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O funcionamento do atendimento educacional especializado o cenário analisado

O presente estudo teve como base uma revisão bibliográfica sobre as questões de Educação Inclusiva e Atendimento Educacional Especializa- do – AEE de alunos com deficiência no ensino regular, tendo como refe- rência a legislação em vigor relativa à educação inclusiva dentre as quais, destacam-se: LDB 9394/96; Resolução CNE nº 2 /2001; Documento Sub- sidiário para a Política de Educação Inclusiva; o Decreto nº. 6.571/2008, que dispõe sobre o atendimento educacional especializado, e a Resolução nº. 4, de 2 de outubro de 2009, que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial e estudos sobre o tema.

Na busca de analisar de que forma a sala de recurso tem proporcionado a inclusão escolar, o sujeito investigado nesta pesquisa foi o professor que atua nessa sala nas escolas públicas, da cidade de Salvador, no ano de 2010.

O contato inicial com a Secretaria de Educação do Estado forneceu a relação de 12 escolas que possuíam atendimento educacional especializado, através de sala de recursos, sendo uma escola com duas salas de apoio pe- dagógico, uma relacionada à deficiência auditiva e a outra para deficiência intelectual; sendo assim, são 13 salas de recursos para apoio especializado. No entanto visitamos dez escolas, pois, em duas delas, não foi possível o contato com o professor responsável por esse espaço pedagógico. Assim, nas dez escolas foram coletadas informações através de entrevistas semies- truturadas, com 12 professores sobre o funcionamento dessas salas.

Nessas salas, estavam matriculados 134 alunos com necessidades edu- cacionais especiais, no ano de 2008, e que eram atendidos pela sala de recursos. Esse atendimento educacional especializado caracterizava-se pela

diversidade de deficiências, todavia em salas específicas para cada tipo de deficiência.

É importante destacar que as informações obtidas através da Secretaria da Educação (SEC) foram necessárias para localizar as escolas que possuíam atendimento educacional especializado em sala de recursos, contudo os dados fornecidos pela SEC não correspondiam com os dados encontrados em relação ao número de alunos atendidos e ao tipo de deficiência encon- trada, pois nas informações havia divergência entre a realidade das escolas visitadas e as informações obtidas na SEC.

O trabalho de campo caracterizou-se pela aplicação de questionário aos professores que atuavam nas salas de recursos, ou seja, o professor res- ponsável pelo atendimento educacional especializado. O questionário foi aplicado nas escolas estaduais porque somente elas possuíam o atendimento educacional especializado realizado nas salas de recursos, no período da pesquisa.

É válido ressaltar que apesar de o questionário ter sido o principal instrumento para a coleta de dados da pesquisa, complementamos com entrevista por entendermos que a mesma nos oferece informações mais detalhadas acerca do assunto proposto.

Os sujeitos analisados nesta pesquisa foram os professores responsáveis pelas salas de apoio, alocados nas escolas regulares do Estado da Bahia, na cidade de Salvador, no ano de 2008, tendo como campo de pesquisa esse espaço, que é o lócus do objetivo proposto para análise – o Atendimento Educacional Especializado.

Em relação à questão da acessibilidade nas escolas visitadas, os profes- sores informaram a precariedade das mesmas: falta pista táctil nas escolas responsáveis pela deficiência visual, os banheiros e outros espaços da es- cola não possuem adaptação de infraestrutura como corrimões, rampas, etc. Há falta de sinalização adequada, as salas de recursos são equipadas de forma insuficiente para atender as necessidades dos alunos e faltam materiais específicos. Todavia existe uma ressalva, pois uma das escolas visitadas possuía material e equipamentos que atendiam a necessidade do estudante cego.

Essa escola atendia ao estudante com deficiência visual e os alunos ti- nham acesso a notebook que possuía o programa Dosvox para a realização

de suas tarefas. O equipamento era emprestado pelo governo do Estado assim como os livros, que estavam traduzidos para o Braille e que eram acompanhados com um CD; sendo assim, os alunos poderiam fazer uma cópia para estudar em casa. Percebe-se um avanço nessa escola, ainda que mínimo, no que diz respeito aos recursos fornecidos para o aprendizado do alunado com deficiência visual.

