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Esta dissertação buscou contribuir para o entendimento dos aspectos relevantes do desempenho econômico e do padrão de comércio de Brasil, Rússia, Índia e China nas últimas duas décadas, tendo como referência a importância da capacitação tecnológica como chave para o crescimento e desenvolvimento sustentável.

A dissertação constatou que a forma com que foram conduzidas as mudanças que levaram essas economias a ampliarem suas capacitações tecnológicas foi de vital importância para o desempenho que cada uma obteve em suas inserções externas e na criação de oportunidades para o crescimento econômico. De um lado têm-se Rússia, e principalmente Brasil, que promoveram a liberalização de suas economias, no findar dos anos oitenta e início dos anos noventa, de forma rápida e caracterizadas como pró- market, no sentido que privilegiaram o aumento da concorrência como forma de promoverem a modernização de seu parque industrial, sem a adoção de uma política macroeconômica e industrial que auxiliasse as empresas locais na adaptação ao novo ambiente.

De lado diametralmente oposto, China e Índia, realizaram suas mudanças de forma gradual, planejada e seletiva e visando os interesses nacionais. Suas políticas de liberalização comercial e financeira podem ser denominadas de pró-business, uma vez que privilegiaram o aprimoramento de um ambiente de negócios que facilitasse a melhoria de eficiência do lado da oferta, com foco nas empresas locais.

As políticas de atração de IDE mostraram-se fortemente relevantes para a modificação das capacidades tecnológicas dos BRIC. No caso brasileiro, além do perfil da entrada de IDE, baseado em aquisição de ativos existentes, ter pouca contribuição para a ampliação da produtividade e competitividade, a política adotada não foi planejada e nem seletiva, sem exigência de contrapartidas de desempenho econômico-tecnológico. Inversamente, nos casos de Índia e China, ocorreu seletividade e fortes exigências em termos de montagens de laboratórios de P&D e transferências de tecnologias para empresas locais.

As políticas tecnológicas e de inserção externa se refletem na evolução do hiato tecnológico, que apresentou movimentos distintos para cada uma dos quatro países do BRIC. A China se destaca por ter conseguido ao longo das duas últimas décadas, principalmente nos anos noventa, reduzir significativamente seus hiatos tecnológicos nos três índices utilizados nesta dissertação. A Índia obteve avanços no que tange à patentes concedidas no USPTO, provavelmente devido à presença de laboratórios de P&D de multinacionais instalados no país, com destaque para o setor farmacêutico, que possui grande propensão em patentear, embora permaneça praticamente estável no hiato de publicações científicas e tecnológicas, bem como em seus gastos em P&D. O Brasil melhorou substancialmente seu hiato mensurado por publicações C&T, devido ao aumento de produção de suas universidades públicas, mas pouco se desenvolveu no que tange a patentes e gastos com P&D, reforçando a falta de dinamismo tecnológico por parte do setor empresarial. A capacitação tecnológica da Rússia fragilizou-se com a reestruturação econômica ocorrida na década de noventa, aumentando seus hiatos tecnológicos em todos os âmbitos levantados, embora ainda continue a ser, entres os BRIC, o país com melhores índices tecnológicos, resultantes ainda de sua herança tecnológica da URSS.

Vale salientar que, mesmo com os avanços em seus hiatos tecnológicos, os países dos BRIC (incluindo a China que diminuiu seus hiatos de forma exponencial) ainda estão longe dos padrões de capacitação tecnológica dos países desenvolvidos que, se por um lado reforça a permanência de suas fragilidades tecnológicas, por outro lado, abre espaço para a manutenção dos progressos que podem representar mais oportunidade de crescimento e desenvolvimento.

As análises da evolução dos hiatos tecnológicos de Brasil, Rússia, Índia e China e sua comparação com o crescimento e a pauta de comércio desses países revelaram a existência de correlação entre crescimento e tecnologia, em que se percebe que os países que apresentaram as maiores taxas de crescimento no período analisado, Índia e China, foram também os países que mais substancialmente conseguiram diminuir seus distanciamentos tecnológicos da fronteira, com destaque inegável da China. Do lado oposto, os resultados negativos da economia russa no decorrer da década de noventa se alinham com a deterioração de seus índices tecnológicos, bem como na sua recuperação

do crescimento pós 1999 também se verifica certa melhoria de seus resultados tecnológicos, embora estes apresentem menos elasticidade de mudança por dependerem de aspectos cumulativos. O Brasil também se constitui num bom exemplo, em que a fragilidade do crescimento econômico é percebida pela ligeira diminuição de seus hiatos tecnológicos.

