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BREVE HISTÓRICO DO BAIRRO PARQUE OZIEL NA CIDADE DE CAMPINAS: A LUTA DO MOVIMENTO SOCIAL PELA POSSE DA TERRA.

“A ocupação é uma coisa bonita, embora seja de barraco de madeira. Porque

o bonito não está só nos barracos, o bonito está nas pessoas dispostas a lutar; a beleza de ver as pessoas dispostas a fazer luta para mudar sua realidade. É uma beleza que não é todo mundo que enxerga.

(José da Mata, 2011)

Nesse capítulo trataremos brevemente da ocupação urbana ocorrida na cidade de Campinas no ano de 1997. Serão apresentados alguns acontecimentos, de certo não uma história aprofundada, mas suficiente para o entendimento necessário do contexto no qual a escola foi construída, baseados em uma revisão bibliográfica sobre o tema. Com isso, queremos apresentar elementos que destaquem parte das dificuldades de legitimação social que o grupo de moradores e, por consequência, os estudantes da escola, enfrentam em relação à cidade de Campinas. Como a ocupação não é o objeto direto da dissertação, optamos por produzir uma narrativa sintética sobre ela, mas que sistematiza um conjunto de referências bibliográficas sobre a ocupação e as lutas sociais nela engendrada.

Antes se faz necessário diferenciar a característica dos movimentos sociais. O Movimento dos Sem Terra (MST) surgiu em meados de 1985, quando 1500 famílias no município de Sarandi, Rio Grande do Sul, ocuparam a Fazenda Annoni com 9500 hectares.

Segue imagem que referenda a informação acima.

O MST começa um pouco antes, ainda nos tempos da ditatura, formado pela população camponesa, que enfrenta a escassez de trabalho, uma vez que não possui terras, dependendo assim, de grandes latifúndios e se vendo obrigada a migrar para os grandes centros urbanos. As reuniões, que eram clandestinas, aconteciam para que as pessoas pudessem se organizar e ocupar terras improdutivas, que aguardavam a desapropriação feita pelo governo federal.

Grosso modo, o MST se reserva a trabalhar a formação política da comunidade, principalmente rural, a organizar e realizar a luta pela terra destinada à produção agrícola, para que o produtor rural possa gerenciar sua produção e garantir sua subsistência. Segundo Laureano (2009), é evidente que há muito mais coisas engendradas em todo esse processo, visto que o MST contribui desde sua origem na construção de um paradigma de vida diferente ao imposto pela lógica de um mercado capitalista. O movimento, por exemplo, é contra o agronegócio, por motivos que extrapolam a questão econômica, mas que perpassa a qualidade de vida, qualidade essa que pode ser medida através do que comemos, de onde vem o que comemos, o modo como estabelecemos as relações entre produção e consumo. Martins (1997) diz que o MST dá certo “não só porque quer terra, mas também, porque tem um modo

de vida como bandeira. Uma mística de como é viver, de como o ser humano deve ser”, p.114.

O MST, segundo Martins (1997), ajudou, ou melhor, forçou a realização da reforma agrária no Brasil, questão que como cita o próprio autor, é um dos dilemas na questão estrutural do país que não estabeleceu políticas agrárias em favor da agricultura familiar:

Na verdade, o Movimento dos Sem Terra é, ao mesmo tempo, um grande movimento de modernização no campo. Ele é o mais consequente movimento de modernização e ressocialização das populações do campo que já se houve na história do Brasil. (...) você pode tirar o sujeito da mais absoluta falta de destino, da mais absoluta miséria e transformá-lo num sujeito que vive num estado de bem-estar social. É possível fazer isso, e sem retroceder. (MARTINS, 1997, p.112-113).

Martins (1997) cita uma entrevista concedida por Fernando Henrique Cardoso, a uma emissora de televisão, quando ainda não era presidente na qual ele disse que se a distribuição de terra acontecesse sem critérios seria possível criar ainda mais pobreza. E o autor afirma:

Dá, sim, para resolver o problema da pobreza dessas populações se elas estiverem envolvidas na espécie de mística própria dos movimentos sociais, ou do seu próprio movimento social, no sentido de que elas também querem dar o salto para a frente. Ninguém gosta da miséria, ninguém gosta de passar fome, ninguém gosta de viver como bicho. Imaginar que essas populações amam a miséria é até mesmo uma injustiça absolutamente incrível, sobretudo daqueles que entendem que a opção pelo pobre é o mesmo que opção pela pobreza (MARTINS, 1997, p.113).

