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MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL

A estrutura industrial utilizada na fabricação de máquinas e equipamentos agrícolas no Brasil tem uma característica de mundialização da produção. Além dos tratores serem produzidos em plataformas internacionais, as fabricantes também possuem operações em seus países de origem e em outros países. Os produtos, por sua vez, seguem a mesma tendência de mundialização, observa-se que, salvo as adaptações brasileiras, os produtos são muito parecidos com aqueles

comercializados no resto do mundo, compartilhando modelos de plantas industriais, projetos de tratores, processadores, entre outros componentes industriais.

No Brasil, a estrutura industrial formada pelas empresas pode ser caracterizada como do tipo oligopólica, pois existem poucas empresas dominando a oferta de tratores com rodas no mercado. Essa estrutura passou por um intenso processo de fusões e aquisições ao longo dos anos, concentrando ainda mais o mercado. Muito embora a presente pesquisa tenha como foco a análise dos tratores médios com rodas, observa-se que as empresas inseridas na indústria de máquinas e equipamentos automotrizes também fabricam outros tipos de produtos no Brasil, tais como tratores de esteiras, colheitadeiras e retroescavadeiras. Como resultado, as cinco empresas analisadas oferecem juntas cerca de 140 tratores com rodas, sendo que 66 modelos são de médio porte.

As plantas industriais utilizadas na fabricação de tratores com rodas são de grande porte, necessitando empregar uma quantidade alta de funcionários, cerca de 20.000 pessoas na indústria, além de dispor recursos financeiros para estruturar e viabilizar a infraestrutura local. Dessa forma, dado os investimentos altos e o alto risco de operacionalização, o Estado tem incentivado a indústria de máquinas e equipamentos através de políticas públicas voltadas para o aumento da competitividade das empresas ligadas ao setor. Observa-se que boa parte desses recursos estão ligados à oferta de crédito no mercado, mas também existem outros incentivos (fiscais, tributários, pesquisa, etc.) que contribuem com a viabilidade do negócio.

O fato de operarem com plantas de grande porte é considerado, economicamente, como uma barreira de mobilidade para os novos entrantes, pois dificultam a entrada e saída de participantes do aparato industrial. Conforme salientado, no texto do CADE, a respeito da aquisição do “Negócio de Tratores Agrícolas” de outras instituições, foram levantados três elementos que caracterizam barreiras no setor. A primeira barreira é de base técnica/tecnológica, a segunda diz respeito à saturação de mercado e a terceira barreira preconiza os efeitos financeiros das aplicações que atingem a casa dos milhões (BRASIL, 2004).

No que diz respeito à operacionalização no país, as empresas analisadas assumiram uma estratégia de concentrar a fabricação em grandes centros produtivos, com forte participação de fornecedores que estão nos estados: Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná. Como complemento, ampliaram a rede de atendimentos através de concessionárias que atendem o país como um todo. Isso porque o acesso e a assistência técnica especializada são fatores de diferenciação quando

estão próximas dos produtores rurais. Dessa forma, como os produtos são próximos uns dos outros, as fabricantes investem nesses fatores que acabam se transformando em instrumentos de competição.

Outro instrumento de competição são as adaptações de cunho tecnológico que são realizadas em território brasileiro. As empresas costumam acionar institutos de pesquisas, universidades, centros de desenvolvimento, fornecedores, entre outros meios inovativos para conseguirem avançar técnica e tecnologicamente. Para isso, as empresas criaram instrumentos internos para captarem informações do mercado a fim de traduzi-los para os tratores com rodas, bem como seus implementos agrícolas.

Percebe-se também que as empresas têm investido em P&D como uma tentativa de desenvolver os projetos internacionais ao passo que aprimoram o uso dos equipamentos em território brasileiro. Esse movimento de adaptação e criação de novos componentes necessita de investimentos de longo prazo nos setores de pesquisa e desenvolvimento, mas também necessita de uma integração com as demais estruturas produtivas do mundo, pois compartilham as ideias, projetos e recursos transformadores. Com isso, os projetos são desenvolvidos levando em consideração, não apenas as especificidades locais, o projeto agrega funcionalidades globais que poderão ser utilizadas em outros países, objetivando a comercialização futura desses tratores.

Com esses instrumentos, além de atualizarem os tratores com os processos tecnológicos, também alteram as funcionalidades que os equipamentos possuem no campo. É de conhecimento amplo que o trator com rodas possui uma grande aplicabilidade nas propriedades rurais brasileiras, pois devido ao seu potencial de arrasto e acoplamento de outras estruturas, o trator passou a ser visto como um dos principais instrumentos de trabalho no campo. As atualizações realizadas nos tratores possibilitaram que o equipamento realizasse as suas funções básicas de arraste, mas também o condicionou para auxiliar em processos de preparo de solo, plantio, manejo, pulverização, colheita, entre outras funções típicas da agropecuária.

