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5 UMA ANÁLISE GENÉTICA DA PROTAGONISTA NO ROTEIRO

5. 1 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DA PROTAGONISTA JÚLIA A PARTIR DE RECORTES DAS CENAS DE 01 À 03 E DA CENA FINAL

Nos propusemos a analisar a construção da protagonista Júlia, em seu desenvolvimento na trama do roteiro de A máquina do tempo para audiolivro, a partir de três diálogos que permeiam três diferentes momentos da personagem no desenrolar da história. Esses três diálogos nos permitem uma amostragem da personalidade de Júlia, e também, nos levam a entendê-la como uma personagem cuja representação escapa do estereótipo de feminino que marcou a literatura ocidental, especialmente, até o meado do século passado. A nosso ver, ela escapa desse modo engessado de representação da mulher na literatura, não apenas por ser uma cientista, mas por nos revelar nuances de sua personalidade, que a tornam uma personagem feminina complexa.

No primeiro diálogo, aqui selecionado, temos uma introdução dessa protagonista. O diálogo foi escolhido porque, a partir dele, conhecemos um pouco sobre Júlia e sobre a construção de sua máquina do tempo. O segundo diálogo que nos propusemos a analisar, ilustra a motivação central da personagem na trama, ou seja, o que a levara à sua empreitada científica. Já o terceiro diálogo, nos mostra que a personagem, após viajar no tempo para outros dois momentos no futuro e quase alcançar o objetivo de sua empreitada, sofre uma mudança radical de personalidade e retorna ao tempo atual como outra pessoa.

Antes de analisarmos a construção da protagonista Júlia com base na escrita do roteiro da peça radiofônica em análise, observemos arquivos que são parte do prototexto montado, que inclui “4.rtf”, “14.rtf”, “15.rtf”, bem como o “Esqueleto de roteiro”, dos quais consta o primeiro esboço dessa personagem.

A captura de tela, a seguir, refere-se ao arquivo “4.rtf”, que mostra como os integrantes da equipe responsável pelo roteiro lançam perguntas e refletem sobre as características que deve ter a personagem principal, a fim de que tais questionamentos possam guiar o desenvolvimento da protagonista, ao longo da trama. Traçar o perfil de cada personagem antes de se iniciar o momento redacional do roteiro, e até mesmo antes do argumento, como ocorre na adaptação de A Máquina do Tempo para audiolivro é fundamental (MACIEL, 2003).

Percebemos a partir do esboço da personagem do roteiro em questão que surge a necessidade de se incluir a motivação para que a máquina do tempo tenha sido criada. Observamos que as possíveis motivações para tal fato foram listadas neste mesmo arquivo, como visto a seguir:

Figura 9 – Primeiro esboço da protagonista 1

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Como se pode constatar a primeira modificação foi feita no dia 13 de abril de 2015, sendo que os nomes dos participantes do trabalho de roteiro foram omitidos para não os expor nesta pesquisa. A data de modificação que aparece no Dropbox corresponde à data em que o arquivo foi enviado para armazenamento no HD online.

Adiante, na figura 10, já temos um esboço da personagem principal, chamada de Júlio, um cientista que idealizou a máquina do tempo. Neste arquivo, encontram-se as respostas para as perguntas lançadas no arquivo “4.rtf”. Aparece, como motivação central da trama, a necessidade de poder controlar a morte e por um motivo que ainda não fica claro; sabemos apenas que o protagonista tem em mente essa ideia de viajar no tempo

Figura 10 – Primeiro esboço da protagonista 2

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Neste primeiro esboço, observamos também que as roteiristas deixam registrado que o personagem será do tipo “redonda”, conforme teorizado por Forster (1998); ou seja, uma personagem complexa, que deve sofrer mudanças, ao longo da trama. Observamos o fato, a partir da indicação “Então ele se depara com inúmeras surpresas, que vão alterar drasticamente sua percepção da vida”.

