• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS

2.1. Considerações gerais: o ato de classificar

Definição dos critérios classificatórios. 2.3. Classificação intranormativa – critério classificatório único. 2.4. Classificação internormativa – três critérios classificatórios. 2.4.1. Tributos não vinculados, não destinados e não restituíveis. 2.4.2. Tributos não vinculados, não destinados e restituíveis. 2.4.3. Tributos não vinculados, destinados e não restituíveis. 2.4.4. Tributos não vinculados, destinados e restituíveis. 2.4.5. Tributos vinculados, não destinados e não restituíveis. 2.4.6. Tributos vinculados, não destinados e restituíveis. 2.4.7. Tributos vinculados, destinados e não restituíveis. 2.4.8. Tributos vinculados, destinados e restituíveis. 2.4.9. Síntese da classificação internormativa. 2.5. Da relação da classificação das espécies com a norma de competência tributária.

2.1. Considerações gerais: o ato de classificar

Os entes da federação são detentores de diversas competências, destacando-se, dentre elas, a tributária60. A Constituição Federal, em sua função

60

CARAZZA, Roque. Curso de direito constitucional tributário, 19º Edição, Editora Malheiros, são Paulo, 2003. Para o autor, competência tributária é a aptidão legislativa atribuída aos entes da federação para criarem, in abstrato, tributos. No mesmo sentido, CARVALHO, Paulo de Barros.

Curso de Direito Tributário, 15ª ed, São Paulo, Editora Saraiva, 2003, pág. 225. “O tema das

de organizar o Estado Brasileiro, procedeu a previsão, distribuição e limitação da competência tributária de cada ente da federação.

Nesta seara nos interessa, neste momento, algumas considerações acerca da classificação do produto do exercício desta competência tributária, ou seja, acerca das espécies de tributos.

Para iniciar tal processo, importante lembrarmos, mesmo que de maneira superficial, o conceito de nosso elemento de classificação, qual seja, o tributo. Afinal, para nosso trabalho, este conceito mostra-se como um conceito fundamental. 61

Partindo da acepção dada pelo art 3º do CTN, o tributo é conceituado como uma obrigação compulsória, pecuniária, não sancionatória, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Apesar das

constitucional. Uma vez cristalizada a limitação do poder legiferante, pelo seu legítimo agente (o constituinte), a matéria se dá por pronta e acabada, carecendo de sentido sua reabertura em nível infraconstitucional.

A isso não atinou o legislador do Código Tributário, que, desordenadamente, tomou como seu o mister de bosquejar normas de tamanha grandeza e dimensão incompatível com os objetivos que se propunha desenvolver. Mas o produto dessa postura apressada veio célere: as regras jurídicas encartadas no Título II da Lei nº 5.172/66, arts. 6º a 15, exprimem, na sua maioria, repetições inócuas do Texto Maior, remanescendo poucas disposições aproveitáveis para a racionalidade do sistema tributário brasileiro. A essa crítica respondem certos defensores dos desacertos legislativos, exaltando os efeitos didáticos que tais preceitos encerrariam. Mas a desculpa não convence. Peleja contra ela a natureza prescritiva da linguagem do legislador, e, sobretudo, a hierarquia dos escalões do direito, demarcada com linhas indeléveis na plataforma da Constituição. Espera-se da legislação complementar o cumprimento dos desígnios fixados na Constituição, nada mais. O bom desempenho dessa árdua tarefa tem o condão de esgotar a atribuição constitucional, que não reclama, em momento algum, o exercício dos pendores didáticos do legislador, ainda que expressos por amor à clareza e à fácil compreensão das disposições normativas.”

61

Nas palavras de LOURIVAL VILANOVA, conceito fundamental para o direito é “ aquele sem o qual não é possível ordenamento jurídico” (Causalidade e relação no direito, 4ª Edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2000, pág. 162). Este conceito foi lembrado por EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI, em seu artigo intitulado “As classificações no Sistema Tributário Brasileiro”.

inúmeras críticas à tal definição62, não podemos deixar de tomá-la, ao menos, como referência inicial ao nosso trabalho de busca de seus traços conotativos.63

Ao proceder a tal trabalho, nada mais estaremos fazendo do que atribuindo nome às diferentes manifestações tributárias, ou seja, buscando e comparando as denotações possíveis.

Vale dizer, desde já, que todo ato classificatório é humano, de forma que a busca de critérios classificatórios, de atribuição de classes e gêneros, de escolha de formas, sempre representará uma certa postura ideológica do agente classificador.

Toda classificação visa dar nome às coisas. Mas o “dar nome” nada mais é que uma atribuição relacional, ou seja, escolhemos determinados signos, conforme nossa conveniência, definimos as características que desejamos identificar para tal categoria (conotação) e partimos para a busca de seus elementos (denotação).

