande potencialidade da cadeia produtiva de Tecnologia da Informação do produtor de software em Belo Horizonte. Na opinião deles, para potencializar essa característica, será preciso fortalecer a marca Software de Minas. Tal iniciativa ampliará sua penetração no mercado nacional e atrairá novas empresas, garantindo às empresas locais um lugar diferenciado no acesso às compras públicas dos governos de Minas e de Belo Horizonte.

O representante da FUMSOFT destaca que a principal potencialidade para os três elos da cadeia produtiva de TI está ligada às características da cidade de Belo Horizonte. Como, em sua visão, as empresas locais têm qualidade e competitividade, o potencial está em investir no fortalecimento da marca Software de Minas, um instrumento de valorização do produto local. A cidade de BH tem hoje uma infraestrutura (aeroporto, rede de internet, capacidade instalada, bons profissionais) muito favorável, e se souber explorar outras características como custo de vida menor que em outros centros, pode atrair grandes empresas e manter as que já se instalaram, como a Google.

“A Secretaria de Ciência e Tecnologia criou uma marca que é o Software de Minas. É uma marca de procedência, é um incentivo para que os compradores olhem o mercado de Minas com mais aceitação. O setor vai crescer, mas se tiver apoio. Não é como o minério que está aqui, então a questão é o que você oferece de diferencial para atrair mais empresas grandes, porque (...) Belo Horizonte (a cidade) é um bom produto para se vender.”

Para o representante da SUCESU, a produção é o elo da cadeia produtiva de TI em Belo Horizonte que apresenta a maior potencialidade. Envolve desenvolvimento, comercialização e manutenção de software de qualidade. Oferece uma lucratividade maior, na opinião do

entrevistado, porque o investimento significativo acontece somente no momento da produção, tornando-se menor na manutenção.

“Nós temos vocação para software. Para produzir o software, você tem um custo alto, porque a mão de obra está cara, mas é onde você tem a margem de lucro maior, o seu gasto, uma vez ele pronto, fica pequeno, porque é atualizar, é dar manutenção. Então é um negócio extremamente interessante.”

O presidente da ASSESPRO afirma que o potencial da cadeia produtiva depende sempre do consumidor. O entrevistado afirma que, do ponto de vista da iniciativa privada, o mercado consumidor mineiro tem grande potencialidade para contribuir com toda a cadeia produtiva de TI, mas que o setor público, um importante componente do elo consumidor, não está atento à sua importância no fortalecimento da cadeia de TI de Minas Gerais, pois impõe condições que alijam as empresas locais dos processos de compra pública.

“O que de fato faz o setor crescer é o mercado, é esse elo do consumidor. O setor privado compra, o consumidor pessoa física não, porque esse só usa software pirata e não vai pagar nosso serviço. Agora, o setor privado não compra da gente, ele compra de fora ou de fundações, que não precisam de licitação, e às vezes nem tem capacidade instalada, ganham o contrato e depois contratam empresas de São Paulo para fazer o serviço.”

Em relação ao elo da produção, Belo Horizonte apresenta uma grande potencialidade, que está relacionada à demanda do mercado, mas esse elo pode ser enfraquecido pela penetração de grandes empresas de outros Estados e até mesmo internacionais, que compram as empresas locais e direcionam suas estruturas produtivas para outros lugares.

3.2.10 Três principais concorrentes de Belo Horizonte na cadeia produtiva da