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3 ANÁLISE DA DECOMPOSIÇÃO DA VARIÂNCIA E TESTE DE

3.3 Procedimentos Econométricos

3.3.1 Variáveis, Modelagem e Testes Econométricos

3.3.1.1 Variáveis e Dados

Além de patentes, outras variáveis foram escolhidas procurando listar as principais destacadas pela literatura econômica que teoricamente possuem relações com o desempenho exportador, de modo a fazer uma comparação dos graus de relevância de cada variável vis-à-vis a tecnologia (patentes) para explicação dos comportamentos das exportações, agregadas segundo sua intensidade tecnológica nos subgrupos: alta tecnologia, média tecnologia e baixa tecnologia. As variáveis estão listadas a seguir:

XHT: Exportações totais de produtos de alta tecnologia, em dólares correntes; XMT: Exportações totais de produtos de média tecnologia, em dólares correntes; XMT: Exportações totais de produtos de baixa tecnologia, em dólares correntes;

PAT: Número de patentes concedidas pela USPTO; IDE: Estoque de IDE, em dólares correntes;

FBFK: formação bruta de capital fixo em proporção ao PIB;

TCRE55: Taxa de câmbio real efetiva, ano base de 2000 igual a 100; PIB: Produto interno, em dólares correntes;

PIBMUNDO: PIB mundial, em dólares correntes.

Em relação à classificação dos setores de exportação segundo a intensidade tecnológica, foi utilizado o trabalho de Lall (2000a)56 que elaborou uma tipologia com base em Pavitt (1984) e OECD (1994), conforme nota do próprio autor. Tal tipologia converge à classificação das exportações segundo a classificação internacional SITC, revisão 2, a três dígitos, que permite acessar os dados de exportação em períodos mais longínquos. Os setores classificados como “baixa tecnologia” (XLT) são aqueles que compreendem produtos com tecnologias estáveis e difundidas; os de “média tecnologia” (XMT) englobam os produtos de tecnologias mais complexas, que exigem considerados gastos em P&D, mão-de-obra especializada e aprendizagem com grande path dependence; e o setor de “alta tecnologia” (XHT) compreende produtos de tecnologia de ponta e que mudam rapidamente, caracterizados por altíssimos investimentos em P&D e focalizados no design do produto.

No capítulo dois desta presente dissertação foram considerados três indicadores específicos para verificar a evolução do hiato tecnológico dos BRIC: patentes, produção de artigos científicos e tecnológicos e gastos com P&D. Para a construção dos modelos VAR, foi utilizada apenas o número de patentes (USPTO) como proxy para tecnologia devido a três fatores principais, além dos já expostos anteriormente nesta dissertação: 1) procurou-se seguir o critério de escolha de variáveis de acordo com Montobbio e Rampa (2005), cujas principais variáveis analisadas são iguais ao deste presente capítulo, ou seja, exportações classificadas segundo intensidade tecnológica e patentes registradas no USPTO;

55 Para Índia foi utilizado a Taxa de Câmbio Real (TCR). 56 Anexo C.

2) de acordo com o trabalho de Amsden e Mourshed (1997), com foco em países de industrialização tardia, existe uma alta correlação entre gastos com P&D e patentes e de gastos com P&D e publicação científica, de 0,89 e 0,82 respectivamente57. Foram realizados testes de correlação entre patentes e publicação científica para os países selecionados nesta dissertação, e os resultados corroboram os resultados encontrados por Amsden e Mourshed (1997). Foi encontrada uma correlação de 0,96 para Brasil, 0,92 para China e 0,94 para a Índia58. O teste para a Rússia não pode ser realizado devido ao baixo número de observações;

3) o terceiro fator, que representa mais uma limitação do que uma escolha propriamente dita, é a falta de acesso a uma série longa de dados para publicações científicas, cujo último ano disponível é 2003, e para gastos com P&D, disponível apenas a partir de 1996.

O uso da variável IDE, utilizada como estoque para diminuir os efeitos dos choques externos sobre o fluxo e para capturar efeitos cumulativos de longo prazo, se faz importante por três vias: primeiro, devido a sua estreita relação com tecnologia, por intermédio dos spillovers; segundo, pela expectativa diante da presença de firmas estrangeiras sobre a promoção das exportações das economias domésticas e; terceiro, por ser um bom indicador do grau de abertura da economia.