A partir da afirmação de Martins (1997), podemos também realizar um paralelo com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, movimento criado a partir de 1997, considerado uma extensão do MST. Foi esse movimento que ajudou a organizar a ocupação das áreas do Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B, hoje nomeada de Vila Taubaté.

Na própria definição do movimento:

Iniciamos nossa trajetória de luta contra a especulação imobiliária e o estado que a protege. Todos sabem que as grandes cidades brasileiras, cada vez mais ricas, escondem nas periferias a enorme pobreza daqueles que as constroem.

Nosso objetivo é combater a máquina de produção de miséria nos centros urbanos, formar militantes e acumular forças no sentido de construir uma nova sociedade. A ocupação de terra, trabalho de organização popular, é a principal forma de ação do movimento. Quando ocupamos um latifúndio urbano ocioso, provamos que não é natural nascer, viver e morrer pobre e oprimido. Não aceitamos a espoliação que muitos chamam de sina.

Ao montar barracos de lona num terreno vazio e organizar os trabalhadores para lutar, cortamos a cerca imaginária que protege a concentração de riqueza e de terra nas mãos de poucos. E em alto e bom som gritamos: chegou a nossa hora. Criar poder popular! www.mtst.org

Do ponto de vista histórico é importante afirmar, conforme já foi dito, amparada pelo arcabouço teórico dos autores Chalhoub (1996) e Ghilardi (2012), que existe um lugar para os pobres, um lugar afastado, uma conformação de precariedade, afastada, e por que não dizer, escondida dos olhos de quem se julga sujeito de bem, trabalhador.

A afirmação de Martins (1997), porém, é muito pertinente para o caso da ocupação do Parque Oziel, visto que “ninguém gosta de miséria”, nem quem vê muito menos quem vive nela. Isto posto, pensemos na condição geográfica na qual está configurada a ocupação em questão. Ela fica localizada numa região considerada de grande valor para a especulação imobiliária, fica muito próxima ao centro da cidade de Campinas circundada por rodovias que dão acesso a São Paulo, região metropolitana de Campinas e cidades do interior do Estado (Ghilardi, 2012). Há um

resort reconhecido nacionalmente, The Royal Palm Plaza e o shopping Campinas

Shopping, com saída nas rodovias Anhanguera e Santos Dumont. Enfim, uma área de grande visibilidade, não há como não ver a pobreza emergindo e mais, permanecendo.

É bem verdade que não é de hoje que bairros populares ficam entremeados entre os bairros de classe média e alta, porém se as áreas são consideradas nobres ou de alto valor imobiliário o poder do Estado garante que estas áreas sejam revertidas à especulação imobiliária. Ghilardi (2012).

Considera-se importante trazer a essa discussão os conceitos que permeiam a questão da criação do bairro, tais como ocupação, invasão e exclusão social, uma vez que permeiam o senso comum e pairam na história do bairro, ressoando também, dentro da escola. Almeida (2006) aponta-nos a paradoxal relação jurídica, a qual está inserida a ideia de direito à propriedade e ao mesmo tempo ao da moradia. Ambos garantidos pela Constituição. Na mesma perspectiva Laureano (2009) também trata sobre o que ela considera como um direito que vai se constituindo no país no que tange à propriedade.

Juridicamente, o direito à propriedade é um direito real oponível erga omnes. Trocando em miúdos, é um direito que ocorre entre um sujeito, aquele que é o titular do domínio, em face de todos os outros integrantes daquela sociedade, que devem respeitar esse direito. Entretanto, para este sujeito dono é exigido o cumprimento da função social. Essa é a condição sine qua

non para que todos os demais, não proprietários, respeitem o seu direito de

propriedade. Descumprindo a função social, perde o proprietário o critério objetivo inerente à propriedade que é o direito de posse. Portanto, um imóvel que não cumpre a função social está vazio. Ninguém tem a sua posse, como consequência lógica não pode o Poder Judiciário, baseado somente no registro, dar as garantias da ação possessória. A propriedade, aspecto subjetivo, somente garante ao detentor do título de domínio, o direito à indenização, nos termos do Art. 5º, XXIV da Constituição. Portanto, errado falar que houve invasão do imóvel pelos atuais ocupantes. Quem é o invasor é aquele que se diz proprietário sem legitimidade (LAUREANO, 2009).

