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3. Integração Internacional e Blocos Regionais

3.3. O Mercosul e a Integração na América Latina

A análise do contexto de formação do Mercado Comum do Sul, também chamado de Mercado Comum do Cone Sul, aponta, de forma mais direta, para as iniciativas precursoras implementadas por Brasil e Argentina na década de 1980. Pode-se dizer que o ciclo de acordos bilaterais entre os dois países teve início com a “Declaração de Iguaçu”, em novembro de 1985, que tratou da cooperação para o uso pacífico da energia solar.

Perin Júnior48 relata a assinatura, à época, de 24 protocolos ao todo, dentre os quais destaca a “Ata de Integração Brasileiro-Argentina” (1986), que instituiu um programa com vistas à abertura gradual dos dois mercados, e o “Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento” (1988), que formalizou a intenção de formarem uma zona de livre comércio e, “Ata de Buenos Aires” (1990) estipulando a criação de um mercado comum até o ano de 1994.

Perin Junior49 atribui essa aproximação a três fatores principais: “a superação das divergências geopolíticas bilaterais, o retorno à plenitude do regime democrático nos dois países e a crise do sistema econômico internacional”.

A integração entre os países da região concretizou-se formalmente com a assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, que reafirmou o objetivo de constituição do Mercado Comum do Sul, agora tendo a participação dos quatro Estados-partes (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), com propósitos comuns e enunciações programáticas, como o estabelecimento de uma data para a instituição do referido mercado comum (31 de dezembro

48 PERIN JÚNIOR, ÉCIO. A Globalização e o Direito do Consumidor: Aspectos relevantes sobre a

harmonização legislativa dentro dos mercados regionais. Barueri: Manole, 2003, p. 86. 49 Ibidem., p. 85.

de 1994). Quanto à proteção dos consumidores, deve-se apontar que não havia referência expressa quanto à matéria.

Outro importante passo no sentido da consolidação do grupo deu-se com o Protocolo de Las Leñas (assinado em junho de 1992), acerca das regras de cooperação e assistência jurisdicional em matéria civil, trabalhista, comercial e administrativa, assim como do reconhecimento e execução de decisões e cooperação judicial internacional. Aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 55, de 19 de abril de 1995 e promulgado pelo Decreto nº 1.901, de 09 de maio de 1996, como se verá adiante, é uma das mais importantes ferramentas normativas de que dispõe o consumidor no âmbito do grupo mercosulino, pois representou um mecanismo para facilitar o acesso à justiça.

O ano de 1994 foi um marco quanto à concretização do planejamento traçado nos tratados firmados até então. No curto período de doze meses houve a aprovação da Tarifa Externa Comum (TEC) – a ser aplicada às importações oriundas de extrazona –, a criação da Comissão de Comércio do Mercosul e, em dezembro, a assinatura do Protocolo de Ouro Preto. Mesmo ainda não efetivando a livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais que consolidaria o mercado comum, trouxe importantes avanços. Estabeleceu a personalidade jurídica do bloco e reiterou a opção pelo caráter intergovernamental do processo, sendo as decisões tomadas por consenso e com a presença de todos os Estados- partes. Isso ratifica a opção pela inexistência de órgãos supranacionais, com poder para emanar decisões de aplicação direta e efeitos imediatos. De acordo com o Protocolo, ainda, o Mercosul se tornaria uma união aduaneira plena em 2006, o que não ocorreu.

Outra importante contribuição foi estabelecer a estrutura institucional do bloco – até então inexistente – que passou a ser composta pelo Conselho do Mercado Comum (CMC), o Grupo Mercado Comum (GMC), a Comissão de Comércio do Mercosul (CCM – só reconhecida a partir deste tratado), a Comissão Parlamentar Conjunta (atualmente substituída pelo Parlamento do Mercosul), o Foro Consultivo Econômico e a Secretaria Administrativa, tendo os três primeiros poder de decisão. Já o GMC é o órgão executivo do bloco, e tem o poder de propor regras para deliberação pelo Conselho do Mercado Comum.

Este, por sua vez, é o órgão de mais alto nível hierárquico, responsável pela condução do processo de integração. Sua presidência é exercida de forma rotativa pelos Estados partes, por um período de seis meses, e está sendo desempenhada pelo Brasil neste primeiro semestre de 2015.

Na organização interna do Mercosul, devem ser destacados, ainda, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor e o CT – 7, Comitê Técnico que trata da

defesa do consumidor. Este último está subordinado à Comissão de Comércio, órgão assessor do GMC que se manifesta por diretrizes.

No que se refere à configuração de países participantes, além dos membros efetivos, são Estados Associados a Bolívia, o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003), a Colômbia e o Equador (desde 2004). Com a adesão de Guiana e Suriname em 2013, todos os países da América do Sul passaram a fazer parte do bloco, seja como Estado Parte, seja como Associado. Isso vai ao encontro do objetivo delineado no Tratado de Assunção de favorecer a inclusão dos demais Países Membros da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), caracterizando-se, desse modo, por um regionalismo aberto.

Apesar de toda a polêmica travada a esse respeito, em 2012 houve o ingresso definitivo da Venezuela como Estado Parte, primeira ampliação quanto a membros efetivos ocorrida no bloco. Ainda naquele ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia, cuja ratificação encontra-se em trâmite.

Antes da concretização do mercado comum, com a livre circulação dos fatores de produção, figura como desiderato do bloco o aperfeiçoamento da união aduaneira já vigente, de modo a que não mais seja incompleta ou parcial. Como passo importante nessa direção, foram concluídas, em 2010, as negociações para a conformação do Código Aduaneiro.

O Mercosul tem o objetivo primordial, como adepto do regionalismo aberto, não só de fomentar o comércio interno entre os países participantes, mas também de estimular os negócios com outros parceiros. Alguns acordos firmados nesse sentido foram o Acordo de Livre Comércio com a Palestina (2011), o Memorando de Entendimento de Comércio e Cooperação Econômica com o Líbano e o Acordo-Quadro de Comércio e Cooperação Econômica com a Tunísia, estes últimos assinados ambos em 2014.

Dessas interações extrabloco, certamente a mais significativa tem se desenvolvido com a União Europeia. Del’Olmo e Machado50 relatam que os esforços para tal aproximação

tiveram início desde a década de 1990. Entretanto, apesar de já terem ocorrido quatro rodadas de negociações (encontros da chamada Cúpula União Europeia – América Latina e Caribe), nenhum acordo chegou a concretizar tais intenções. A principal iniciativa nesse sentido foi a Declaração de Viena, datada de 2006, mas apenas reiterou o compromisso de integração, sem ter a capacidade de superar os obstáculos, a maioria deles originada dos contrastes – sociais, econômicos, políticos – tanto entre os membros do Mercosul quanto entre estes e os participantes da União Europeia.

50DEL’OLMO, Florisbal de Souza, MACHADO, Diego Pereira. Direito da Integração, Direito Comunitário,