• Nenhum resultado encontrado

F UNCIONAMENTO HIDROGEOLÓGICO DO SISTEMA ( PALEO ) CÁRSICO CALCO - DOLOMÍTICO DA REGIÃO DE C OIMBRA -P ENELA

5. Considerações finais

A existência de formas cársicas superficiais e subterrâneas, preenchidas ou libertas de depósitos siliciclásticos pós-jurássicos a configurar situações de paleocarso, juntamente com uma fissuração elevada das unidades calco-dolomíticas da base do Jurássico Inferior (Fm. de Coimbra + Fm. de S. Miguel), determinam localmente a presença de um hidrossistema que, na região de Coimbra-Penela, se apresenta extremamente heterogéneo e mesmo fracionado, tanto no sentido horizontal, como no sentido vertical.

A uma escala mais pormenorizada, devido à elevada anisotropia deste sistema, as águas que circulam no subsolo ficam presas nas fissuras e condutas subterrâneas e, em ocasião

69

de eventos de chuva bastante intensos, retornam à superfície através das exsurgências cársicas posicionadas nas bordaduras das Colinas dolomíticas.

Em regra, as fracas espessuras da zona vadosa, a ainda mais fraca espessura do solo e o elevado grau de fissuração limitam em muito o poder de autodepuração do sistema cársico, com uma consequente suscetibilidade à poluição de elevada a muito elevada (vide Dimuccio e Cunha, 2008; Dimuccio, 2014). O período que o poluente pode ficar nas águas da zona saturada está dependente da mobilidade e do tempo da sua entrada no sistema.

No sistema (paleo)cársico calco-dolomítico da região de Coimbra-Penela as águas da zona saturada têm uma escassa mobilidade, mas a presença de diferentes níveis hídricos na mesma secção, que se deve à intercalação de lentes areno-pelito/argilosas e margosas na sucessão calco-dolomítica local, assim como a um carso essencialmente entupido, implica velocidades de fluxo distintas e ligadas aos diferentes valores de cargas e capacidade hidráulicas para cada um dos níveis. Assim, enquanto uma parte dos poluentes pode ficar presa nas zonas mais compactadas do maciço rochoso (blocos), onde se verifica uma acumulação progressiva responsável pela contaminação das águas captadas pelos poços de exploração para regadio agrícola, com óbvias repercussões na saúde das populações que consumam os produtos alimentares, no caso de condutas cársicas subterrâneas (libertas de depósitos) não se podem excluir situações em que, depois de um percurso subterrâneo bastante indefinido, os poluentes hidroveiculados cheguem, de modo difuso, às exsurgências e/ou ao aquífero das aluviões do rio Mondego que abastece a cidade de Coimbra. Estes últimos cenários, naturalmente, assumem aqui um caráter de hipótese dado que não existem estudos aprofundados neste sentido.

Agradecimentos

Este trabalho foi adaptado e ampliado da Tese de Doutoramento em Geologia do primeiro autor (Dimuccio, 2014). As análises químicas das águas foram realizadas no âmbito de um relatório técnico (não publicado) encomendado pela Câmara Municipal de Coimbra, em 2005, e relacionado com a localização inadequada do seu Departamento de Ambiente e Qualidade de Vida (DAQV).

Trata-se de um contributo científico cujo objetivo principal é o de homenagear uma das figuras incontornáveis da hidrologia e hidrogeologia portuguesas, a Prof.ª Catarina Ramos, que foi, e continua a ser, na memória dos autores deste ensaio, exemplo de paixão, dedicação e profissionalismo pela Geografia Física e pelas Ciências da Terra em geral. Os percursos das águas, assim como as respetivas consequências, sempre foram os “seus” temas de eleição, conjugando reflexões atentas, ponderadas e inteligentes com as necessidades e as políticas territoriais, nas quais o estudo das águas subterrâneas do carso português é parte importante.

70

Bibliografia

Andreychouk, V., Dublyansky, Y., Ezhov Y. e Lysenin G. (2009). Karst in the Earth’s Crust: its distribution and principal types. Sosnowiec, Symferopol, University of Silesia, Department of Earth’s Sciences.

Almeida C.A. (2010). Exploração e proteção das águas subterrâneas em sistemas cársicos. In: Os aquíferos das bacias hidrográficas do rio Tejo e das ribeiras do Oeste. Saberes e Reflexões, TÁGIDES, p. 115-122, ARH do Tejo, I.P, Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Almeida, C. A., Silva M.L. e Crispim J.A. (1995). COST 65 – National Report for Portugal, Hydrogeological Aspects of Groundwater Protection in Karstic Areas, Final Report (EUR 16547 EN), 221-220.

