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Essa pesquisa resgatou o histórico de evolução da principal legislação que regula a conservação ambiental em imóveis rurais no Brasil até sua última versão conhecida como o Novo Código Florestal (NCF). As principais incorporações realizadas na lei foram analisadas com enfoque especial no mecanismo de compensação de Reserva Legal (RL).

O mecanismo de compensação de RL é inovador à medida que fornece estímulo econômico para a adequação ambiental, reduzindo o custo da adequação ambiental da RL. Por outro lado, a ausência de sua regulamentação a nível federal, passados seis anos da aprovação do NCF, traz expectativas quanto a sua funcionalidade.

A regulamentação federal do mecanismo é fundamental e fornecerá diretrizes mais específicas para que os estados possam desenhar o funcionamento do mecanismo em seus territórios. Tais diretrizes devem auxiliar na definição de como o mecanismo poderá trazer adicionalidade ambiental, ou seja, incentivar que áreas passíveis de desmatamento legal sejam preservadas.

Em Mato Grosso, o foco da Secretaria Estadual de Meio Ambiente está em finalizar o cadastramento das propriedades rurais no SIMCAR e, por enquanto, a estratégia adotada para o esquema de compensação é sanar o problema fundiário de áreas particulares dentro de UCs. Resolver os problemas fundiários em tais áreas é um fator importante para fortalecer a proteção ambiental em áreas protegidas e indenizar os proprietários rurais. Por outro lado, o desenho do mecanismo de compensação pode abarcar outras estratégias que colaborem para a preservação de áreas de áreas passiveis de desmatamento legal, contribuindo para a redução do desmatamento no Estado.

Outro aspecto relevante que essa pesquisa aponta é para a necessidade de se considerar as diferentes expectativas e perfis de produtores rurais quanto ao esquema de compensação, conforme a pesquisa de Giannichi et al. (2017). Sobretudo, quanto ao preço da CRA e o tempo de duração dos contratos, de forma a equilibrar os preços ofertados e demandados.

Um desafio que deverá ser enfrentado tanto a nível federal quanto estadual é criar incentivos que viabilizem a valorização da vegetação nativa, tornando atrativo aos produtores com ativo o esquema de compensação. Da mesma forma, para os produtores que possuem passivo de RL será importante que o esquema de compensação entre propriedades rurais permita a resolução do status da adequação de forma permanente. Caso contrário, a opção de compensação dentro de UCs será a opção prioritária para esses produtores.

Entretanto, para que o esquema de compensação seja operacionalizado é primordial que as inscrições, retificações e validações do CAR nacional e dos Estados sejam finalizados com celeridade, possibilitando a adesão ao Programa de Regularização

Ambiental (PRA), o monitoramento não somente das APPs e RLs, mas também das áreas compensadas. O CAR é a principal ferramenta para a implantação do NCF e é o sistema que fornecerá segurança jurídica ao esquema de compensação de RL.

Essa pesquisa realizou entrevistas com produtores de grãos (soja e milho) que constituem o principal perfil produtivo no município de Querência. Os produtores rurais não se demonstraram abertos para dialogar sobre o assunto, em partes por um desgaste relacionado ao processo histórico de adequação ambiental, mas também por acreditarem que a discussão sobre a conservação da Reserva Legal não é relevante.

Esse segmento produtivo é fortemente orientado pela racionalidade econômica, uma vez que a atividade que desempenham está diretamente relacionada ao ganho de escala para redução dos custos. Nesse sentido, os resultados das entrevistas apontam para a insatisfação do setor quanto ao percentual de 80% da RL exigido pelo NCF. Os produtores rurais acreditam que o NCF deve ser alterado novamente e o percentual da RL para o Bioma Amazônia reduzido.

O principal argumento utilizado é de que esse percentual inviabiliza o retorno econômico do uso produtivo do solo. Para eles, um percentual viável para a manutenção da RL deveria ser de, no máximo, 55% da propriedade rural em áreas de floresta. A insatisfação do setor produtivo quanto ao NCF corrobora para a importância da consolidação, com celeridade na implantação do CAR e na definição do desenho do esquema de compensação, garantindo instrumentos robustos e eficazes que garanta segurança jurídica e eficiência no controle e monitoramento das áreas de APP e RL dentro de propriedades rurais.

Apesar da ausência de regulamentação do esquema de compensação até julho de 2018, os resultados dessa pesquisa apontam que a compensação da RL é um instrumento viável para a adequação do passivo de vegetação em RL produzido pré- 2008 no município de Querência. Os produtores entrevistados demonstraram interesse em utilizar o mecanismo, mas apontaram a compensação dentro de UCs como a opção prioritária, uma vez que essa opção permite a regularização permanente das áreas com passivo em RL a um baixo custo de oportunidade. Nesse caso, é importante que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente oriente os produtores rurais na melhor tomada de decisão, fornecendo suporte técnico e assegurando segurança jurídica da transação.

No caso das áreas com ativo de vegetação nativa em RL no município, possivelmente serão destinadas ao uso produtivo, uma vez que o custo de oportunidade da produção agrícola é elevado no município e não há incentivos econômicos para que essas áreas sejam preservadas. Tal cenário corrobora para a relevância de que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) contemple também no esquema de compensação a valorize áreas de ativos de vegetação nativa, contribuindo para a redução do desmatamento por meio de incentivos econômicos.

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ANEXO 1. Questionário utilizado nas entrevistas com os produtores rurais

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