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Similaridades entre as Economias de Brasil, Rússia, Índia e China

2 EVOLUÇÃO DOS HIATOS TECNOLÓGICOS NOS BRIC

2.1 Similaridades entre as Economias de Brasil, Rússia, Índia e China

A importância dada pelo cenário internacional aos BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China vem aumentando de forma exponencial e não sem motivos. De acordo com um relatório de outubro de 2003 da Goldman e Sachs (Purushothaman e Wilson, 2003), ao realizar uma especulação sobre o futuro da economia mundial, com base nas taxas atuais de crescimento do PIB dos países em foco, projeta que, em 2050 o somatório do PIB dos BRIC superará a soma do PIB dos países que compõem o G-6 (Estados Unidos, Inglaterra, Japão, França, Alemanha e Itália). Além disso, o ranking das maiores economias mundiais teria, em 2050, a China em primeiro lugar, seguida pelos Estados Unidos, a Índia ficaria em terceiro, o Japão em quarto, seguido pelo Brasil e Rússia, que ocupariam, respectivamente, a quinta e sexta posições.

Ainda segundo o relatório da Goldman e Sachs, cada uma dessas economias irá se firmar de acordo com suas potencialidades. O Brasil terá grande relevância como país exportador de produtos agropecuários, sendo responsável por mais de 40% da oferta mundial de alimentos. Além disso, suas plantações de cana-de-açúcar e sua extensão agrícola serão de fundamental importância para a produção de combustíveis renováveis e ecologicamente corretos, como o álcool e o biodiesel que, com o findar próximo da era do petróleo, serão as principais fontes de energia mundial, apontando o Brasil como

a grande potência energética do futuro. Além da questão energética, o país se privilegia pela abundância de reservas naturais de água e sua farta biodiversidade (chave para o desenvolvimento de indústrias dinâmicas como a farmacêutica e a de biotecnologia) que, em breve, ocuparão o lugar do petróleo na lista de desejos dos líderes políticos de todo o mundo.

A Rússia possui vantagens similares e, devido ao seu vasto território, que lhe assegura uma riqueza de recursos naturais (o país detém 13% da reservas mundiais de petróleo e 33% das reservas de gás natural) poderá ser grande fornecedor de matérias-primas e de outros recursos imprescindíveis ao desenvolvimento econômico, como mão-de-obra altamente qualificada e tecnologia de ponta, herdados da Guerra Fria, principalmente no setor militar.

A Índia será o grande pólo de tecnologia da informação, fazendo com que muitas indústrias se situem nesse país, que a cada dia aumenta seus investimentos em profissionalização de sua enorme população. Com a maior expectativa de crescimento entre os BRIC (de acordo com o relatório, em especial a partir de 2010), estima-se que em 2050 ocupe a 3ª posição, atrás da China e dos EUA.

E a China chegará a ser a maior potência econômica em 2050, tendo como base seu acelerado crescimento econômico sustentando e orientado pelas exportações. A grande elasticidade da oferta de mão-de-obra, que ao mesmo tempo representa um potencial mercado consumidor, e seus esforços tecnológicos são fortes atrativos para uma concentração e desenvolvimento de indústrias que visam o aproveitamento de uma mão de obra barata, disciplinada e qualificada, além da exploração do gigantesco mercado interno.

Em 2005 a Goldman e Sachs publicou outro artigo (O´Neill et al, 2005) com projeções que levam a crer que os BRIC podem realizar o “sonho” ainda mais rápido do que se especulava em 2003. De acordo com os dados levantados, entre 2000 e 2005 esses

países contribuíram com cerca de 28% com o crescimento global medido em termos de dólares americanos e com incríveis 55% se o crescimento for mensurado em termos de Paridade Poder de Compra (PPC). Os BRIC também obtiveram importantes avanços no market share do comércio mundial, passando de 15% em 2001 para algo perto de 30% em 2005, além do aumento de 5% para 8% do comércio entre os países do grupo, com destaque para o aumento do fluxo de comércio entre Brasil e China (ver Gráfico 2.1).

Gráfico 2.1 Exportações e Importações de Brasil para a China: 1990-2007.

(Em US$ milhões)

-4.000 -2.000 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 1990 1991 1992 1993 19941995 19961997 1998 1999 2000 20012002 2003 2004 2005 20062007 Exp Imp Saldo

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados Tradecan e Comtrade.

Vale dizer, esse grupo de países é significativamente expressivo na produção mundial e nos fluxos internacionais de comércio no período recente, seja em função do tamanho geográfico e do tamanho da população, seja pelo surpreendente crescimento do PIB verificado (o Brasil em menor grau), se destacando entre os países em desenvolvimento e desenvolvidos, sendo relevantes como produtores e consumidores de bens e serviços e receptores de capital.

Pelo ranking dos dez maiores países do mundo de acordo com PIB por Paridade de Poder de Compra (PPP), a China aparece em segundo lugar, com um PIB-PPP de quase US$ 10 trilhões, logo após os Estados Unidos. A Índia aparece em quarto lugar com um PIB-PPC de US$ 4,2 trilhões, a Rússia em nono com US$ 1,72 trilhão, seguida de perto

pelo Brasil que, com US$ 1,70 trilhão, aparece em décimo23. Juntos esses países possuem uma participação mundial de 42% da população (China 1º lugar, Índia 2º, Brasil 5º e Rússia 9º), 26,5% do PIB PPC e 26% da área de terras emersas (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 BRIC – Principais Indicadores.