Na figura 11, a seguir, temos uma descrição mais detalhada da personagem, especialmente, de sua aparência física. Segundo esse esboço do roteiro, Júlio havia iniciado o projeto da construção da máquina do tempo aos quinze anos e já se faz menção, no referido documento de processo, à morte de sua mãe quando a criança tinha apenas oito anos. Segue uma descrição da personagem em que também se pode perceber que Júlio é uma pessoa exigente, além de perfeccionista e, possivelmente, introvertido.

Figura 11 – Primeiro esboço da protagonista 3

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Destacamos a partir deste excerto, que num primeiro momento, a protagonista da história, que acaba se chamando Júlia, foi idealizada como um homem, conforme aparece no romance The Time Machine. Tal informação, que aqui consta em arquivos diferentes, o “14.rtf” e o “15.rtf”, foi depois mesclada em um único arquivo, intitulado “Esqueleto do roteiro”. Este é o primeiro e único esboço, que corresponde à fase pré-redacional do roteiro. O esboço apresenta-se como um “falso início” (BIASI, 2010, p.), já que foi revisto, posteriormente, pela equipe, antes mesmo que se começasse a redação do roteiro propriamente dito.

Observamos como essa mudança ocorre, na imagem a seguir, figura 12.

Através da ferramenta Histórico de revisões do Google drive, tivemos acesso à data das modificações no que concerne às correções e por quem essas modificações foram feitas. Os nomes dos autores entram em cores diferentes e foram por nós eliminados na figura como explicado anteriormente. Destacamos, também, que apesar da imagem indicar cores diferentes para cada conta de email correspondente a um escritor que participou da edição do texto, isto não implica que a modificação é feita pelo usuário da conta em si, considerando que, a presente pesquisadora presenciou momentos em que o arquivo estava sendo editado na conta de email de uma das autoras, mas outra pessoa escrevia.

Como podemos notar, ao ler o extrato acima, não consta o motivo que teria levado as roteiristas a fazerem a mudança de um personagem masculino para uma protagonista feminina. Tal informação não aparece em nenhuma versão do roteiro e foi colhida através de entrevista com uma integrante da equipe. Em entrevista, concedida no dia 16 de janeiro de 2017, que faz parte do prototexto em análise, em arquivo Entrevista 014, a pesquisadora argumentou que o grupo responsável pela escrita do roteiro decidiu em conjunto adaptar O

Viajante do Tempo, colocando como protagonista uma personagem feminina para dar voz às

mulheres, normalmente silenciadas, em especial, no passado. A seguir, temos a transcrição de parte da entrevista, onde a escritora responde sobre a motivação do grupo.

P1: Mas o grupo podia ter feito uma tradução bem próxima, respeitado de manter o Júlio. Mas o grupo feito só de meninas, decidiu colocar uma mulher [...]

P2: Por que vocês decidiram fazer uma cientista?

E1: tem alguns motivos assim é... também tem um motivo técnico muito importante: a falta de atores homens para gravar a peça radiofônica, então ... esse foi um motivo que assim, ajudou bastante na nossa decisão. Mas a gente por ser um grupo só de meninas e meninas ativas dentro de...

P1: cientificamente...

E1: É, também talvez dentro de uma militância pessoal em relação às mulheres [...] que já têm uma visão crítica diferente, eu acho; que estão dentro da universidade, que passam por experiências... às vezes, sofrem coisas do machismo e tal, meninas que têm esse pensamento... Viram nisso uma oportunidade também de trazer a mulher como um foco principal da história, até em contraponto com a história inicial, que era um homem... e que o foco totalmente era num homem... E se não me falha a memória, não existe nenhuma mulher na história inicial,

P2: ... tem a Weena, né?

E1: A Weena, que era a... que virou a Júlia depois, a Weena era a ajudante dele, [...] era...

P2: .. era uma eloi

E1: ...que era uma eloi, exato... P2:... que era uma criança

E1: ...a gente também observou isso, que era um ser feminino, mas não era uma mulher. Então, a mulher não foi colocada na história. [...]. E a gente tinha essa vontade de colocar uma mulher na história. E por falta de homem também pra gravar... Aconteceu isso.

