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Que fizemos, Deus meu?

Ausência e compromisso como perspectiva pedagógica na escola pública

O título acima faz menção ao nome do espetáculo da primeira prática de montagem em que fiz a orientação de produção na Escola de Teatro Martins Penna. Contando com a encenação do professor Mario Mendes, o início da representação apresentava como personagens um grupo de atores e atrizes que acordavam dentro de um velho teatro em ruínas. Em sua narrativa, ao despertar do sono, muitos não se recordavam o que ali estavam a fazer, outros rememoravam vagas lembranças do que se passara e alguns mostravam-se enfeitiçados pelos personagens que compunham, fazendo confusão entre a ficção e aquilo que, supostamente, seria a realidade.

O feitiço proposto pelo enredo do espetáculo me serve aqui como um pontapé para fazer a conclusão deste trabalho. Assim como as personagens do espetáculo, em um misto de agonia e satisfação, o trabalho diário como professor na escola pública me consome de tal maneira que, de forma frequente, teimo em fazer a seguinte pergunta: que estou fazendo aqui, meu Deus? Em face do impacto de um sem número de frustrações, cada novo dia na escola é um recomeço, um novo olhar, uma nova perspectiva de transformar e mudar o mundo para melhor, num esforço de combater a ideologia fatalista denunciada por Freire.

Mas, com a finalidade de consagrar e encerrar o ciclo de uma unidade de experiência possível, no desenho abstrato que toma forma em nossa imaginação, o mundo melhor demanda de uma série de articulações, combinados e convergências, encontros programados e contingências, acasos e místicas, em suma, confluências que se materializam dentre o desgosto e a esperança de cada sujeito que, presente de corpo inteiro na luta, mostra-se disponível a desafiar a regra posta, a testar o já consolidado, a provocar algum desequilíbrio no espaçotempo. Assim se colocam minhas proposições: é preciso desequilibrar o espaçotempo na escola pública.

Pensando junto com Freire, comecemos então por delimitar o enredo da cena ou, como ele vai chamar, a situação educativa. Sua primeira asserção diz que "a situação educativa não é

qualquer situação"254. Pois bem, não sendo qualquer situação, observamos então suas características intrínsecas:

[...] não há então uma situação pedagógica sem um sujeito que ensina, sem um sujeito que aprenda, sem um espaço-tempo em que estas relações se dão e não há situações pedagógicas sem objetos que possam ser conhecidos. Porém não termina aqui a questão. Há outra instância constitutiva da situação educativa, algo que vai mais além da situação educativa e que, sem embargo, é parte dela. Não há situação educativa que não aponte a objetivos que estão mais além da sala de aula, que não tenha a ver com concepções, maneiras de ler o mundo, anseios, utopias. Do ponto de vista técnico, esta instância, em filosofia da educação, recebe o nome de direcionalidade da educação. [...] É justamente a direcionalidade que explica essa qualidade essencial da prática educativa que eu chamo de politicidade da educação. [...] A politicidade é então inerente à prática educativa. [...] Recapitulando, então: não há prática educativa sem sujeitos, sem sujeito educador e sem sujeito educando; não há prática educativa fora desse espaço-tempo que é o espaço- tempo pedagógico; não há prática educativa fora da experiência gnosiológica, que é a experiência do processo de produção do conhecimento em si; não há prática educativa que não esteja envolvida em sonhos; não há prática educativa que não envolva valores, projetos, utopias. Não há prática educativa sem ética.255

Pois bem, postos estes elementos da situação educativa, e considerando a politicidade como um fator inerente a sua prática, parto então da seguinte premissa nesta seção ilativa: quero propor que algumas práticas efetivamente mudem na Escola de Teatro Martins Penna e, caso essas proposições configurem-se como inspirações correlatas para outras escolas públicas, que estas então se apropriem dessas ideias. Para tanto, façamos assim: vou pensar na organização da escola de teatro e de suas práticas educativas fazendo analogia com alguns elementos que compõem a montagem de um espetáculo teatral, articulando essa provocação com ideias que entendo fundamentais e estruturantes neste trabalho, a saber: construção de conhecimento, hierarquia das inteligências, unidade de experiência e materialidade.