Com isso, essas atualizações servem não apenas o Brasil, mas também outros países. Isso acontece em função da credibilidade que as fabricantes transmitem ao induzir um processo contínuo de tratores, utilizando o mesmo processo produtivo e incorporando modificações para tornar o trator mais resistente e adaptável aos contextos brasileiros de trabalho que são mais abrasivos do que a grande maioria dos contextos produtivos do mundo. Isso conota uma qualidade para os tratores fabricados nessas condições e as exportações confirmam essa satisfação

com os produtos transacionados. De acordo com os dados da ANFAVEA (2015) as exportações brasileiras na década de 70 estavam na casa das 500 unidades/ano, passaram para 7.685 unidades/ano em 1980, em seguida na década de 90 com 2.758 unidades/ano, anos 2.000 com 3.455 unidades/ano e 2010 com 14.171 unidades/ano.

Os países que recebem essas mercadorias pertencem aos seguintes continentes: América do Sul (50,3%), América Central (4,1%) América do Norte (6,2%), Europa (3%), África (15,1%), Ásia (20,9%) e Oceania (0,4%). Esses dados caracterizam a capilaridade que os produtos brasileiros possuem ao serem exportados para todo o globo. Com isso, para atender aos clientes, as empresas montaram uma estrutura de atendimento ao cliente, agregando atendimentos em outras línguas e facilitando a compra dos equipamentos com auxílios na tomada de crédito e demais financiamentos.

4 CARACTERIZAÇÃO INSTITUCIONAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS VOLTADAS PARA O SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS

Entende-se que a atual situação em que as empresas se encontram no Brasil seja, em parte, o resultado de um conjunto de ações políticas e institucionais desenvolvidas ao longo dos anos. Assim, o governo, enquanto entidade com fortes características executoras e fomentadoras do desenvolvimento, contribui na construção e composição dos cenários onde as empresas atuam, muitas vezes, modelando, de forma tecnológica e institucional, seus contextos de trabalho. Isso remonta ao posicionamento epistemológico de que, tanto o governo, quanto as demais instituições são capazes de influenciar a construção dos cenários de desenvolvimento.

A partir dessa proposição, cabe às instituições um papel duplo, onde reagem aos estímulos do governo e, ao mesmo tempo, contribuem com a formulação de novas propostas de desenvolvimento. O governo, de forma concomitante, possui condições de fomentar o desenvolvimento através de políticas públicas. Ele o faz, principalmente através de políticas tributárias, monetária, de comercio exterior, científica e tecnológica, entre outros. Essa perspectiva pode ser observada ao longo dos anos com o estudo e detalhamento das principais manobras políticas que, em alguns momentos favoreceram e, em outros, dificultaram o desenvolvimento do setor de máquinas e equipamentos agrícolas no Brasil.

No propósito de apresentar e analisar o marco institucional das políticas públicas destinadas ao setor agrícola, o capítulo está estruturado para atender às especificações das políticas públicas, programas e resultados do segmento no período compreendido entre 1950 e 2014. Os subtítulos foram criados para caracterizar um período descritivo (1950- 2014), mas sobretudo, para agrupar os principais movimentos institucionais que tiveram a capacidade de influenciar o setor de máquinas e equipamentos agrícolas. Assim, pode-se considerar elementos como planejamento geral, formalização de diretrizes e objetivos, organização institucional específica, articulação de políticas macroeconômicas,

targeting de indústrias, políticas de comércio exterior, financiamentos,

políticas de fomento, políticas de regulação, investimentos em infraestrutura econômica e de ciência e tecnologia, sistema educacional, políticas intencionistas, entre outras medidas. Tomando como base as características do setor, o capítulo também apresenta um relato sobre os principais resultados imediatos que puderam ser contabilizados pelas instituições de fomento, como é o caso do Banco do Brasil (BB), Banco

Central do Brasil (BACEN), ANFAVEA, entre outras instituições que disponibilizam relatórios anuais de acompanhamento setorial. Entende- se, portanto, que o conjunto de políticas desenhadas e executadas pelo governo devem ser consideradas como um todo, a exemplo dos trabalhos de Corden (1980) e Suzigan (1996).

No intuito de cumprir com o objetivo do capítulo, o texto está dividido em subtítulos que contemplam a seguinte estrutura: principais políticas públicas, programas e resultados do segmento na década de 50; principais políticas públicas, programas e resultados do segmento na década de 60; principais políticas públicas, programas e resultados do segmento na década de 70; principais políticas públicas, programas e resultados do segmento na década de 80; principais políticas públicas, programas e resultados do segmento na década de 90; principais políticas públicas, programas e resultados do segmento entre os anos 2000 e 2009; e principais políticas públicas, programas e resultados do segmento entre os anos 2010 e 2014.

4.1 PRINCIPAIS POLÍTICAS PÚBLICAS, PROGRAMAS E