Como podemos observar, segundo à entrevista, a escolha de uma protagonista mulher ocorreu por razões técnicas; a falta de atores homens para gravar. Mas, também, por outro motivo, considerando que era um grupo composto por mulheres, com experiências de militâncias pessoais e de uma visão crítica dentro da universidade. Tendo, ainda, passado por experiências sexistas, essas escritoras decidiram trazer o foco da narrativa para a mulher, deslocando o homem do centro. Também, no texto de Wells, a mulher não fora representada e as autoras desejavam causar este deslocamento, por isso, decidiram por tais modificações:

E1: Acho que talvez não fique tão claro para quem lê pela primeira vez, para quem ouve a peça radiofônica ou pra quem estudou esses documentos genéticos, mas pra gente existe uma grande questão feminista de empoderamento das mulheres.

É possível notar que este movimento de deslocamento do foco narrativo central de um protagonista homem, cientista, para uma protagonista mulher, também cientista, está também relacionado a crescente influência de movimentos feministas ocorridos no século XXI, na América Latina, mais especificamente, no Brasil, diferentemente do que ocorria na época em que o romance foi produzido, no século XIX, na Inglaterra industrial.

Destacando o período em que a adaptação foi produzida, observamos que as últimas décadas têm sido decisivas e de grandes mudanças para as mulheres. E, que essas mudanças abarcam diferentes setores, como o mercado de trabalho, as relações familiares e mesmo a

representação feminina mais marcante em diversos meios de comunicação

(MCCALLUM,1998). Neste processo de escritura do roteiro, portanto, a relevância da ideologia feminista teve grande importância e foi destinada uma seção do presente trabalho para delinear esse histórico, no terceiro capítulo.

Observamos que tal condição feminina em que parece predominar uma visão de empoderamento da mulher se opera na adaptação do romance de Wells A máquina do tempo, considerando que temos em Júlia uma personagem complexa, que chamaríamos de round, e, que passa por mudanças, no decorrer da trama; desde o início da história, ela é atravessada por experiências que a afastam desse lugar comum de relegar o feminino a uma condição de invisibilidade. Em nossa análise, selecionamos dois diálogos que evidenciam na representação de Júlia um processo para além das características engessadas e limitantes do feminino.

O Diálogo 1 constitui parte do arquivo do Google Docs, que se intitula “roteiro DEFATO”. Logo de início, Júlia aparece na Cena 01 na construção do roteiro da peça radiofônica. Em se tratando de um material que se encontra legível, não houve a necessidade de uma transcrição por ser um material que se encontra em meio digital. Na descrição do

material, atentamos para o fato de que a sua escrita foi marcada com operadores genéticos, a partir do seguinte código: < > para acréscimos; [ ] para o que foi apagado ou reescrito; / para possibilidades de palavras ou expressões; e @ para marcar um trecho que seria retomado adiante.

Nessa primeira cena, são introduzidas duas personagens: a protagonista, Júlia, e sua assistente, Alice. A cena começa com Júlia acordando, de súbito, de um pesadelo, aos gritos, em seu laboratório, para espanto de sua assistente, que a está ajudando na construção da máquina do tempo. A cientista sonha que sua máquina foi roubada, ficando presa no tempo em que se encontra; mas, para seu alívio, descobre, ao ver Alice, que não passava de um pesadelo. As duas começam a conversar sobre os ajustes que precisam ser feitos na máquina, e assim, a conversa caminha para qual teria sido a motivação de Júlia ao construir a sua máquina do tempo.

O esboço da cena pode ser observado a partir do arquivo “Memórias do Futuro – escaleta – 18/06/2015”:

Figura 13 – Esboço das cenas

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

Observamos que o grupo se preocupou em traçar não apenas o perfil da personagem, mas também, em fazer um esboço do desenvolvimento da trama logo no início desse processo criativo, ao criar a escaleta. Na figura 13 observamos que o 1 Ato, que abarca as três primeiras cenas da peça radiofônica, foi pensado de forma que a protagonista aparecesse aos

espectadores em termos de suas razões para a construção da máquina, e também, para que pudéssemos ter uma ideia de sua personalidade. Esta introdução ao perfil da personagem ocorre através de um diálogo da protagonista com outra personagem, Alice, mas ainda, via

flashback do seu passado. Como podemos observar, de forma incipiente e quase telegráfica,

na parte inferior da imagem, estão inseridas, entre chaves, características da personalidade de Júlia, que serão desenvolvidas mais adiante, nas versões seguintes.

