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O imediatismo também se reflete na grande quantidade de matérias produzidas por outras agências de notícias e que foram republicadas pelos portais analisados, de acordo com o item 6.1 desta pesquisa. Este dado se revela importante para entender como os jornais do Brasil produzem informação sobre meio ambiente e sobre a Cop-21. Além do imediatismo, a distribuição das notícias nas editorias dos portais analisados e a distribuição dessas notícias por temas não foram identificadas pelos observatórios. Ambas distribuições estão ligadas à síndrome do zoom (BUENO, 2007), pois ela faz a cobertura da Cop-21 ser fragmentada e com isso retira a contextualização do aquecimento global com a vida social e econômica da população.

Com isso, confirmamos o que Loose (2015) elucida a respeito da cobertura de pautas ligadas às mudanças climáticas, pois a descontextualização das notícias impede que haja a relação de causa e efeito dessas mudanças na vida da população.

A questão do aquecimento global precisa ter uma percepção globalizada e, para isso, informada corretamente à sociedade. O que um observatório de mídia necessita fazer é analisar essas esporádicas colocações da mídia sobre o meio ambiente e a COP-21, colocadas sempre como catástrofe ou crise, como apontam Mendes e Queirós (2014), e nunca como pauta multidisciplinar e de responsabilidade social. Dessa maneira, faz-se necessário uma fiscalização constante para que a sociedade esteja atenta ao poder que a mídia exerce sobre a formação de opinião pública. 

O comunicador que cobre o meio ambiente deve propor debate político, cultural e social, consoante com a função da mídia proposta por Bucci (2000: 93) que é “pôr as ideias em confronto, para realizar o debate público”. O que observamos na pesquisa foi que os comunicadores não abriram esse espaço de debate à população e que essa problemática ficou longe das análises dos observatórios, tornando as notícias sobre a Cop-21 desprovidas de qualquer interpretação crítica.

Conforme a pesquisa apontou, e de acordo com o conceito de transversalidade da notícia ambiental por Barros e Sousa (2008), é importante que o comunicador adote um diálogo de forma sistêmica, ou seja, envolvendo a todos e não apenas um de seus setores, pois não adianta um setor para preservar e criar uma imagem de compromisso com o meio ambiente, se não envolver outros atores igualmente responsáveis pela preservação.

Transversalidade essa que não se mostrou presente nos portais de notícia analisados, nem nos observatórios da RENOI. Incluir a sociedade como fonte de notícia é um passo importante

para a democratização da comunicação e para o fortalecimento da responsabilidade social das empresas com o meio ambiente. É essa democratização da comunicação ambiental que Holouka (2015) defende, tornando-a mais próxima da sociedade.

As síndromes do jornalismo ambiental propostas por Bueno (2007) e identificadas nesta pesquisa nos mostram a necessidade de incluir nos observatórios de mídia uma constante fiscalização dos meios a fim de construir mecanismos de controle da comunicação ambiental.

Com a atual crise ambiental que vivemos e com o aquecimento global ficando cada vez pior, cabe aos comunicadores o papel de informar e educar o seu público (telespectador, ouvintes, internautas etc.) quanto à importância de se utilizar eficientemente os recursos naturais e conservar o meio ambiente para que possamos garantir uma boa qualidade de vida às gerações futuras. Essa educação do público leitor está no papel dos comunicadores defendido por Dornelles (2008), que destaca o caráter didático da comunicação voltada para o meio ambiente.

Kunsch (2009) já destacava a formação holística do profissional de comunicação organizacional, portanto é fato que há de se levar em consideração o meio ambiente durante o processo de aprendizado nas faculdades de comunicação, pois entendemos também que o estudante de comunicação e todas as pessoas com poder de persuasão, nos mais diferentes meios, podem e devem contribuir com uma informação ambiental adequada, visando não apenas informar, mas transformar. Ao escreverem e planejarem publicações sobre o meio ambiente, é importante que os profissionais de comunicação compreendam o papel complementar de educação ambiental da mídia, com o intuito de evitar o desperdício de informação e de recursos, e obter melhores resultados junto ao segmento da opinião pública.