A Formação Bruta de Capital Fixo em Relação ao PIB (FBKF) corresponde à taxa de investimento do país, e representa um bom indicador da dinâmica do setor industrial que corresponde por quase totalidade das exportações de média e alta tecnologia. A Taxa de Câmbio Real Efetiva (TCRE) na medida em que altera os preços relativos internacionais, altera também o fator principal de competitividade, segundo a teoria convencional do comércio, qual seja, o preço. Assim, um aumento na TCRE, representa uma desvalorização cambial, e um incentivo às exportações.

O Produto Interno Bruto (PIB) pode influenciar nas exportações de duas formas, dependendo da situação econômica do país: negativamente, quando se verifica um

57 Não foram apresentados os resultados da correlação entre patentes e publicações científicas, mas deduz-se a existência de uma correlação significativa entre estas variáveis, com base nas correlações de ambas com gastos em P&D.

trade-off entre crescimento do PIB e crescimento das exportações, verificado, por exemplo, quando o aumento do PIB é mais em função do consumo do que do investimento, gerando um excesso de demanda e desviando parte da exportações para o mercado interno; e positivamente num cenário em que seu crescimento é fruto de mudanças estruturais, sobretudo aumento de investimentos e da produtividade, acarretando em competitividade. O PIB também pode ser considerado tanto causa, quando aumenta as oportunidades de investimento e melhora as condições de mercado, quanto conseqüência do aumento de capacitação tecnológica, quando as inovação tecnológicas, por exemplo, levam a um aumento de produtividade, melhorando o uso dos fatores de produção. A variável PIBMUNDO é um importante indicador dos efeitos da conjuntura internacional sobre a economia local, principalmente via aumento da demanda para as exportações.

Todas as variáveis têm periodicidade anual, e são apresentadas para o período 1985- 2006. Para a construção da série histórica dos valores das exportações setoriais foi utilizado o programa Competitive Analysis of Nations (TradeCAN) desenvolvido pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). Trata-se de uma base de dados de comércio global, cuja fonte é a base oficial de dados de comércio (valores das importações em dólares correntes por setor e país) mantida pela ONU – COMTRADE (Commodity Trade tatistic Database). Os dados de comércio correspondem a classificação internacional SITC (Standard International Trade Classification) Revisão 2, desagregados a três dígitos. Outro detalhe dessa base de dados de comércio é sua construção a partir do cálculo de médias móveis de três anos, por exemplo, o ano de 1999 é a média do período 1998-2000, a não ser o último ano da série (2004) que é a média de dois anos. Portanto, a base de dados não se refere simplesmente aos dados anuais, com isso, evitam-se as flutuações cíclicas. Como os dados dessa versão do TradeCAN só estão disponíveis até 2004, os dados de 2005 e 2006 foram completados com a bade de dados COMTRADE/ UNCTAD (United Nations Commodity Trade Statistics Database), sem prejuízos de informações, uma vez que a base de dados de ambas é a mesma.

As demais variáveis referem-se ao valor agregado, não sendo possível desagregá-las em setor, como no caso das exportações, por falta de fonte e metodologia. A fonte de dados para patentes (PAT) é o United States Patent and Trademark Office; para o estoque de

IDE (IDE) a fonte é a base de dados on line WID (World Investment Directory) da UNCTAD. Para a formação bruta de capital fixo (FBKF) e Produto Interno Bruto (PIB) a fonte de dados é o WDI (World Development Indicators) do Banco Mundial. A fonte para o PIB mundial (PIBMUNDO) é a base on line World Outlook do IMF (Internationa Monetary Fund). A Taxa Real de Câmbio Real Efetiva (TCRE) foi a única variável cujas fontes foram diferentes para os países; para China a fonte foi a base de dados on line disponível no site da Nation Master, cuja fonte de dados é o WDI (World Development Indicators) do Banco Mundial, já para Índia, usou-se apenas a taxa de câmbio real (TCR), cuja fonte é o CD-ROM do IMF Statistics, enquanto que para o Brasil a fonte de dados da TCRE é o IPEADATA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).