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A implementação de instrumentos para a efetiva proteção do consumidor no âmbito do Mercosul ultrapassa a mera lacuna normativa. Na verdade, pode-se depreender que o modelo a partir do qual o bloco se formou não tem se mostrado capaz de concretizar uma verdadeira integração na região.

Em que pese o fato de que, nos últimos anos, todos os países da América do Sul tenham passado a fazer parte do bloco mercosulino, seja como Estado-parte, seja como Associado, a inexistência de instituições supranacionais com função decisória e com poder impositivo tem dificultado a adoção de medidas mais eficazes rumo à consecução dos objetivos de crescimento e cooperação interna.

Ainda que se tenha em mente a inadequação de se querer aplicar diretamente no continente americano o modelo europeu de integração, deve-se considerar que a supranacionalidade tem se mostrado, até o momento, a forma mais eficaz de concretizar a integração entre os países. O principal aspecto que contribuiu para esse sucesso é o nível de comprometimento assumido pelos estados integrantes, ao buscarem soluções de forma cooperativa para as crises, em prol do projeto comunitário.

A instabilidade democrática ainda vivenciada na região, assim como dificuldades econômicas enfrentadas pelos Estados, ao invés de ter o condão de aproximá-los, tornam mais difícil a existência de consenso na tomada de decisões. Acerca especificamente da tutela do consumidor, outro obstáculo diz respeito ao descompasso entre os níveis de proteção garantida pelo ordenamento interno dos países membros, o que, inclusive, impossibilitou a aprovação de um regulamento comum tratando da matéria.

Assim, na prática, exceto no caso de o fornecedor, ou empresário e empresa a ele assemelhados poderem ser alcançados em território nacional, o consumidor demandante terá de enfrentar todas as dificuldades inerentes à necessidade de buscar prestação jurisdicional no estrangeiro ou da prática de atos no exterior, por meio de cartas rogatórias e buscando o reconhecimento e a execução da decisão aqui obtida em outro país. Deve-se considerar ainda que estará sujeito a legislação e procedimento locais.

Depreende-se do exposto, desse modo, que não há distinção palpável, no que tange a aspectos jurídicos, entre essa relação internacional de consumo com fornecedor domiciliado em país do Mercosul ou fora dele. Não se pode, todavia, ignorar o fato de que têm se empreendido esforços no sentido de uniformizar os procedimentos, buscando também simplificar a solução de problemas.

Exemplo disso é o Projeto Piloto de Atenção ao Consumidor Turista, que já conta com sete cidades entre os países integrantes. Seu objetivo é prover atendimento padronizado para o consumidor turista que tiver algum problema de consumo durante a estadia no país visitante. A partir do envio de um formulário, disponível no site das entidades, o órgão de proteção ao consumidor do local onde ocorreu o conflito e o da residência do consumidor estarão em permanente contato até o resultado final da reclamação.

É inegável que se faz necessária e urgente a harmonização da legislação dos Estados-Partes, com a convergência das políticas nacionais envolvendo temas-chave, para que o consumidor tenha os mesmos direitos e nível de proteção nas relações de consumo ocorridas em qualquer dos países-membros mercosulinos.

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