Pop. PIB (tx a.a.) (US$ PIB

bilhões) PIB per capita (US$) PIB- PPP* (US$ bilhões) PIB PPC % do mundo Conta Corrente (% no PIB) Reservas (US$ bilhões) Inflação (%) País (kmÁrea 2) 2007 1992-1999 2000-2007 2006 2006 2006 2006 2006 2007* 2001-2006 Brasil 8.514.876 186.771.000 2,7 3,4 1.067,71 5.716,67 1.701,18 2,57 1,3 180,33 3,45 Rússia 17.075.200 142.800.000 -5,2 6,9 979,048 6.856,08 1.727,35 2,61 9,8 384,67 12,05 Índia 3.287.590 1.112.996.000 6,1 7,1 886,867 796,83 4.158,92 6,28 -2,2 194,0 5,05 China 9.536.000 1.314.098.000 10,8 9,8 2.630,11 2.001,46 9.984,06 15,08 9,1 1530,0 1,45 TOTAL 38.413.666 2.756.665.000 - - 5.563,74 - 17.571,51 26,54 - 2.289,00 -

Fonte: IMF: World Economic Outlook Database – Outubro 2007.

* Bancos Centrais dos respectivos países – acessados em dezembro 2007.

Além desses números, o que mais chama a atenção para esses países é o crescimento de seus produtos a partir da década de 90, valendo para Índia e China que cresceram a uma taxa média anual de 6,1 e 10,8% a.a., além da manutenção dessa taxa de crescimento nos anos 2000 (China 9,8% e Índia 7,1%). A Rússia se destaca pelo fato de, após uma década de crise e transformações políticas e econômicas, vem crescendo, a partir de 1999, e com grande sustentação pela alta do petróleo, a uma taxa de 6,9% a.a. O Brasil apresentou modesto crescimento de seu PIB nos anos noventa e início dos anos 2000, tendo taxa média no período 2000-2006 de apenas 3,1% a.a. Em 2007 o país conseguiu melhorar seu desempenho, alcançando uma taxa de crescimento de 5,42% (IPEADATA, 2008), no entanto, bem abaixo de seu potencial e dos outros países em questão, uma vez a China que cresceu 11,4%, a Índia 8,5 e a Rússia 6,9%.

Como denominador comum, observa-se que esses países, em maior ou menor grau, possuem uma trajetória econômica similar. Todos os países que compõem o BRIC tiveram ou têm uma grande experiência acumulada da participação estatal e de

23 Como será apresentado a seguir, na seção 2.3 deste capítulo, por outra fonte de dados, o World Developmente Indicators – WDI, o Brasil ocupa a nona posição com um PIB PPC de US$ 1,71 trilhões e a Rússia a décima posição com um PIB PPC de US$ 1,70 trilhões.

utilização de mecanismos de controle e planejamento sobre os elementos chaves do processo de acumulação, a saber: o juro, o crédito, câmbio e finanças (Acioly et al, 2006). Foram economias bastante fechadas até o findar da década de oitenta24 e com alto grau de proteção à indústria doméstica e que têm procurado implementar, a despeito de suas especificidades, uma estratégia de inserção externa, a fim de aperfeiçoar seus parques tecnológicos e integrar suas populações. A acumulação de reservas – mediante saldos comerciais elevados e não contratação de novas dívidas – atende a demanda por liquidez em moeda forte e assegura a estabilidade da taxa de câmbio (Cintra e Ferreira, 2005). Como se pode vislumbrar na Tabela 2.1 acima, esses países juntos possuíam reservas internacionais, em dezembro de 2007, na ordem de US$ 2,3 trilhões.

No que tange à integração internacional, e o aumento de suas capacitações tecnológicas, o Gráfico 2.2 ilustra bem os resultados para as economias dos BRIC, que deixaram de ser meros produtores de mercadorias de baixo valor adicionado e passaram a comercializar produtos de maior conteúdo tecnológico, além de processos e serviços com caráter inovativo. Percebe-se que as exportações de produtos com alta intensidade tecnológica dobraram sua participação na composição da estrutura comercial desses quatro países em menos de uma década (de 1996 a 2004), alcançado mais de 30% do total do comércio (exportações e importações) e transformando-se no segmento de maior dinamismo no comércio exterior, enquanto que a participação das mercadorias de baixa tecnologia caiu de 34% para 23%.

Essa constatação leva-nos a buscar, de forma crítica, a história recente dessas economias, tendo como norte as políticas econômicas escolhidas que possam ter influenciado os condicionantes dessa reversão da composição do comércio, segundo a intensidade tecnológica. A principal questão a ser discutida refere-se na verificação da evolução do hiato tecnológico, vale dizer, comprovar se essa mudança positiva do

24 As reformas na China iniciaram-se em 1979, mas devido à sua gradualidade, a economia deste país continuou bastante fechada durante a década de 80.

padrão de comércio é decorrente de mudanças estruturais das capacidades tecnológicas e de inovação das economias que compõem o BRIC.

Gráfico 2.2 Mudança na Estrutura do Comércio de Manufaturas dos BRIC por Intensidade Tecnológica.

FONTE: OECD, Bilateral Trade Database.