Logo, todo cidadão tem direito à propriedade, desde que esta esteja cumprindo sua função social. Levando-se em consideração que a ocupação da área que hoje é o bairro Parque Oziel teve início numa grande área desocupada e que, como aponta Ghilardi (2012), esperava-se que a especulação imobiliária vislumbrasse maior rentabilidade e, ao mesmo tempo, ganhasse privilégios da máquina pública, abrindo ruas, tivesse contornos urbanos que chamasse a atenção de possíveis

compradores para os lotes, temos aí uma configuração favorável para o grupo que realizava o movimento em questão. Estes reivindicavam o direito à moradia, numa terra que supostamente não cumpria sua função social, já que estava vazia, configurando assim o que é chamado de ocupação de terra, não invasão.

Para desmistificar o conceito de exclusão social dialogaremos, mais uma vez, com Martins (1997), que diz:

(...) rigorosamente falando, não existe exclusão: existe contradição, existem vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o conflito pelo qual a vítima dos processos excludentes proclama seu inconformismo, seu mal-estar, sua revolta, sua esperança, sua força reivindicativa e sua reivindicação corrosiva. Essas reações, porque não se trata estritamente de exclusão, não se dão fora dos sistemas econômicos e dos sistemas de poder. (...). As reações não ocorrem de fora para dentro; elas ocorrem no interior da realidade problemática, “dentro” da realidade que produziu os problemas que as causam (MARTINS, 1997, p.14).

Assim, nessa dissertação trabalharemos com o conceito de ocupação de terra, visto que acreditamos que se uma terra/ propriedade não cumpre sua função social (Laureano, 2009), pode então vir a ser ocupada para salvaguardar o direito fundamental a todo ser humano de ter uma moradia. Esse mesmo ser humano não será visto como excluído socialmente, pois como aponta Martins (1997), se assim pensarmos negaremos o sentido dialético do termo, ninguém pode ser considerado excluído da sociedade capitalista, pois ora lutamos contra, ora contribuímos com ela, vivemos como o próprio autor fala, de modo socialmente “indecente”.

Martins (1997) ainda fala que exclusão pode ser percebida apenas como a privação na qual cada um ou todos podem ter num dado momento, como:

(...) privação de emprego, privação de meios para participar do mercado de consumo, privação de bem-estar, privação de direitos, privação de liberdade, privação de esperança. É isso, em termos concretos, o que vulgarmente chamamos de pobreza. É preciso, pois, estar atento ao fato de que mudando o nome de pobreza para exclusão, podemos estar escamoteando o fato de que a pobreza hoje, mais do que mudar de nome, mudou de forma, de âmbito e de consequências.

O autor ainda faz uma observação de que atualmente a distinção entre pobres e ricos é constantemente redefinida, pois a pobreza no “mundo moderno, é relativa”.

Assim sendo, consideramos que havia uma configuração de pessoas privadas de moradia em Campinas no final da década de 90, que se organizaram,

lutaram e ocuparam uma área que não cumpria uma função social e ao mesmo tempo estava a serviço da grande especulação imobiliária na cidade, e mais, essas pessoas como aponta Martins (1997) deixaram de esperar, “tornaram-se com razão, impacientes”.

No que concerne sobre o ponto de vista da ocupação, foram encontrados artigos, dissertações e relatos de moradores e líderes da ocupação que descrevem como foi o seu começo. Num artigo publicado no XVIII Congresso Nacional do CONPEDI – Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, Souza (2009) relata:

Em 1997, a cidade de Campinas se viu tomada por uma ocupação às margens da Rodovia Santos Dumont, durante o governo do Prefeito Francisco Amaral que, como promessa de campanha para ser eleito, chegou a afirmar que desenvolveria na área o denominado projeto Cingapura, então adotado na Capital do Estado, que se apresenta como núcleo habitacional para pessoas de baixa renda e como uma alternativa de superação do processo de favelização. Esta ocupação, iniciada nos primeiros dias do mês de fevereiro de 1997, é considerada, na atualidade, a maior da América Latina e integra os bairros ora denominados Parque Oziel e Jardim Monte Cristo (SOUZA, 2009, p.2819).