Do diálogo travado entre as duas personagens no início da trama, decidimos destacar, em especial, o trecho em que Alice questiona Júlia sobre o que a levara a criação daquele projeto. A seguir, vemos sua primeira versão:

Figura 14 – Versão 1 Diálogo 1 (22/04/2015 16:55)

Fonte: Elaborada pela pesquisadora.

A parte da versão que aparece nessa figura, é a que recortamos para analisar. A data em que aparecem as modificações é 22 de abril de 2015 e nessa etapa do processo temos apenas um pesquisador, conforme mostra o código de cores à direita do texto principal; o próprio editor de textos do Google Drive atribui uma cor a cada conta de email a qual está vinculada cada modificação do texto. Esses destaques, ou realces em cor, indicam sempre acréscimos. Para as eliminações, o texto é tachado, como vemos na figura 15.

Neste diálogo, a assistente de Júlia, Alice, tenta aproximar-se da professora e indaga quanto ao que a teria impulsionado a idealizar esse projeto. A indagação inicia-se em um tom formal, o que evidencia a relação de hierarquia entre ambas, possivelmente, também, por causa do pouco tempo que têm trabalhando juntas no projeto, apenas um mês. Júlia, então, responde de forma bastante vaga, remetendo a uma época muito antiga, mais exatamente, à sua infância. Pela sua resposta, sabemos que a máquina é um projeto do avô, o que nos leva a

concluir que fosse, quem sabe, também um cientista. Ela, então, dá continuidade ao trabalho que, possivelmente, é uma herança de família. Assim, irá executar um trabalho planejado por um homem, mas que, nesse momento, passa a ser liderado por uma mulher, já que esta se mostra competente e desenvolve, provavelmente, no meio acadêmico, um arrojado projeto. Como se pode ver, ocorre aí uma inversão de valores e de ideologia no que concerne à postura feminina, o que, na verdade, é um subtexto relevante dessa adaptação em questão.

O final do extrato termina com “[...] a verdade é que comecei por causa de minha mãe.”, seguido por um corte técnico e por um efeito sonoro, ou que se convenciona chamar de TEC, e que Klippert (1980) chama de “ruído” ou “som senoidal”, que introduz uma nova cena, sinalizado no roteiro por “corte técnico”. Logo em seguida, vimos a indicação de um efeito sonoro que deverá entrar pontualmente, em algum momento do roteiro, isso é, o som da caixinha de música. Como podemos acompanhar, esses cortes no diálogo citado nas figuras 14, 15 e 16 são, com frequência, usados para retardar informações importantes da história e contribuir para aumentar o suspense que se deseja manter, ao longo da trama.

Esse corte técnico, em específico, evidencia um adiamento da informação buscada por Alice, o que, claramente, corrobora para o clima de suspense que se estabelece. E o som da caixinha de música será o gancho para um flashback através do qual o leitor do roteiro é remetido, novamente, para a infância de Júlia. No passado é que se encontra a tão buscada informação que não só Alice, mas também o leitor, quer descobrir. Voltaremos a este

flashback mais adiante. Após a suspensão, entra uma nova cena, a Cena 02 que, neste

primeiro momento, não contempla o diálogo que buscamos analisar.

Esse diálogo vai sendo modificado ainda dentro da Cena 01, que mantém o avô de Júlia como o primeiro construtor da máquina do tempo.

