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Analisando a localização dos espaços livres gerados por compensações ambientais, percebe- se que eles distribuem-se de forma razoavelmente homogênea pelas diferentes regiões do município. Durante a gestão Marta Suplicy (2000 e 2004) - período no qual foram iniciados quase todos os projetos públicos aqui analisados - todas as regiões da cidade (zonas leste, oeste, norte e sul) receberam no mínimo um espaço livre público custeado por TCAs, com exceção da área central187.

O uso residencial foi a tipologia que originou a maior parte das compensações ambientais para custeio de espaços livres públicos paulistanos. Essa proporção se repete para os casos envolvendo outras modalidades compensatórias.188 O local de origem das compensações,

no entanto, nem sempre corresponde ao entorno imediato do espaço livre custeado. Especiicamente com relação aos parques e praças, observa-se que metade dos casos (Parque Pinheirinho D’água, Praça Silvio Romero, Parque do Cordeiro e Parque Vila Prudente) foram inanciados por compensações ambientais provenientes de outros bairros. Com exceção do Parque da Vila Prudente, cujas compensações vieram da zona leste, todos os outros casos tiveram origem na região sudoeste da cidade.

Com relação à faixa de renda média das regiões que receberam os espaços livres, percebe-se novamente um equilíbrio: o Parque do Cordeiro e as praças Nandina Haddad e Anna dos Santos Figueiredo localizam-se em áreas da cidade com maior poder aquisitivo. O restante dos projetos - Parque Pinheirinho D’água, Praça Silvio Romero, Parque Jacintho Alberto, Parque da Vila Prudente e Parque Linear do Sapé - localizam-se em áreas periféricas, com poder aquisitivo médio ou baixo.

Considerando-se que as maiores demandas por espaços livres públicos do município encontram-se em suas áreas periféricas, esperava-se que as ações da prefeitura se concentrassem nesses lugares. O critério para implantação das áreas, no entanto, não correspondeu necessariamente às demandas da cidade. Algumas vezes esteve relacionado a interesses políticos. É o caso da Praça Silvio Romero e do Parque Vila Prudente, ambos na região leste do município, área de inluência política de Adriano Diogo, Secretário Municipal do Meio Ambiente na época de início desses projetos.

187. Essa região, no entanto, receberia nesse período o projeto do Parque do Gato, de autoria do arquiteto-paisagista Raul Pereira.

Outra constatação pertinente é o fato da maioria dos parques custeados por compensações ambientais em São Paulo até o ano de 2008 ter sido produzida pelo escritório do arquiteto Raul Pereira. Raul trabalhou durante a década de 1980 na Prefeitura do Município de Osasco, coordenando projetos participativos de arborização urbana (Mutirão Verde) e urbanização (Projeto Mutirão). Também coordenou o projeto de educação ambiental “Uma fruta no quintal” no município de Diadema. Esse é um dos motivos pelos quais todos os projetos realizados por Raul contaram com a participação mais ativa das comunidades locais em seus processos de viabilização, embora esse tipo (bem-vindo) de atuação não fosse prevista inicialmente pelos órgãos públicos189.

Além disso, as experiências anteriores bem sucedidas de Raul ocorreram em cidades com gestões do Partido dos Trabalhadores, linha ideológica com a qual o proissional já mantinha sólidos vínculos. A aceleração das obras de espaços livres públicos paulistanos custeados por compensações ocorreram na gestão Marta Suplicy, do Partido dos Trabalhadores. Pode- se perceber, desse modo, que a predominância de projetos direcionados à equipe de Raul deve-se tanto à sua reconhecida experiência na área, quanto a um contexto politicamente favorável à sua atuação.

A ainidade partidária, no entanto, não foi motivo suiciente para garantir luência no processo de viabilização dos projetos. A desorganização das equipes responsáveis pela aprovação dos projetos tornou o processo lento e tortuoso. Tal diiculdade pode ser exempliicada pelo caso do Parque Pinheirinho D’água, no qual alguns setores foram executados ao mesmo tempo em que outras áreas ainda aguardavam aprovação pelos órgãos públicos. A Arqta. Daniela Ramalho - que participou da equipe do Arq. Raul

Pereira na época de aprovação do Parque Pinheirinho D’Água - relata que a falta de sintonia entre alguns técnicos do DEPAVE e a realidade das obras chegava ao ponto de se exigir minúcias no detalhamento de áreas que não estavam mais disponíveis para projeto, devido a problemas na execução. Era o caso da área 4 do parque, sobre a qual foi construída a EMEF Rogê Ferreira. Mesmo durante a execução da ediicação, os técnicos da prefeitura discutiam o detalhamento da quadra antes prevista para o local190.

189. Cf. PEREIRA, Raul Isidoro. O senido da paisagem e a paisagem consenida. Tese de Doutorado. São Paulo, FAUUSP, 2006.

190. Informações fornecidas em entrevista realizada em 27.10.2005

Compensação ambiental: uma alternaiva para a viabilização de espaços livres públicos para convívio e lazer na cidade de São Paulo 158

A obtenção fragmentada de recursos para execução foi outra característica comum a todos os projetos aqui analisados. Por esse motivo, as obras de menor porte - Praça Anna dos Santos Figueiredo (4.000m2) e Nandina Haddad (5.600m2) foram completamente

executadas com verbas provenientes de compensações ambientais antes dos parques analisados. O projeto da Praça Silvio Romero teve apenas uma pequena parte executada e foi deinitivamente suspenso.

Com exceção do Parque Linear do Sapé, iniciativa mais recente que se vincula a um programa distinto, os demais projetos foram parcialmente executados e permaneceram desse modo por vários anos. Todos possuem maior porte, com mais de 30.000m2.Os

parques do Cordeiro e Jacintho Alberto tiveram suas obras retomadas no ano de 2006 e foram inalizados respectivamente em 2007 e 2008, com verbas orçamentárias próprias da SVMA, ao invés de TCAs.

Avanços e Retrocessos