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Para finalizar esta investigação, faz-se necessário retomar a questão que lhe dá título, ou seja, a Matemática é feminina? Esta questão pode ser expressa de outra maneira, a Matemática é uma invenção exclusivamente masculina? Tais questionamentos, por sua vez, podem ser desdobrados em diversas outras perguntas que sintetizam os objetivos desta pesquisa, tais como, até o século XX, existiram mulheres

que se dedicaram à Matemática? No século XX, houve participação feminina na criação do conhecimento matemático? E no Brasil, ou melhor, no Estado de São Paulo, esta Ciência é território masculino? Existem matemáticas brasileiras com projeção e reconhecimento internacional? Em que pese o fato de estas questões não terem sido completamente respondidas neste texto, algumas considerações sobre elas podem ser apresentadas.

Na História da Matemática, existem registros de um número reduzido de mulheres que se dedicaram ao estudo desta Ciência, as mais frequentemente citadas, são: Emmy Noether, Hipátia de Alexandria, Maria Gaetana Agnesi, Mary Faifax Somerville, Sophia Kovalevskya e Sophie Germain. Este fato é atribuído às extremas dificuldades encontradas pelas mulheres, até o início do século XX, para ingressar no mundo da Ciência e, conseqüentemente, da Matemática, assim, acredita-se que muitas mulheres tenham trabalhado como auxiliares e/ou colaboradoras de matemáticos tornando-se, desta forma, invisíveis na História da Ciência.

No século XX, tornou-se mais fácil o acesso feminino ao Ensino Superior e à comunidade matemática, assim, houve um aumento expressivo do número de mulheres que se dedicaram a esta Ciência, este período é considerado por Osen (1994) o “século de ouro” da presença feminina na Matemática. Apesar do aumento da presença feminina nesta ciência, as matemáticas ainda têm pouca visibilidade. Neste sentido, torna-se relevante a escrita, e divulgação de biografias destas mulheres, com o intuito de desmistificar a ciência, ou mesmo a Matemática, como território masculino.

No Brasil, o acesso feminino ao Ensino Superior, foi permitido legalmente, em 1879, com a Reforma Leôncio de Carvalho. Apesar de, neste período, algumas mulheres cursarem este nível de ensino, sobretudo em Medicina, o marco histórico da entrada das

mulheres na universidade, foi a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras – USP de São Paulo, em 1934.

A presença feminina, investigada nesta pesquisa, buscou os dados referentes aos cursos e aos institutos/departamentos de Matemática das três universidades estaduais paulistas (USP, campi de São Paulo e São de Carlos-, UNESP, campi de Rio Claro, Araraquara e São José do Rio Preto - e UNICAMP), no período compreendido entre a criação destes até 1990.

Estes dados institucionais permitiram concluir que a presença das mulheres na Graduação em Matemática varia entre 41 e 75%, de acordo com a instituição e a modalidade. No entanto, independentemente da instituição elas são mais numerosas no curso de Licenciatura em Matemática.

Na Pós-Graduação, percebeu-se, exceto na UNICAMP, que, quanto mais alto o nível de ensino, menor a presença feminina entre os concluintes. A porcentagem de mulheres que atuam nestes institutos como docentes é inferior a das concluintes de Pós- Graduação. Além disto, as mulheres permanecem nas categorias mais baixas da hierarquia acadêmica. Conjecturou-se que a maior dificuldade para as mulheres se tornarem Professoras Titulares – o mais alto posto da carreira acadêmica – está na obtenção do título de Livre-Docência. Nas instituições investigadas, somente, quatro professoras chegaram a este posto. As Professoras Titulares - Ayda Inez Arruda, Ofélia Teresa Alas, Ítala Maria Loffredo D'Ottaviano e Maria Aparecida Soares Ruas - concentram-se na USP (São Paulo e São Carlos), na área de Topologia e Geometria e na UNICAMP, na área de Lógica.

Estas professoras, apesar de possuírem grande produção em Matemática, terem reconhecida importância nos departamentos/institutos nos quais atuam, terem contribuído para o desenvolvimento de suas áreas no Brasil e de serem reconhecidas internacionalmente por seus trabalhos matemáticos, são, no entanto, pouco conhecidas pelos brasileiros. Sendo assim, pode-se concluir que a Matemática Brasileira não foi e não é um território exclusivamente masculino, apesar de eles serem mais numerosos e de se encontrarem nos mais altos cargos da hierarquia acadêmica.

As mulheres, até 1990, eram aproximadamente metade dos formados na Graduação em Matemática, mas eram minoria entre os concluintes da Pós-Graduação e entre os docentes destes institutos. Além disto, até 2004, pouquíssimas mulheres eram

Professoras Titulares. A partir desses dados, tentou-se responder as seguintes indagações: por que apesar de ser maioria entre os graduados, as mulheres são

minoria entre os pesquisadores em Matemática? E por que tão poucas mulheres

chegaram ao mais alto posto da carreira acadêmica em Matemática? Foi demonstrado

que estes fenômenos estão atrelados a diversos fatores sociais, como, por exemplo, a existência de estereótipos sexuais na Educação, a desigualdade de condições entre homens e mulheres na carreira científica, além dos preconceitos sexuais existentes nas profissões acadêmicas.

Entretanto, as Professoras Titulares entrevistadas negaram que tenham sofrido discriminação sexual. Afirmaram que as dificuldades impostas pela carreira científica são as mesmas para homens ou mulheres. Este dado, conforme apontado anteriormente, corrobora com outros estudos que mostram que esta é uma atitude comum das mulheres que trabalham em áreas científicas que possuem domínio masculino.

Nas instituições abordadas por esta pesquisa, houve um aumento expressivo da porcentagem de mulheres entre os concluintes da Pós-Graduação da década de 1970 para a de 1980. Além disto, somente na década de 1990 duas professoras tornaram-se Titulares. Novos estudos precisam ser realizados buscando abordar estas estatísticas na década de 1990 e 2000, mas parece ser uma tendência, nestas instituições, as mulheres se igualarem, numericamente, aos homens na carreira acadêmica em Matemática. Se esta hipótese se confirmar, deverão ser elaboradas investigações, de acordo com LOPES (2005), nos mesmos moldes de algumas já realizadas em outros países, com o objetivo de identificar as possíveis razões responsáveis pelo fato de as mulheres brasileiras se inserirem tão lentamente no campo científico.

Fontes e Referências Bibliográficas