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O Departamento de Parques e Áreas Verdes de São Paulo (DEPAVE)

O entendimento da trajetória do DEPAVE mostra-se importante para a contextualização das compensações ambientais, uma vez que foi responsabilidade desse departamento a viabilização e aplicação do mecanismo na cidade de São Paulo.

O DEPAVE, com atribuições semelhantes às que se mantiveram durante sua história, tem origem no Departamento de Parques e Jardins do Município, criado em 196891 e mais

conhecido na época como Parque. Antes da criação desse departamento, as atribuições se restringiam à execução do plantio e à manutenção das áreas verdes, sendo deixadas a encargo de engenheiros agrônomos e jardineiros. A partir desse momento, as atividades projetuais - que antes, quando ocorriam, eram delegadas ao departamento de urbanismo – passam a ser de sua responsabilidade. O peril dos proissionais envolvidos também foi alterado, sendo que:

[...] passou a contar com uma equipe pluridisciplinar, composta de arquitetos, engenheiros agrônomos, engenheiros civis, além de agrimensores, projetistas e orçamentistas, com a atribuição de programar a implantação e elaborar integralmente os projetos de paisagismo das áreas verdes municipais.92

Somente em 1976 o departamento passou a se chamar DEPAVE93. Juntamente a essa

mudança, uma norma interna dividiu a responsabilidade pelos projetos paisagísticos conforme seu porte: áreas superiores a 5000m2 eram direcionadas ao departamento,

enquanto projetos com porte inferior a este eram realizados pelas Administrações Regionais94.

Nessa mesma época, em sintonia com o contexto de reestruturação do departamento, é solicitado pela Secretaria de Serviços Municipais um Plano de Áreas Verdes de Recreação para o Município de São Paulo. O trabalho, realizado entre os anos de 1967 e 1969 por equipe externa à Divisão de Parques e Jardins, foi coordenado pelas arquiteta-paisagistas Rosa Grena Kliass e Miranda Martinelli Magnoli95. O documento é (e permanece, ao

menos até o ano de 2008) pioneiro ao dimensionar a demanda, estabelecer critérios para

91. Lei Municipal n 7.108 de 10 de janeiro de 1968

92. BARTALINI, Vladimir. Parques públicos municipais de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo: FAUUSP, 1999. p. 148

93. Lei Municipal n 8.491/76

94. Atualmente denominadas Subprefeituras. Essa divisão de responsabilidades permaneceu, e se mantém até o momento (2008).

95. KLIASS, R. G. & MAGNOLI, M. M.. Áreas Verdes e Recreação. Município de São Paulo. São Paulo: PMSP, 1967-1969.

Compensação ambiental: uma alternaiva para a viabilização de espaços livres públicos para convívio e lazer na cidade de São Paulo 54

implantação e criar uma escala hierárquica para os espaços livres no Município de São Paulo. Foram também realizados mais de quarenta projetos paisagísticos detalhados96.

Embora tenha quantiicado com maior precisão a carência de espaços livres daquela época, além de ter estabelecido importantes parâmetros e referências; apenas alguns projetos paisagísticos previstos no plano foram efetivamente implantados.

Nos vinte e cinco anos seguintes à sua criação, a estrutura de funcionamento e a equipe do DEPAVE permaneceriam sem grandes alterações:

De 1968, ano de criação do Departamento de Parques e Jardins, a 1993, quando se tornou um Departamento da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente [...] sua composição e suas funções não se alteraram essencialmente, apesar das trocas de nome das Secretarias a que esteve subordinado, irmando-se como órgão produtor e executor de projetos e administrador de áreas verdes públicas municipais97.

O período mais fértil de produção e execução da equipe do DEPAVE ocorreu entre os anos de 1974 e 1984, quando foram executados cerca de 625mil m2 de praças e onze

parques públicos, que totalizaram quase 12.000.000m2 de área98. Excetuando-se as praças

feitas pela Companhia do Metropolitano de São Paulo e alguns projetos da EMURB, poucos foram os projetos paisagísticos públicos implantados nessa época cuja autoria não fosse da equipe do departamento99.

As características dos projetos realizados pela equipe do DEPAVE estavam em sintonia com várias diretrizes projetuais modernistas100. Destacam-se entre elas: a valorização do

emprego de vegetação nativa - em sua maioria de porte arbóreo; a utilização, sobretudo nos projetos de menor porte, de soluções formais de marcada geometria, com inluência dos projetos paisagísticos norte-americanos das décadas de 1940-50 (e dos projetos de Kliass e Magnoli para o Plano de Áreas Verdes) e a delimitação clara de funções de lazer ativo, tais como playgrounds e quadras esportivas.

As limitações de recurso e prazos também condicionaram bastante a forma de projetar do departamento:

96. BARTALINI, Vladimir. Parques públicos municipais de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo: FAUUSP, 1999. p. 171

97. Ibidem, p. 150

98. Ibidem, p.178

99. Cf. STESCHENKO, Wolfgang Sergio. Contribuição ao estudo e ao processo de produção da praça pública paulistana - o Departamento de Parques de Parques e Áreas Verdes de São Paulo de 1967 a 1979. Dissertação de Mestrado. São Paulo, FAUUSP, 2001.

100. MACEDO, Silvio Soares. Quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: FAUUSP, 1999. p. 55-100

Praça Cel. Custódio Fernandes Pinheiro (Praça do Pôr -do-Sol). Projeto realizado pela Arq. Miranda Magnoli de 1967, época do Plano de Áreas Verdes do município de São Paulo.

