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Preparando o terreno: a inserção das compensações ambientais na legislação brasileira e paulista

Legislação Federal

Como foi visto anteriormente, a aplicação das compensações ambientais no Brasil vincula- se ao processo de licenciamento. O estabelecimento desse vínculo ocorreu de forma gradativa.

A igura do Licenciamento Ambiental surge pela primeira vez no Brasil com a Lei Federal 6.938/81, inserido como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. A compensação ambiental aparece implícita, ainda de forma genérica, no conceito de responsabilidade objetiva, onde se airma que o poluidor é “obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.” 79

Em 1986, a Resolução 001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) consolida o uso do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) como principal ferramenta dos processos de licenciamento. As compensações aparecem novamente de forma implícita, quando o artigo 6º airma que o EIA deve conter a “deinição das medidas mitigadoras dos impactos negativos.” 80

Embora se abra espaço para o estabelecimento de medidas mitigadoras, as compensações ambientais arbóreas só serão previstas a partir da Resolução CONAMA 010 /87, sob a forma de “reparação aos danos ambientais causados pela destruição de lorestas e outros ecossistemas”81. Estabelece-se como medida compensatória para esses casos, a “implantação

de uma estação ecológica pela entidade ou empresa responsável pelo empreendimento, preferencialmente junto à área.” 82

O documento determina que o valor da compensação obedeça a um (polêmico) patamar mínimo de 0,5% do custo total da implantação do empreendimento, sendo proporcional ao dano a ser ressarcido e determinado pelo órgão licenciador ambiental.

79. Lei Federal 6.938/1981. Art.14 § 1º

80. Resolução CONAMA 001 /1986 Art. 6º

81. Resolução CONAMA 010 /1987 Art. 1º

Compensação ambiental: uma alternaiva para a viabilização de espaços livres públicos para convívio e lazer na cidade de São Paulo 50

Segundo Geluda e Young, estabelecer tal patamar é problemático:

[ao] interpretar que o valor da compensação deva ser calculado em função do valor do empreendimento, tal proposta penalizaria os projetos que mais gastassem em controle ambiental e beneiciaria aqueles nos quais os custos do investimento sejam os menores possíveis [...].83

Nesse sentido, os autores consideram que:

[...] a compensação ambiental deveria ser calculada de acordo com o dano causado, utilizando o instrumento de valoração ambiental, e não sobre o custo do investimento. Até porque o que deve ser compensado é o dano. Essa metodologia seria mais justa com os empreendedores que já incluem em seus custos as medidas de prevenção.84

Os autores também criticam as distorções conceituais se fazem presentes na aplicação da legislação de compensação ambiental pelo Poder Público brasileiro. O modo como as compensações são direcionadas em âmbito federal permite interpretar que estas são entendidas como um recurso orçamentário para o Estado85. Tal postura contribui para

consolidar a idéia de que quaisquer recursos naturais são passíveis de troca – neste caso, por recursos orçamentários - o que constitui uma grave falha conceitual.

Nove anos depois, a Resolução CONAMA 002/1996 torna preferencial (e não mais obrigatória) a implantação compensatória de estações ecológicas. Flexibiliza-se, desse modo, a aplicação de recursos nas unidades de conservação nacionais.

Em 1998, a Lei Federal 9.605, também conhecida como Lei de Crimes Ambientais, potencializou a aplicação de compensações ambientais no país, pois “[...] transformou em crime nove das quatorze condutas e atividades lesivas às lorestas e demais formas de vegetação [...]” 86. Ao estabelecer penalidades mais pesadas para os danos ambientais, a lei

acelerou o aparelhamento das esferas estaduais e municipais para aplicação da legislação. Nesse mesmo ano, a compensação ambiental começa a ser aplicada no Município de São Paulo.