Defendemos que não se pode limitar as matérias jornalísticas apenas à fauna e flora, com pautas superficiais dos acidentes e catástrofes ambientais que ocorrem no dia a dia. O comunicador tem que estar atento também em relação ao meio ambiente com aspectos sociais e culturais de uma sociedade, indo além dessa cobertura tradicional que recebe dos grandes veículos de imprensa, organizações governamentais e civis. É a falta de conhecimento que nos impede de reconhecer nossa responsabilidade ambiental como cidadãos.

   

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – Perfil dos entrevistados, questionário e modelo de e-mail enviado

PERFIS DOS ENTREVISTADOS:

André Trigueiro: jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, onde leciona a disciplina “Geopolítica Ambiental”, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-Rio. Durante 3 anos foi colunista do Jornal da Globo onde apresentou o quadro “Sustentável”, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da GloboNews, comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.

Eloisa Loose: Professora do curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional – Uninter. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo Especializado (Científico e Ambiental), atuando principalmente nos seguintes temas: jornalismo ambiental, jornalismo científico, discursos, sentidos, revistas especializadas e aspectos da interface entre meio ambiente e comunicação. Atualmente desenvolve pesquisa nas áreas de jornalismo, mudanças climáticas, governança e percepção de riscos.

Ilza Girardi: doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: jornalismo, comunicação, jornalismo ambiental e cidadania.

Josenildo Guerra: professor associado da Universidade Federal de Sergipe, com atuação no curso de Jornalismo e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação. É um dos líderes do Laboratório de Estudos em Jornalismo e coordenador do Qualijor (Programa de Pesquisa em Qualidade, Inovação e Tecnologia Aplicada ao Jornalismo), associado à Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (RENOI), uma rede de pesquisa vinculada à Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). Tem realizado pesquisas em teoria do jornalismo, gestão do processo jornalístico e gestão da qualidade editorial em jornalismo, construindo interfaces com as áreas de tecnologias de informação e gestão do conhecimento.

Júlio Ottoboni: jornalista diplomado e pós-graduado em jornalismo científico. Tem cursos no ITA/Inpe sobre Águas Atmosféricas, Meteorologia e Sensoriamento Remoto entre outros.

Atua na imprensa desde 1985, tendo trabalhado em diversos veículos de comunicação como o

Grupo Estado, Editora Abril, Rede Paranaense de Comunicação e Editora JB. Publica artigos no Observatório da Imprensa desde 2003.

Luiz Martins: professor de jornalismo na Faculdade de Comunicação da UnB e colaborador do Observatório da Imprensa. Atua nas áreas de jornalismo, jornalismo público, comunicação pública, comunicação e mobilização social; comunicação e cidadania planetária.

Ricardo Arnt: jornalista com atuação profissional em imprensa, televisão e comunicação corporativa, gestão de produção e de conteúdo em empresas como Natura, Odebrecht, Rede Globo, Editora Abril, Editora Três, TV Bandeirantes, Folha de São Paulo e Jornal do Brasil, entre outras. Coordenador de Comunicação do Instituto Escolhas, ex-diretor da Revista Planeta e colunista de meio ambiente na Revista IstoÉ. Prêmio Maria Moors Cabot 1991 (Columbia University, NY); Prêmio Esso de Jornalismo 2001; Prêmio City Bank de Jornalismo Econômico 2002.

Rogério Christofoletti: professor do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenou a Rede Nacional dos Observatórios de Imprensa (RENOI, 2005-2009). Também é um dos líderes do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) da UFSC. Possui dezenas de artigos publicados sobre crítica de mídia e ética jornalística.

Samuel Lima: foi professor adjunto da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), de 2009 a 2015, vinculado ao curso de Comunicação Organizacional.

