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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2. MATERIAL E MÉTODOS 1 Local de estudo

4.4 Novo Horizonte como integrante do microcentro de diversidade do milho

O Censo da Diversidade realizado nos municípios de Novo Horizonte, Guaraciaba e Anchieta, localizados na mesorregião Oeste de Santa Catarina, identificou um total de 1844 variedades crioulas de milho, sendo 337 de milho comum e 1319 de milho pipoca, 65 de milho doce e 48 de milho farináceo . Além disso, foram identificadas 150 populações de teosinto (Tab. 11 Apêndice). A quantidade encontrada e a grande diversidade de grupos morfológicos presentes indicam a região como de elevada diversidade da espécie. A riqueza e abundância encontrada especialmente para o milho tipo pipoca condiz com resultados de pesquisa realizada por Zinsly & Machado (1987), os quais afirmaram que a América Latina, além de ser o centro de origem do milho pipoca é o local que apresenta a maior diversidade.

Os dados da região Oeste se tornam ainda mais relevantes se comparados com a coleção de germoplasma de milho armazenada no Banco de Germoplasma da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A coleção Base (COLBASE) é formada por quatro espécies do gênero Zea e 31 raças de Zea mays L. Tem 4332 acessos provenientes de introdução do Banco Ativo de Germoplasma- BAG milho e do intercâmbio com outros países e instituições (PEREIRA NETO et al., 2011). Dos acessos do BAG 1554 são variedades locais ou crioulas coletadas em diversas regiões do país (CORDEIRO & ABADIE, 2007). Segundo Cordeiro & Abadie (2007) e Nass (2011), os acessos do BAG são utilizados em programas de melhoramento e intercâmbio e 2812 foram caracterizados quanto ao tipo do grão, sendo que desses 20 acessos são de milho doce, 139 de farináceos e 191 de pipoca. Os acessos restantes são 1.129 de milho dentado, 839 de milho semidentado, 255 de milho

semiduro, 30 de milho duro e 9 de milho opaco. A região Oeste de SC está representada por 14 acessos de milho que incluem 4 raças (Dente Riograndense, Dente Branco, Semidentado e Hickory King) sendo que as pipocas não estão descritas. Os acessos que constam no BAG, portanto, podem ser considerados como não representativos da diversidade da região Oeste catarinense (SILVA, 2015), enfatizando a destinação urgente dessa diversidade de germoplasma à conservação ex situ. Além disso, em Novo Horizonte, foram identificados parentes silvestres com mais de 40 anos de cultivo e as sementes revelaram fluxo gênico do milho para seu parente silvestre. Silva et al., (2015) identificaram parentes silvestres para Guaraciaba e Anchieta. Segundo Goodman (1998) e Molina et al., (2013), o milho e o teosinto cruzam espontaneamente e com relativa facilidade, gerando descendentes férteis. Esta situação caracteriza oportunidade de fluxo gênico do teosinto com o milho (SERRATOS et al., 1997; WARBURTON et al., 2011; MOLINA et al., 2013), como comprovado pelo relato dos agricultores de Novo Horizonte e na coleta de sementes resultantes do cruzamento. Situação idêntica foi relatada para Guaraciaba e Anchieta por Silva et al. (2015). Apesar de sua ampla dispersão para fora de seu `centro de origem, WARBURTON et al., (2011) afirmam que a maioria das raças de milho continuou sua evolução na ausência de fluxo de genes de populações de teosinto. Na região Oeste, há evidências de coexistência simprática de populações de teosinto com milho crioulo (COSTA et al., 2016), o que pode estar contribuindo para que ambas as populações tenham seu pool genético ampliado. Essa coevolução pode aumentar o potencial frente a desafios impostos pela ocorrência de pragas, patógenos e mudanças climáticas (WILKES, 2007).

Nos municípios de Anchieta e Guaraciaba, foram encontradas 136 populações de teosinto por Silva et al. (2015), sendo que 75% ocorrem espontaneamente, 17% são cultivadas e 8% dos casos ocorrem em ambos os sentidos. Almeida et al. (2011), relataram a presença de parentes silvestres no estado do Rio Grande do Sul, sendo produzidos como pastagem, à semelhança do encontrado para Novo Horizonte e região Oeste de SC, demonstrando que estes cultivos são comuns e amplamente disseminados. No entanto, há poucos registros da presença e origem de parentes silvestres de milho no Brasil e os primeiros foram descritos por Pio Correa, em 1930 (PIO CORRÊA, 1984), onde os denominava de ‘teosinto da Guatemala’, ‘grama venezuelana’ e ‘grama imperial’. Araújo (1972) descreveu o potencial forrageiro do teosinto e referiu

nomes como ‘milhina’ e ‘dente de burro’. As informações encontradas em Novo Horizonte corroboram com as encontradas por Silva et al (2015), de que a introdução no Brasil provavelmente tenha acontecido antes de 1930 pelas instituições públicas e como forragem, sendo que na região Oeste há pelo menos 65 anos, sendo trazida pelos migrantes vindos do Rio Grande do Sul, onde segundo Almeida et al., (2011) também é cultivado como pasto e chamado de ‘dente de burro’.

