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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2. MATERIAL E MÉTODOS 1 Local de estudo

3.5 Aspectos socioculturais relacionados a geração e conservação da diversidade de variedades crioulas de milho

3.5.3 Seleção das variedades e isolamento de cultivos

Em Novo Horizonte, a maioria (83%) dos agricultores realiza algum tipo de seleção, baseada em oito características (cor, formato e tamanho de grão, tamanho de espiga, empalhamento de espiga, sanidade da planta, altura da planta e tipo de endosperma especificamente para o milho comum) e baseado em critérios como melhores plantas na lavoura, planta sadia, planta baixa, melhores espigas no campo, melhores espigas no paiol, melhores sementes pó-debulha, grão sadio.

O teste de Qui-quadrado (p≤ 0,05) sugere a existência de interesses distintos entre homens e mulheres quanto às qualidades das variedades consideradas importantes a partir da pergunta ‘do que você gosta na variedade’, demonstrando que os valores socioculturais e os papéis de gênero afetam a diversidade genética e a conservação. Quando os dados são segregados por gênero, no caso do milho pipoca, as mulheres são responsáveis por 58,6% das indicações de escolhas das qualidades intrínsecas, enquanto os homens respondem por 11,4%. Do restante das indicações, 30,0% se dividem entre a composição de diferentes categorias (pai e mãe, pai e filhos, família, avô e avó). Quanto a variedades de milho comum, 51% das indicações são feitas por homens, 7,2% por mulheres e 47,8% pelas outras categorias (pai e mãe, família, avô e avó, mãe e filhos). A partir do questionamento sobre quem é responsável pelo processo de seleção das variedades crioulas de milho (pipoca, comum, farináceo, doce e adocicado), as mulheres são responsáveis em 52,2% dos casos, os homens em 34,8% e, em 13%, os dois em conjunto. Em relação a geração dos responsáveis, os pais foram indicados em 86,7% e os filhos (homens e mulheres) em 13,3% dos casos em que a família está envolvida. Apenas em 1,7%, a seleção é feita por agregado não membro da família. Em 75% dos estabelecimentos, o trabalho de seleção é realizado por um único membro; no restante, 25% é realizado por duas ou mais pessoas. Quando a seleção é responsabilidade individual, a mãe aparece como a maior responsável, em 42,9% dos casos, seguida pelo pai (26,5%), depois filhas e filhos, com 15,3 % cada um.

Quando homens e mulheres foram questionados sobre a parte da planta mais importante na seleção, a espiga é apontada como a principal, em 83% das indicações, sendo para as mulheres, em 77% dos casos, e para os homens, em 23% dos casos. O grão debulhado tem 14,3% das indicações, sendo igualmente importante para homens e mulheres,

quando os dados são segmentados por gênero. A planta inteira foi indicada por homens e em apenas 2% das citações. Em relação a especificidade da característica utilizada na seleção, o tamanho do grão e o tamanho da espiga são as características principais usadas por homens e mulheres. A sanidade e a altura das plantas são mais observadas por homens (15,2%) do que por mulheres (6,6%).

No momento da seleção de sementes das variedades para o próximo plantio, a cor do grão é mais utilizada pelas mulheres do que pelos homens, pois 83% das citações de uso do grão como característica presente na seleção é atribuída às mulheres. No entanto, as características utilizadas pelas mulheres na seleção em ordem de importância são o tamanho de espiga (38,9%), tamanho do grão (35,2%), cor do grão (9,2%), formato do grão (9,2%), planta sadia (5,6%) e empalhamento da espiga (1,9%). Para os homens, são o tamanho da espiga (37%) e o tamanho do grão (26%), sanidade da planta (15,2%), formato do grão (8,7%), empalhamento (6,5%), altura da planta (4,3%), cor do grão (2,3%), sendo que essas características estão majoritariamente relacionadas com o seu papel na conservação do milho comum para os homens e de milho pipoca para as mulheres. Em relação à etapa de realização da seleção, essa é feita em 50% dos casos com referência a melhor espiga e com base em seu tamanho durante o armazenamento. Em 17,8% dos casos, a escolha da espiga ocorre na lavoura. Em 28,6% dos casos, são selecionadas as melhores sementes posteriormente à debulha, sendo que as mulheres (69%) utilizam mais essa etapa do que os homens (31%). Em apenas 3,6% dos casos, a escolha é feita pelas melhores plantas na lavoura.

