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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No documento Luiz Felipe de Oliveira Faustino (páginas 90-94)

O início desta pesquisa se deu a partir de meu TCC, onde investiguei as origens da capoeira entre as atuais vertentes da capoeira, baseado na perspectiva dos mestres adeptos das mesmas. Trabalhei como fontes revistas atuais sobre capoeira, onde tinha diversas entrevistas e artigos históricos sobre os mestres e seus alunos que mantinham seu trabalho.

No momento da elaboração do projeto de ingresso na pós-graduação neste programa de História, o objetivo inicial era investigar dois eventos ocorridos no Rio de Janeiro, entre 1968-69, promovidos pela comissão desportiva da aeronáutica (CDA). Nestes eventos, chamados I e II Simpósio Nacional de Capoeira, ocorridos sob a organização da própria aeronáutica em suas instalações no RJ, promoveu-se um encontro nacional com a participação de diversos mestres representantes dos estilos angola e regional, cujo objetivo principal definiu-se pela intenção de normatizar e padronizar todos os movimentos e regras da capoeira, visando a federalização da capoeira como esporte nacional. Então, meu objetivo principal foi investigar estes eventos buscando compreender o momento histórico em que a capoeira passou a ser aceita como esporte, e não apenas como luta estigmatizada pela violência e temor, herança do século XIX.

No entanto, tive grande dificuldade em trabalhar com este evento, pois em visita às instalações da aeronáutica, pesquisando os arquivos da CDA e no CENDOC (Centro de Documentação), descobri que este evento não foi registrado pela aeronáutica, não

constava nenhuma ata ou relatório de cobertura do evento. Averiguando o ocorrido neste evento, notei que os mestres da capoeira não se sentiram a vontade durante o evento, pois muitos desconfiavam das intenções deste e do próprio momento de ditadura intensa que o país atravessava. E esta confirmação obtive com depoimentos colhidos de mestres que participaram deste evento, relatados em revista atual sobre capoeira106. Busquei assim contato com estes mestres, visando atingir o ocorrido durante os simpósios; atingi seus contatos via internet, e descobri que ambos eram baianos, residindo atualmente em Salvador. Quando busquei um contato inicial, a resposta não foi promissora, uma vez que não se mostraram favoráveis a relembrar do Simpósio (atestando não ter sido muito bom o contato entre os mestres e os profissionais de educação física pertencentes à aeronáutica). E a distância destes mestres não foi fator positivo, pois meu trabalho não me permitia viajar e permanecer tempo suficiente com os mestres para colher deles depoimentos seguros sobre o evento ocorrido durante a ditadura militar.

Analisando a trajetória da capoeira como esporte, verifiquei em teses e outros trabalhos citados no decorrer da dissertação que nos primeiros estudos sobre a capoeira, realizados por diversos intelectuais na primeira fase do período republicano (1890-1930), já estava implícita a idéia de se modificar a perigosa capoeira dos malandros das ruas da capital federal em esporte regrado e regido por normas e padrões moralizantes. Por questão de gosto e interesse por esta temática, delimitei este momento e estes intelectuais como necessário a ser aprofundado e investigado sob a perspectiva do historiador social. Também neste campo de estudos as fontes históricas disponíveis estavam localizadas em locais de mais fácil acesso, como Bibliotecas e

Arquivos Públicos ou de Instituições Universitárias, fato que para minha realidade profissional foi mais adequado. Nos trabalhos citados as fontes correspondiam a livros publicados a época pelos intelectuais, bem como a artigos e reportagens veiculados na imprensa periódica e ilustrada, abundantes neste momento.

Destes arquivos, utilizei-me do Arquivo do Estado de SP, onde tive grande dificuldade em analisar as revistas periódicas devido à baixa qualidade dos equipamentos de microfilmagem; IEB-USP (Instituto de Estudos Brasileiros), onde encontrei grande parte das revistas e autores que não encontrei facilmente em livrarias; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, pesquisar neste local foi um dos momentos mais marcantes de minha pesquisa, pois encontrei todos os livros e autores de época citados na Dissertação, bem como todas as revistas periódicas e jornais, sendo que as máquinas de microfilmagem funcionavam perfeitamente. Pesquisar neste último local foi importante na medida em que me vi sozinho em outra cidade realizando o trabalho do historiador de buscar, investigar e até mesmo caçar informações, autores e fatos perdidos por olhares menos atentos, além de me proporcionar experiência suficiente para me “virar” sem minha orientadora por perto.

Através da leitura e análise das fontes literárias e periódicas, percebi nitidamente a mudança no trato da capoeira, tanto pelas imagens como pela própria divulgação de uma prática não mais marginalizada, mas sim possível de representar a cultura do país. Assim, a evolução do tema através da Dissertação seguiu a própria trilha deixada pelas fontes sondadas, fato que destaquei em cada capítulo, com a especificidade de cada autor, partindo da obra de Abreu em 1886, apresentando uma capoeira criminalizada e marginal, culminando com a capoeira esportiva e civilizada, presente nas obras de Mello Morais e Lima Campos entre 1901 e 1906.

Mais uma vez saliento que a importância deste tema eleva-se no atual universo da capoeira, uma vez que uma questão ainda latente venha a ser a culpabilidade que algumas pessoas persistem em atribuir a Mestre Bimba ou aos demais mestres de capoeira, buscando identificar o responsável pelo ensino da capoeira para as classes sociais elitizadas. A partir das pesquisas e análises que realizei, creio dar conta de preservar a memória destes mestres e reconhecer de fato os responsáveis pelo branqueamento da prática marginalizada da capoeira, homens de letras como Plácido de Abreu e, mais explicitamente, Mello Morais e Lima Campos.

No documento Luiz Felipe de Oliveira Faustino (páginas 90-94)

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