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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A geração da diversidade genética de milho em Novo Horizonte está acontecendo de forma dinâmica, envolvendo provavelmente fluxos de germoplasma entre variedades crioulas, cultivares modernas e parentes silvestres, através do sistema formal e informal de sementes e esquemas de melhoramento genético local. A análise das características morfológicas dos grãos em conjunto com os fatores sociais envolvidos na geração e conservação foi fundamental para estimar a diversidade presente e a distribuição espacial pelo município. As VCM ainda existentes nessa região continuam sendo manejadas intensivamente e dinamicamente pelos agricultores familiares, técnicos de campo e pesquisadores (VOGT et al., 2009; KAMPHORST, 2014) e podem ser de grande importância para programas de melhoramento e para a segurança e soberania alimentar39 dos povos dessa região e do Brasil. Dessa forma, a presença da ampla diversidade do Zea mays L. na região a coloca num status de região com grande diversidade genética da cultura conservada on farm , sendo que a região Extremo Oeste foi indicada como microcentro de cultivo e diversidade da espécie (COSTA et al., 2016). A caracterização fenotípica realizada com base em características morfológicas atribuídas pelos agricultores para a VCM indica áreas de elevada diversidade de VCM, e essas devem receber uma atuação diferenciada e proteção ambiental para evitar riscos de contaminação por fluxo gênico, principalmente, a partir do milho transgênico. Os mapas gerados com a distribuição das VCM de Novo Horizonte podem orientar a tomada de decisão sobre onde concentrar as ações de coleta VCM para conservação, mas também servir de referência para identificação de áreas de grande agrobiodiversidade na perspectiva de Indicação Geográfica da Diversidade (IGD) de VCM como estratégia de valorização da diversidade e conservação on farm. O IGD é um conceito baseado no

39 A segurança alimentar diz respeito ao acesso igualitário da população à

alimentos com suficiência e qualidade assegurada. A soberania alimentar é um princípio crucial para a garantia de segurança alimentar e nutricional e diz respeito ao direito que tem os povos de definirem as políticas, com autonomia sobre as suas sementes e sobre o que produzir, para quem produzir e em que condições produzir (BRASIL, 2006).

conceito de Indicação Geográfica40, mas aqui sugerido com adequação para proteger possíveis microcentros de diversidade fora da região de origem da cultura.

A conservação da diversidade genética de variedades crioulas de milho no município está intrinsicamente relacionada ao uso, com destaque para valores gastronômicos e adaptativos. Portanto, são necessárias políticas púbicas que incentivem o uso, a agregação de valor econômico e por consequência a conservação dessas VCM importantes na segurança alimentar das famílias. Pelo intenso manejo dos agricultores, seleção, uso e intercâmbio de sementes e a presença dos parentes silvestres, novas raças de milho pipoca (Silva et al., 2016) de milho comum (Vidal, 2016), tem surgido na região. Por outro lado Vidal (2016), identificou que está havendo contaminação do milho pipoca por pólen de milho transgênico. Neste contexto, a seleção, o cultivo, o intercâmbio de sementes de VCM é realizado com uso do conhecimento tradicional, enquanto que as cultivares comerciais são manejadas pelo sistema convencional preconizado pela agricultura moderna. Esse aspecto do manejo reforça o argumento de que a conservação on farm de variedades crioulas é fundamental para a reprodução socioeconômica e cultural da agricultura familiar. O longo tempo de cultivo e as razões para o uso indicados pelos agricultores do município pode mostrar resistência de continuar o cultivo apesar das pressões existentes pela área por cultivos modernos. Em Novo Horizonte, as maiores razões apontadas para a conservação das VCMC são os VUC gastronômico e o uso direto na alimentação humana e animal. Esses são indicativos de conservação com fins de segurança alimentar das famílias e reforçam a racionalidade produtiva dos agricultores do município que está inserido numa região importante na produção de alimentos41, que persiste mesmo com a pressão por área para

40 Indicação Geográfica (IG) é um processo usado para identificar a origem de

produtos ou serviços quando o local, região ou país tenha se tornado conhecido ou quando determinada reputação, característica e/ou qualidade possam lhe ser vinculadas essencialmente a sua origem geográfica, sendo passíveis de proteção legal contra uso de terceiros, em termos de Propriedade Industrial. No Brasil tem duas modalidades: Denominação de Origem (DO) e Indicação de Procedência (IP). (INPI, 2017).

41 A maioria das propriedades tem até 30 ha e, segundo o IBGE (2010), as

monocultivos comerciais (CORDEIRO et al., 2008). Neste contexto, em virtude da quantidade de VCM encontrada e do número de agricultores que as conservam, pode inferir-se que existe resistência ao abandono dessas variedades.

6 CONCLUSÕES

- A presença de uma grande diversidade de variedades crioulas de milho pipoca, comum, farináceo, doce e adocicado selecionadas e conservadas de forma dinâmica pelos agricultores e agricultoras de origem pluriétnica está associada à aspectos socioculturais e ao uso tradicional na alimentação humana.

- Existem interesses distintos e conhecimentos específicos de homens e mulheres quanto à seleção e às qualidades das VCM para a conservação, demonstrando que o gênero do mantenedor e os valores socioculturais afetam a geração da diversidade e a conservação.

- As mulheres são as principais mantenedoras do milho pipoca e os homens do milho comum.

- Homens e mulheres têm perspectivas diferenciadas na seleção e conservação de VCM.

-As famílias priorizam acessar sementes de VCM nas relações próximas e de confiança. O fluxo de sementes entre vizinhos e parentes, bem como a transmissão do conhecimento e do patrimônio genético dentro das famílias, através da herança, tem prevalecido tanto para o milho pipoca como para o milho comum.

- As variedades crioulas de milho pipoca são mais antigas, mais diversas e estão presentes em maior quantidade que as de milho comum.

Brasil. Desse montante, 87,3% acontece no estado de Santa Catarina e a região Oeste é responsável por 89,1%, e cerca de 74,60% acontece em propriedades de até 10 ha.

- A análise conjunta das características morfológicas, valores de uso e cultivo e distribuição geográfica por altitude indicam que o aspecto altitude não explica a presença da elevada diversidade, reforçando a relevância das práticas de seleção feitas pelos agricultores e agricultoras para gerar, distinguir e manter as variedades crioulas de milho.

- As comunidades de Platanéia, São Marcos, Santo Agostinho, Matão, Amazonas apresentam a maior concentração de diversidade no município e devem ser priorizadas para o estabelecimento de ações integradas de conservação ex situ e on farm.

- As populações de milho classificadas como raras devem ser priorizadas na coleta para destinação ex situ.

- O elevado número de populações de diferentes tipos de milho, os elevados índices de diversidade fenotípica, a quantidade significativa de variedades antigas, a riqueza dos valores de uso e cultivo, a coexistência próxima com possibilidade de fluxo gênico bilateral entre tipos diferentes de milho e destes com teosinto e os aspectos socioculturais que agem intensivamente no uso, na geração e conservação da diversidade credenciam o município como uma extensão do microcentro de diversidade do milho identificado em Anchieta e Guaraciaba.