Para Novo Horizonte, o primeiro Censo de Diversidade permitiu identificar importantes processos de geração e conservação da diversidade de VCM relacionados a um denso tecido social, que desenvolve uma agricultura em pequena escala e com trabalho familiar. Neste contexto, os agricultores são ao mesmo tempo produtores e usuários da agrobiodiversidade, ao serem responsáveis pela decisão de que variedades plantar, selecionar as características que devem ser mantidas a fim de suprir as suas necessidades (CLEMENT et al., 2007). Os resultados obtidos e sistematizados originaram um banco de dados sobre a presença de parentes silvestres e uma coleção de germoplasma de VCM conservada on farm em grande quantidade, com informações completas sobre a diversidade, localização geográfica, a presença de um sistema de sementes bem estabelecido, a presença de variedades antigas em relação ao tempo de cultivo, a presença de grande número de VUC e de variedades com características de uso especiais. Os resultados corroboram com os achados de Costa et al. (2016) para Guaraciaba e Anchieta, que motivaram a indicação da região do Extremo Oeste de SC como microcentro de diversidade do milho.

O elevado número de populações de diferentes tipos de milho, os elevados índices de diversidade, a riqueza dos valores de uso e cultivo, a presença de fluxo gênico entre milho e teosinto e os aspectos socioculturais que agem intensivamente no uso, na geração e conservação da diversidade credenciam o município como extensão do microcentro de diversidade do Zea mays L. da região Oeste. O município, portanto, reúne as características que o identificam como um provável microcentro38 de

38 Os microcentros de diversidade correspondem a áreas muito restritas com

elevada diversidade (HARLAN, 1975; 1992), onde as variações acumuladas são atribuídas, principalmente, a ação humana na seleção e menos à diferenciação geográfica ou climática (COSTA et al., 2016).

diversidade do milho com base no conceito de centro de diversidade estabelecido por Harlan (1971; 1975) e conforme indicado por Costa et al. (2016). Em Novo Horizonte, no entanto, devem-se aprofundar estudos sobre a estrutura genética das populações de milho e teosinto, que poderão indicar o estágio de diferenciação dessas, se há novas raças de milho e quais as espécies de teosinto presentes.

4.4.1 Caracterização dos municípios de Anchieta, Guaraciaba e Novo Horizonte

Na perspectiva de indicação de Novo Horizonte como integrante do microcentro de diversidade do milho da região Oeste (COSTA et al., 2016), é importante relacionar os aspectos que aproximam as realidades desses municípios que comungam uma alta diversidade de milho (Tab.11 do Apêndice), semelhanças de estrutura agrária, população, índices de desenvolvimento e altitude do nível do mar (Tab. 12 do Apêndice). Os municípios estão localizados na região Sul do Brasil, sendo que Anchieta e Guaraciaba na região Extremo Oeste e Novo Horizonte na região Oeste de Santa Catarina (IBGE, 2010), sendo que juntas integram a Grande Região Oeste. Essa região possui clima mesotérmico úmido (Cfa de Köppen), temperatura média anual de 17,8 °C, precipitação pluviométrica anual em torno de 1.700 a 2.000 mm e vegetação pertencente ao Bioma Mata Atlântica (IBGE, 2010). A região é caracterizada por minifúndios, totalizando cerca de 75 mil estabelecimentos localizadao em áreas acidentadas, com 70% das propriedades possuindo menos de 20 ha e 95 % com menos de 50 ha (CANCI & CANCI, 2007). O município de Anchieta possui área geográfica de 228 km², com uma população de pouco mais de 6 mil habitantes, sendo que 59,5% residem no meio rural (IBGE, 2010). O município de Guaraciaba possui uma área geográfica de 330 km², com pouco mais de 10 mil habitantes, sendo que 53,1% residem no meio rural (IBGE, 2010). Nos três municípios prevalece a agricultura do tipo familiar e são marcados pela presença de denso tecido social composto de organizações dos agricultores, entidades de representação e eventos relacionados à promoção da agrobiodiversidade (CANCI et al., 2013).