Almeida, C., Mendonça, J.J.L., Jesus M.R. e Gomes A.J. (2000). Sistemas Aquíferos de Portugal Continental. Lisboa: Centro de Geologia da Universidade de Lisboa e Instituto da Água.

Almeida, A.C., Soares, A.F., Cunha L. e Marques J.F. (1990). Proémio ao estudo do Baixo Mondego.

Biblios LXVI, 17-47.

Bakalowicz M. (2005). Karst groundwater: a challenge for new resources. Hydrogeology Journal 13 : 148-160.

Bicalho, C.C., Batiot-Guilhe, C., Seidel, J.L., Van Exter S. e Jourde H. (2012). Geochemical evidence of water source characterization and hydrodynamic responses in a karst aquifer. Journal of Hydrology 450-451 : 206-218.

Calçada I.O. (2016). Metodologias Utilizadas no Estudo do Escoamento em Aquíferos Cársicos e o Caso Prático da Captação do Olho de Mira (Maciço Calcário Estremenho). Dissertação de Mestrado em Geologia Aplicada (Hidrogeologia), Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa.

COST Action 620 (2003). Vulnerability and Risk Mapping for the Protection of Carbonate (Karst) Aquifers. Final Report, FRANÇOIS ZWAHLEN (Chairman, Editor in Chief).

Crispim J.A. (1986). Dinâmica Cársica da Região de Ansião. Dissertação apresentada no âmbito das provas de aptidão pedagógica e científica, Universidade de Lisboa, Lisboa.

Crispim J.A. (1987). Circulação subterrânea na zona norte das serras de Ansião (Maciço de Sicó-Alvaiázere, Portugal). Geolis, 1, 92-99.

Crispim J.A. (2010). Panorama das Regiões Cársicas de Portugal. In: Geologia Clássica, Ciências Geológicas: Ensino, Investigação e sua História, Volume V, pp. 469-478.

Cunha L. (1990). As Serras Calcárias de Condeixa, Sicó, Alvaiázere - Estudo de Geomorfologia.

Geografia Física I, Instituto Nacional de Investigação Científica, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, Coimbra.

Cunha L. (1996). Les Karsts Portugais, Problémes et Perspectives. Karstologia 28 (2), 41-48.

Cunha L. e Dimuccio L.A. (2014). Formas e processos cársicos nos maciços calcários do centro de Portugal. O caso particular do Maciço de Sicò. Revista Brasileira de Geomorfologia 15(4), 673-685.

71

Cunha L., Alarcão A. e Paiva J. (1996). O Oppidum de Conimbriga e as Terras de Sicó. Roteiro. Lisboa, 145 p.

Cunha, L., Soares, A.F., Tavares A.O. e Marques J.F. (1997). O julgamento geomorfológico de Coimbra. O testemunho dos depósitos quaternários. Cadernos de Geografia, Número especial 14-26, Coimbra.

Cunha L., Dimuccio L.A. e Paiva I. (2019). The Sicó massif: morphostructural aspects, hydrology and karstification. In: Vieira, G., Zêzere, J.L., Moura, C., (Eds.), Landscapes and Landforms of Portugal.

Springer series, World Geomorphological Landscapes (no prelo).D’Amore, F., Scandiffio G. e Panichi C. (1983). Some Observations on the chemical classification of ground waters. Geothermics 12 (2/3), 141-148.

Dimuccio L.A. (2014). A carsificação nas Colinas Dolomíticas a sul de Coimbra (Portugal centro-ocidental) - Fácies deposicionais e controlos estratigráficos do (paleo)carso no Grupo de Coimbra (Jurássico Inferior). Tese de doutoramento em geologia, especialidade de geodinâmica externa, Universidade de Coimbra.

Dimuccio L.A. (2017). Tempo e espaço num geossistema cársico: os “pilares” em que assenta e se sustenta a interpretação da sua evolução geológico-geomorfológica. In: Cravidão, F., Cunha, L., Santana, A.P., Santos, N., (Eds.), Espaços e Tempos em Geografia, Homenagem a António Gama, Imprensa da Universidade de Coimbra, University Press, pp. 207-238, Coimbra.