Algumas dessas fontes consultadas, afirmam que esses moradores não estavam organizados em algum movimento social e tampouco tinham intenção de liderar uma ocupação de proporções tão grandes, mas reconhecia-se que as condições de crescimento da ocupação estavam explicitadas na cidade, uma vez que se faz alusão à favelização da zona urbana.

No mesmo ano o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), se organizava para fazer a Marcha pela Reforma Urbana em São Paulo. Houve uma confluência de fatores que levaram esta ocupação a ser considerada na atualidade como a maior da América Latina.

Esta megaocupação teve seu início após a enchente do denominado Córrego Taubaté, que desabrigou uma série de favelados na região, que se uniram com outros invasores do bairro São Bernardo, da cidade de Campinas, e que foram obrigados a desocupar uma área anteriormente invadida no local. Um mês após o início da ocupação, numa assembleia entre os moradores para decidir sobre a infraestrutura do local e sobre o cadastramento das famílias ocupantes, 2820 os assentados decidiram denominar a área de “Parque Oziel”, em homenagem a um rapaz de 19 anos, assassinado durante o conflito dos sem-terra com a Polícia Militar, na cidade de Eldorado dos Carajás, no Estado do Pará, ocorrido em abril de 1996 (SOUZA, 2009, p.2819 e 2820).

Em Menegaço (2005), encontramos então a seguinte descrição do começo do bairro Parque Oziel:

O início oficial da ocupação do Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B foi no dia oito de fevereiro de 1997. Antes da ocupação houve uma primeira movimentação organizada através de um acampamento, de dezembro de 1996, para reconhecimento do terreno cujos proprietários estavam em débito com o fisco há muitos anos. A ocupação se iniciou por pessoas que não tinham emprego, não tinham onde morar e não tinham como pagar o aluguel (MENEGAÇO et al., 2005, p.09)

Tanto Souza (2009) quanto Menegaço et al. (2005), descrevem que a ocupação decorreu de um conjunto de fatores, incluindo o fato de já haver moradores naquele espaço, mas reconhecem que o MTST assumiu a liderança posteriormente, assim a luta passou a ser para regularizar a área e urbanizá-la, na condição de bairro.

Para melhor compreendermos, segue abaixo uma imagem que mostra a área.

Figura 6: área da ocupação na região sul de Campinas, entre a rodovia Santos Dumont (a esquerda), e Anhanguera (acima) Fonte: Google Earth

Como é possível perceber pela imagem acima, trata-se de um vasto território ocupado, hoje, densamente povoado nas imediações da Rodovia Santos Dumont.

Menegaço et al. (2005), aponta como um dos líderes do movimento social do MTST, Gentil Ribeiro, conhecido como Paraíba6. Diz-se ainda que a ideia original

não era ocupar todas as áreas mencionadas anteriormente, apenas o que hoje é o parque Oziel, já que na área do Jardim Monte Cristo havia “pequenos proprietários

legítimos, o que tornaria a ocupação mais difícil. Porém, devido ao número de pessoas que chegavam, foi necessário ocupara também esse local” (Menegaço, 2005). E por

fim a Gleba B. Temos, portanto, na vasta região assinalada no mapa, três bairros distintos, que se formaram em um prazo de 20 anos, com suas histórias conectadas. Contam com aproximadamente 3000 famílias e 30.000 pessoas.

Nessa mesma direção, a dissertação de Ghilardi (2012), traz o depoimento de uma liderança do movimento do MTST no qual afirma:

A ocupação começou com 800 famílias, e, de repente, a coisa se adensou e chegou a 12 mil famílias. Consideramos esse assentamento como uma primeira experiência para refletir sobrea metodologia de trabalho, mas não significa que nós a organizamos. Ela aconteceria de qualquer maneira, assim como acontecem várias ocupações espontâneas, várias favelas vão se adensando, vão crescendo (GHILARDI, 2012, p.34).

