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Do controle da competência pelos critérios de validação material e formal

CAPÍTULO III – A NORMA JURÍDICA DE COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

3.6. Do controle da competência pelos critérios de validação material e formal

Toda a definição de critérios para a estrutura da norma de competência, como não poderia deixar de ser, tem uma finalidade: o controle da validade das normas produzidas pelo sujeito titular da competência. 121

Isso quer significar que, ao receber a atribuição de competência pela norma introduzida, o sujeito ativo será titular da faculdade de seu exercício, sempre dentro e respeitando os critérios delimitadores da autorização. A competência deve ser exercida respeitando-se os critérios materiais e formais, sob pena de invalidade.

Desta forma, podemos vislumbrar que os agentes habilitados do sistema para proceder ao controle da validade das normas (normas de revisão sistêmica, nas palavras de TAREK MOISES MOUSSALLEN)122, deverão ater sua análise aos critérios de validação da autorização, tanto no que se refere aos elementos materiais, quanto aos elementos formais.

121

PAULO ROBERTO LYRIO PIMENTA estabelece, como critérios para o controle de constitucionalidade das contribuições a verificação do respeito aos princípios da (i) capacidade contributiva, (ii) isonomia, (iii) razoabilidade, (iv) proporcionalidade, (v) preservação do núcleo essencial do direito e (vi) finalidade. (PIMENTA, Paulo Roberto Lyrio. Contribuições de intervenção

no domínio econômico, São Paulo, Dialética, 2002, p. 83). 122

3.6.1. Do controle da validade pelo critério de validação material

Conforme adotamos inicialmente, a validade da norma está relacionada com o respeito ao procedimento de sua enunciação, assim como ao conteúdo de tal enunciação, ou seja, seu aspecto semântico.

Assim, ao analisarmos a edição da norma instituidora do tributo, i.é, a regra matriz de incidência tributária de determinado tributo, devemos proceder, imediatamente, a análise acerca do respeito aos aspectos materiais da norma definidora da competência.

Em outras, palavras, se a norma introduzida pelo exercício da competência deve retratar os contornos definidos na norma introduzida pela definidora da competência, nada mais natural do que imaginarmos que a norma introduzida respeite os elementos da norma de competência.

Assim, entendemos que a norma produzida pelo exercício da competência deve prever a mesma materialidade, a mesma destinação e a mesma restituição definida na norma atribuidora de competência. A RMIT deve respeitar os contornos da norma definidora da competência.

Assim, ao editar uma norma introdutora de um tributo da espécie imposto, esta norma deve ser construída respeitando os elementos da materialidade não vinculada, de ausência de destinação a ausência de restituição obrigatória. Assim como, ao editar uma norma instituidora de uma contribuição, deve ser respeitada a materialidade não vinculada, a presença da destinação obrigatória, assim como a ausência de restituição.

Obviamente, ao trabalharmos com o sistema de referência que entende não haver direito se não retratado em linguagem competente, entendemos que a lei instituidora do tributo, produto de exercício da competência, deve prever os elementos essenciais da norma de competência, quais sejam, a materialidade, a destinação e a restituição.

Todos os enunciados relativos a determinado tributo devem respeitar os contornos definidos na regra definidora da competência. Assim, violará a Constituição Federal o enunciado que preveja destino específico à receita de impostos, vinculação a materialidade de imposto, desvinculação de receita de contribuições, e assim sucessivamente.

Desta forma, os enunciados estarão em franca colisão com a norma de competência, de modo que a norma inserida pela regra matriz de incidência produzida deverá ser determinada inválida, por intermédio de sua expulsão do sistema (após a produção de nova norma, nova linguagem).

Portanto, percebemos que os elementos materiais são importantes na definição da validade da norma introduzida pelo exercício da competência.

3.6.2. Do controle da validade pelo critério de validação formal

Já no que se refere ao controle decorrente da validação formal, temos a necessidade do respeito ao procedimento para a criação e introdução dos enunciados relacionados ao tributo.

Vimos que a norma de competência definirá o sujeito competente, a espécie normativa, o procedimento sintático da enunciação da norma. Esta

definição, obviamente, não se faz sem propósito. A norma decorrente de enunciados produzidos sem o respeito às formalidades definidas na norma de competência serão, obviamente, viciadas. Estas normas poderão ser expulsas do sistema, pela produção de nova norma, pelos agentes competentes para tal controle.

Mais uma vez, a norma de competência serviu de referência para a verificação da validade da norma instituidora do tributo, apesar de seus efeitos imediatos se referirem apenas à definição da norma de competência, e não a RMIT especificamente.

Importante perceber que entendemos pela possibilidade de controle da validade tanto pelo critério material, como pelo critério formal. Ambos os aspectos podem ser verificados na busca da conformação dos critérios de validade.

Não discordamos da argumentação no sentido de que as normas inseridas no sistema gozam de uma presunção de validade, sob pena do sistema jurídico tornar-se inoperável.

Esta presunção parte da idéia de que os enunciados produzidos com um mínimo de juridicidade devem ser considerados válidos, até que outra norma os retire do sistema, reconhecendo sua invalidade. Esta presunção decorre, normalmente, do procedimento de produção, chamados por nós de critério de validação formal.

O respeito ao procedimento de enunciação da norma gera uma presunção de validade formal. Nas palavras de PAULO DE BARROS CARVALHO, temos:

E ser norma válida quer significar que mantém relação de pertinencialidade com o sistema ‘S’, ou que nele foi posta por órgão legitimado a produzi-la, mediante procedimento estabelecido para este fim. 123

Nas palavras de EURICO MARCOS DINIZ DE SANTI, em sentido similar, temos:

Se, na composição deste fato jurídico, temos o ato de um agente reconhecido pelo ordenamento como competente, posto em conformidade com o procedimento previsto para a criação do adequado veículo normativo pelo sistema, então temos uma norma jurídica válida.124

Contudo esta validade formal não exaure nossa análise. A norma definidora de competência, ao estatuir critérios outros além do procedimento formal, do processo de enunciação, acaba por exigir que se verifique, também, estes demais elementos. Assim, posta a norma no sistema, seguindo-se um procedimento normalmente apto, com um mínimo de juridicidade, esta norma deverá ser considerada válida até que seja analisada, pelos órgãos competentes, com base nos critérios de validação formal e material. Até a produção desta nova norma, entendemos pela existência da presunção de validade no sistema.

Concluindo o presente capítulo, portanto, entendemos extremamente relevante a definição dos critérios de validação da norma de competência, na

123

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito tributário, São Paulo, Editora Saraiva, 2005, pág 81.

124

medida em que sentiremos necessários reflexos de seus contornos na análise da norma produzida pelo ente detentor da competência, o ente enunciador da regra matriz de incidência tributária.