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Estudo das inundações urbanas na cidade de Lisboa durante o século XX Na cidade de Lisboa ocorrem com frequência inundações que não se relacionam com o

A BORDAGENS METODOLÓGICAS LIGADAS AO RISCO DE CHEIAS RÁPIDAS E INUNDAÇÕES URBANAS

4. Estudo das inundações urbanas na cidade de Lisboa durante o século XX Na cidade de Lisboa ocorrem com frequência inundações que não se relacionam com o

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A existência de casas em áreas de risco é justificada por: herança de um passado rural (79%); beleza da paisagem (46%); interesses económicos e turísticos (39%). As medidas de ação mais generalizadas são a chamada dos serviços de saneamento (93%), sendo significativa a disponibilidade para trabalhar na limpeza dos cursos de água (64%) e o financiamento de campanhas de prevenção (53%). Dos residentes em leito de cheia, 47%

mostram tolerância a uma eventual mudança de residência, facto que comprova o médio/elevado grau de risco percecionado (Figura 4).

Figura 4. Resultados relativos à perceção do risco, de acordo com a Teoria de Adaptação a Perigos de Burton, Kates e White, 1978 (Fonte: Lavrador-Silva, 2003, p. 210).

Detetaram-se ainda diferenças nos níveis de perceção por género e classe etária. Os homens são mais conscientes e participativos relativamente ao risco de cheia, enquanto nos jovens, as raparigas têm níveis de perceção do risco de cheia mais próximos da média, o que não acontece com os rapazes, menos atentos a esta questão ambiental, provavelmente fruto da sua menor maturidade. Ao colocar o público na qualidade de agentes de ordenamento do território e atendendo à adequação da ocupação das áreas em risco de cheia da bacia hidrográfica em estudo, os respondentes sugerem o arranjo paisagístico das margens da R.ª de Colares (nmp=3,5), cafés e esplanadas (nmp=2,8) e a construção de ciclovias e pistas para passeios a pé (nmp=2,7).

4. Estudo das inundações urbanas na cidade de Lisboa durante o século XX

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e propagação. O estudo realizado (Oliveira, 2002) abrangeu o período compreendido entre 1918/19 e 1997/98, no qual se registaram 420 ocorrências. As inundações são mais frequentes no outono (principalmente em novembro), mas a partir dos anos 70, diminuíram consideravelmente, ao mesmo tempo que aumentaram o volume total das chuvadas e a precipitação máxima horária que as desencadeiam. Tal facto resulta duma melhoria clara do sistema de drenagem subterrânea (efluentes e águas pluviais). A caracterização dos aspetos físicos da cidade (relevo e bacias de drenagem; Figura 5) e da malha urbana (tipos de nós e vias; Tabela 2), bem como a relação desta com a antiga rede de drenagem, permitiu destacar os fatores agravantes das inundações.

Figura 5. Conjuntos de bacias de drenagem da cidade de Lisboa com características morfométricas semelhantes (Fonte: Oliveira, 2003, p. 94).

A análise fatorial em componentes principais, aplicada à matriz dos dados relativos aos parâmetros morfométricos, mostrou que as bacias de grande dimensão e fraco declive se associam às de elevados valores do índice de Gravelius (Kc) < 1,6, desnível, magnitude e hierarquia.

Os locais inundados mais perigosos localizam-se, principalmente, na Frente Ribeirinha, nos setores terminais das antigas linhas de água, em praças ou ruas recetoras do escoamento, dispostos perpendicularmente às antigas linhas de água, e em locais em que

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B elém

A lcântara C. S o d ré

S . A p olónia X a br e g a s

P . B isp o B en fi ca

M. P o m b a l S . Ri o s

C. O u r iq u e Lu m i ar

Ro ss io C. G r a n d e

C. P e q u e n o

A er o p o rto

A . Re i s Mo n sa n to

Ch e la s

5 6 7

8 10 11 12 13 14 15

16 17

18 19

20 21

22 23

4 3 2

9

1

5 6 7

8 10 11 12 13 14 15

16 17

18 19

20 21

22 23

4 3 2

9

1

Ba cia s 1 - R estelo 2 - Jerón imos 3 - Aju da 4 - R io Seco 5 - St. Ama ro 6 - L uis Ca mões 7 - Rª Alcântara 8 - Infa nte Santo 9 - Jan ela s Verdes 10 - L apa

11 - S. Be nto 12 - Bica 13 - Flo re s 14 - C hia do 15 - Baixa 16 - Alfama 17 - Sta. Cla ra 18 - Vale S. Antón io 19 - Vale Escuro 20 - C he las 21 - D uq ue La fões 22 - Bea to 23 - Poço d o Bispo Con jun to s de bacias

A B C D E

0 1 Km

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existem barreiras artificiais ou micro-depressões resultantes da artificialização da superfície topográfica (Figura 6).

Tabela 2. Frequências dos locais inundados face aos fatores antrópicos agravantes das inundações na cidade de Lisboa (Fonte: Oliveira, 2002, p. 141).