Comecemos por definir a ideia do uso do espaço na escola, desta forma mesmo, desassociado da ideia de tempo. Segundo a professora Daniele Geammal, uma das minhas colegas docentes que responde pela disciplina de Cenografia na Martins Penna, a demarcação do uso do prédio teatral para o desenvolvimento da cena, por si só, já é um grande limitador de possibilidades de construção estética. Todo semestre, em regra, duas turmas formam-se apresentando seus espetáculos na Escola. Frequentemente, essas duas turmas expõem o desejo de realizar a encenação no Teatro Armando Costa, que possui uma estrutura de galpão que, supostamente,

254 FREIRE, 2008, pág 29. 255 FREIRE, 2008 págs 34-35.

permite a articulação de um conjunto maior de possibilidades e experimentos. Concretamente, apesar de parecer mais aparatoso, o uso deste espaço implica em certas limitações materiais e suas condicionantes não só afetam a possibilidade de ofertar objetos ao cognoscível, como insere um paradigma fundamental na prática educativa da escola: quando, por sucateamento da instituição, nos falta alguma estrutura necessária para o desenvolvimento da cena – como uma maquinaria, um equipamento, um refletor de luz especial etc – ou, ainda, quando nos falta o profissional capaz de dar a solução para o funcionamento do mecanismo – como um aderecista, um cenotécnico, um marceneiro, uma costureira etc – o que fazemos neste caso? Transformamos esta ausência em objeto a ser investigado e conhecido? Ou, diferentemente, nos paralisamos a fim de que o órgão central, responsável pelo sustento e bom funcionamento da escola, nos envie os equipamentos e os profissionais capilares? Para nos ajudar a pensar melhor na proposição, trago uma conversa que ficou registrada no grupo de produção da encenação do espetáculo O mercador de Veneza, peça de formatura da turma que encerrou o curso no segundo semestre de 2016.

Professor Heitor:

Galere, acabei de postar essa mensagem no grupo do Laboratório. É uma medida para ajudar vocês, espero que surta efeito. Não posso cobrar a presença de todos, mas fiz o pedido com todo carinho. Segue a mensagem postada no Laboratório de Produção256: "Galere, a montagem da noite botou todo o gás e vai estrear agora no próximo sábado. Naturalmente, eles estão contando com nossa ajuda durante os dias das apresentações, com a escala que já estou preparando e organizando junto de vocês. Os e as colegas estão muito cansados pois, vocês sabem melhor do que ninguém, estamos sem diversos funcionários importantíssimos na Escola que, nesta época, nos ajudavam muito. Em nome dos colegas que se formam, peço a ajuda de vocês para montarmos uma equipe "mutirão" a fim de fazer os acabamentos necessários para a montagem. Haja visto todo o esforço e comprometimento dos colegas, é mais do que justo que eles invistam o tempo desta semana focando no trabalho de suas cenas, exclusivamente como atores e atrizes. É o mínimo que podemos oferecer a eles e elas com afeto. Em suma: eles sabem exatamente o que tem de ser feito, precisam de colegas que doem tempo e força de trabalho. Venham vocês, acionem amigos e amigas de outras etapas. Falem com amigos e amigas de suas turmas. Em dois dias (hoje, terça, e, amanhã, quarta) damos conta de fazer os acabamentos necessários. Hoje (dia 15/11), feriado, estou marcando na escola às 17 horas. Na medida em que se apresentem por aqui, podemos organizar já o trabalho. Conto com vocês. Beijos!"

Kiara:

256 O Laboratório de Produção é uma iniciativa recente e ainda em fase experimental, implementada em 2016

como um projeto de extensão na Escola de Teatro Martins Penna. A proposta é que, através dele, os estudantes venham a experienciar práticas dos campos do Planejamento e da Produção, tais como elaboração de projetos, leitura de editais públicos e privados, produção executiva das práticas de montagem e de atividades extra-classe da Escola.

Achei bacana. Só me explica uma coisa: quem fazia parte da produção da noite eram todas essas pessoas257? Ou só Cris,Tarso e Pedro?

