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Ao descrevermos o cenário das reformas educativas acontecidas nos úl- timos 20 anos, no Brasil e em Portugal, fortemente articuladas às reformas neoliberais e à produção em nível internacional, por agências e instituições supranacionais, de Declarações, das quais ambos os países em estudo tornaram signatários, podemos perceber que as políticas e a organização do ordenamento legal, embora diversas nesses países, estão desenhadas a partir de parâmetros comuns.

No âmbito da Educação Especial, esses dois países vão definitivamente se inscrever no campo dos fundamentos, princípios e diretrizes da Educação Inclusiva. Destaca-se que essa expressão “inclusão”, com sentidos diferentes, vai aparecer como expressão discursiva hegemônica no discurso dessas novas políticas. A expressão vai aparecer no discurso da política destes países, ora restrita ao campo da Educação Especial, ora como movimento mais amplo e como paradigma educativo mais geral.

Dentro do campo da Educação Especial, esse movimento aparece como sinônimo de integração ou evolução deste modelo, até a ideia de modelo de oposição e superação. Na gênese deste movimento está fortemente mar- cada a emergência desta noção nas políticas educativas de países como os Estados Unidos e Inglaterra, embora essa reflita interesses e conquistas dos movimentos sociais de e para pessoas com deficiência, que questionavam os modelos de normatização e lutavam por igualdade de oportunidade e participação, poucas são as referências a esses movimentos.

A partir do campo da Educação Especial, a noção de educação inclusiva tornou-se referência também para o campo mais geral da educação a partir da Declaração de Salamanca, quando houve uma aliança nas agendas da Educação Especial e da Educação para Todos. Assim, de Educação Inclusiva, a expressão ganha outros usos como escola inclusiva, sistema educativo inclusivo, entre outros, passando a significar no discurso da política um caminho inovador para a melhoria da educação para todos. No entanto essa posição não é consensual, tanto na política e no ordenamento legal

dos países, e nos grupos de pesquisadores e associações civis há uma defesa por noções distintas para esse movimento.

As posições mais extremas em defesa da atribuição de um significado para a expressão e da direção política para o movimento da inclusão parece ser, entre a noção de inclusão restrita e de inclusão total. Talvez seja essa a mais significativa das divergências em torno das noções e dos parâmetros de implementação de uma educação inclusiva. Em um aspecto há con- vergência entre esses dois movimentos, é necessário incluir na política de educação inclusiva uma política de financiamento, de formação de recursos humanos e de estruturação de serviços e recursos, melhorando não só as práticas pedagógicas, mas também as condições estruturais de escolas e agrupamentos, para que a inclusão verdadeiramente aconteça.

Em nenhum dos dois países há uma adoção linear de um dos movimentos em favor da inclusão supracitados. Parece haver na legislação e na política uma alternância de posições e medidas, tanto no âmbito da Educação Es- pecial quanto no âmbito mais geral. Os distintos grupos disputam a direção da noção de educação inclusiva e o rumo da política. Assim como no caso específico do que Portugal está vivendo no momento, de que o rumo da política de educação inclusiva não corresponde aos interesses de nenhum desses dois grupos com posições mais extremas.

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