No que tange aos possíveis proprietários da área ocupada, encontrou-se um artigo de Souza (2009), doutor em direito, publicado nos anais do XVIII Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, que levanta alguns dados em cartório sobre esses proprietários e ações destes contra as lideranças do movimento. Outro dado relevante é a questão da desapropriação feita pela prefeitura para que estes lotes fossem declarados como áreas de utilidade pública com o objetivo de regularizar a ocupação e transformá-la em assentamento. Descreve também que a área ocupada foi de 2,2 milhões de m², onde originalmente teria sido a antiga Fazenda Taubaté. Na data da publicação do referido artigo, relata- se que 90% da área pertenciam aos advogados Armando Ladeira e Arari Pinto de Oliveira, e o restante dividida entre pequenos proprietários.

Os referidos donos da terra entraram com uma liminar de reintegração de posse contra alguns líderes do movimento social, a qual segundo Souza (2009) é

6 Gentil Ribeiro, ou Paraíba, foi a primeira liderança reconhecida no Parque Oziel, arregimentando 2 ou 3 mil

pessoas para ocupar a área. Conta-se que ele foi um dos que defendeu o nome de Oziel, devido ao Massacre de Eldorado de Carajás que havia recém ocorrido. Foi assassinado em 1998.

concedida em 26/09/97 mediante acompanhamento do Serviço Social de Campinas e da Polícia Militar.

Souza (2009), porém diz que boa parte da área em questão:

(...) acabou sendo declarada de utilidade pública pelo prefeito municipal Francisco Amaral, através do Decreto-municipal n. 13.090 de 01/04/99, com o objetivo de criação e melhorias de centros de população, seu abastecimento regular de meios de subsistência e execução de planos de urbanização, loteamento de terras edificadas ou não, para a sua melhor utilização econômica. (SOUZA, 2009, p. 2823)

Concomitantemente ainda houve outros pedidos de reintegração de posse, mas Souza (2009) descreve que a Polícia Militar não conseguiu a época saber com exatidão quais áreas deveriam ser desocupadas por falta de infraestrutura, sendo assim houve uma confluência de fatores que possibilitaram que tal configuração permanecesse sem grandes alterações desde então.

Ghilardi (2012) diz que:

(...) juridicamente, a pressão sobre o poder público levou a decretação da área como interesse social, de modo a promover sua desapropriação pelo poder público e posterior comercialização às famílias ocupantes. A partir de 2001, a Prefeitura realizou uma análise topográfica do terreno e passou a providenciar a instalação de infraestrutura na região. Em 2004, foi promulgado o Decreto nº 14.918 que estabelece a área do complexo como de interesse social para fins de desapropriação (GHILARDI, 2012, p.44).

A partir desse apontamento outros decretos e leis que vão de 1999 a 2011 foram encontrados na Biblioteca Jurídica de Campinas e tratam especificamente sobre a desapropriação de áreas de propriedade privada a fim de regularizar essas mesmas áreas por questão fundiária, isto quer dizer, o poder público entendeu que era preciso regularizar a questão da ocupação e isso foi sendo realizado durante o período mencionado acima.

É evidente perceber que as condições desta ocupação eram precárias no início. Repleta de barracos de lona, sem nenhum saneamento básico, energia elétrica, água potável, sem atendimento médico e sem escola. Este era o horizonte de quem fazia parte daqueles primeiros momentos da ocupação do bairro Oziel.

Tal situação estimulou a população deste lugar a perceber que não necessitavam apenas de moradia, mas de condições de sobrevivência dignas. A

busca pela dignidade viabilizou manifestações frente à realidade vivida por aquele grupo desassistido e carente. Passeatas e fechamento de rodovias passaram a ser as ferramentas utilizadas, objetivando reivindicar as melhorias necessárias para aquele lugar. As reivindicações eram muitas: abastecimento de água, coleta de lixo, asfalto, posto de saúde, rede de esgoto, energia elétrica, passarela e claro uma escola.

Segue imagem da passeata pelos bairros: Parque Oziel, Monte Cristo, numa das muitas reivindicações.

Figura 7: Passeata dentro do bairro Parque Oziel. Fonte: Zinclar, 1998.

A ocupação cresceu e os moradores no transcorrer de alguns anos puderam ter a regularização da posse do que seria seu pedaço de terra, seu novo “enraizamento”. As imagens a seguir são de alguns lugares do Parque Oziel.

Figura 8: Vista parcial do bairro Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2011.