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Considerações sobre as gestões de Paulo Salim Maluf e Celso Pitta e o Projeto de Urbanização de Favelas com Verticalização

Lista de siglas

Capítulo 03: Políticas públicas habitacionais

3.1. A gestão de Luiza Erundina

3.2.1 Considerações sobre as gestões de Paulo Salim Maluf e Celso Pitta e o Projeto de Urbanização de Favelas com Verticalização

PROVER

Sobre a administração de Paulo Salim Maluf, entre 1993-1997, na cidade de São Paulo, Amaral apresenta crítica que segue:

A administração de Maluf destruiu a política municipal de habitação. [...] Cerca de 124 empreendimentos foram paralisados e se deterioraram, acarretando um criminoso desperdício de recursos públicos. Foram interrompidos os programas de cortiços e de assistência jurídica. As favelas multiplicaram-se e foram cortados os canais de diálogo com os movimentos de moradia. Os moradores de alojamentos provisórios lá permaneceram, em situação extremamente precária. A falta de uma política de habitação, no período, contribuiu para que as condições de vida de um número significativo de pessoas se deteriorassem (AMARAL, 2002, p. 27).

Enquanto a gestão anterior, de Luisa Erundina, caracterizou-se pela abertura à participação popular, durante os governos de Paulo Maluf e Celso Pitta acontece o inverso, com a limitação da participação popular. Os governos de Maluf e Pitta foram marcados por uma rejeição à participação popular nas políticas sociais, e, nas políticas habitacionais houve prioridade

no estabelecimento de parcerias com as grandes empreiteiras, optando assim, pela construção das unidades habitacionais de pior qualidade e de custo mais caro em relação aos mutirões autogestionados do Movimento de Moradia.

Outro elemento marcante desta gestão foi institucional e diz respeito à desarticulação das estruturas administrativas e procedimentos relacionados com as políticas no governo anterior, de acordo com Marques e Saraiva (2005) levando à perda das capacidades construídas anteriormente e ao fortalecimento da terceirização dos serviços técnicos, que se tornou amplamente predominante a partir de então.

Com a desativação das diretorias descentralizadas da Superintendência de Habitação Popular e o desligamento de grande parte dos funcionários responsáveis pelo trabalho técnico, em termos operacionais, o setor viveu um sucateamento técnico e material, tornando-se dependente de gerenciadoras e empresas de consultoria de engenharia. “Talvez essa tenha sido a mais significativa perda para as políticas, já que até o presente momento a estrutura do setor da habitação nunca mais alcançou o patamar da primeira gestão do Partido dos Trabalhadores - PT” (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 280).

A ideia inicial do programa, concebido na gestão de Luiza Erundina (1989- 1993), era viabilizar a urbanização de grandes favelas que exigiriam a remoção de considerável número de moradias para a implantação de redes de infraestrutura. Conforme Samora (2009), os edifícios seriam implantados em quadras inteiras, demolidas no interior das favelas, e serviriam como “áreas pulmão” para deslocamento de moradores destes locais, permitindo a implantação de infraestrutura em todo assentamento.

Porém, na gestão de Paulo Maluf, o programa teve outra função, e os edifícios foram “implantados nos locais de maior visibilidade, funcionando como peças de marketing estrategicamente plantadas em avenidas da cidade para esconder o restante das quadras da favela” (SAMORA, 2009, p. 95).

A escolha das favelas integrantes do PROVER, ocorreu de acordo com sua visibilidade e propaganda, ao invés das reais necessidades urbanísticas da Cidade de São Paulo e suas favelas mais deficientes. Nota-se uma tendência acentuada de escolha de terrenos em favelas que estavam próximas à grandes vias de circulação da cidade.

[...] A urbanização não alcançava a totalidade das favelas, e não tinha nenhuma consideração pelas condições urbanísticas existentes ou pelas características locais. Esse problema foi parcialmente corrigido ao longo do governo Pitta, mas o programa continuou com o mesmo padrão, sem grandes preocupações urbanísticas ou arquitetônicas, exceto a garantia de visibilidade (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 281).

