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Muitos são os desafios lançados ao se estudar o Integrated Project Delivery (IPD) e Habitação de Interesse Social (HIS), temas igualmente amplos e complexos que foram associados nesta dissertação. Este trabalho se torna relevante na medida em que apresenta uma abordagem inovadora ao modelo atual de projeto e produção de HIS, principalmente através do Programa Minha Casa Minha Vida. Mesmo no atendimento das faixas de renda mais baixas, os projetos e construções têm sido realizados por empresas que atuam no mercado privado, diferentemente do ocorrido nas últimas décadas, quando o Estado estava à frente da produção habitacional.

O IPD é um termo ainda desconhecido por grande parte dos profissionais do setor da AEC no Brasil. No entanto, mesmo sem conhecê-lo de uma maneira sistematizada, percebe-se a utilização entre estes profissionais, ainda que de forma rudimentar, de alguns princípios do IPD em suas relações de trabalho. Este fato, somando-se aos discursos dos entrevistados, enfatiza a possibilidade de inserção de abordagens deste tipo, que estimulam a integração e a colaboração precoce entre os profissionais envolvidos.

A transição de uma prática de processo de projeto linear e sequencial para a prática do projeto integrado passa primeiramente por uma quebra de paradigma na formação do projetista e no desenvolvimento do processo de projeto. Esta mudança cultural, necessária, poderia ser mais facilmente alcançada através das universidades, pois há menos esforços em implementar um novo hábito do que combater uma estrutura de mercado já consolidada.

A partir desta ideia, poderiam ser inseridos novos projetos político pedagógicos com disciplinas que permitam o trabalho colaborativo, através de

estágios ou trabalhos acadêmicos em grupo que envolvam alunos de diferentes cursos de graduação. Estes deveriam analisar o mesmo objeto de estudo sob várias perspectivas. Dessa forma, pode surgir uma nova geração de profissionais capacitados para trabalhar em equipes multidisciplinares e projetos integrados, amenizando os problemas causados pelo processo de projeto tradicional.

A utilização de plataformas BIM como ferramentas para propiciar esta integração, segue a mesma lógica: sua implementação ainda na universidade contribui para a existência de profissionais formados naturalmente dentro deste contexto de processo de projeto integrado. Como foi dito anteriormente, BIM e IPD não precisam necessariamente um do outro para funcionar, mas ambos se complementam e seus benefícios são potencializados quando utilizados em conjunto.

Ainda sobre esta questão, verifica-se a inserção de empresas utilizando o BIM especialmente para projetos de maior porte ou complexidade, sem necessariamente usá-lo na totalidade dos trabalhos do escritório. No caso de HIS, a complexidade não está nos projetos e sim nos processos para a sua produção em larga escala, com diversos agentes envolvidos e tantos gargalos e desperdícios, justificando assim a sua implementação.

No caso específico deste trabalho, as empresas que já utilizam BIM não o fizeram unicamente por iniciativa e interesse próprios, mas sim por uma exigência do cliente, sendo esta uma característica comum entre as empresas de projeto que já o implementaram. Nesse sentido, os órgãos públicos poderiam iniciar este processo em médio ou longo prazo, exigindo a entrega de projetos em BIM através de editais de licitação pública, exercendo o papel de cliente, como vem ocorrendo em países como a Inglaterra, por exemplo.

Apesar de haver um ambiente mais propício para testar o IPD na iniciativa privada, existe um enorme potencial de sua utilização justamente no setor público brasileiro, através da estruturação do processo licitatório de obras públicas, que apresentam tantos problemas de gerenciamento, especialmente em questões relativas a prazos e custos, frequentemente não cumpridos. Além do edital e termo de referência, o contrato passa a ser ferramenta fundamental para esta mudança.

Voltando à questão habitacional, ressalta-se que o objetivo de qualquer projeto residencial deveria ser a satisfação do usuário final. Entretanto, na produção brasileira de HIS isto não vem acontecendo, pois o mesmo não participa do

processo nem tão pouco do programa de necessidades, realizando diversas intervenções ao receber o imóvel. O mesmo ocorre no Programa MCMV, os beneficiados se cadastram e recebem sua casa posteriormente, sem todavia, contribuir ou participar do projeto.

Como consequência disto, os critérios para alcançar os objetivos dos projetos têm se resumido ao cumprimento das diretrizes de projeto estabelecidas pelo agente promotor (CEF) e o cumprimento de prazos e preços estabelecidos pelo agente executor (construtor), que constrói estes empreendimentos apenas como uma perspectiva de captar negócios, muitas vezes sem nenhuma preocupação social.

Dentro deste contexto, os projetistas geralmente não podem contribuir nem tão pouco se envolver com questões relativas à qualidade e resultados dos empreendimentos, uma vez que para alcançar o “sucesso do projeto” basta atender aos requisitos citados acima, normalmente focados na massificação e padronização de soluções. Faz-se necessário humanizar mais o programa MCMV, e, por exemplo, levar em consideração resultados das pesquisas de Avaliação Pós-ocupação; e que os programas habitacionais brasileiros possam migrar de soluções quantitativas para soluções qualitativas no atendimento de sua população alvo.

Para haver uma contribuição significativa e abrangente à problemática, tendo em vista os princípios do IPD e a inclusão do agente “cliente - usuário final”, seria necessária uma reformulação do Programa MCMV. A inserção do IPD no MCMV não se trata apenas de uma mudança cultural na indústria da AEC, mas também de questões de origem política, que não cabem a este trabalho.

Uma sugestão de melhoria é a CEF contratar diretamente os projetos, retirando esta obrigação do construtor, que ficaria a cargo apenas da execução do empreendimento. Além disso, seriam niveladas as relações de trabalho entre os principais agentes participantes, evitando o vínculo de subordinação e contratação do projetista pela construtora.