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Já para Shoemaker e Reese (apud HERSCOVITZ, 2007: 124),

[...] a análise de conteúdo da mídia, por fim, nos ajuda a entender um pouco mais sobre quem produz e quem recebe a notícia e também estabelecer alguns parâmetros culturais implícitos e a lógica organizacional por trás das mensagens.  

A análise de conteúdo, como Herscovitz explica, pode ser usada para inferir tendências, modelos analíticos de critérios de noticiabilidade, bem como enquadramentos e agendamentos nos jornais.

Serve também para descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ, 2008:123).

Para Christofoletti (2008), existem alguns critérios a serem seguidos em determinadas coberturas jornalísticas, de acordo com cada observatório ou situação. O autor subdivide esses critérios em três níveis: 1) abordagem do tema; 2) elaboração do produto; 3) fontes e atores.

Nesta pesquisa, o foco a ser analisado nos portais e nos observatórios será o terceiro nível, que possui critérios relativos à pluralidade de fontes e à representação de atores sociais e que deve “observar o número de fontes citadas na cobertura do tema em questão, o equilíbrio entre essas fontes e a ausência de fontes credenciadas que poderiam ter sido consultadas para ampliar os pontos de vista, mas que não o foram” (CHRISTOFOLETTI, 2008: 36). 

Bueno (2007: 25), por sua vez, diz que "um olhar, ainda que ligeiro, sobre a cobertura do meio ambiente evidencia, de imediato, a necessidade de se contemplar realidades e instâncias distintas no processo de produção jornalística”. Portanto, este estudo é voltado para análise e crítica das fontes utilizadas nas notícias sobre a COP-21, abordando uma das etapas de produção jornalística, que é a apuração de informações. 

       

5.2 População e amostra  

Escolhemos como objeto de análise a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa – RENOI e os três portais de notícias com maior número de acessos no Brasil durante o período analisado (G1, R7 e UOL), de acordo com pesquisa do IBOPE, em 201536. 

 

5.3 Coleta de dados  

Foram utilizados três passos operacionais e lógicos para a coleta dos dados na pesquisa:

 

i. Análise bibliográfica e documental: documentos em geral sobre observatórios de mídia, jornalismo ambiental e mudanças climáticas. Faz parte do acervo documental levantado todo o referencial bibliográfico selecionado para este trabalho. 

 

ii. Observação direta: clipping37 da RENOI sobre o monitoramento da COP-21 na mídia, juntamente com um clipping dos três principais portais de notícias do Brasil, durante quatro meses, de outubro de 2015 a janeiro de 2016. O levantamento dos textos para os portais de notícias foi realizado por meio de uma ferramenta de busca eletrônica, a partir de um conjunto de palavras-chave (COP-21, Conferência do Clima e Conferência das Partes). Os dados coletados dos portais de notícias e da RENOI podem ser vistos nos ‘Apêndices D e E’, respectivamente. 

   

iii. Aplicação de questionário aberto a colaboradores da RENOI, professores que atuam

em pesquisas sobre monitoramento de mídia, crítica de mídia e jornalismo ambiental, e jornalistas com experiência em cobrir o meio ambiente. O perfil dos entrevistados encontra-se presente no ‘apêndice A’ e demonstra a expertise de cada um para responder ao questionário desta pesquisa. O questionário presente no ‘apêndice A’ foi o utilizado para enviar aos entrevistados desta pesquisa, e ele passou por um pré-teste       

36 Cf. nota 5.

37 Levantamento das notícias publicadas por veículos em determinada região. É uma ferramenta de trabalho de assessoria de imprensa e muito usada pelos observatórios de mídia.

com o Prof. Dr. Samuel Lima, no dia 25/04/2016, em que foi devidamente aprovado, demonstrando que não houve problemas de compreensão pelo respondente. O questionário foi aplicado entre os dias 26/04/2016 e 24/05/2016 para 9 respondentes. 

 

5.4 Classificação dos dados  

Quanto à observação direta, foi utilizado o que Bardin (2009) chama de "análise categorial", que é um tipo de classificação segundo a frequência de presença de itens de sentido. "É o método das categorias, espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem"

(BARDIN, 2009: 39).  

Todas as informações coletadas dos portais de notícias online foram separadas seguindo esse critério de categorização por: data; portal; gênero jornalístico; editoria; tema principal; associação com desastres naturais; associação com relatórios publicados com dados sobre o aquecimento global; presença de algumas das síndromes do jornalismo ambiental (BUENO, 2008); fontes consultadas na matéria e autoria do texto. As categorias foram escolhidas após a exploração do material reunido e por se assemelharem aos modelos utilizados por observatórios de mídias, como o Mídia e Amazônia e o Mudanças Climáticas. 

Para os observatórios de mídia, a classificação foi feita com base no modelo proposto para monitorar as notícias dos portais de notícias. Além de apontar qual observatório registrou alguma fiscalização da COP-21 na mídia, também identificamos se houve alguma publicação sobre meio ambiente em geral, comparando com o modelo utilizado para monitorar os portais e descrevendo como se deu o monitoramento da Conferência nesses observatórios. Com base nas respostas dos questionários aplicados a professores e jornalistas (apêndice B), foram levantados indicadores de como esses observatórios poderiam monitorar o meio ambiente na mídia, e entre eles escolhemos a sugestão do professor Samuel Lima38 de observar o meio ambiente: "Qualidade Jornalística: Ensaio para uma Matriz de Indicadores", de Luiz Egypto Cerqueira, ex-editor executivo do Observatório da Imprensa.

Nele, um dos pontos a observar é se fica claro para a Redação que o compromisso é com a sociedade e não com suas fontes de informação. Outro ponto também levantado na       

38 Questionário respondido por LIMA, Samuel. Questionário 3. A resposta ao questionário na íntegra encontra-se disponível no apêndice B deste trabalho.

Matriz de Indicadores é se a informação veiculada reflete de maneira equitativa a pluralidade de pontos de vista representados na sociedade, e se a organização estimula o consenso em torno da diversidade e da pluralidade como elementos básicos, e de impacto direto na qualidade do produto jornalístico.

Além dos indicadores propostos na obra de Luiz Egypto, Lima também considera ser importante que analisemos aspectos qualitativos das notícias, como a pluralidade da abordagem, profundidade e espaços de colunas de opinião regulares.

Na concepção de Rogério Christofoletti, em suas respostas para o questionário39, alguns indicadores para o meio ambiente seriam: diversidade das fontes, visibilidade de assuntos marginais, reportagens que enalteçam boas práticas e que ajudem a educar os públicos, equilíbrio e clareza etc.

Nesta pesquisa, consoante a revisão de literatura e as respostas obtidas pelo questionário aplicado, disponíveis no apêndice B, buscaremos identificar se os observatórios se preocuparam em analisar os seguintes pontos: diversidade de fontes, educação do leitor, formação dos profissionais de comunicação, clareza, pluralidade e profundidade da cobertura.

       

                   

      

39 Questionário respondido por CHRISTOFOLETTI, Rogério. Questionário 1. A resposta ao questionário na íntegra encontra-se disponível no apêndice B deste trabalho.