Os professores envolvidos nesse processo tinham dificuldades em exercer sua função, porque o atendimento ao aluno não era feito de forma integrada com o professor da sala comum, ou seja, o trabalho do professor da sala de recursos geralmente não é planejado em parceria com o professor da sala comum, para que o alunado possa ter um aprendizado completo e eficaz. Todos os professores entrevistados possuíam especialização na área de educação especial, todavia esse profissional, muitas vezes, era colocado para atender outra deficiência que não é de sua especialidade. Mas, durante a sua jornada profissional, ele participa de formação continuada oferecida pelo próprio governo do Estado.

O espaço onde acontece o atendimento educacional especializado deve ser a sala de recursos multifuncionais, porém o que foi detectado nas visitas é que esse espaço é, na verdade, um local que funciona como sala de apoio, pois não possui os recursos necessários para atender as diversas necessidades educacionais especiais. Os professores informaram que a sala de apoio está passando por processo de mudança, juntamente com a Se- cretaria de Educação, para Salas de Recursos Multifuncionais. Em muitas escolas que foram visitadas, esse atendimento não ficou restrito apenas a uma deficiência, mas era abrangente para as necessidades educacionais especiais de qualquer educando que procurasse por esse serviço; sendo assim, é necessário que tenha profissionais preparados.

Segundo o documento Sala de recursos multifuncionais (ALVES et al., 2006), esse espaço é provido de recursos pedagógicos que atendem às ne- cessidades educacionais especiais dos alunos e, também, podem atender aos alunos de escolas próximas, que ainda não possuam sala de recursos. Geralmente, o atendimento é realizado no horário oposto da aula da clas- se comum e pode ser realizado individualmente ou em grupos pequenos. Normalmente, o atendimento ao aluno ocorre em pequenos grupos ou individualmente, duas a quatro vezes por semana, não ultrapassando o

período de duas horas cada sessão de atendimento. O professor precisa ser especializado na área de Educação Especial, possuindo cursos de graduação, pós-graduação e/ou formação continuada.

O documento Sala de recursos multifuncionais relata ainda uma contribui- ção sobre o relacionamento entre os professores:

Salienta-se que o professor da sala de recursos multifuncionais deverá participar das reuniões pedagógicas, do planejamento, dos conselhos de classe, de elaboração do projeto pedagógico, desen- volvendo ação conjunta com os professores das classes comuns e demais profissionais da escola para a promoção da inclusão escolar. (ALVES et al., 2006, p. 18)

Essa é uma recomendação do documento sobre como deveria ser o rela- cionamento do professor da sala regular e o professor da sala de recursos, pois considera esse aspecto fator importante para o processo de ensino- aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais.

Pudemos constatar que, na prática, a sala de recursos multifuncionais não atende às diversas necessidades educacionais especiais, mas, sim, a uma necessidade educacional específica. Isso acontece pelo fato de as escolas estarem funcionando como escolas polos, ou seja, cada escola é responsável por uma deficiência, sendo essas escolas localizadas em lugares estratégicos nos bairros para que, dessa forma, possa atender aos alunos daquele bairro ou mais próximos daquela área específica.

Em relação ao atendimento aos alunos, em sua maioria, não são assistidos no turno oposto à sua aula da sala comum. Normalmente, os educandos são atendidos quando sentem dificuldade na aprendizagem ou quando o professor da sala comum requer algum auxílio do professor da sala de recursos. Segundo o documento Sala de recursos multifuncionais (ALVES et al., 2006, p. 14), o atendimento da sala de recursos

[...] se realiza em espaço dotado de equipamentos e recursos pe- dagógicos adequados às necessidades educacionais especiais dos alunos, podendo estender-se a alunos de escolas mais próximas, nas quais ainda não exista esse atendimento.

No entanto, na prática, constatamos que boa parte das escolas visitadas não atende aos alunos com necessidades educacionais especiais que estão ma- triculados em outras escolas, mas somente aos alunos da própria escola.