Como bem lembra EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI, citando RICARDO GUIBOURG:

... as coisas não mudam de nome; nós é que mudamos o modo de nomear as coisas. Portanto, não existem nomes verdadeiros das coisas. Apenas existem nomes aceitos, nomes rejeitados e nomes menos aceitos que

62

PAULO DE BARROS CARVALHO elenca diferentes acepções para o termo tributo: (i) quantia em dinheiro, (ii) prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo, (iii) direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo, (iv) relação jurídica tributária, (v) norma jurídica tributária e (vi) norma, fato e relação. Aliado a isso, critica o conceito contido no art. 3º do CTN. (Curso de Direito

tributário, 17º Ed, São Paulo, Editora Saraiva, 2005, p. 19). 63

Denotação é o conjunto de objetos que cabem numa palavra; conotação é o conjunto de requisitos que justificam a inclusão ou não de um objeto numa classe. (Conforme GUIBOURG, Ricardo, GUIGLIANI , Alejandro e GUARINONI , Ricardo, Introducción al conocimiento científico, Buenos Aires, Editora EUDEBA, 1985, p. 41.

outros. A possibilidade de inventar nomes para as coisas chama-se liberdade de estipulação. Ao inventar nomes (ou aceitar os já inventados), traçamos

limites da realidade, como se a cortássemos idealmente em pedaços; ao

assinalar cada nome, identificamos o pedaço que, segundo nossa decisão, corresponderá a ele.64

Escolhemos os nomes a fim de proceder a cortes arbitrários que nos reduzam complexidades. PAULO DE BARROS CARVALHO bem lembra que “ao mesmo tempo em que todos os nomes são nomes de uma coisa, real ou imaginária, nem todas as coisas tem nome privativo”65, o que apenas nos demonstra que a classificação está, realmente, na cabeça e na intenção do agente classificador.

Neste sentido, com clareza manifesta-se ROQUE CARAZZA, nos seguintes termos:

Classificar é o procedimento lógico de dividir um conjunto de seres (de objetos, de coisas) em categorias, segundo critérios preestabelecidos. As classificações objetivam acentuar as semelhanças e dessemelhanças em diversos seres, de modo a facilitar a compreensão do assunto que estiver sendo examinado. Isto nos leva a concluir que as classificações não estão no

64

SANTI, Eurico Marcos Diniz de. As classificações no sistema tributário brasileiro, Justiça tributária, São Paulo, Editora Malheiros, p. 127.

65

CARVALHO, Paulo de Barros. Regras gerais de interpretação da tabela NDN/SH (TIP/TAB), Revista Dialética de Direito tributário nº 12, p. 53.

mundo fenomênico (no mundo real), mas na mente do homem (agente classificador). 66

Estas reflexões, contudo, ao se referirem ao direito positivo, não gozam de tamanha liberdade. As classificações do direito positivo somente podem tomar por critérios o próprio direito positivo. Não seria jurídica uma classificação que utilizasse critérios derivados da economia, ou da política.67 A classificação jurídica deve, necessariamente, partir e tomar por base a essência do ordenamento jurídico, qual seja, a norma jurídica. 68

São as palavras do Professor PAULO DE BARROS CARVALHO, ao dispor sobre a atividade de classificação:

Antes de qualquer coisa, porém, uma advertência que me parece oportuna: tratando-se de classificação produzida na linguagem prescritiva do direito, está informada por critérios exclusivamente jurídicos. As diretrizes que orientam a distribuição das posições, sub-posições, itens e sub-itens, devem ser pesquisadas nos limites do ordenamento positivo Brasileiro. 69

Assim, ao nos propormos a proceder à atividade classificatória dos tributos, temos que, inexoravelmente, realizar nossa análise a partir dos

66

CARAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário, 18º Edição, São Paulo, Ed Malheiros, 2003, p. 305.

67

Neste sentido, manifesta-se EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI; “Nas classificações jurídicas, os referenciais são os conceitos cunhados prescritivamente pelo direito.” (As classificações no

sistema tributário brasileiro, Justiça tributária, São Paulo, Editora Malheiros, p. 132). 68

CARAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário, 18º Edição, São Paulo, Ed Malheiros, 2003, p. 309. Norma jurídica, nesta afirmação, pode ser tomada como os enunciados constantes dos textos legais introduzidos validamente no sistema.

69

CARVALHO, Paulo de Barros. Regras gerais de interpretação da tabela NDN/SH (TIP/TAB), Revista Dialética de Direito tributário nº 12, p. 53.

enunciados constitucionais que versem acerca de tributos e suas espécies. Partindo destes enunciados, poderemos estabelecer uma classificação jurídica, eis que pautada em dados jurídicos.