83. GELUDA, L. ; YOUNG, C. E. F. . Financiando o Éden: Potencial econômico e limitações da compensação ambiental prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. In: IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Curiiba: Fundação O Boicário de Proteção à Natureza, 2004. v. 1. p.649

84. Ibidem. p. 649

85. GELUDA, L.; YOUNG, C. E. F. “Financiando o Éden: Potencial econômico e limitações da compensação ambiental prevista na Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.” In: IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, 2004, Curiiba. IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Curiiba: Fundação O Boicário de Proteção à Natureza, 2004. v. 1. p. 641-651.

86. SILVA FILHO, Carlos Alberto da. Proteção e fomento da vegetação no Município de São Paulo: possibilidades, alcance e conlitos. Tese de doutorado. São Paulo, FAUUSP, 2005. p.73

Além disso, a Lei de Crimes Ambientais estabelece87 a utilização do Termo de Ajustamento

de Conduta, mecanismo de compensação aplicado nos casos de reparação por danos causados ao meio ambiente.

Em 2000, a Lei 9.985 implanta o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Ao mesmo tempo, por meio do seu artigo nº36, consolida o conteúdo presente nas resoluções CONAMA 001/86 e 010/87. Nele se estabelece que, como medida compensatória para os casos de signiicativo impacto ambiental, “o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral [...]” 88. Tal princípio, regulamentado pelo Decreto Federal 4.340/2002, torna obrigatória

a aplicação de compensações ambientais no país.

A Medida Provisória 2166-67/2001, que acresce dispositivos ao Código Florestal89,

também faz menção às compensações ambientais ao airmar que “o órgão ambiental competente indicará, previamente à autorização de supressão de vegetação em área de proteção permanente, as medidas mitigadoras e compensatórias que deverão ser adotadas pelo empreendedor.”90.

Três anos depois, a Portaria 07/2004 do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) institui uma Câmara de Compensação Ambiental, responsável pela análise das medidas compensatórias em âmbito federal. Abre-se assim, precedente para a abertura de câmaras de compensação na esfera estadual (criada em São Paulo nesse mesmo ano) e municipal (criada um ano depois na cidade de São Paulo). Em complementação à criação da câmara, a Instrução Normativa IBAMA 47/2004 estabelece os procedimentos para a gestão da compensação ambiental.

87. Por meio da Medida Provisória 1710/98.

88. Lei 9.985/2000. Art. 36.

89. Lei Federal 4771/1965

Compensação ambiental: uma alternaiva para a viabilização de espaços livres públicos para convívio e lazer na cidade de São Paulo 52

Legislação Estadual

No Estado de São Paulo, a aplicação das compensações ambientais pela retirada de árvores é responsabilidade do Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DEPRN), órgão vinculado à Secretaria do Meio Ambiente (SMA).

Nos casos de supressão arbórea em sua jurisdição, o DEPRN trabalha com duas situações distintas: atividades extrativistas e degradação ambiental. A primeira delas envolve o consumo de matéria prima lorestal e possui critérios especíicos de avaliação que não constituem o foco desta pesquisa.

Os casos de degradação ambiental subdividem-se em duas hipóteses: a retirada de árvores autorizada pelo DEPRN (compensação) e a reparação de um dano já causado (ajustamento de conduta).

A autorização de cortes de árvore e a deinição da quantia compensatória são partes integrantes do processo de licenciamento ambiental, sendo expressas em um documento denominado Termo de Compromisso de Compensação Ambiental (TCCA).

Os parâmetros para aplicação das compensações ambientais arbóreas no Estado de São Paulo estão deinidos na Resolução 16 da Secretaria do Meio Ambiente, emitida em 2001. Em consonância com a Lei Federal 9.985/2000, o documento estabelece que o valor da compensação não seja inferior a 0,5% do custo total do empreendimento. Além disso, estipula o prazo máximo para cumprimento do termo, atrelando-o à emissão da licença ambiental.

Em 2004 é criada a Câmara de Compensação Ambiental, responsável pela avaliação dos casos de âmbito estadual.

O Departamento de Parques e Áreas