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Como se pode constatar, neste estudo, a Crítica Genética, de fato, tem expandido o seu objeto de investigação, incorporando no seu escopo obras artísticas as mais diversas, inclusive, encenações performáticas, dentre as quais, foi possível inserir a construção de uma peça radiofônica. Além disso, com o avanço tecnológico da contemporaneidade, os arquivos digitais se multiplicam, a cada segundo, sendo capazes de armazenar um volume de dados cada vez maior.

Assim, a Crítica Genética, ao abarcar diferentes formas de arte, e até adentrar no campo da ciência para estudar diários de descobertas científicas, tem permitido que se descortinasse uma nova percepção dos documentos de processo. Afinal, a investigação de obras em materialidades diversas acabou acarretando intervenções importantes nesse campo de estudo em que a presente pesquisa se insere.

A análise que fizemos pretendeu contribuir para o enriquecimento desses estudos de processo em expansão em meio digital. Mas os documentos de processo com os quais nos deparamos na nossa investigação, embora fossem, na sua maioria, em meio digital, também, incluíram o analógico. Trabalhamos, portanto, com um material híbrido, multiforme e multimidiático.

Enfrentamos alguns desafios, ao lidar com estes tipos de documentos pela complexidade do material, considerando que se trata de um dossiê em formatos diversos, incluindo suporte papel, mas também digital e eletrônico. Conseguimos organizar e classificar o material, com o auxílio de tabelas, que nos permitiram melhor visualizá-lo. Mas também, contamos com o elemento facilitador de programas de armazenamento online, especialmente porque o grupo se preocupou em manter os rastros do processo através da utilização de várias linguagens semióticas e usando os suportes mais diversos. É importante ressaltar, em especial, a riqueza das ferramentas do Google Drive, cujo histórico de revisão permite, inclusive, a qualquer pesquisador que a ele tenha acesso, visualizar todas as modificações feitas no texto ali armazenado; até os autores, suas fotos, hora e data em que fizeram as intervenções ali ficaram registradas. É impressionante pensarmos que, hoje, a Crítica Genética tem como objeto de estudo fluxos de processo conservados em rede e em tempo real, o que permite ao geneticista ter acesso aos bastidores da criação quase que como se ali estivesse. O fato do campo de conhecimento da Crítica Genética se aliar a outros saberes para tornar possível a compreensão desse tipo de material, sem dúvida, também tem contribuído para o seu

enriquecimento e, consequentemente, para o desdobramento dos estudos de processo, na contemporaneidade.

Como resultado desses desdobramentos, tornou-se possível o estudo genético relacionado à estética do rádio, como o do presente trabalho. Nesse viés, a análise da construção da protagonista da peça radiofônica A Máquina do Tempo, que buscou adaptar um texto publicado no final do século XIX, datando da Inglaterra Vitoriana, para o século XXI, na América Latina, tornou-se possível, a partir de uma Crítica Genética transdisciplinar, transemiótica e transmidiática.

Quanto à protagonista Júlia, nesta adaptação, constatamos que o processo de criação da personagem se manteve afastado de uma definição de feminino carregada de um discurso que buscava inferiorizar a mulher, perpetrado na literatura, através dos tempos. Ao invés disso, observamos que as autoras da adaptação, desde o primeiro esboço, optaram por não delinear a protagonista a partir de um modelo, ou de um padrão engessado de representação feminina, mas sim, considerando essa protagonista em sua complexidade.

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