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Identidade varietal e nomes atribuídos às variedades Entre as características identitárias importantes estão os nomes atribuídos

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2. MATERIAL E MÉTODOS 1 Local de estudo

4.2 Aspectos socioculturais e conhecimentos tradicionais envolvidos na geração e conservação da diversidade

4.2.3 Identidade varietal e nomes atribuídos às variedades Entre as características identitárias importantes estão os nomes atribuídos

às variedades locais, que são transmitidos oralmente, usados de forma repetitiva e amplamente compartilhados. Apesar da importância, os nomes não podem ser usados unicamente ou diretamente para estimar a diversidade genética ou a estrutura da população conservada on farm (QUIROS et al., 1990, BRUSH et al., 1995). Os nomes devem ser combinados com outros fatores utilizados pelos agricultores para identificar suas variedades, que de forma geral são complexos e relacionados a um conjunto de critérios agromorfológicos, que combinados, definem a variedade local (AMRI et al., 2006). No município de Novo Horizonte, foram identificados trinta e um nomes para milho comum e vinte e nove para pipoca. A grande quantidade de nomes encontrada é corroborada por Costa (2013), que encontrou 40 nomes para variedades crioulas de milho em Anchieta e por Silva (2015), que em Guaraciaba, identificou 27 nomes locais para pipoca.

Em Novo Horizonte, os mesmos nomes são usados para variedades pertencentes a diferentes grupos morfológicos. O milho Amarelão foi classificado como pertencente a cinco grupos diferentes, demonstrando que um nome genérico pode ser usado para definir variedades com diversos tipos de endospermas (dentado, semidentado e duro) e tons de

cores diversos. O achado é corroborado por Costa (2013) para Anchieta e segundo a autora, algumas variedades mesmo tendo o mesmo nome, apresentavam uma diferenciação nas características morfológicas. Ogliari et al. (2007), em experimento realizado para a caracterização fenotípica, agronômica e adaptativa dos genótipos de três variedades locais denominadas pelos agricultores de Amarelão, observaram que apenas duas dessas variedades eram parecidas com os outros milhos denominados de Amarelão, a outra se assemelhava mais a variedade denominada de Língua de Papagaio.

Por outro lado, de forma errônea populações podem ser excluídas da conservação pelo fato de apresentarem o mesmo nome apesar de apresentarem diferenças genéticas (SILVA, 2015). Dos nomes identificados em Novo Horizonte para variedades crioulas de milho comum, oito foram coincidentes com Anchieta: Oito Carreiras, Branco, Amarelão, Fortuna, Cunha, Catarina, Palha Roxa e Asteca. Diferentes variedades podem ter o mesmo nome em regiões distintas, assim como a mesma variedade pode ter nomes distintos em um mesmo lugar ou em lugares diferentes, pois são constantemente intercambiadas (AMRI et al., 2006). Emperaire & Peroni (2007), em pesquisa com os caiçaras da região sul de São Paulo, identificaram 58 nomes locais para variedades de mandioca, que corresponderam tanto a variedades com nomes iguais e genótipos diferentes como também genótipos iguais e nomes diferentes. Segundo os autores, isso ocorre porque, muitas vezes, os agricultores desconsideram pequenas variações morfológicas nas variedades de mandioca e as identificam apenas por suas características mais marcantes, sendo relativamente comum encontrar variedades que são, na verdade, famílias de genótipos com algum grau de diferenciação genética, mas com alto grau de semelhança morfológica. Conforme observado em Novo Horizonte, existe uma tendência dos agricultores escolherem os nomes das variedades que pode muitas vezes não ser o mesmo atribuído pelo agricultor que doou a semente.

Portanto, considerando a complexidade dos sistemas de conhecimento e das perspectivas multiculturais envolvidas, quando se trata de variedades crioulas e apesar da denominação atribuída às variedades pelos agricultores ser uma importante referência identitária para caracterização preliminar das variedades, cada nome pode representar um conjunto de populações que podem ser iguais ou distintas geneticamente. Isso significa que a identificação adequada das variedades crioulas demanda a

caracterização morfológica, agronômica, adaptativa e molecular, principalmente, quando o objetivo é realizar a coleta de germoplasma para destinar acessos para desenvolvimento de novas variedades e para a conservação ex situ.

