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A instrução feminina no período colonial é um assunto difícil de ser abordado, pois, neste período, a mulher tinha uma posição social secundária, era subordinada ao homem, “[...] não era considerada cabeça pensante, nem ainda objeto de qualquer instrução”. (RODRIGUES, 1962: 11).

A economia do Brasil, enquanto colônia de Portugal, era voltada a satisfazer as necessidades da metrópole, sendo assim, segundo Saffioti (1979), a educação não poderia ser considerada um valor social. Os primeiros educadores na Colônia foram os Jesuítas que aqui chegaram em 1549 e fundaram escolas por todo território brasileiro, com o objetivo de disseminar a língua portuguesa e a fé cristã, a fim de estabelecer e fortalecer a unidade nacional. Os Jesuítas acreditavam que a educação visava “[...] atualizar as capacidades da pessoa humana de maneira a possibilitá-la a receber da fé a

salvação de sua alma”. (TOBIAS, s/d: 47). Sendo assim, a educação jesuítica, em nível elementar, não era destinada somente aos brancos, mas também aos índios e negros. O Ensino Elementar era realizado nas Eschollas de Leer e Escrever e o Ensino Médio, nos colégios42; estes eram destinados a preparar os filhos dos nobres para o Ensino Superior, que não existia no Brasil. Estes colégios “[...] eram somente masculinos, eles [jesuítas] doutrinavam os meninos nas escolas e as mulheres nas capelas e igrejas”. (SAFFIOTI, 1979: 187). Sendo assim, não fornecia às mulheres nenhum instrumento para a libertação.

O Padre Manoel da Nóbrega, segundo Rodrigues (1962), apoiava a Educação Feminina, por acreditar que esta poderia ajudar na formação da família cristã. Tentou, sem sucesso, implantá-la, afinal os jesuítas que habitavam a Colônia seguiam regras dos portugueses, e, em Portugal, não existia nenhuma forma de instrução feminina, pois, não era bem visto uma “dama” escrever ou praticar artes. Sendo assim, elas ficavam completamente à margem da instrução formal.

Até 1759, quando foram expulsos pela reforma educacional do Marquês de Pombal (1699 - 1782), os jesuítas foram praticamente os únicos educadores na Colônia. Pombal, com a expulsão destes, destruiu a única pedagogia existente e a instrução brasileira decaiu consideravelmente. Pouco se sabe sobre o ensino em São Paulo neste período.

Para substituir as escolas e os colégios dos jesuítas, Pombal criou as Aulas

Régias. Estas não eram vinculadas a nenhum estabelecimento educacional e não eram

articuladas entre si. Os estudantes freqüentavam as aulas que os interessavam na seqüência que desejavam. No Brasil, existiam poucas aulas régias e o ensino era vinculado aos vice-reis que não possuíam órgãos de articulação com os docentes. Desta forma, “[...] durante o período pombalino e decênios posteriores, o ensino na Colônia permaneceu desarticulado”. (COSTA, 1979-1981: 290).

Assim sendo, após a desarticulação do ensino dos jesuítas, o sistema pedagógico brasileiro não satisfazia as necessidades de ensino masculina, tampouco a feminina. As mulheres poderiam aprender as primeiras letras, em casa, juntamente com seus irmãos, ou nos conventos. Estas “instituições de ensino” surgiram, efetivamente, a partir do século XVIII e, de acordo com Algranti (1993), eram voltados a preparar a mulher para

o casamento, educando-as nos princípios católicos, ensinando-as a bordar, e a cozer, além de técnicas de economia doméstica.

Os conventos, também, eram excelentes locais para preservar a honra feminina até o casamento. Este tipo de educação influenciou, por muito tempo, a instrução das meninas brasileiras “[...] não só pelo papel desempenhado pelas religiosas educadoras, como também pela proposta de um ensino diferenciado entre os sexos movido pelas expectativas da sociedade”. (ALGRANTI, 1993: 261).

O “Recolhimento do Desterro”, primeiro convento brasileiro, localizado na Bahia, iniciou suas atividades em 1678 e pertencia às Clarissas de Évora. Os conventos existentes em terras Piratiningas, no período colonial, eram: “Recolhimento de Santa Thereza”43, fundado em 1685 e “Recolhimento de Nossa Senhora da Luz”, fundado em 1774, localizados na Paulicéia, além do “Recolhimento de Santa Clara”44 ,em Sorocaba, inaugurado em 1811. De acordo com Barretto (1981), no final do Século XVIII, devido a pressões de autoridades, que temiam o confinamento de muitas mulheres, os conventos iniciaram a criação de colégios anexos para a Educação Feminina. No entanto, nenhum destes foi criado no Estado de São Paulo no período colonial.

A chegada da família real ao Brasil, em 1808, provocou mudanças no panorama cultural da Colônia com a abertura da imprensa e de museus, além de modificações no sistema educacional, tais como, avanço para implantar uma educação voltada para instrução de utilidade mais prática e imediata, como era o caso das Academias45 (escolas de Ensino Superior) e alteração da oferta de ensino para as mulheres.

Os colégios femininos criados no Brasil, a partir dessa época, funcionavam nas casas de estrangeiras, que recebiam as garotas como pensionistas e ensinavam “[...] costura e bordado, religião e rudimentos de Aritmética e de Língua Nacional”. (SAFFIOTI, 1979: 191). Em 1816, no Brasil, existiam dois colégios dessa natureza que, em função de não terem obtido grandes progressos, as chamadas estrangeiras passaram a exercer seu ofício nas residências de suas alunas. Em que pese a precariedade desse tipo de ensino, deve-se a estas estrangeiras a pequena ampliação que teve o horizonte educacional da mulher brasileira.

43 Também se encontra a grafia “Recolhimento de Santa Teresa”.

44 Criado somente com a condição de possuir um educandário. Segundo Rodrigues (1962), esta foi a primeira vez que a coroa preocupou-se com o ensino das primeiras letras às mulheres.

45

Apesar das escolas de Ensino Superior, D. João não se inclinou a criar uma universidade no Brasil. As academias, segundo Rodrigues (1962), restringiram-se à Bahia e ao Rio de Janeiro.

Durante o Período Colonial, pode-se perceber, conforme expõe Algranti (1993), que houve total desinteresse dos monarcas na criação de estabelecimentos de ensino que pudessem mudar a educação feminina.Desta forma, no Brasil Colonial, não existiu uma rede de ensino feminino, nem mesmo para as primeiras letras, as únicas possibilidades de instrução eram nos conventos, ou nas casas das famílias, suficientemente abastadas para terem professoras particulares. Nestas condições, a mulher brasileira continuava analfabeta e “presa” ao lar.