Dimuccio L.A. e Cunha L. (2008). Modelação da vulnerabilidade intrínseca do aquífero elementar, fissurado e cársico do sector setentrional das Colinas Dolomíticas a Sul de Coimbra. In: Brandão, J., Calado, C., Sá Couto, F., (Eds.), Património Geológico, Arqueológico e Mineiro em Regiões Cársicas, Actas do Simpósio Ibero-Americano, 29 Junho a 1 Julho, 67-78, Batalha.

Dimuccio L.A. e Cunha L. (2015). Os tempos da carsificação nas Colinas dolomíticas a sul de Coimbra (Portugal centro-ocidental). In: Zêzere, J.L., Trindade, J., Bergonse, R., Garcia, R.A., de Oliveira, S.C., Pereira, S., (Eds.), Associação Portuguesa de Geomorfólogos, Vol. IX, pp. 19-27.

Dimuccio L.A. e Cunha L. (2018). Síntese interpretativa do (paleo)carso na cidade de Coimbra (Portugal). In: Cunha, L., Yamaki, H., (orgs.), P149 Paisagem e Território, Universidade Estadual de Londrina, CDU 712(81)(469), 67-82, Londrina.

Dimuccio, L.A., Duarte L.V. e Cunha L. (2014). Facies and Stratigraphic Controls of the Palaeokarst Affecting the Lower Jurassic Coimbra Group, Western Central Portugal. In: Rocha, R.B., Pais, J., Kullberg, J.C., Finney, S., (Eds.) Strati 2013. First International Congress on stratigraphy. At the cutting edge of Stratigraphy. Springer Geology XLV, 787-791.

Dimuccio, L.A., Duarte L.V. e Cunha L. (2016). Definição litostratigráfica da sucessão calco-dolomítica do Jurássico Inferior da região de Coimbra-Penela (Bacia Lusitânica, Portugal).

Comunicações Geológicas 103 (1), 77-96.

Duarte L.V. e Soares A.F. (2002). Litostratigrafia das séries margo-calcárias do Jurássico inferior da Bacia Lusitânica (Portugal). Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro 89, 135-154.

Filippini, M., Squarzoni, G., De Waele, J., Fiorucci, A., Vigna, B., Grillo, B., Riva, A., Rossetti, S., Zini, L., Casagrande G. Stumpp e C. Gargini A. (2018). Differentiated spring behaviour under changing hydrological conditions in an alpine karst aquifer. Journal of Hydrology 556, 572-584.

72

Ford D. e Williams P. (2007). Karst Geomorphology and Hydrology. Chapman & Hall, London.

Goldscheider N. e Drew D. (eds) (2007). Methods in Karst Hydrogeology. International Association of Hydrogeologists, Contributions to Hydrogeology, 26. CRC Press, Boca Raton, FL.

Klimchouk A. (2015). The karst paradigm: changes, trends and perspectives. Acta carsologica 44 (3), 289-313.

Klimchouk, A.B., Palmer, A.N., De Waele, J., Auler A. e Audra P. (Eds.) (2017). Hypogene Karst Regions and Caves of the World, Springer, p. 912.

Kullberg, J.C., Rocha, R.B., Soares, A.F., Rey, J., Terrinha, P., Azerêdo, A.C., Callapez, P., Duarte, L.V., Kullberg, M.C., Martins, L., Miranda, R., Alves, C., Mata, J., Madeira, J., Mateus, O., Moreira M. e Nogueira C.R. (2013). A Bacia Lusitaniana: Estratigrafia, Paleogeografia e Tectónica. In: Dias, R., Araújo, A., Terrinha, P., Kullberg, J.C., (Eds.) Geologia de Portugal, Volume II, pp. 195-347, Escolar Editora.

INSAAR (2010). Relatório do estado do abastecimento de água e da drenagem e tratamento de águas residuais, sistemas públicos urbanos - INSAAR 2009 (Dados 2008, Campanha 2009). Lisboa:

INSAAR e INAG.

INSAAR (2011). Relatório do estado do abastecimento de água e da drenagem e tratamento de águas residuais, sistemas públicos urbanos - INSAAR 2010 (Dados 2009, Campanha 2010). Lisboa:

INSAAR e INAG.

Iurilli V., Martimucci V., Dimuccio L.A., Rodi M., Bene V., Borneo V., Chirizzi G., Grassi D., Manzari M., Marzulli M., Montanaro A., Netti P., Sannicola G.C., Selleri G., Sordoilette C. e Sportelli D. (2013) Talismã 2010. Sistematizzazione di un rilievo speleologico. In: Atti del XV Incontro Regionale di Speleologia Pugliese “Spélaion 2010”, 10-12 dicembre 2010, 63-84, Bari.