Professor Heitor:

Kiara, respondendo sua pergunta feita, vou te explicar como foi proposto o funcionamento do Laboratório para você entender. Aproveito explico para todos [...] Acho importante porque aproveitamos a oportunidade para pensar melhor o Laboratório, daí vocês podem tirar conclusões e colaborar com a avaliação para os ajustes em turmas que virão, ok? Então vamos... A primeira tentativa de organização do Laboratório junto às montagens foi acionar membros participantes que estavam na Etapa IV. Neste semestre, tivemos a inscrição das pessoas apontadas neste post, nas quais incluíam-se 6 colegas da Etapa IV (Cris, Pedro, Tarso, Brenda, Lulu e Mousinho). Organizamos da seguinte forma: 3 para à noite (Cris, Pedro e Tarso) e 3 para a tarde (Brenda, Lulu e Mousinho). Todos os demais participantes funcionariam como "assistentes de produção". No caso da turma de vocês, ficaria assim: eu faria uma espécie de "direção de produção" (com as devidas orientações), a Cris, o Pedro e o Tarso fariam a "produção" e os demais membros do Laboratório fariam a "assistência de produção" na medida que fossem acionados. 1º problema: na prática, para que esta demanda funcionasse (e eu falei isso algumas vezes), era necessário que o pessoal da produção (Cris, Pedro e Tarso) estivesse presente todos os dias da montagem (nem que fosse revezando em uma passada rápida para colher demandas), de modo que a comunicação com vocês fosse mais rápida e eficiente (entre nós poderíamos usar o próprio grupo no Face do Laboratório). Como vocês mesmos (a turma) apontaram, esta foi uma primeira ação que não funcionou. Logo, precisamos avaliar quais são as dificuldades desta primeira ação: eles não conseguem passar por causa das aulas que são no mesmo horário? Não se sentem à vontade? Descompromisso? Temos vários fatores. Precisaria ouvi-los para chegar as conclusões. 2º problema: Existe uma cultura de "centralismo" no campo do Teatro em geral e isso se reflete fortemente na nossa escola. Este centralismo gera uma dificuldade de entender qual o papel da produção no espetáculo, ofuscando-o. Como são sempre muitas demandas (e sempre muito variadas), o pessoal da produção (Cris, Pedro e Tarso) confundiu "coisas que tinham que resolver" com "coisas que tinham que fazer". Acho que isso pode ter assustado um pouco eles, porque, se eles três tivessem efetivamente que fazer tudo que estava previsto no plano de produção, não seria possível. Vocês, que são treze, efetivamente fizeram e qual foi o resultado? Estão muito cansados, assim como todas as demais turmas que se formaram (vocês com o agravante de não ter vários funcionários que eram essenciais como Dudu, Elísio, Di Biasi etc258). Não existia a menor possibilidade da equipe de produção (Cris, Pedro e Tarso) fazer sozinha, a ideia é que ela resolvesse as demandas junto aos demais integrantes do Laboratório (que é este pessoal todo que está no post e que seria a "assistência de produção"). O que foi efetivamente proposto? Que a produção (Cris, Pedro e Tarso) "identificasse" as demandas e, a partir daí, as dividissem com o restante do pessoal do Laboratório. Eu dividi com eles um "quadro de disponibilidades" do pessoal que faria a assistência de produção, inclusive colocando email e telefones de cada um. Não rolou. É necessário repensar a dinâmica. Conclusão: eu não acredito que a equipe de produção

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Na ocasião, o Laboratório de Produção contava com a participação de aproximadamente 20 estudantes que, na produção executiva das práticas de montagem, dividiam-se nas funções de produção e assistência de

produção, orientados pelo professor que fazia uma espécie de direção de produção.

