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Na Hungria, ocorre um fato interessante, a porcentagem feminina entre os físicos é de cerca de 47%,

3.2 – Presença feminina na Pós-Graduação Stricto-sensu em Matemática

UNESP Rio

75 Na Hungria, ocorre um fato interessante, a porcentagem feminina entre os físicos é de cerca de 47%,

segundo Schiebinger (2001), uma das possíveis razões para esta porcentagem ser bem superior a de outros países ocidentais, é que na Hungria a Física não é um ramo da ciência tão prestigiado quanto nos outros países.

Livre-Docência é obtido mediante defesa de tese ou de um texto sistematizando o conjunto da obra e, diferentemente do de Titular, não depende da abertura de vagas.

Como já apontado, no período estudado, no Departamento de Matemática da UNESP, campus de Rio Claro, não havia professoras Livre-Docentes, assim como não havia na FFCL de Araraquara. Na USP, campus de São Paulo, até 2005, apenas três professoras tornaram-se Livre-Docentes, sendo que as duas últimas obtiveram este título somente após o ano 2000. Ofélia Alas afirmou: “Eu fiz a Livre-Docência, em 79 e a segunda Livre-Docente do Instituto foi 21 anos depois, Mary Lilian Lourenço, na área de Análise, em 2000 e, logo depois, foi Lúcia Renato Junqueira, em Topologia, em 2002”. Observando este panorama, percebe-se que as mulheres, de forma geral, permanecem no cargo de Professor Assistente Doutor, sendo que poucas atingem o cargo de Livre-Docente e Professor Titular. Nesta pesquisa, conjectura-se que as mulheres não chegam ao posto de Professor Titular porque não se tornam Livre- Docentes. A professora Maria Aparecida Soares Ruas explica este fato da seguinte maneira:

Acho que o preconceito pode ser um fator, mas não é o fator maior. Veja que para a Livre-Docência não há razão para o preconceito, porque não há competição. Para se inscrever para a Livre-Docência basta ter o perfil adequado, não há número limitado de vagas, ou cargos. Eu acho que o fator principal é a dificuldade maior que a mulher tem para desenvolver, na plenitude uma carreira científica, se ela não tiver o apoio da família.

Além disto, obter o título de Professor Titular pressupõe ser escolhido por uma banca para prover um cargo no qual as vagas são reduzidas, sendo assim, a pessoa para chegar a este posto deve ter uma boa produção científica e possuir o reconhecimento de seus colegas de trabalho. “[...] Muito mais do que questão de mérito, o prestígio é uma noção socialmente construída e atribuída a alguém” (TRIGO, 1994: 106). Desta forma, pode, devido a diversos fatores mencionados anteriormente, ser mais difícil para uma mulher do que para um homem, obter o título de Titular. Verônica Eston, em entrevista a Blay e Long (1984), afirmou que a seguinte situação ocorreu na Medicina por muitos anos:

[...] Não existe até hoje [1984] uma professora titular, não por falta de capacidades, porque nós temos colegas altamente qualificadas. Ainda no ano passado foram feitos dois concursos com duas médicas altamente qualificadas e elas não foram indicadas como titulares; segundo a expressão de um presidente da banca, ainda não

estava na hora de uma mulher ser titular de uma faculdade de medicina. (p. 2142).

As Professoras Titulares em Matemática, das instituições trabalhadas, como vimos, concentram-se na USP, campi de São Paulo e de São Carlos e UNICAMP, isto pode ser explicado, em parte, pelo fato de que, nestas instituições, existem cursos antigos de Pós- Graduação em Matemática. Com estes cursos na instituição, pode facilitar ao professor tornar-se Livre-Docente, uma vez que para obtenção deste título é necessário ter orientações de Mestrado concluídas. Assim, dificulta-se para as professoras e/ou professores de instituições que não oferecem cursos de Pós-Graduação em Matemática, a obtenção deste título, condição necessária para pleitear o cargo de Professor Titular. Nota-se que, nestas instituições, o número de professores Livre-Docentes do sexo masculino também é extremamente superior ao da instituição que não possui Pós- Graduação em Matemática, Pura ou Aplicada.

