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Notas Metodológicas das Séries Econômicas Utilizadas para os BRIC

2 EVOLUÇÃO DOS HIATOS TECNOLÓGICOS NOS BRIC

2.3 Notas Metodológicas das Séries Econômicas Utilizadas para os BRIC

Será apresentado e analisado um conjunto de índices e séries, para os países em estudo, que estão divididos em quatro temas principais: 1) crescimento econômico; 2) grau de abertura financeira; 3) capacitação tecnológica e 4) composição do comércio.

Para a apresentação do crescimento econômico, serão apresentadas as seguintes séries, todas ligadas ao desempenho do produto interno bruto: taxa de crescimento do PIB; taxa de crescimento PIB per capita e PIB PPC para o período 1985-2006, cuja fonte é o World Development Indicators.

Como proxy para grau de abertura financeira serão utilizado os indicadores relativos ao Investimento Direto Estrangeiro: fluxo de entrada de IDE e estoque de IDE, para o período de 1980 a 2006, cuja fonte de dados é o World Investiments Report – WIR da UNCTAD.

Para a análise da evolução das capacitações tecnológicas e do hiato tecnológico dos países que compõem o BRIC, e baseando-se na revisão dos índices expostos no item 1.4 desta dissertação e na disponibilidade de dados, foram selecionadas as seguintes séries: 1) patentes registradas no USPTO (United States Patent and Trademark Office), no período 1986-2006, cuja fonte é o próprio USPTO; 2) número de publicações científicas e tecnológicas, para o período 1985-2003, cuja fonte é a National Science Foundation; 3) gastos em P&D totais e em relação ao PIB, para o período 1996-2006, cuja fonte é a UNESCO.

Essas três séries de indicadores, Patentes, Publicações C&T e Gastos com P&D, são as principais medidas de capacidade técnica utilizadas em quase todos os índices de capacitação tecnológica, como já problematizado no primeiro capítulo desta dissertação.

As patentes e o número de publicações de artigos C&T mensuram o “estoque” de conhecimento embutido do país, ou seja, um indicador do quanto os pesquisadores e, por conseguinte, as empresas estão conectadas com a comunidade científica global. Os gastos em P&D (tanto per capita, quanto em % do PIB) representam um indicador dos

esforços para a criação de um ambiente inovativo, que propicie a criação, difusão e retenção de tecnologia (ver Wagner et al, 2001).

Patentes são amplamente utilizadas como forma de mensuração de inovação das firmas, como se observa nos estudos de Lall e Albaladejo (2001), Wagner et al (2001), Desai et al (2002), Archigubi e Coco (2004), além dos principais relatórios de competitividade e tecnologia, com por exemplo, o do World Economic Forum . O sistema de patentes é um método utilizado pelas empresas para protegerem suas inovações e, por razões legais, são registradas e organizadas por instituições governamentais, provendo assim, uma fonte ímpar de inovação industrial (Archibugi e Pianta, 1996).

As vantagens do uso de patentes como um índice de capacitação tecnológicas, de acordo com Archibugi e Pianta (1996), podem ser resumidas nos seguintes pontos:

a) Elas são resultados direto do processo inventivo, e mais especificamente daqueles que se esperam um retorno comercial. É um indicador particularmente apropriado para capturar a dimensão da mudança da competitividade tecnológica.

b) Devido ao alto custo para o registro de patentes, é provável que elas se apliquem a invenções cujos benefícios esperados sejam superiores aos custos.

c) A disponibilidade de estatísticas sobre patentes abrange um grande escopo de países, e com série temporal bastante longa.

d) São documentos de domínio público, não sendo, portanto, cobertas por instituições cujos bancos de dados são confidenciais.

Por outro lado, como todo indicador, há também suas desvantagens, como seguem:

a) Nem todas as invenções são patenteáveis, algumas geralmente são legalmente protegidas por direitos autorais como o caso de softwares.

b) Nem todas as invenções são patenteadas. Algumas empresas protegem suas inovações com métodos alternativos, tendo como caso exemplo o uso de segredo industrial.

c) As empresas têm propensões diferentes para patentear no mercado doméstico e em países estrangeiros, dependendo em grande medida das expectativas de

exploração comercial de suas invenções. O fato é que, geralmente, a propensão de patentear no escritório nacional é maior do que a propensão de patentear em escritórios internacionais.

d) Algumas patentes podem se referir às mudanças de pequeno valor econômico, enquanto outras geram conhecimento de alto valor, e tais diferenças não são captadas.

