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3 CAPÍTULO II: EFETIVIDADE DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PARA

3.5 Considerações finais e perspectivas

Mesmo sabendo que a conservação da Caatinga é importante para manutenção de parte importante da biodiversidade, essa região permanece como um dos ecossistemas menos conhecidos na América do Sul do ponto de vista cientifico (Brasil, 2012). Mesmo diante dos avanços recentes, mais estudos são necessários para fornecer suporte para estratégias de conservação no bioma, principalmente relacionada à fauna aquática, devido aos conflitos relacionados à escassez de água. Assim, a preservação da Caatinga deve ser eficiente e efetiva para manter a qualidade e quantidade dos recursos hídricos fundamentais para a população regional, composta por quase 30 milhões de cidadãos que vivem e dependem dos bens e serviços deste bioma (Brasil, 2002).

De acordo com Tabarelli e Silva (2003), o conhecimento científico insuficiente, o número reduzido de UCs e as pressões antrópicas crescentes ameaçam a perpetuação de várias espécies, e comprovam a ausência de políticas voltadas para a conservação da biodiversidade na Caatinga e de seus demais recursos. Por isso, antes da tomada de decisões para ações que visem criação de novas UCs, se deve dar ênfase para o conhecimento dos ecossistemas e os organismos presentes nessas áreas, no desenvolvimento e aplicação das técnicas de uso sustentável de recursos naturais, no intuito de conciliar a demanda humana com as necessidades da biota da Caatinga.

Visto que à semiaridez é predominante na região da Caatinga e a maioria dos rios dessa região são temporários, existe grande preocupação em manter esses locais protegidos da degradação causada por ações antrópicas, evitando a perda desses ecossistemas e consequentemente a diversidade da biota aquática. Nesse sentido, recomenda-se a elaboração dos planos de manejo das UCs para determinar quais espécies ocorrem no interior e entorno destas, para que se possa avaliar a eficiência da conservação e traçar estratégias como o zoneamento estratégico, a expansão ou a criação de novas áreas protegidas.

Embora talvez não sejam as áreas mais indicadas para a conservação da ictiofauna da Caatinga, as UCs estudadas protegem uma parcela significativa dos peixes da Caatinga. No entanto, a implementação de novas UCs, previstas como forma de compensação ambiental do

111 PISF, devem levar em consideração áreas que contemplem a diversidade de ambientes aquáticos e a ictiofauna, grupo aquático continental melhor conhecido. A seleção de áreas onde ocorrem espécies endêmicas e ameaçadas também é recomendável. Além de Parotocinclus

spilurus, uma outra espécie ameaçada de extinção ocorre nas bacias receptoras do PISF, Apareidon davisi também listada como “em perigo” (Brasil, 2014). No entanto nenhum

exemplar dessa espécie foi capturado nas coletas de 2012 e 2013.

Ações para conservação e recuperação ambiental também devem ser implementadas, para garantir a presença de populações de peixes, como a proteção efetiva e restauração das margens dos rios (matas ciliares), evitar a poluição dos ambientes aquáticos, impedir novas introduções de espécies exóticas, dar preferência às espécies nativas em atividades comerciais como a piscicultura, e a devida fiscalização do cumprimento da legislação ambiental, quanto à ocupação do solo e construção de obras que envolvam e modifiquem a dinâmica dos ambientes aquáticos (Brasil, 2002). Para as espécies endêmicas presentes na Caatinga é essencial a conservação efetiva de ecossistemas especiais como lagos temporários e cabeceiras de rios (Rosa et al., 2003).

Embora alguns trabalhos seminais tenham sido feitos no início dos anos 2000 (Rosa et

al., 2003; 2004; Rosa e Groth, 2004), pouco foi feito posteriormente enfocando a diversidade e

conservação dos peixes da Caatinga, embora estes autores tenham alertado para elevado grau de endemismo e a intensidade dos impactos antrópicos na região. O presente estudo é um dos primeiros trabalhos elaborados no intuito de preencher estas lacunas sobre o conhecimento da ictiofauna na região Nordeste do Brasil, envolvendo as questões como a representatividade das Unidades de Conservação Federais e visando à conservação de peixes na Caatinga, que vai contribuir para complementação e elaboração dos planos de manejo destas UCs. Cabe ressaltar que por anteceder a conclusão das obras do PISF, este estudo também possui caráter histórico e possibilitará avaliar mudanças nos padrões de riqueza de peixes decorrentes deste empreendimento.

Além de contribuir para o conhecimento da ictiofauna desse bioma, este estudo avança no sentido de fornecer informações básicas como composição, distribuição, endemismo e espécies exóticas de peixes das principais bacias hidrográficas da Caatinga (Langeani et al., 2009). Logo, esses resultados vão auxiliar e facilitar a tomada de decisões e identificação de áreas prioritárias para a conservação da ictiofauna do bioma, onde é possível observar uma grande heterogeneidade na composição dessa biota aquática e assim realizar a proteção efetiva dos peixes da Caatinga.

112 Quanto ao planejamento de novas UCs, algumas estratégias regionais para a conservação da ictiofauna devem ser tomadas, como priorizar os ambientes aquáticos e levar em consideração a diversidade de microhabitats, as áreas com maior riqueza de espécies e endemismo. Além de levar em consideração as redes hidrográficas tentando abranger trechos de rios maiores, trechos imediatamente a jusante de grandes reservatórios, respeitando o regime hídrico natural e mantendo pequenas liberações de água para que as espécies nativas continuem sobrevivendo.

Compilar dados em informações úteis para os gestores de UCs e tomadores de decisão no manejo individual e integrado das UCs é um desafio no sentido de atingir as metas regionais e globais de conservação, assim como evitar a extinção local ou global de espécies (Le Saout

et al., 2013). Tendo em vista as necessidades específicas de conservação de cada bioma, e sendo

essas condicionadas ao conhecimento básico em relação ao funcionamento e dinâmica dos ambientes, fica clara a necessidade de maiores estudos sobre a Caatinga, para que Unidades de Conservação sejam propostas e funcionem adequadamente para esse caso específico.

3.6 Referências

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4 CAPÍTULO III: TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: RISCO DE

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