James N.P. e Choquette P.W. (1984). Diagenesis 9. Limestones - the meteoric diagenetic environment. Geoscience Canada 11, 161-194.

Langelier W.E. e Ludwig H.F. (1942). Graphical method for indicating the mineral character of natural water. Amer. Water Works Assoc. Journ., 34.

Lobo Ferreira, J. P., Oliveira M.M. e Ciabatti P. (1995). Desenvolvimento de um inventário das águas subterrâneas em Portugal. (Vol. 1). Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Lobo Ferreira, J. P., Leitão T.E. e Oliveira M.M. (2011). Portugal’s river basin management plans:

groundwater innovative methodologies, diagnosis, and objectives. Environmental Earth Science 73, 2627-2644.

Mendes G.A. e Dimuccio L.A. (2013). Geomorfologia: a construção de uma identidade. In: Riscos naturais, antrópico e mistos, Livro de Homenagem ao Prof. Doutor Fernando Rebelo, Departamento de Geografia, Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Simões & Linhares Lda., pp. 779-795.

Mendonça J.L. e Dias J.L.M. (1999). Sistemas Aquíferos Aluvionares na Bacia Hidrográfica do Rio Mondego. Recursos Hídricos, APRH, 63-70.

Moore C.H. (2001). Carbonate Reservoirs, Porosity Evolution and Diagenesis in a Sequence Stratigraphic Framework. Developments in Sedimentology 55, Elsevier Science., Amsterdam.

73

Nicolini, E., Rogers K. e Rakowski D. (2016). Baseline geochemical characterisation of a vulnerable tropical karstic aquifer; Lifou, New Caledonia., Journal of Hydrology: Regional Studies 5, 114-130.

Oliveira, J.T., Pereira, E., Ramalho, M., Antunes M.T. e Monteiro J.H. (1992). Carta Geológica de Portugal à escala 1/500 000. 5ª edição. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

Palain C. (1976). Une série detritique terrigene. Les Grés de Silves, Trias et Lias inferieur du Portugal.

Mem. 25 (N.S.), Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa.

Palmer A.N. (2007). Cave Geology. Allen Press, Lawrence, Kansas.

Peixinho de Cristo F. (1997) Águas subterrâneas no Baixo Mondego. In: Organização Geossistémica e Recursos Naturais, Projecto PRAXIS XXI, 2/2.1/CTA-156/94, 41-49, Coimbra.

Soares A.F. (2002/2004). Um tiro no pé (outras coisas em Coimbra). Cadernos de Geografia 21/23:

231-239, Coimbra.

Soares, A.F., Marques J.F. e Rocha R.B. (1985). Contribuição para o conhecimento geológico de Coimbra. Memórias e Noticias, Publicação Museu Laboratório Mineralógico e Geológico da Universidade de Coimbra 100, 41-71.

Soares, A.F., Marques J.F. e Sequeira A.J.D. (2007). Notícia explicativa da Folha 19-D Coimbra-Lousã. Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Departamento de Geologia, Lisboa.

Soares, A.F., Kullberg, J.C., Marques, J.F., Rocha R.B. e Callapez P.M. (2012). Tectono-sedimentary model for the evolution of the Silves Group (Triassic, Lusitanian Basin, Portugal). Bull. Soc. Géol.

France 183 (3), 203-216.

Stevanović Z. (2018). Global distribution and use of water from karst aquifers. In: Parise, M., Gabrovsek, F., Kaufmann, G., Ravbar, N. (eds.), Advances in Karst Research: Theory, Fieldwork and Applications. Geology Society, London, Special Publications 466.

Thomas C. (1985). Grottes et algares du Portugal. Editado pelo autor, Comunicar Lda, impressão EUROGRAF, Lisboa.

Tucker M.E. e Wright V.P. (Eds.) (1990). Carbonate Sedimentology. Oxford Blackwell.

Vigna B. (2001). Gli acquiferi carsici. Quaderni Didattici della S.S.I. n. 12, Erga Edizione, Genova.

White W.B. (1988). Geomorphology and Hydrology of Karst Terrains. Oxford University press, Inc., New York.

White W.B. (2002). Karst hydrology: recent developments and open questions. Engineering Geology 65, 8-105.

Worthington S. e Ford D. (2009). Self-organized permeability in carbonate aquifers. Ground Water 47, 326-336.

74

75

A BORDAGENS METODOLÓGICAS LIGADAS AO RISCO DE CHEIAS RÁPIDAS