A despeito de alguns estudos sobre inovação tecnológica34, e com intuito de diminuir os vieses e as desvantagens acima citadas, escolher-se-ão os dados oferecidos pelo USPTO, tendo em vista o fato que se pode considerar que todos os países em estudo possuem os mesmos incentivos e restrições de registrar suas patentes no referido escritório. Incentivos esses traduzidos na busca de uma maior exploração do mercado norte americano e existência de restrições no que tange à distância (nenhum dos países é vizinho dos EUA), e idioma.

Além da USPTO, outra fonte comumente usada para patentes é o World International Patents Office (WIPO), porém não haverá perdas de informações uma vez que teste de correlação entre as duas fontes de dados revelam uma correlação de 0,80 para Brasil, 0,90 para a Índia e 0,98 para a China. Apenas os índices da Rússia apresentaram baixa correlação, de 0,21, provavelmente devido ao pouco número de observações disponíveis (ver anexo B).

Os dados de artigo e co-autoria estão baseados em artigos C&T publicados em uma gama de jornais científicos e tecnológicos mais influentes do mundo, que são localizados e indexados pela Thomson ISI. Estes dados estão disponíveis pela NSF (National Science Foundation) e pelos bancos de dados do Índice de Citação de Ciência de Thomson ISI (SCI) e do Índice de Citação de Ciência Social (SSCI).

A cobertura se estende a jornais eletrônicos, inclusive jornais de impressão com versões eletrônicas, e jornais apenas eletrônicos. Os bancos de dados dos índices SCI e SSCI são considerados uma boa cobertura de uma gama de jornais internacionalmente reconhecidos, embora com algum preconceito de idioma inglês que pode ser saliente

para o Brasil, China, Índia, e Rússia. Os artigos são creditados para os países e economias com base nos endereços institucionais listados.

A soma da produção de artigos é baseada em contas fracionárias que nomeiam créditos para países e economias baseado na proporção das instituições participando deles, por exemplo, se uma instituição brasileira realizou um artigo em parceria com uma instituição chinesa, soma-se meio artigo para cada país. A medida de colaboração internacional está baseada na nomeação de uma conta a um país acordo com o número de instituições participantes.

Enquanto que os índices relacionados a patentes e publicações científicas estão diretamente ligados à mensuração dos resultados provenientes de um processo inovativo35, os gastos em P&D são considerados o fomento, o principal insumo da atividade inovativa.

De acordo com OECD (2002), as atividades de pesquisa e o desenvolvimento compreendem o trabalho criativo empreendido em uma base sistemática a fim de aumentar o estoque de conhecimento, incluindo o conhecimento humano, cultural e da sociedade, e o uso deste estoque de conhecimento de forma planejada para novas aplicações. Além disso, fornece elementos que possibilitam uma distinção entre as atividades rotineiras e não-rotineiras, gerados de conhecimento, contabilizando apenas as novas atividades.

Para a análise da evolução da composição do comércio serão apresentadas duas séries:

1) a evolução das exportações agregadas segundo a intensidade tecnológica, de acordo com a tipologia SITC revisão 2 a 3 dígitos, para anos selecionados no intervalo do período de 1985 a 2006, cuja fonte de dados é, para o período 1985 a 2004, o Tradecan desenvolvido pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). Trata- se de uma base de dados de comércio global, cuja fonte é a base oficial de dados de comércio (valores das importações em dólares correntes por setor e país) mantida pela

35 De acordo com Griliches (1995), as patentes são indicadores de inovação apenas no nível bastante agregado. Numa perspectiva mais micro, as patentes são uma proxy de invenção, que é input (e não output) da inovação.

ONU – COMTRADE (Commodity Trade Statistic Database), além do próprio COMTRADE para os anos 2005 e 2006. Para a classificação tecnológica das exportações, este trabalho se baseia na classificação realizada no estudo de Lall e Albaladejo (2001), que classifica as exportações em: “Produtos Primários”; “Baseadas em Recursos”; “Baixa Tecnologia”, “Média Tecnologia” e “Alta Tecnologia”, conforme exposto no anexo C.

2) evolução dos saldos comerciais dos setores: total das exportações (SITC 0 a 9), para uma análise geral; o setor de alimentos (SITC 0 + 1 + 22 + 4) e o setor de commodities primárias, incluindo combustíveis (SITC 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 68), que serão proxy do comércio de produtos de baixo conteúdo tecnológico; e os setores de manufaturas (SITC 6 a 8 menos 68), de produtos químicos (SITC 5) e o de máquinas e equipamentos de transportes (SITC 7), que servirão de proxy para o comércio de produtos mais intensivos em tecnologia. O período analisado será de 1995 a 2006, e a fonte de dados utilizada é o banco de dados on line do Handbook of Statistics da UNCTAD.