(Cris, Pedro e Tarso) não resolveu por descompromisso. Acho que houve falha grave na comunicação entre eles e vocês e, ademais, eles realmente não sabiam como resolver. Vocês da turma foram solidários entre vocês porque, de forma diferente, o espetáculo não saía. Ou seja, muitos foram propositivos e deram as soluções, o que é muito bom. Ainda acredito piamente que é possível organizar a dinâmica da escola de modo que o pessoal da Etapa V tenha o conforto de se dedicar com tranquilidade às cenas. Não foi desta vez. Para tanto, tem uma coisa que já sei que é preciso fazer e conto com a ajuda de vocês na avaliação para fortalecer essa ideia. Veja, eu não posso "cobrar presença" dos estudantes do Laboratório na produção da montagem. Se trabalho com o pessoal de um turno produzindo outro turno (pessoal da tarde produzindo a montagem da noite), é difícil porque muitos trabalham e têm compromissos. Se trabalho com o pessoal do turno produzindo o próprio turno (pessoal da noite produzindo a montagem da noite), é difícil porque eles têm aula no mesmo horário. O que preciso é tornar a produção executiva da montagem uma "disciplina" da escola. Desta forma, tenho como cobrar o pessoal para que efetivamente participe. Essa seria uma solução efetiva. Mas como fazer? É possível contar com a ajuda de vocês para defender essa ideia? No mais, não se sintam "cobaias" do Laboratório. Precisamos tentar de alguma maneira, senão as coisas que achamos que estão erradas não mudam nunca. Se tentarmos sempre, uma hora vamos acertar. Mas sem tentar fica difícil... Tenham certeza que pensei nesta estrutura para ajudar vocês, de coração. Tenho por vocês a maior admiração! Vocês já são campeões!!! Bola pra frente!

Kiara:

Tentar com responsabilidade, né, Heitor. Realmente não funcionou. Entendo que todos tenham demandas, mas talvez fosse melhor botar o pé no chão e ter explicado passo a passo, quantas vezes fosse necessário a essa galera. Ter se feito presente entre eles, ter perguntado como estava, ter esclarecido a diferença entre "coisas que tinham que fazer" e "coisas que tinham que resolver", como você mesmo disse. A sua ideia de transformar em disciplina ainda não aconteceu. Então acho que já era de se imaginar que a coisa ia andar desse jeito. Correr solta. Falha de comunicação é algo sempre apontado na Martins, inclusive por você. Cabe a quem teve a ideia, se adiantar e evitar frustrações, desgastes e improdutividades. Entendo que sua intenção foi a melhor, mas assim.. Não é pra responsabilizar quem se voluntariou, e não é pra responsabilizar a gente. Então a gente responsabiliza quem? Espero que essa galera compre a ideia, porque senão, nós não vamos mexer em mais nada mesmo. E o trabalho será apresentado daquele jeito. Com o nome de todo mundo que participou e com as demandas de produção que faltam. Seremos a única montagem do ano da Martins Penna. Eu só achei que haveria mais organização conosco. Depois de tudo que enfrentamos esse ano e estamos enfrentando, eu esperava que nos poupassem de ser as cobaias. E preferia que tivéssemos assumido a produção desde o começo. Enfim. Essa é a minha opinião, não falo em nome da turma. Falo por mim.

Professor Heitor:

Ok, Kiarinha. Tá registrada sua avaliação. Obrigado.

Vinicius:

Heitor, não vou nem entrar nesse assunto porque estamos a quatro dias para a estreia. Só quero te dizer que nós procuramos os assistentes de produção, mas tivemos que ouvir que eles só recebem ordem do diretor de produção!

Essa turma serviu como testa de ferro desde a Etapa 1 e agora se repete a mesma coisa! Essa montagem vai sair e os realizadores disso somos nós (alunos) nossa ficha técnica não diz ao que veio, essa é a verdade! Estamos profundamente decepcionados pela falta interesse e comprometimento pelos os mesmos. Fizemos coisas que não era nossa obrigação e ainda estamos fazendo. Vamos fazer essa montagem e os alunos executaram na prática às demandas. Diante disso quero ser claro e dizer que o que me importa nesse momento é o nosso trabalho, e não o Laboratório.