Tipos Subtipos %

Praça/largo

Emissora 4 0,5

Encaminhadora 39 5,0

Recetora 23 2,9

Avenida/rua

Canalizadora 107 13,7

Recetora 136 17,4

Cruzamento 179 22,9

Posição da via face à antiga linha de água

Paralela 114 14,6

Perpendicular 75 9,6

Oblíqua 47 6,0

Áreas deprimidas artificialmente

Túneis 4 0,5

Viadutos 1 0,1

Outros 35 4,5

Barreiras artificiais Muros/Prédios 17 2,2

Outros “locais-críticos” que subsistem por toda a cidade devem-se a problemas de entupimento ou deficiência de vazão do sistema de drenagem artificial, muitas vezes agravados pela urbanização e impermeabilização de novas áreas. Os locais de frequência muito elevada de inundações localizam-se Frente Ribeirinha, independentemente do micro-relevo que esta possa ter (talvegue ou micro-interflúvio). No entanto, essa perigosidade é reforçada (frequência de ocorrência > 80 inundações, entre 1918 e 1998) quando os lugares se localizam em áreas deprimidas, no setor terminal de antigas linhas de água, junto de barreiras artificiais e em ruas recetoras. O declive fraco permite ainda a acumulação das águas oriundas das áreas mais elevadas da cidade, que chegam pelas vertentes ou pelos fundos de vale. As cheias do Tejo são fatores agravantes das inundações na Frente Ribeirinha, nomeadamente em situações de maré alta ou de subida da maré e/ou com situações de storm surge, que podem provocar o "efeito de tampão"

do escoamento em direção ao Tejo. Numa análise mais fina, foram identificados outros locais da cidade com elevada perigosidade às inundações (Figura 7).

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Figura 6. Posição dos locais inundados relativamente às antigas linhas de água da cidade de Lisboa (1918/19 a 1997/98) (Fonte: Oliveira, 2002, p. 139.).

Figura 7. Locais de maior perigosidade da cidade de Lisboa, entre 1918/19 e 1997/98 (Fonte: Oliveira, 2002, p. 129).

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Esta informação foi completada com a análise das notícias de jornais, nas quais as inundações surgem apenas por bairros ou áreas inundadas, sobretudo após os anos 60.

Deste facto surgiu a necessidade de agrupar os locais inundáveis identificados em áreas inundáveis, a fim de se poder analisar a evolução temporal das inundações por área/bairro, para a qual foi utilizada a análise fatorial de correspondências, a qual permitiu definir 5 tipos de áreas. (Tabela 3), que correspondem a posições topográficas distintas.

Tabela 3. Tipologia dos locais afetados pelas inundações na cidade de Lisboa (Fonte: Oliveira, 2002, p.157).

Tipos de locais Frequência de

inundações Outras características físicas Características da malha urbana 1. Vertentes da

Área Acidentada da cidade

Reduzida Declives médios e fortes

Ruas canalizadoras

Via oblíqua à antiga linha de água Viaduto

Túneis 2. Interflúvios e

vertentes da Área Planáltica

Médio-reduzida - Cruzamentos de ruas

3. Interflúvios da

Área Acidentada - - Praça emissora

4. Fundos de vale das Áreas Planáltica e Acidentada da cidade

-

Sobre antiga linha de água Linhas de água de hierarquia 1 e 3 Confluência de antigas linhas de água

Praça encaminhadora

Vias paralelas às antigas linhas de água

5. Posicionados na Frente Ribeirinha

Muito elevada

Talvegues Micro-interflúvios Declives fracos

Sector terminal da antiga linha de água Linhas de água de hierarquia 2 e 4

Ruas recetoras Praças recetoras

Vias perpendiculares à antiga linha de água

Barreiras artificiais

Outras áreas deprimidas artificialmente

Esta metodologia permitiu a associação dos 488 locais inundados em 203 áreas.

A série de valores obtida foi dividida em quatro classes de frequência (as mesmas utilizadas para os locais, na Figura 8), o que permitiu definir, para os 80 anos estudados (1918/19 a 1997/98), as áreas da cidade com diferente perigosidade face às inundações (Tabela 4 e Figura 8).

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Tabela 4. Perigosidade das áreas inundadas na cidade de Lisboa, no séc. XX (Fonte: Oliveira 2003, p. 148)

Perigosidade

N.º Total de inundações

(1918/19-1997/98)

Áreas Total %

Reduzida 3 a 9 122 60

Média 10 a 19 35 17

Elevada 20 a 39 26 13

Muito elevada 40 a 159 20 10

Figura 8. Áreas inundadas em Lisboa, no séc. XX, e respetiva perigosidade (Fonte: Oliveira 2003, p.149)

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Be lé m

Alcânt ara

C. S od ré

S. Ap olónia Xa breg as

P. Bis po Be nfic a

M. P o mb al S. Rios

C. O u riq ue Lum ia r

Ros s io C. G ra nde

C. P eq uen o

Ae ro po rt o

A. Reis Mon s ant o

Che la s

0 1 Km

Pe rig osidad e

red uzida média elevad a muito ele va da

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