Pesquisador do Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO/UFSC) e do Observatório da Ética Jornalística (ObjETHOS) do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina.

E-MAILPADRÃO:

Boa tarde (nome),

Meu nome é Bruno Bimbato e estou formando em Comunicação Organizacional pela Universidade de Brasília (UnB). O tema da minha monografia é “Monitoramento do meio ambiente na mídia brasileira:

uma análise da COP-21”.

Na pesquisa busco compreender como se deu a cobertura da Conferência das Partes nos principais portais de notícias online do Brasil (G1, R7 e UOL, conforme pesquisa Ibope de 2015) e também quais e como os observatórios de mídia se comportaram diante do evento.

A monografia está sob orientação das pesquisadoras Doutora Dione Moura e da Mestra Hadassa Ester David, respectivamente orientadora e coorientadora da pesquisa.

Uma das etapas do trabalho é um questionário a ser aplicado aos colaboradores/editores de observatórios de mídia, jornalistas que cubram o meio ambiente e professores de comunicação que atuem com pesquisas no âmbito da crítica e monitoramento de mídia, e jornalismo ambiental.

Para os observatórios, escolhi a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (RENOI - http://renoi.blogspot.com.br/) como recorte da pesquisa.

Sua colaboração é muito importante para este trabalho, portanto peço a gentileza de responder o questionário que encaminho anexo, contendo apenas seis perguntas sobre o tema.

Fico à disposição para esclarecimentos que se fizerem necessários.

QUESTIONÁRIO:

A. Como você avaliaria a cobertura da COP-21 pelos jornais online do Brasil?

B. Os observatórios de mídia deveriam dedicar algum espaço à crítica sobre as notícias que cobrem o meio ambiente?

C. A exemplo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), que utiliza como indicadores a presença de dados estatísticos, fontes e termos pejorativos para monitorar as notícias sobre a infância e juventude, quais indicadores podemos utilizar para monitorar as notícias sobre meio ambiente nos observatórios de mídia?

D. De que forma o ato de examinar o monitoramento de mídia pode trazer contribuições nos estudos da comunicação organizacional?

E. Como cobrar mais responsabilidade social dos jornais com o meio ambiente?

F. Qual sua opinião sobre o jornalismo ambiental (ou matéria equivalente) ser inserido como disciplina nos cursos de comunicação? 

APÊNDICE B - Respostas do questionário aplicado

QUESTIONÁRIO 1 - ROGÉRIO CHRISTOFOLETTI:

A. Como você avaliaria a cobertura da COP-21 pelos jornais online do Brasil?

Confesso que não vi nada de extraordinário nos portais brasileiros sobre a COP-21. Seja por questões operacionais - dificuldade de envio de repórteres, disponibilidade de repórteres especializados - ou editoriais - pouco espaço dedicado aos temas ambientais, o fato é que a mídia brasileira ainda cobre muito mal o tema de forma geral. É um contrassenso, se formos analisar o histórico desde a ECO 92 e o aprimoramento das redações nesse campo. Mas reitero: achei uma cobertura ordinária, comum, e muitas vezes, até desinteressada.

B. Os observatórios de mídia deveriam dedicar algum espaço à crítica sobre as notícias que cobrem o meio ambiente?

Talvez sim, talvez não. Não acho que os observatórios tenham grandes estruturas para criar editorias, e tenham fôlego para cobrir todos os quadrantes da vida social. Mas seriam bem-vindos textos da área? Claro que sim. E, não podendo cobrir essa área, os observatórios poderiam tentar atrair colaboradores, especialistas que se dispusessem a analisar a mídia e com ela contribuir para o aperfeiçoamento de sua cobertura. Assim como o meio ambiente, outras áreas também são de sensível cobertura, como é o caso da segurança pública, das questões de gênero, da infância e adolescência, só para citar algumas.