Duda:

Eu acho que isso é reflexo de tudo que está acontecendo com a Martins de uma maneira holística. E acho que cabe a nós como alunos de teatro entender que o fazer teatral não é apenas vestir seu figurino e brilhar. Antes é necessário costurá-lo. Tô insegura nas minhas cenas por não ter podido trabalhá-las, mas orgulhosa porque sei produzir cenário, sei fazer divulgação, sei conseguir apoios junto às empresas, sei que o dinheiro sempre vai ser pouco porque sempre surgem gastos etc. Tudo o que aparecer no espetáculo teve a minha mão. Quantas vezes não deixei de ensaiar porque o meu colega de cena ou eu mesma estava de corpo mole? Isso me frustra mais que a falta de tempo pela produção. É muito natural que queiramos culpar alguém por tudo que estamos passando. Mas todos os mestres do teatro que fiquei sabendo faziam a coisa acontecer, como um todo, inclusive o autor da nossa peça. O que mais me indignou mesmo foi a falta de diálogo, interesse e união da ficha técnica e como a escola não se preocupou em resolver isso. Obrigada, Heitor, pela tentativa, você pelo menos não se mostra totalmente desmotivado com essa estrutura que estamos enfrentando agora e tá tentando reinventá-la. E quanto às falhas, nada melhor que olhar pra si e corrigir as suas próprias.

Vinícius:

Tudo bem, Duda. Mas quando eu fiz o THE259 o edital diz que eu me formaria como ator, não como cenógrafo, produtor, pintor, etc. Você me desculpa, mas a escola tem que se responsabilizar sim! Sei muito bem que precisamos ficar juntos nesse momento, mas eu não vou tampar o sol com a peneira e dizer que fazer teatro é isso! Não vou!!! O que aconteceu e está acontecendo é de uma falta de profissionalismo sem tamanho. Quanto ao corpo mole, eu não vou nem responder, cada um sabe de si!!! Mesmo!!! A uma semana da estreia preferimos descansar... Fazer o quê?!

Duda:

Vinícius, minha mensagem não foi pra você, não tô negando nada do que você falou. Você sabe tão bem quanto eu quem tá levantando e fazendo a parada e quem tá sentado olhando. Besteira você ficar discutindo comigo coisas que nós dois sabemos. Estamos juntos. Só acho que não adianta tentar ficar culpando a falha do Laboratório de Produção e não olhar pra nossa própria desorganização enquanto turma. Vitimismo é uó, não ajuda em nada.

Neste momento, o uso do espaço não pode se desassociar da ideia de uso do tempo e não é difícil de entender o porquê. A situação educativa demanda de realizações articuladas com a

259 Teste de Habilidade Específica, procedimento eliminatório e classificatório no vestibular de ingresso para a

Escola de Teatro Martins Penna que, em média, tem uma demanda de 10 a 15 candidatos por vaga aproximadamente.

ideia de culminância, fenômeno tão comum dentre as ações orquestradas pela prática docente e que articulo diretamente com o sentido dado por Dewey na ideia de unidade de experiência. A experiência precisa se fechar em si. Nas escolas de Ensino Básico há uma sorte de projetos que possuem a culminância como fator determinante e crucial do progresso do trabalho. Na Escola de Teatro Martins Penna, a culminância é um fator constante e acompanha todas as etapas que, ao fim de seu curso, se apresentam em suas provas públicas. Nessa acepção, a prática de montagem da Etapa V também nada mais é do uma prova pública que ganha contornos mais complexos no que tange a sua representação e experimentação, observando o que se imagina como realidade.

Por este motivo, o uso do espaço e do tempo – ou melhor seria, do espaçotempo – não pode ser desarticulado e é tão determinante na prática educativa. Mas, por ser decisivo, precisa ser pensado em conjunto com os atores envolvidos, a fim de que se estabeleça, dentro desta limitação, aquilo que, de fato, deverá ser considerado como oportunidade para aprender algo novo, ensejo para assimilar os objetos cognoscíveis. Para tanto, a meu ver, existe um ponto- chave que precisa ser acionado a partir da resposta a algumas perguntas fundamentais: o que os sujeitos que se dizem comprometidos com a escola – e, em especial, com a escola pública – devem fazer quando identificam que os objetos cognoscíveis que pululam dentre as dúvidas fogem à direcionalidade da formação do estudante? Transforma-se este objeto cognoscível em matéria oficial? Se não, e sendo imprescindível dentro dos saberes que orbitam a construção de conhecimento do perito, que tipo de postura devem ter estes sujeitos? Não seria encarado como descompromissado um professor que percebe que as condições materiais a que estão submetidos os estudantes são resolutivas no sentido de impedir que a unidade de experiência se conclua?

Ausência e compromisso são conceitos que se articulam e que precisam ser pensado juntos

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