Para o milho pipoca, o teste do Qui-quadrado mostrou que não existe diferença significativa nas preferências de homens e mulheres quanto as ‘características’ das variedades (cor, formato e tamanho de grão, tamanho de espiga, empalhamento de espiga, sanidade da planta, altura da planta e tipo de endosperma especificamente para o milho comum) usadas na seleção. Portanto, nesse aspecto não existe uma tendência que possa ser atribuída ao gênero do mantenedor, mas apenas uma predominância em função da presença do número de mulheres ou de homens. Quanto à ‘parte da planta’ mais importante na seleção e à ‘etapa’ em que é realizada, houve diferença significativa nos resultados, o que mostra uma tendência na escolha influenciada pelo gênero do mantenedor. Para o milho comum, não houve diferença significativa, segundo o teste Qui-quadrado, em

relação à ‘característica’ e à ‘parte da planta; no entanto, quanto à ‘etapa de seleção’, houve diferença significativa. Nesse caso, uma maior proporção de homens seleciona as variedades ainda na lavoura.

Quando questionados sobre realizarem isolamento em suas áreas de produção de milho, considerando todos os tipos de milho (VCM), os agricultores afirmaram não diferenciar isolamentos dos tipos diferentes de milho, sendo que 85% afirmaram realizar algum tipo de isolamento e 15% não. A proporção de uso de cada isolamento é mostrada na Tabela 4. Dos que usam a prática, 43% só fazem isolamento temporal, 28,3% só espacial e 28,5 % fazem os dois tipos. Dos que fazem o isolamento espacial e temporal, 50% estão em desacordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)26, pois não realizam o preconizado para garantir identidade da variedade, mesmo que façam os dois tipos de isolamento. Quanto ao isolamento espacial, o intervalo usado em NH é amplo e vai de 3 a 2000 m. No entanto, mais da metade dos agricultores (64,3%) utiliza até 100m. Para isolamento temporal, o intervalo entre cultivos varia de 10 a 60 dias e 92,1% usam até 30 dias. Os intervalos, a frequência e a moda de cada uma dessas práticas estão apresentados na Tabela 4.

Em suma, entre os que não fazem isolamento e os que o fazem de forma insuficiente soma-se 76% dos mantenedores e essa condição é insatisfatória para evitar o fluxo gênico bilateral entre os tipos de milhos já que os aspectos reprodutivos do milho exigem que para ter um mínimo de garantias de não haver fluxo de pólen principalmente de milho transgênico deve-se combinar o isolamento temporal e espacial.

26 Para produção de sementes o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento através da Lei de Sementes e Mudas nº 10.711 de 2003 (BRASIL, 2003) e a Instrução Normativa nº 45, de 17 de setembro de 2013 (BRASIL, 2013)26 apontam como garantia mínima para produção de

sementes o isolamento espacial entre cultivos de 200 m para milho tipo comum (variedades e cultivares) e 400 para tipos especiais (pipoca, farináceo, doce). Como isolamento temporal, o MAPA indica um espaço de cultivo de 30 dias independente do tipo de milho cultivado.

Tabela 4. Isolamento temporal (dias) e espacial (m) realizado por agricultores de Novo Horizonte, SC.

Intervalo Agricultores (%)

Porcentagem Acumulada

Média Moda Isolamento Temporal (dias)

10-20 55,3 55,3 18,3 20

21-30 36,8 92,1 26,1 30

31-40 5,3 97,4 40 40

41-60 2,6 100 60 60

Isolamento Espacial (metros)

3 a 20 21,4 21,4 7,3 20 21 a 50 25 46,4 37,1 50 51 a 100 17,9 64,3 92 100 101 a 500 14,3 78,6 350 300 501 a 1000 14,3 92,9 1000 1000 1001 a 2000 7,1 100 2000 2000