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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1.7 Considerações Gerais

Observa-se que este projeto apresenta, além de rentabilidade bastante apreciável, resultados excepcionais e estratégicos no aspecto social, uma vez que cria oportunidades de emprego geradas no interior do estado, reduzindo a pressão demográfica na capital - Manaus.

Que contribui para o aumento da oferta de proteína animal de alta qualidade com amplas possibilidades de utilização, aproveita o enorme potencial extrativista, reconhecido por ALENCAR et al. (2007); SILVA & MELO (2001) e BENCHIMOL (2000), ainda sub-explorado, da maior bacia hidrográfica do mundo processando espécies ícticas de baixa ou nenhuma utilização pela indústria e/ou população local.

Confrontando as observações anteriores com as dificuldades de se desenvolver economicamente a Amazônia, destacadas por CLEMENT & VAL (2003) e MARCOVITCH (2005), vislumbra-se a possibilidade deste projeto ser uma opção para se iniciar a definição de uma política de uso responsável dos recursos naturais e humanos da Amazônia.

Dessa forma, a implantação de pequenas empresas como essa no estado do Amazonas além de ocupar a mão-de-obra local utilizando matéria-prima local (atendendo às críticas de SANTOS e SANTOS, 2005) reduzirá a taxa de desemprego no Estado/País fixando o amazônida em seu local de origem, realizando atividades conhecidas, herdadas de gerações passadas como parte de seu patrimônio cultural.

Somente o projeto piracui, nas dimensões aqui apresentadas e avaliadas, disponibiliza 15 postos de emprego diretos. Externamente à planta, pelo menos 11 pescadores além de seus auxiliares estarão comprometidos com o fornecimento diário de 1.150 kg de acari-bodó ou 752 kg de aruanã, considerando uma produção média diária de 95 a 126 kg/dia/pescador.

Outros postos serão abertos voltados para o suprimento de insumos para essa captura, bem como em consequência do capital que o projeto fará circular na cidade de Careiro da Várzea. Poderá contribuir com entradas de divisas no país, caso tenha a aceitação que se espera, como nos casos de vários outros produtos que levam ao exterior o selo “Amazônia”, e incrementar a indústria pesqueira do estado incentivando um crescimento ordenado e racional desse setor, favorecendo a redução do desperdício e aproveitando melhor a proteína animal em abundância na região.

A possibilidade do processamento exclusivo (durante os 12 meses do ano) da espécie acari-bodó pela empresa é uma expectativa que depende de resultados de estudos que possam garantir um volume mínimo de captura próximo dos 1.150 kg necessários para suprir a demanda desta matéria-prima para a planta, com base em sua capacidade projetada, sem afetar a dinâmica reprodutiva dos estoques dessa espécie.

As informações pessoais coletadas e as evidências observadas ao longo do período de realização dessa pesquisa indicam a existência de um potencial capaz de sustentar uma produção, pelo menos, cinco vezes maior do que a deste projeto, ou a instalação de quatro novas plantas com mesma capacidade desta, apenas na região que envolve o Careiro da Várzea e vizinhanças.

Uma estimativa oficial dessa capacidade de produção de acari-bodó, cuja pesca é caracterizada como de subsistência, na região em estudo, é improvável devido à falta de registros que a identifique e particularmente pela baixa freqüência da espécie nos portos de desembarques pesqueiros do Estado.

SANTOS e SANTOS (2005) caracterizam a pesca de subsistência como aquela desenvolvida por pescadores ribeirinhos destinada à sua alimentação e à de seus familiares, que quando bem-sucedida parte da produção pode ser vendida a intermediários ou em feiras das vilas

mais próximas. Trata-se de uma atividade difusa, praticada por milhares de pessoas e, por isso, sua produção é difícil de ser quantificada.

Na verdade, a multiplicação de empresas como essa é uma estratégia proposta neste trabalho no sentido de superarmos nossa deficiência quanto à falta de informações precisas e atualizadas sobre os estoques pesqueiros, destacada por ISAAC et al. (2008), e sobre a produção pesqueira no Amazonas que, segundo BATISTA et al. (2004) e COSTA et al. (2009), não inclui o consumo dos ribeirinhos, nem os inúmeros desembarques clandestinos nas regiões de fronteira nem os das feiras populares dos municípios amazonenses.

Para tanto, sugere-se a implantação de micro e pequenas indústrias (com o padrão deste projeto) em pontos estratégicos ao longo das extensas calhas de nossos rios, evidentemente monitoradas. Assim, caso se observe a proximidade do limite da capacidade de fornecimento de matéria-prima, ou qualquer sinal de sobre-explotação da(s) espécie(s) utilizada(s), uma ou mais empresas instaladas seriam forçadas, pela natureza do mercado, a abandonar a atividade. Porém, sem deixar grandes prejuízos financeiros ou ecológicos, como seria no caso de uma grande empresa.

O que é incorreto prevalecer é a não exploração de tão precioso recurso exclusivamente por falta de informações que determinem qual espécie, época e quantidade será explorada. Este procedimento emperra e/ou torna muito lento o desenvolvimento do setor pesqueiro na maior bacia hidrográfica do mundo.

Quanto ao desempenho do acari-bodó com uso exclusivo (ano inteiro) neste projeto, apesar de seu baixo rendimento em músculo quando comparado ao do aruanã e de outras espécies que se adequam à elaboração de piracui, mantém a mesma TIR e o mesmo ponto de equilíbrio da planta original, apenas o tempo de retorno é superior ao da planta integral (a que usa acari-bodó por 7 meses e aruanã por 5 meses ao ano).

Por sua vez, o aruanã, espécie estratégica para substituir o acari-bodó, devido a seu valor nutritivo, aceitação no mercado, rendimento superior e adequação à produção de piracui, apesar de seu preço mais elevado, quando utilizado como matéria-prima exclusiva da planta, apresenta ηR = 2,53 anos, superior, mas, próximo ao da planta integral.

O fato de o piracui ser conhecido e preferido quando elaborado a partir do acari-bodó e do aruanã vir em ascensão no mercado, considerado regionalmente “pirarucu do pobre”, representando 3,84% de todo o pescado capturado no estado do Amazonas (COSTA et al., 2009), pode vir a limitar seu uso para produção de piracui. Apesar da constatação pessoal (outubro de 2009) da venda do aruanã a um determinado frigorífico, no município de Fonte Boa - AM, a preços inferiores aos informados neste trabalho.

Os resíduos sólidos do processamento dessa planta serão aproveitados, parte para a produção de ensilado biológico ou farinha artesanal de pescado e parte para produção de composto orgânico (carcaças, placas, escamas, peles e vísceras). Este procedimento minimiza sensivelmente os efeitos da contaminação reduzindo ao máximo o impacto ambiental dessa atividade, ampliando sua capacidade produtiva e sua receita. Os custos, investimentos e receitas, provenientes desta atividade, bem como área física a ela destinada, não são considerados ou apresentados na análise desse projeto.

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