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3 CAPÍTULO II: EFETIVIDADE DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PARA

3.2 Materiais e métodos

3.2.1 Área de estudo e desenho amostral

As bacias hidrográficas da Caatinga foram divididas em quatro ecorregiões hidrográficas: Maranhão-Piauí (MAPE), Nordeste Médio-Oriental (MNCE), São Francisco (SFRE) e Mata Atlântica do Nordeste (NAFE) (adaptado de Rosa et al., 2003 e Albert et al., 2011). Destas, duas foram abordadas no presente trabalho, a ecorregião hidrográfica do Nordeste Médio-Oriental e a do São Francisco. A MNCE abrange as drenagens ao norte do rio São Francisco e a leste do rio Parnaíba, cuja principal peculiaridade é o regime intermitente dos rios decorrente da baixa pluviosidade e elevada evaporação (Rosa et al., 2003). A SFRE abrange drenagens tanto na região Sudeste do Brasil como na Nordeste e apresenta regime hidrológico perene. A perenidade deste rio na Caatinga é garantida pelo aporte hídrico das cabeceiras (localizadas em Minas Gerais), de alguns afluentes do curso médio e por contribuições menores e irregulares dos afluentes do baixo curso da porção meridional do planalto da Borborema (Rosa et al., 2003).

As três bacias hidrográficas abordadas neste estudo (São Francisco, Jaguaribe e Piranhas-açu) fazem parte das cinco relacionadas ao PISF (Brasil 2004). A maior das bacias receptoras, a do rio Jaguaribe, é também a maior da ecorregião hidrográfica do Nordeste Médio- Oriental (Albert et al., 2011) e a principal do Estado do Ceará. Drena uma área correspondente a mais de 50% do Estado e percorre um trajeto de aproximadamente 610 km, desde as suas nascentes na Serra da Joaninha, no Município de Tauá, até desaguar no Oceano Atlântico, na cidade de Fortim (Dantas et al., 2011). No alto da bacia do rio do Jaguaribe encontra-se a ESEC de Aiuaba (Figura 3-1) que é cortada marginalmente pelos rios/riachos intermitentes Umbuzeiro e Serra Nova, afluentes da bacia do rio Jaguaribe. O primeiro foi o único que apresentava água durante o período de estudo (2012-2013) e o segundo sequer aparece nos arquivos utilizados na confecção dos mapas, provavelmente devido ao pequeno calibre de seu

93 curso. A área total da ESEC Aiuaba corresponde a 0,16% da área total da bacia onde ela está inserida.

Figura 3-1. Localidades amostradas e as três Unidades de Conservação estudadas em três das bacias hidrográficas

envolvidas no Projeto de Transposição do rio São Francisco (Detalhes das UCs estudadas podem ser observados na Figura 3-2A, B e C).

A bacia do rio Piranhas-Açu, uma das principais bacias hidrográficas do semiárido nordestino, apresenta 60% da sua área no Estado da Paraíba e 40% no Rio Grande do Norte. Seu curso d’água principal é um manancial de extrema importância para inúmeras atividades nesses dois Estados, como abastecimento de água, pesca e irrigação (Moura, 2007). Sob influência dessa bacia, encontra-se a ESEC do Seridó, cuja área corresponde a 0,03% da área total da bacia hidrográfica. Essa UC não é cortada por nenhum rio, possuindo apenas um açude em sua margem Sul (06°34'47.2''S 37°15'21.5''W), no limite com uma fazenda pecuarista (Tabela 3-1).

A bacia do rio São Francisco corresponde a cerca de 8% do território brasileiro, com nascentes situadas no Estado de Minas Gerais e foz no Oceano Atlântico, entre os Estados de Alagoas e Sergipe. Sua cobertura vegetal abrange fragmentos de Caatinga nos trechos médio e submédio (ANA, 2014). No trecho submédio dessa bacia, encontra-se o PARNA do Catimbau,

94 localizado no Estado de Pernambuco, correspondendo a 0,10% da bacia, sendo cortado por pequenos tributários intermitentes, como o riacho do Mel (Tabela 3-1).

