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Principais características da cadeia de tecnologia da informação em Belo Horizonte

3 PARTE 2: PERCEPÇÃO DOS AGENTES QUE INTEGRAM A CADEIA

3.2 Pesquisa qualitativa

3.2.1 Principais características da cadeia de tecnologia da informação em Belo Horizonte

A percepção dos entrevistados em relação à cadeia produtiva de Tecnologia da Informação em Belo Horizonte é bastante homogênea. Todos são da opinião de que as empresas se destacam pela qualidade dos produtos e dos serviços prestados, em um cenário de alta competitividade.

“Nós temos esta tradição: profissionais com qualidade e produtos de qualidade”. “É um mercado extremamente competitivo, o segmento de software, por exemplo, é muito competitivo”.

O representante da FUMSOFT afirma que a identidade do setor de TI em Belo Horizonte é marcada, positivamente, pela capacidade de as empresas locais criarem e desenvolverem softwares de qualidade. A instalação de uma grande empresa do setor em Belo Horizonte, por exemplo, corrobora o reconhecimento da qualidade do TI mineiro pelas empresas internacionais e o apreço delas pela infraestrutura belorizontina.

“A identidade do nosso TI está marcada pela qualidade do produto que é produzido aqui, das empresas que são criadas aqui. A vinda da Google é uma prova disso. As empresas procuram Belo Horizonte, seja pela qualidade dos profissionais, seja pelo clima, seja pela segurança.”.

O presidente da SUCESU afirma que essa tradição de qualidade foi fortalecida pelo desempenho de empresas e profissionais no setor de telecomunicação, que teve grande parte do seu sistema de tecnologia criado em Minas Gerais.

“Toda a tecnologia da telecomunicação do Brasil, depois da privatização, foi feita em Minas. Nós somos uma referência muito boa em termos de tecnologia.”

Já o presidente da ASSESPRO afirma que o mercado de TI de Belo Horizonte tem grande qualidade técnica, mas é muito disperso e, por este motivo, ainda não possui uma identidade marcante. Em sua opinião, a produção ainda é pouco consolidada, o que significa o mercado ser dominado por uma única empresa, em algumas de suas áreas.

“Olha, o mercado é muito disseminando, muito diversificado e não tem uma identidade de fato. (...) não há muita consolidação ainda, não tem domínio de nenhuma empresa, em nenhuma área do mercado. (...), mas muito competitivo”.

Do ponto de vista do tamanho das empresas, os entrevistados estão de acordo ao afirmarem que predominam empresas de pequeno e de médio porte. Alguns, como o representante da FUMSOFT, são mais detalhistas, afirmando que, em Belo Horizonte e Região Metropolitana, há cerca de 3.500 empresas responsáveis pela geração de aproximadamente 17 mil empregos, o que dá mostras da significância econômica do setor.

“Nós temos um conglomerado de pequenas e médias empresas (no setor de TI)”.

A qualidade dos produtos e serviços das empresas está intimamente relacionada à qualidade técnica dos profissionais belorizontinos, segundo a opinião dos entrevistados. Porém, o aspecto que mais se discute em termos de mão de obra é a falta de profissionais disponíveis no mercado, apontado como o principal problema pela maioria dos entrevistados. Entretanto, tal carência é entendida como quantitativa e não qualitativa, o que, não obstante, continua comprometer a capacidade competitiva do setor, mormente no segmento de software.

O representante da FUMSOFT destaca esse entrave para o setor de TI de Belo Horizonte, classificando-o como um “paradoxo” da mão de obra disponível no mercado. Embora possua uma estrutura para formação de profissionais de nível superior muito boa, o Estado de Minas Gerais não apresenta condições adequadas para atraí-los. A conseqüência natural é que parte significativa desses profissionais migra para outros Estados ou são contratados por empresas de

outras áreas da economia. Outro aspecto relacionado à mão de obra disponível é a carência de profissionais de nível técnico, sem os quais a cadeia produtiva não se desenvolve.