C. A exemplo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), que utiliza como indicadores a presença de dados estatísticos, fontes e termos pejorativos para monitorar as notícias sobre a infância e juventude, quais indicadores podemos utilizar para monitorar as notícias sobre meio ambiente nos observatórios de mídia?

O trabalho da ANDI realmente é extraordinário. E podemos afirmar sem medo de errar: a cobertura brasileira de crianças e jovens mudou (para melhor) desde que a ANDI começou a fazer seu trabalho de qualificação de cobertura. Os indicadores que ela usa e aplica são

resultado do escrutínio rigoroso do trabalho da mídia e de sugestões e recomendações de especialistas. Não consigo formular de imediato um conjunto de indicadores de qualidade para a cobertura de meio ambiente, mas tenho a impressão de que muitos indicadores gerais poderiam funcionar: correção e precisão dos relatos, diversidade das fontes, visibilidade de assuntos marginais, reportagens que enalteçam boas práticas e que ajudem a educar os públicos, equilíbrio e clareza etc.

D. De que forma o ato de examinar o monitoramento de mídia pode trazer contribuições nos estudos da comunicação organizacional?

O exercício da crítica permite um olhar menos condescendente das práticas, identificando erros, deslizes, inconsistências e fragilidades. A partir disso, da identificação dessas fraquezas, podemos definir uma agenda de produção que tente desviar desses erros, buscando estândares de qualidade mais altos.

E. Como cobrar mais responsabilidade social dos jornais com o meio ambiente?

Exercer a crítica é uma forma, mas os públicos precisam ter mais acesso aos jornais, assumindo uma função de cobradores, de quem exige qualidade editorial, de quem exige qualidade de produtos e serviços. Dá trabalho? Sim. Causa incomodação? Sim. Mas os meios devem aos públicos satisfações e a adequação de seu trabalho às expectativas e demandas da sociedade.

F. Qual sua opinião sobre o jornalismo ambiental (ou matéria equivalente) ser inserido como disciplina nos cursos de comunicação?

Considero positivo que os futuros jornalistas tenham acesso a unidades de ensino que agreguem novos conhecimentos da área. Esse esforço tende a produzir resultados bastante significativos na formação dos repórteres, editores e redatores. Recentemente, aqui na UFSC, fizemos uma reforma curricular com bases nas Novas Diretrizes do MEC, e incluímos, entre as novas disciplinas, uma intitulada Questões Urbanas e Ambientais, que deve cobrir essa lacuna na formação de nossos alunos.

QUESTIONÁRIO 2 - RICARDO ARNT:

 

A. Como você avaliaria a cobertura da COP-21 pelos jornais online do Brasil?

Acho digno de destaque a cobertura do Observatório do Clima, pela produção de conteúdo ágil, de gráficos explicativos de impacto e pelo processamento de informações complexas por gente especializada. O Observatório rapidamente se converteu em fonte de referência confiável para o assunto para toda a mídia.

B. Os observatórios de mídia deveriam dedicar algum espaço à crítica sobre as notícias que cobrem o meio ambiente?

Sim, deveriam. O Observatório de Imprensa, do Alberto Dines, por exemplo, demonstra abertura para o tema, ainda que tímida.

C. A exemplo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), que utiliza como indicadores a presença de dados estatísticos, fontes e termos pejorativos para monitorar as notícias sobre a infância e juventude, quais indicadores podemos utilizar para monitorar as notícias sobre meio ambiente nos observatórios de mídia?

Não conheço o trabalho da ANDI e não posso avaliá-lo.

D. De que forma o ato de examinar o monitoramento de mídia pode trazer contribuições nos estudos da comunicação organizacional?

A crítica da mídia é fundamental para o aprofundamento da democracia e para formação de consensos sobre as soluções para o país.

E. Como cobrar mais responsabilidade social dos jornais com o meio ambiente?

A questão ambiental vem crescendo, há 30 anos, de importância na mídia, em parte pelo envelhecimento das visões tradicionais da economia e da política sobre as questões sociais e