Além disso, das três UCs Federais abordadas, apenas a ESEC do Seridó possui plano de manejo elaborado. Nesse documento é citada a captura de sete espécies de peixes na UC (embora sejam apresentados dados de apenas seis), além de relatos de pescadores locais sobre a existência pregressa ou atual de outras 11 espécies (IBAMA, 2004). Das espécies listadas, várias apresentam problemas de identificação. Além disso, a amostragem foi focada em espécies de médio a grande porte, possivelmente por viés metodológico de amostragem. Essa questão é especialmente problemática tendo em vista que a maior parte das espécies de peixes de água doce da Caatinga é de pequeno porte (Rosa et al., 2003, Silva et al., 2014). Nesse contexto, é muito provável que a riqueza de espécies de tamanho reduzido tenha sido negligenciada.

Tabela 3-1. Dados sobre área e localização das três Unidades de Conservação estudadas. AUC = Área da

Unidade de Conservação, ABH = Área da Bacia Hidrográfica e ABHP = Porcentagem da Área da Bacia Hidrográfica Protegida.

Unidade de Conservação UF AUC Km² Bacia Hidrográfica ABH Km² ABHP (%)

Estação Ecológica de Aiuaba CE 119,134 Jaguaribe 74.077,007 0,16

Estação Ecológica do Seridó RN 11,385 Piranhas-Açu 43.142,000 0,03

Parque Nacional do Catimbau PE 633,923 São Francisco 659.264,972 0,10

3.2.2 Coleta de dados

Este trabalho utilizou parte do conjunto de dados do projeto “Efetividade das Unidades de Conservação para a ictiofauna e carcinofauna das bacias hidrográficas do Nordeste Médio- Oriental e avaliação de possíveis efeitos deletérios da transposição do Rio São Francisco para a biota aquática”, contendo dados de riqueza das espécies de peixes de água doce coletados no período de 2012 e 2013. Esses dois anos foram atípicos, com seca intensa, restringindo o número de localidades amostrais, porém possivelmente refletindo a distribuição da ictiofauna durante esses episódios climáticos extremos, quando as populações estão severamente reduzidas e fragmentadas. As coletas foram feitas com diversos apetrechos e técnicas (peneiras de mão, redes-de-arrasto, redes-de-espera, tarrafa, mergulho livre, covo e anzol e linha), de acordo com a possibilidade de uso destes.

Na elaboração dos mapas e cálculo de área de drenagem de cada bacia, foram utilizados arquivos georreferenciados, disponibilizados pela Agência Nacional de Águas (ANA, 2014) e

95 Ministério do Meio Ambiente (Brasil, 2014), utilizando o programa “Sistema de informação geográfica – QGIS v2.4.0”. Os locais de registro das espécies foram plotados, permitindo a visualização de quais espécies ocorreram nas diferentes localidades amostradas. A distribuição geográfica das espécies foi verificada de acordo com a literatura científica especializada (e.g. Rosa et al., 2003; Buckup et al., 2007; Eschmeyer et al., 2015), e o endemismo foi definido como a ocorrência de uma espécie restrita a uma única bacia e/ou ecorregião hidrográfica (Albert et al., 2011).

Para avaliação da representatividade das três UCs Federais inseridas nas bacias hidrográficas envolvidas nas obras do PISF, foi comparada a riqueza de espécies nos trechos superiores das bacias dos rios Jaguaribe e Piranhas-Açu (receptoras das águas do PISF) e no trecho submédio do rio São Francisco (área de captação de água do PISF). Os espécimes coletados foram identificados até a menor categoria taxonômica possível de acordo com os trabalhos de Britski et al. (1984) e Ramos (2012) e posteriormente foram tombados na coleção ictiológica da UFRN. No caso das espécies com identidade taxonômica duvidosa, ou na ausência de caraterísticas diagnósticas, as espécies foram consideradas como species

inquirendae, indicando a necessidade de mais estudos para elucidar a validade das

identificações (Winston, 1999; ICZN, 2016). A maioria destas espécies podem ser na verdade sinonímias de outras já descritas.

Para a avaliação dos padrões de riqueza da ictiofauna, foi quantificado apenas o número de espécies nativas de peixes presentes em cada bacia hidrográfica, por ponto de coleta. Para a verificação da efetividade das UCs na conservação da ictiofauna, foi quantificada a riqueza de espécies dentro e fora das três UCs Federais. Os critérios utilizados para indicação de áreas de relevante interesse para conservação da ictiofauna na Caatinga foram: riqueza das espécies por ponto de coleta e número de espécies endêmicas em cada bacia hidrográfica estudada.

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