[...] com orçamentos limitados, prazos exíguos para confeccionar os projetos, equipe de projeto pouco diversiicada - composta basicamente por arquitetos e agrônomos - e com relações frágeis e esporádicas com outros órgãos da administração municipal, havia poucas condições favoráveis para projetos inovadores dentro do DEPAVE101.

A criação em 1993 de uma Secretaria Municipal especíica para questões de meio ambiente102 traria as primeiras mudanças substanciais do DEPAVE em muitos anos de

sua existência. Com essa alteração, o departamento passa a ser o mais importante dos três vinculados à recém criada Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente103

Além disso, o DEPAVE passa a ter 6 divisões internas. Uma delas é responsável pela concepção e viabilização de projetos paisagísticos (DEPAVE 1); outras duas são responsáveis por questões relacionadas ao manejo e manutenção da lora (produção de mudas e manejo e conservação). As três restantes correspondem a questões relativas à fauna, tecnologia e (curiosamente) planetários.

A inauguração dos parques Cidade de Toronto104 em 1992 e Burle Marx105 em 1993

estabelecem interação do DEPAVE com elementos externos à sua equipe . Esses foram

os primeiros projetos de parque desde 1968 cuja concepção e manutenção não foram realizados pelo departamento, sendo direcionados à iniciativa privada. Segundo Bartalini, esses projetos evidenciam os prenúncios de novos tempos no DEPAVE, caracterizados por maiores interações com a iniciativa privada para viabilização de espaços livres públicos e pela redução das atribuições projetuais do departamento106.

Devido às constantes restrições orçamentárias, ao número insuiciente de técnicos e ao contexto de aumento das participações da iniciativa privada, a produção de projetos do DEPAVE na década de 1990 declinou, se comparada a períodos anteriores. As atribuições do departamento passaram a estar muito mais ligadas à manutenção e iscalização dos espaços livres existentes e ao processo de licenciamento de novos empreendimentos no município.

101. BARTALINI, Vladimir. Parques públicos municipais de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo: FAUUSP, 1999. p. 182

102. Criada pela Lei Municipal 11.426/1993

103. Os outros dois departamentos são o DECONT (Controle de Qualidade Ambiental) e o DEAPLA (Educação Ambiental).

104. O parque, localizado no bairro de City América, é resultado de um programa de cooperação técnica entre as prefeituras das cidades de São Paulo e Toronto (Canadá).

105.“O projeto do parque Burle Marx constou, em parte, da recomposição do anigo jardim criado por Roberto Burle Marx em 1950, feita com a supervisão do escritório Burle Marx e Cia. Ltda. e, em parte da adaptação do restante do terreno para parque público, feita com a consultoria da irma KRAF- Planejamento Ambiental” BARTALINI, Op. cit. p. 150

106. BARTALINI, Op. cit. p.150

Parque Burle Marx.

Fabio R

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Como o departamento não sofreu mudanças signiicativas em seu corpo técnico ao longo de sua história, as equipes que nas décadas de 1970 e 1980 trabalharam prioritariamente com o projeto de praças e parques, tiveram de se adaptar a uma nova realidade. Em decorrência da retirada das atribuições projetuais, surgiram conlitos entre os representantes do Poder Público e da iniciativa privada107.

Em 1998, as compensações ambientais começam a ser aplicadas em São Paulo, inseridas em um contexto de terceirização de serviços. O mecanismo se torna uma fonte alternativa de captação de recursos para novos projetos, atenuando um dos maiores problemas sempre enfrentados pelo departamento.

Por outro lado, a consolidação do uso das compensações ambientais em São Paulo acentuou a redução das atribuições projetuais do departamento. Isto se deve à própria natureza do mecanismo, que delega diversas responsabilidades - tanto projetuais como de manutenção - à iniciativa privada. Como será visto mais à frente, dos projetos custeados por compensações ambientais, apenas o Parque da Vila Prudente foi inteiramente executado pela equipe do DEPAVE108.

Nos anos 2000, a responsabilidade do departamento pelos projetos paisagísticos no município declina ainda mais. O Programa Centros de Bairro - a ação quantitativamente mais relevante para produção de espaços livres em São Paulo nessa década - foi direcionado pela prefeitura à equipe da EMURB. Desejava-se que todos os espaços livres solicitados fossem concluídos até o ano de 2004, im do mandato vigente na época. A rapidez exigida no processo de produção não se mostrava compatível com as sucessivas reduções de produção que o DEPAVE sofreu desde a década de 1990.

A partir de 2007, passa a ser viabilizada a construção dos parques lineares previstos no Plano Diretor de 2002. Vários desses novos espaços livres são custeados por compensações ambientais. A maioria dos projetos é elaborada pela equipe da Coordenadoria de Planejamento Ambiental e Ações Descentralizadas (COPLAN), diretamente vinculada à Secretaria do Verde e Meio Ambiente. Poucos icam ao encargo do DEPAVE.

107. As relações conlituosas decorrentes da aplicação das compensações ambientais em São Paulo serão aprofundadas mais à frente.

108. Nos demais projetos, como o Parque Pinheirinho D’Água, a equipe DEPAVE seria responsável por apenas uma parte, em geral o estudo preliminar ou anteprojeto. O detalhamento inal icava ao encargo de escritórios privados.

Evolução (e algumas involuções) da

compensação ambiental na cidade de São Paulo