Destacamos que, no arquivo que analisamos, aparecem duas formas diferentes para indicar acréscimos e eliminações. A primeira, como mencionamos, é um registro automático do Google Drive: o destaque, ou seleção do texto, na figura 16, e o tachado, que aparece na figura 15. A segunda forma são os operadores genéticos utilizados pelos roteiristas. Na figura 16, percebemos a presença desses marcadores genéticos utilizados e já mencionados anteriormente. Apenas a título de lembrar o leitor deste texto, os dois marcadores presentes na figura 16 indicam palavras que foram acrescentadas < > ou apagadas [ ]. Destacamos, também, que essas modificações são de imediato salvas pelo Google Drive como acréscimos e, posteriormente, aparecerão como eliminações no histórico de trabalho do arquivo; isto é, ficando registradas as escolhas feitas, ao longo do processo.

Figura 15 – Versão 2 Diálogo 1 (25/05/2015 14:28)

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

O trecho removido do arquivo na figura 15 é reescrito, adiante, o que pode ser visto na figura 16, mas que corresponde à mesma versão, pois, como podemos ver à margem direita do texto do roteiro das figuras 15 e 16, foram modificações feitas simultaneamente.

Figura 16 – Versão 2 Diálogo 1 (25/05/2015 14:28)

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

Na figura 16, de imediato, no trecho reescrito, observamos que é evidenciado o interesse de Júlia pelo projeto, o que fica mais claro com o acréscimo de: “Me interessei pelo assunto e acabei retomando”. Já na última parte do diálogo, temos que sua motivação maior foi a mãe. A motivação anterior do avô era sua esposa, a avó de Júlia que falecera da mesma

forma. Quando se perde que o avô tenha sido o criador da máquina do tempo, importa saber que Júlia criara sua máquina por causa da mãe. Não sabemos ainda porque a mãe estaria relacionada ao seu propósito.

Destacamos que em todas as três versões deste mesmo diálogo na Cena 01, o avô de Júlia aparece como o primeiro responsável pelo projeto, apenas não tendo sido capaz de levá- lo adiante porque a tecnologia de sua época não permitia. Mas, também, a dedicação de Júlia à referida pesquisa fica evidente, principalmente, a partir dos diálogos entre Júlia e Alice. Seu comprometimento para garantir o bom andamento dos trabalhos se mostra, em especial, ao sabermos que Júlia fica praticamente confinada ao espaço do seu laboratório, não tendo direito a se divertir, ou ter uma vida própria.

Na adaptação para peça radiofônica, apesar de existir um deslocamento do cientista O Viajante do Tempo, para a protagonista feminina Júlia, ainda há a figura de um homem responsável pelo grande projeto científico da construção de uma máquina capaz de viajar pelo tempo. Logo, é como se a figura do avô fosse um rastro do antigo poder patriarcal representado, em Wells, pelo protagonista O Viajante do Tempo.

No roteiro, observamos uma mudança no que concerne à liderança do projeto quando o diálogo passa da Cena 01 para a Cena 02:

Figura 17 – Versão 3 Diálogo 1 (10/06/2015 11:25)

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

apagado. Observamos acréscimos de falas da protagonista Júlia, que agora se apresenta como a responsável pelo projeto em questão. Ela começa a construir a máquina do tempo, quando ainda bem jovem, reconhecendo aquele projeto como a sua vida. Então, Júlia decide compartilhar a sua história e o seu projeto com a assistente Alice para que, no caso de ocorrer algum impedimento de sua parte, ou mesmo que acabe morrendo antes de concluir a empreitada, alguém a leve adiante.

Na figura a seguir, temos o texto já “limpo”, sem os marcadores genéticos utilizados pelo grupo:

Figura 18 – Versão 3 Diálogo 1 (10/06/2015 11:25)

Fonte: Elaborado pela pesquisadora

Percebemos, ao final da fala de Júlia, que o empoderamento feminino marca o texto do roteiro citado, em especial, porque fica claro que se algo acontecer à professora caberá à sua assistente dar continuidade ao projeto. Logo, há uma herança feminina que se estabelece, então, mais forte do que nunca e que dá o tom do discurso.

Observamos, então, claramente, uma ruptura da peça radiofônica com o texto de Wells. Primeiro, temos um distanciamento de tempo e espaço entre o texto escrito pelo autor inglês e sua adaptação contemporânea. E também, como dito anteriormente, na adaptação existe uma demanda diferente, tanto em relação às características dos gêneros peça