• Nenhum resultado encontrado

Como adaptação de um romance para uma peça radiofônica, entendemos que A

diferentes: do romance para o roteiro que foi construído com base na tradução do texto literário de Wells, de uma então, mídia sonora, o audiolivro. Portanto, uma adaptação em que elementos do texto de partida são recriados no texto de chegada (CLÜVER, 2006).

Entendemos que as mídias estão inseridas em processos sócio-culturais e históricos, considerando que os signos que transitam entre meios diferentes agenciam uma rede complexa de confluência sígnica. Sob o viés da semiótica peirceana, concebemos um modelo triádico de signo por trás de cada processo tradutório em que existe uma relação entre três pólos, sendo que:

Um signo [...] é aquilo que, sob certo aspecto ou modo representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez, um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os aspectos, mas com referência a um tipo de ideia (PEIRCE, 1995, p. 46).

Na tradução intersemiótica, ocorre a passagem de uma linguagem sígnica para outra. Segundo Plaza, nesse tipo de processo, ocorre (2003, p. 45): “[...] tradução entre diferentes sistemas de signos, em que tornam-se relevantes as relações entre os sentidos, meios e códigos.”

Entendemos que embora o conceito de signo, tal como o concebeu Peirce (1995), seja útil para a nossa reflexão acerca de tradução ele precisa ser ampliado com os estudos de tradução intersemiótica Roman Jakobson (1969) e desenvolvidos por Júlio Plaza (2003), sempre atualizados para uma perspectiva mais contemporânea, que contemple a diversidade midiática da atualidade. Jakobson (1969) foi responsável por cunhar o termo tradução intersemiótica ao caracterizar os três tipos de traduções possíveis. A tradução intermsemiótica seria aquela que envolveria a tradução de signos verbais em signos não-verbais.

De acordo com Higgins (2012), a separação entre as mídias é uma abordagem que aparece no Renascimento, século XVI, e que refletia uma constante categorização da sociedade do período. Essa forma de categorização, ainda segundo Higgins (2012), não reflete mais nossa situação atual, pois tais categorizações perderam sua força com o passar do tempo. A propósito, o autor destaca obras de artes que parecem estar entre mais de uma forma diferente de expressão; seriam híbridas ou fronteiriças. Como é o caso do teatro, que pode englobar a música, a pintura, a escultura, a dança, a arte circense, dentre outras.

O uso do termo intermídia surgiu no século XIX, em 1812, com o mesmo significado que é empregado atualmente. Ele se disseminou a partir da publicação de um artigo de Higgins (2012) que, por incentivo do próprio autor, foi amplamente divulgado.

Higgins (2012) aponta como primeiros exemplos de intermídia como o ready-made ou

objet trouvé, tipo de arte radical que usa elementos industrializados, e que, portanto, não se

confinam a uma única mídia; e o happenings de 1958, tipo de arte de colagem, com pessoas reais, que ganha maiores proporções ao ser incorporado ao teatro.

Mas para entender intermídia é preciso compreender a complexidade do termo. Para Clüver (2006), as mídias não se reduzem a sistemas sígnicos, apesar de reconhecer que a semiótica auxilia no estudo de transposições midiáticas.

Segundo Müller (2012, p. 82): “[...] intermidialidade não é um conceito acadêmico completamente novo, mas uma reação a certas circunstâncias históricas nas humanidades, na paisagem midiática e nas artes”. É um conceito que passa a se estabelecer quando as artes são encaradas como mídias ou meios de expressão artística: “Uma vez que ‘mídia’ em vez de ‘arte’ foi aceita como a categoria básica para o discurso interdisciplinar, a interrelação entre várias mídias foi entendida como ‘intermidialidade’” (CLÜVER, 2012, p. 14). Tal conceito implica na não existência de mídias puras.

Para Rajewsky (2012), o ato de conceituar a intermidialidade como um fenômeno que envolve duas ou mais mídias é não atentar para a complexidade do termo. Tal conceituação apaga as relações de mídias que não se limitam a acontecer “entre”, mas também as que são transmidiáticas. Rajewsky (2012) alude ao fato de que diferentes mídias não possuem limites fixos. E, segundo Clüver (2006, p.14): “[...] é uma tarefa difícil encontrar uma definição geral de ‘mídia’, que possa valer para todas as mídias englobadas pelo conceito de ‘intermidialidade’.”

Rajewsky (2012) destaca três grupos de fenômenos, a saber: Intermidialidade como transposição midiática, aqui estariam inseridas as mídias que têm seu produto ou mesmo substrato transformado em outro tipo de mídia. As adaptações fariam parte deste grupo. No segundo grupo, a intermidialidade é vista como combinação de mídias, ou seja, as mídias incluídas neste grupo são formadas por uma fusão de mídias distintas. Como exemplo, tem-se as operas e os quadrinhos. Por último, a autora destaca a intermidialidade como referências intermidiáticas. Neste grupo, estão inseridas as mídias que fazem referência a outras mídias. Como exemplo, Rajewsky (2012) traz a literatura ao referir-se ao cinema, tanto ao evocar um filme, ou mesmo, técnicas cinematográficas.

A peça radiofônica, seguindo essa perspectiva, se encaixa, primeiramente, nos estudos da intermidialidade como transposição midiática, visto que o texto literário impresso foi traduzido, ou adaptado, para signos sonoros e para um gênero específico, o da peça radiofônica. Dessa forma, se trata, para Clüver (2006, p.17) de uma transposição:

[...] existem instâncias de transposições intersemióticas e intermidiáticas equivalentes a traduções interlinguísticas, mas elas normalmente têm funções diferentes [...]. A maioria de tais transformações implicam muito mais do que a representação dos aspectos característicos de um texto numa mídia diferente [...]

Entendemos que as transposições não devem e nem podem remeter a uma equivalência entre textos, da mesma forma que não se espera tal coisa de traduções interlinguais; a fidelidade entre o texto de partida traduzido para o texto de chegada é uma quimera que os estudos de tradução na contemporaneidade já não contemplam mais. Assim, cada mídia pode apresentar elementos ou índices do texto de partida no texto de chegada dentro do processo de adaptação.

Dessa forma, ainda que proponha uma visão tripartida, Rajewsky (2012) argumenta, que estes grupos não podem ser fechados, considerando que existem configurações midiáticas que podem ser inseridas em mais de uma dessas categorias. A autora exemplifica com o cinema, no entanto, podemos incluir mesmo a peça radiofônica nas três categorias. Considerando que a peça em questão é uma adaptação, também apresenta uma combinação de mídias, afinal, temos o texto escrito e o trabalho sonoro com a voz, a música e os ruídos. Assim como, ela pode remeter a outro tipo de mídia, no caso da peça com que trabalhamos, ao romance de Wells.

3 ADAPTAÇÃO DO ROMANCE THE TIME MACHINE PARA PEÇA