“Belo Horizonte é reconhecida nacionalmente como uma cidade com excelente formação de seus profissionais. A UFMG é muito reconhecida pela qualidade, mas ao mesmo tempo a gente tem carência de profissionais. Uma parte da explicação é que quem forma sai do Estado e vai para grandes empresas onde a finalidade principal não é TI, por exemplo, a Usiminas, o Banco do Brasil. Ela não vai para o mercado das empresas produtoras de software.”

“Outra coisa é a falta profissionais de nível técnico, porque a informática não vive só dos profissionais que fazem curso superior.”

Para o representante da SUCESU, a falta crítica de profissionais é bastante pontual para o momento atual, o que o entrevistado denomina como “apagão de mão de obra”. Essa situação tem como conseqüência negativa um acréscimo rápido do preço da mão de obra e, conseqüentemente, do valor dos produtos locais, que perdem mercado tanto para empresas de outros Estados quanto para os produtores de softwares de outros países.

“(...) Nesse momento o setor está passando por um apagão de mão de obra, e isso acaba gerando um custo da mão de obra muito alto. A gente tinha um custo de mão de obra relativamente mais baixo que os mercados maiores como São Paulo, Rio e Brasília”.

“A gente está vendo acontecer de empresas que vem se instalar aqui e não encontra mão de obra, e quando não tem mão de obra, eu não consigo desenvolver produtos, eu não consigo brigar com outros mercados. (...) se minha mão de obra é muito cara, eu não consigo ser competitivo em relação ao mercado exterior. Antes a gente conseguia competir com a China, com a Índia, que tem mão de obra barata. Agora, a gente está perdendo até para os Estados Unidos, que tem uma mão de obra cara. E a gente não perde em qualidade, a gente perde em preço, porque nossa mão de obra está muito cara. Nossa matéria prima é pessoas, e quando o profissional está caro, nosso produto fica caro.”

Segundo a avaliação do representante da FUMSOFT, o setor de TI, em Minas Gerais, vem crescendo menos do que nos demais Estados brasileiros e menos do que a própria economia do Estado de Minas. O entrevistado atribui tal comportamento à falta de apoio do poder público, ao contrário do que se observa em outras regiões e Estados brasileiros, onde os governos oferecem incentivos fiscais e compram os produtos das empresas que se instalam em seus territórios.

“O setor de TI cresce porque o Estado está crescendo e tem um crescimento que acaba puxando o setor de TI para cima. Mas, de uma forma geral, pelos levantamentos que a gente tem acesso, o setor cresce em Minas menos do que cresce em outros Estados. Identificar o porquê é difícil, mas se você comparar o crescimento de algumas cidades do Sul ou Recife, você percebe que o responsável por alavancar o setor de TI nesses

lugares foi o poder público. Ele cria cenários de atrair empresas cria incentivos, superior a nossa.”

Outros problemas do setor de TI de Belo Horizonte, apontados pelo presidente da ASSESPRO, ajudam a compreender o seu perfil. Segundo ele, por um lado, há muitas entidades representativas dos empresários, mas não há um acordo entre elas, principalmente no que diz respeito a ações integradas em defesa dos interesses dos empresários do setor. Por outro lado, o empresariado participa pouco das entidades representativas. Em termos de perfil do empresariado, este tem grande capacidade técnica, mas pouco domínio das regras gerenciais.

“É um setor que já começa com a dificuldade pela quantidade de entidades que representa ele. No nosso setor, nós temos quatro entidades em Minas Gerais (ASSESPRO, SINDIFOR, SUCESU e FUMSOFT), que é um problema. Confunde, porque tem conflitos na área de atuação de cada uma. Não tem jeito de fundir porque os propósitos são diferentes, mas pelo menos um alinhamento de ações já ajudaria.” “As entidades estão tentando defender os interesses dos empresários, mas eles participam muito pouco. Eu acho que falta em alguns profissionais aspectos comportamentais, no tratamento de clientes e no entendimento de regras de negócio.”

3.2.2 Segmentos da tecnologia da informação de maior relevância em Belo Horizonte