Nestas instituições, existiam grupos de pesquisa com grande reconhecimento internacional. Na UNICAMP, havia o grupo de Lógica, criado pelo professor Newton da Costa, ao qual pertenciam Ayda Arruda e Ítala D´Ottaviano. Na USP campus São Paulo, existia o grupo de pesquisa na área de Topologia, centrado na figura do professor Farah e, na USP, campus São Carlos, o grupo, na área de Teoria das Singularidades, liderado pelo professor Loibel. De acordo com a professora Ítala D’Ottaviano,

O Brasil é muito forte em Lógica, por causa da escola Newton da Costa, ele não só criou uma escola, ele criou um nome, as pessoas que vieram junto com o Newton tiveram a força transmitida pelo Newton e, em São Paulo, foi a força transmitida pelo Farah, na Topologia, e tem também o Loibel [em São Carlos] que foi uma pessoa importante não só em São Carlos, mas também tinha uma influência muito grande em Rio Claro.

A reduzida presença feminina entre os Professores Titulares e os pesquisadores de destaque vem sendo descrita em diversos estudos. Uma pesquisa realizada por Azevedo (1989) denunciou que apenas 5.4% dos pesquisadores da área de Ciências Exatas, classificados na mais alta categoria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) eram mulheres.

Na UNICAMP, segundo Velho e Léon (1998), apenas 5% das docentes se tornam Professoras Titulares, a porcentagem de homens que atingem este cargo é 19%.

Ainda, de acordo com estas autoras, nos Estados Unidos, a porcentagem de mulheres que se tornam full professors nas áreas de Biologia, Matemática, Química e Física também é de 5% e na Grã-Bretanha este valor é apenas 1.3%, enquanto a porcentagem equivalente para os homens é de 12%.

Uma pesquisa realizada por TABAK (2002) nos cursos de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ mostra que, nesta universidade, além de não existir nenhuma Professora Titular, a maioria dos Professores Assistentes pertence ao sexo feminino, o que equivale a dizer que a maioria das mulheres ocupa a “menor posição na hierarquia acadêmica” e que, conseqüentemente, se nenhuma ocupa a “[...] mais alta posição dentro da hierarquia acadêmica, é fácil concluir que a posição e o status das mulheres dentro do quadro docente não era o que seria desejável esperar”. (p. 128).

De acordo com Pérez-Sedeño (2000), um estudo utilizando dados de 1993 na União Européia mostrou que a proporção de homens e mulheres no Ensino Superior é similar, mas, no entanto, as mulheres são minoria como full professors. Nos países onde a discriminação é menor, tais como, Finlândia, França e Espanha as mulheres são entre 13 e 18% dos Professores Titulares e, na Alemanha, Dinamarca e Holanda são aproximadamente 6,5%.

Além da “discriminação hierárquica”, no meio acadêmico, existe outra forma de discriminação contra as mulheres, denominada Discriminação Territorial. Esta pode ser uma das razões para explicar o baixo número de acadêmicas em Ciências Exatas.

A discriminação territorial acontece, de acordo com Velho e Leon (1998), porque as mulheres são “empurradas” de forma sutil ou não, pelo processo de socialização, a escolherem “territórios acadêmicos” já considerados como tradicionalmente “femininos” como as áreas de Ciências Humanas e Sociais e, tendem a não se interessar pelas carreiras conhecidas, tradicionalmente, como “masculinas”, como as Ciências Exatas. Além disto, Schiebinger (2001) enfatiza que somente, nas Ciências Humanas e Sociais, as mulheres visualizam mais claramente a possibilidade de ser líder.

Em suma, as mulheres representam praticamente metade dos concluintes da Graduação em Matemática, nas três modalidades, no entanto, permanecem como minoria na Pós-Graduação e na docência. Além disto, na carreira docente, percebe-se

pouca participação feminina nos cargos de Professora Livre-Docente e de Professor Titular.

Acredita-se que este quadro é resultado de diversos fatores sociais e, sendo assim, passível de alteração. Apesar de não existir uma fórmula milagrosa para fazer com que as mulheres se interessem mais pelas Ciências Exatas ou pelas carreiras científicas, no entanto, alguns aspectos podem ser alterados.

Tais alterações, por significar mudança de padrões sociais, são complexas e exigem tempo. Faz-se necessária uma redefinição das habilidades de cada sexo, mudança dos estereótipos sexuais na Educação e das profissões, redistribuição do trabalho doméstico. Outras, no entanto, são mais simples, como, por exemplo, alteração de materiais e/ou propostas pedagógicas que mantém uma postura sexualmente estereotipada, mudanças nas aulas de Matemática, Física, Química e Biologia no Ensino Médio, com o intuito de despertar nos jovens, independentemente do sexo, maior interesse pelas Ciências. Esta mudança pode ser feita, também, com a inclusão e/ou aumento do número de aulas experimentais, feiras de ciências, excursões a universidades e centros de pesquisa, além da divulgação de exemplos femininos de cientistas bem sucedidas.

CAPÍTULO IV: As Professoras Titulares em Matemática no