No caso de Novo Horizonte e nos demais municípios da região Oeste, especificamente nos municípios de Anchieta e Guaraciaba, existe uma extensa rede informal de troca de sementes e de elaboração de compostos populacionais que reúnem muitas variedades (CANCI, et al. 2004; VOGT, 2005). Em Novo Horizonte existem 14 tipos diferentes de fontes de sementes e inúmeras possibilidades de fluxo gênico adventício, que em conjunto com a existência de fluxo gênico por pólens torna mais complexa a identificação das variedades apenas com base em características fenotípicas e nomes atribuídos. Um exemplo típico da diversidade e tamanho de pool gênico que pode existir nas variedades de milho comum encontradas no município são as variedades do grupo Pixurum, que são populações de milho formadas por meio de cruzamentos intervarietais entre variedades locais e sintéticas do Sul do Brasil (VOGT, 2005). Em Novo Horizonte o nome Pixurum foi atribuído à variedades pertencentes a 5 grupos morfológicos que incluíam os três tipos de endosperma e duas cores de grãos.

Os nomes são atribuídos ao milho comum por razões diversas. Palha Roxa é atribuído ao milho com palha colorida, utilizado na região para elaboração de artesanato, à semelhança ao relatado por Teixeira (2008) para milho com palha semelhante em outras regiões do país. Sobre o milho Palha Roxa há relatos que ligam a sua introdução na região por agricultores migrantes do estado Rio Grande do Sul, na década de 1960 (VOGT, 2005; CANCI, 2006). Os nomes Cunha, Cateto e Asteca são atribuídos por esses possuírem características peculiares no formato dos grãos. Outros nomes estão relacionados as introduções de variedades comerciais e de variedades de polinização aberta (VPAs) feitas pelos órgãos públicos de pesquisa e extensão como observado por Costa (2013) em Anchieta. Estas passaram a ser reproduzidas e manejadas por agricultores por meio de métodos tradicionais, como é o caso das variedades Epagri SCS, Catarina, Fortuna e Iapar 51, que ainda mantêm o nome comercial. Em relação as variedades introduzidas na região e denominadas originalmente de milho de BRS 4157 Sol da Manhã e Epagri SCS 155 – Catarina, desenvolvidas pela Embrapa e Epagri, respectivamente, provavelmente estejam associadas as de mesmo nome

citadas na presente pesquisa pelos agricultores, sendo que estas ainda mantêm a sua característica original de grão amarelo e duro.

Em relação ao milho pipoca, na denominação local das variedades crioulas existe um pequeno diferencial em relação ao milho comum. Enquanto no milho comum os agricultores mantêm certa lógica e continuidade ou fidelidade à origem para denominação das variedades, os mantenedores do milho pipoca tem denominado as variedades muito a “seu gosto” e ao grau de apego cultural à variedade manifestado principalmente pelas agricultoras. Dessa forma, existe uma infinidade maior de variedades com nome atribuído pelo mantenedor mais recente. Essas particularidades foram relatadas pelos agricultores durante as entrevistas e refletem o que Emperaire (2005) chama de valor intrínseco da variedade. Os indígenas do grupo Guarani já atribuíam nomes às pipocas como Avati Pichingá37 e Avati Pinchigá Ihú (BRIEGER et al.,

1958; PATERNIANI & GOODMAN, 1977) e essa denominação serviu de referência para a classificação de raças. Em Novo Horizonte, as denominações para a pipoca em sua maioria (86%) se deram com base nas cores dos grãos, sendo que esta característica pode ser considerada a principal base de classificação e constitui um importante marcador utilizado pelas agricultoras (BELLON et al. 2003). Dessa forma, pode servir para mensurar preliminarmente a diversidade conservada on farm e a extensão de sua distribuição (JARVIS et al., 2006; STHAPIT et al., 2006; SADIKI et al., 2007; SADIKI et al., 2011).

Portanto, apesar das limitações já comentadas, reconhecer o nome que se atribui a uma variedade é importante porque este representa a unidade que o agricultor seleciona e administra ao longo do tempo para atender as suas demandas sociais, econômicas, culturais e ecológicas (ZEVEN, 1998; STHAPIT et al., 2006; SADIKI et al., 2007), reflete a diversidade de usos, valor nutritivo, origem, características agromorfológicas e adaptativas (HARLAN, 1992; STHAPIT et al., 2006; SADIKI et al., 2007) e o valor intrínseco da variedade, representado por uma identidade, uma história e uma filiação (EMPERAIRE, 2005).

4.3 Indicações de populações para conservação e usos potenciais