Outro resultado que corrobora os avanços tecnológicos adquiridos pela China e, em menor grau pela Índia, foi encontrado na análise da evolução da pauta de exportação classificada de acordo com a intensidade tecnológica, com crescimento exponencial das exportações de alta tecnologia chinesas, que se posicionaram em primeiro lugar nas exportações totais, em detrimento das exportações de produtos primários.

A Índia também modificou sua pauta de exportação com o crescimento das exportações de média e alta tecnologia em detrimento também das exportações de produtos primários, embora sua pauta permaneça fortemente baseada em produtos de baixa tecnologia e baseados em recursos. O Brasil conseguiu avanços em suas exportações com aumento da participação dos setores de média e alta tecnologia, mas ainda continua dependente de suas exportações de produtos primários e baseados em recursos. Já a Rússia pouco alterou a composição de sua pauta de exportação, a não ser o reforço da importância de suas exportações de produtos primários e baseados em recursos (petróleo e derivados), que apresentaram ser o principal fator explicativo de crescimento das exportações russas verificado em anos recentes.

A análise da decomposição da variância para os BRIC, embora limitada pelo número de observações, e não realizada para Rússia por indisponibilidade de dados, apresentou importantes resultados no que tange à importância dos avanços tecnológicos - medido por patentes USPTO - para as diferentes agregações das exportações, de acordo com a intensidade tecnológica: baixa, média e alta.

Os resultados indicaram que a capacidade tecnológica aumenta seu poder em explicar as mudanças das exportações brasileiras à medida que as exportações diminuem seus conteúdos tecnológicos, indicando que o setor de baixa tecnologia tem apresentado mais avanços que os setores de média e alta tecnologia, corroborando a tese que os países em desenvolvimento, sobretudo os latino americanos, têm concentrado seus esforços

tecnológicos em produtos cuja tecnologia já está mais padronizada. Os resultados também indicaram uma relevância maior da demanda externa e da taxa de câmbio para os produtos de menor conteúdo tecnológico, indicando que sua competitividade está mais ligada a fatores preços e dependente do aumento da demanda mundial.

Os testes realizados para a Índia revelaram uma importância do IDE para explicação das mudanças das exportações de alta e média tecnologia, bem como também da variável patentes, que representa a capacitação tecnológica, indicando que a interação dessas duas variáveis foi importante para o aumento das exportações desses setores, bem como também demonstra a eficácia da política seletiva e restritiva de atração do IDE em conseguir aumentar a competitividade e o conteúdo tecnológico de seus produtos. Já para a explicação das variações das exportações de baixa tecnologia, a variável mais importante foi patentes, indicando a manutenção também, tal qual o Brasil, da concentração dos esforços tecnológicos em produtos cuja tecnologia está mais difundida.

A análise de decomposição de variância das exportações chinesas revelou influência da capacitação tecnológica para explicação das variações das exportações de alta tecnologia, que foram as que mais cresceram no período em análise. No caso das exportações de média tecnologia, além de patentes (capacitação tecnológica), a formação bruta de capital fixo e a demanda externa também apresentou grande influência em suas variações. As variações das exportações de baixa tecnologia são explicadas, de acordo com os modelos apresentados, pela formação bruta de capital fixo e pela dinâmica interna do PIB, além também, e com grande destaque para a capacitação tecnológica.

Os testes de causalidade Granger para o Brasil revelam que as patentes causam, no sentido Granger, as exportações em todos os setores, de alta, média e baixa tecnologia, os testes da Índia revelaram uma bicausalidade entre essas variáveis, ou seja, as patentes (capacitação tecnológica) precedem as exportações setoriais e estas também causam, no sentido Granger, a capacitação tecnológica. O teste de Granger para a China confirmou apenas que patentes precedem as exportações de baixa tecnologia, não rejeitando a hipótese nula para as exportações de alta e média tecnologia, não sendo compatível com

os resultados da análise da decomposição da variância, devido, provavelmente, à necessidade do uso de duas defasagens para a maioria das variáveis.

Os resultados encontrados alertam a necessidade do Brasil de realizar políticas que priorizem o aumento de sua infra-estrutura tecnológica e que promovam realmente aumento de sua competitividade industrial via aumento de conteúdo tecnológico em sua produção, sob pena do país continuar dependente de exportações de produtos primários, com baixo valor agregado, e do crescimento mundial para que haja bons resultados econômicos internos. Mais uma vez se apresenta a possibilidade do país perder a oportunidade de alcançar um desenvolvimento de longo prazo, enquanto outros países que, até pouco tempo atrás, se encontram numa posição de desenvolvimento inferior, com destaque para Índia e China, e até mesmo a Rússia, estão conseguindo criar e aproveitar as janelas de oportunidades e aumentar o bem estar de suas populações e o grau de desenvolvimento de suas economias.