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A proposta deste trabalho foi a de contribuir na formação dos Professores da Educação Infantil numa perspectiva lúdica, direcionando um novo olhar para o “Brincar” da criança.

O Brincar veio se destacar como um espaço onde a criança pode se manifestar dentro das várias linguagens, evidenciando as suas expressões e suas manifestações como elementos norteadores do trabalho pedagógico numa faixa etária de 2 a 6 anos.

Retomar o processo de mudanças conceituais pelo qual a Educação Infantil veio passando foi pertinente, pois a pesquisadora se inclui neste processo, tendo em vista as várias “tendências” já vivenciadas no contexto da Educação Infantil.

No início da pesquisa, encontrou-se alguns obstáculos junto aos professores, pois fazia-se necessário reestruturar alguns conceitos sobre a Brincadeira para que pudesse ser viabilizada uma prática com o olhar para as várias linguagens que a criança manifesta durante esta atividade.

O estudo teve como referência a significativa experiência na Educação Infantil desenvolvida em Reggio Emilia, porém a pesquisadora antecedeu este referencial com algumas contribuições de outros autores, dando maior consistência ao tema proposto.

Foram acontecendo as mobilizações com os educadores, sendo que alguns já vislumbravam uma reestruturação do espaço físico da sala de aula, contemplando os cantos; e outros, ainda, temerosos com a possível mudança na metodologia.

O grupo iniciou as discussões pelo espaço físico, denominados “cantos”, com o objetivo de viabilizar momentos de brincadeiras livres, favorecendo a interação das crianças e garantindo a possibilidade de contatos, sem centrar no professor as propostas, além de permitir uma diversidade de brincadeiras imaginárias.

As brincadeiras começam a ser propostas com outra intencionalidade pelo professor, que até então compreendia a brincadeira como uma atividade importante,

desde que a criança já tivesse cumprido com o dito “sério”, reforçando a dicotomia entre a brincadeira e o trabalho.

Reiterando o que foi apontado sobre o olhar que o professor precisa desenvolver diante da atividade lúdica, necessitou-se rediscutir a questão do espaço e pensar em propostas nessa organização dentro da escola.

Com base nos escritos de Loris Malaguzzi sobre a Educação Infantil em Reggio Emilia, as tentativas de aproximação começaram pelo ambiente, isto é, as crianças têm acesso aos cantos dentro da rotina.

Num processo lento, o ambiente deixa indícios de que os professores incorporaram a proposta, favorecendo o trabalho diversificado com materiais disponíveis, brincadeiras e atividades nas quais as crianças podiam envolver-se sozinhas ou em grupos, abrindo espaço para estreitar as diferenças individuais através das situações de faz-de-conta.

Os materiais e suportes possibilitaram não só um meio de brincar, mas também imagens, representações e universos imaginários como linguagens a serem consideradas pelo professor.

Este movimento pedagógico exigiu da equipe da Educação do Sesi, coordenados pela pesquisadora, que se pensasse numa estratégia para aproximar os Pais das crianças para este olhar, com maior significado para as Brincadeiras das crianças. Esta aproximação era necessária, tendo em vista que os Pais consideravam a brincadeira importante, mas desconheciam o seu valor Pedagógico no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.

Os sujeitos então desta pesquisa (Professores,Crianças, Pais e alunos da graduação) participaram de situações lúdicas durante os encontros, onde foi oportunizado a eles expressarem seus sentimentos, relembrando brincadeiras da infância e vivenciando-as através das diferentes linguagens. Assim, o desafio estava lançado, para que pontuassem os conteúdos implícitos nestas brincadeiras.

Verificou-se, no decorrer desta pesquisa, que gradativamente os professores envolvidos passaram a mudar seus discursos, a reelaborar questões do planejamento, reestruturar o espaço de sala de aula e propor às crianças brincadeiras com maior intencionalidade.

A criança, ao cantar, dançar, jogar, colar, classificar, modelar, quantificar, pesquisar, chorar, escrever, desenhar, sorrir etc., está se manifestando, e desta forma deixa pistas ao professor sobre suas necessidades e seus interesses naquele

momento, devendo ser explorados de maneira criteriosa, organizada, viabilizados em situações de aprendizagem.

As pistas geradoras de uma ação educativa, com o olhar para as linguagens manifestadas pela criança durante a brincadeira, começaram então a surgir através ações dos professores.

As intervenções da pesquisadora foram constantes durante a rotina junto às crianças, aos professores nas reuniões pedagógicas, como também com os alunos do curso de Pedagogia da UNIDAVI.

A criatividade de cada um e as reflexões permanentes levaram o grupo a perceber seus atos num processo ativo de desafios, pensando e repensando a prática com as Brincadeiras.

A construção de uma abordagem educacional nos moldes de Reggio Emilia, veio preconizar uma imagem de criança como alguém que experimenta o mundo e que se sente parte dele. Tem desejos, capacidade de se comunicar, capaz de criar mapas para sua orientação simbólica, afetiva, cognitiva, social e pessoal.

Não se pretende duplicar a experiência de Reggio, pois seria pretensioso demais fazê-lo. Contudo, deseja-se usar certos princípios e idéias sugeridas por seus pedagogos.

Seguindo na esteira de intenções desta proposta, busca-se provocar a releitura e a resignificação do conceito de linguagem, de conteúdos, do papel do professor e da concepção de criança de 0 a 6 anos.

Ao falar da criança, está se tentando organizar um contexto social e cultural que possa tornar-se significativo para o desenvolvimento e a valorização da aprendizagem.

A Educação é algo que pode ser inventado a cada dia. A imagem que se tem de uma criança está explícita no ambiente que oferecemos a ela, colocando-a como centro de todo esse sistema de relações.

O espaço precisa comunicar-se, pois ele é uma linguagem fundamental que pode acolher e louvar as diferenças.

Os registros e as análises aqui apresentadas trouxeram elementos que explicitaram aspectos de um determinado momento histórico na Educação Infantil do Sesi. Portanto, mantêm-se inacabados, e outras possibilidades podem ser vislumbradas, desafiando novos estudos que possam assegurar uma prática lúdica na Educação Infantil.

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