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Ao escolher trazer a trajetória da EMEF Oziel Alves Pereira, trouxemos elementos capazes de configurar melhor essa história dentro da história da cidade de Campinas, que pudessem ser abertos canais de diálogo e reflexão frente à questão da luta por direitos fundamentais: como casa, escola e saúde.

Prerrogativas para o que se acredita como uma vida cidadã, na qual o sujeito pode fazer parte de uma coletividade, possa sentir-se enraizado outra vez:

O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e desconhecida da alma humana e uma das mais difíceis de definir. O ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro (BOSI, 2003 p.175).

Alguém que tenha sua capacidade de “enraizamento” perdida fica, então, sujeito a perder sua cultura, e como nos aponta Bosi (2003). Se a migração e o trabalho operário são desenraizantes, o desemprego é um desenraizante de segundo grau, logo, se além de sair de sua terra natal o sujeito experiência o desemprego, este perde sua capacidade de ‘projetar um futuro’ a ele cabe assistir suas próprias forças minando, sem esperança de mudança, ou então, engendrar uma configuração de resistência, se aliando aos seus companheiros e compreendendo que é preciso realizar uma resistência agora política, que mude sua participação e encontre um novo modo de enraizar-se outra vez.

Logo, todos que estiveram na ocupação da área do Parque Oziel, e posteriormente estiveram na reivindicação da escola, participaram das assembleias, reuniões de conselhos, realizaram passeatas e manifestações, podem ser consideradas pessoas que lutavam pelo seu enraizamento e pelo de suas famílias.

Assim sendo, a escola, o sujeito que nomeia o bairro e o movimento social, corroboraram para colocar o impasse da distribuição de terra como uma questão política e não meramente social.

Foram modernizadores, de modo que, do ponto de vista de Martins (1997) os movimentos sociais, principalmente pela reforma agrária, forçaram a elite desse país a realizar ainda que minimamente uma mudança no padrão de resolução do impasse sobre a distribuição de terra. Tomemos a ocupação urbana como um braço

desse movimento, e podemos dizer que se não houve grandes mudanças nas relações estabelecidas politicamente para resolver os impasses, a trajetória pela construção, pela ocupação da escola do Parque Oziel pode representar o possível que poderia ser feito para aquela ocasião.

E segundo Martins (1997):

Mas Lefebvre ensina que nem tudo é capturável pelo poder. Por isso para ele, a concepção da revolução social não se confunde com golpe de Estado, mas é a revolução no modo de viver, no modo de pensar, naquilo que pode nos tornar mais humanos, nos humanizar, no sentido de ser libertos de carências e misérias. (...). É no residual que está a fonte da liberdade, do socialismo, de uma outra vida, de uma vida nova. (...). Entendo que a utopia hoje se põe nesse plano. A utopia é o possível (MARTINS, 1997, p.126).

A escola deixa de ser então tão somente o lugar de ensino/aprendizagem, pedagógico, mas o lugar que fisicamente educa os sentidos (VIÑAO FRAGO, 1995), que mostra que uma parcela de pessoas foram sujeitos que ousaram criar uma realidade nova, que subverteram a ordem. A escola é símbolo da conquista coletiva, ela mostra em seu percurso a metamorfose a que foi obrigada a passar, do contêiner até seu prédio atual.

Ainda sobre a materialidade da escola podemos reiterar que ela é um tipo de fonte que ajuda a olhar o processo histórico e interrogar o presente, contribui de modo contundente para que possamos construir memória coletiva, para a comunidade e para a cidade.

Considera-se importante lembrar que a questão sobre os estigmas sociais os quais foram mencionados no princípio da dissertação, ainda que sejam verdadeiros na maioria das vezes é fruto do desconhecimento das lutas e que não são consideradas por sujeitos fora dela. Mas também é possível afirmar através de apontamentos encontrados em atas, ou mesmo no Projeto Político Pedagógico da EMEF Oziel Alves Pereira que muitos professores que atuavam na escola no seu início e durante a transição entre seus múltiplos espaços marcaram posição favorável à permanência e manutenção da escola no bairro.

A reflexão considerada relevante é pensar que o movimento reivindicatório por direitos sociais fundamentais a condição humana é em sua gênese mais revolucionária do que o capital tende a ser dentro de nossa sociedade.

Ao fim dessa dissertação as considerações possíveis são de que no olhar com maior rigor para configuração histórica da EMEF Oziel Alves Pereira, ela apresenta elementos que corroboram para atenuar as condições discursivas de opressão e desqualificação perante a comunidade do Parque Oziel, pois a reivindicação trouxe elementos emancipatórios e que contribuíram para a politização de membros da comunidade do bairro e também da cidade de Campinas, permitiu que houvesse uma nova agenda política e por fim uma ação coletiva conciliatória que estava perto do possível.

Sobretudo a dissertação pode mostrar que a instituição escolar, do ponto de vista material é uma fonte na História da Educação, que mais que contar a trajetória linear da construção, ela se encarrega de apontar a importância da representatividade, da apropriação e dessa materialidade na construção de sentidos e que contribui para mostrar os dispositivos de organização do espaço escolar e os dispositivos da normatização dessa instituição.

Observar a escola e sua materialidade como fonte é abrir um arcabouço para olhar o lugar em que ela, a escola, está configurada na nossa sociedade, sua função social, a responsabilidade do Estado perante a educação de crianças e jovens. Souza (1998)

Enfim, a dissertação tentou trazer elementos que permitissem a reflexão sobre a relação entre a materialidade, a política e a História da Educação, já que esses apontamentos e essa relação servem de suporte para compreendermos melhor a realidade, por exemplo, da educação pública brasileira, como ela foi se configurando e como foi a sua apropriação pelos diferentes sujeitos que nela atuam.