Quanto à urbanização e acesso à infraestrutura das favelas que receberam o Projeto Cingapura, apenas alguns setores das favelas eram verticalizados, enquanto o restante da favela permanecia sem nenhuma intervenção urbanística nem serviços de infraestrutura urbana e não teve seus espaços públicos qualificados, mostrando um descompromisso em relação à integração da favela com o restante da cidade.

Em relação à questão fundiária, o projeto não efetuou a regularização das áreas onde estavam as unidades, que permaneciam irregulares, impedindo que os moradores tivessem escritura definitiva de seus apartamentos.

A maioria das intervenções ocorreu em locais de situação fundiária muito complicada, sem que o programa equacionasse a questão. Como consequência, até hoje quase nenhuma área foi regularizada. O problema é especialmente grave porque, ao contrário de outras ações em favelas, os

moradores dos conjuntos têm suas unidades financiadas e deveriam se tornar proprietários plenos depois da quitação (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 281).

Além da questão fundiária, outro problema foi a ênfase dada à venda não subsidiada de unidades novas para a população de piores condições sociais da cidade. De acordo com Marques e Saraiva (2005), como foram vetados os subsídios para a construção de unidades, e como os moradores das favelas foram atendidos compulsoriamente, o programa simplesmente se mostrou inviável a médio prazo.

Assim, foram construídas unidades que, além de apresentar baixa qualidade e situação fundiária irregular, eram vendidas para uma população que não conseguiria pagar nem mesmo o valor do condomínio dos prédios, quanto mais quitar as prestações.

D´Alessandro (1999) complementa com a afirmação que as intervenções do Cingapura foram marcadas por recusas e mobilização dos moradores em participar do processo devido à sua forma autoritária e desrespeitosa.

padrão de cinco pavimentos, predominantemente em forma ‘H’, que definiu a “cara” do programa, sendo implantada esta tipologia na maioria dos conjuntos, o que resultou em grandes movimentações de terra, “as tipologias dos edifícios não eram definidas em função das necessidades de cada área, e por isso, eram necessárias grandes movimentações de terra para a sua implantação” (SAMORA, 2009, p. 95).

Sobre a tipologia dos apartamentos, há uma crítica sobre a metragem apresentada ser insuficiente para o perfil das famílias residentes, como segue:

Inadequação da tipologia fornecida: a tipologia de 42m² era insuficiente para as necessidades da maioria das famílias, muitas das quais numerosas. Além disso, os apartamentos foram entregues sem revestimentos, o que acelerou o seu processo de deterioração. As tipologias [...] [que] possuíam elevadores, [...] encareciam a manutenção do condomínio e, em muitos edifícios, foram desativados (SAMORA, 2009, p. 97).

A tipologia de 42m² não satisfaz famílias numerosas, mas tal situação, não é exclusiva do Projeto de Urbanização de Favelas com Urbanização - PROVER. A maioria dos projetos de urbanização de favelas apresenta

metragem semelhante6. A questão sobre os condomínios possuírem ou não elevadores gera controvérsias: o elevador encarece a manutenção do condomínio, mas condomínios que não apresentam elevadores, são prejudicados em relação à acessibilidade. Mesmo com apartamentos nos térreos para portadores de necessidades especiais, a acessibilidade aos outros apartamentos, principalmente os que se encontram no quinto andar, gera problemas para uma pessoa que esteja temporariamente apresentando necessidades especiais, pessoas transportando compras e idosos. A implantação do elevador se justifica dentro do conceito de que a casa deve atender à todas as fases da vida.

O governo Celso Pitta (1997-2000) pode ser caracterizado em primeiro lugar por ter continuado a construção de unidades do Projeto Cingapura em um ritmo mais intenso que no governo anterior. Sobre esta administração, as iniciativas habitacionais continuaram priorizando a construção de unidades novas, em oposição à urbanização das favelas, “assim como à tentativa de financiar imóveis novos sem subsídios para uma população de

6 O Conjunto Residencial Alexandre Mackenzie, do arquiteto Marcos Boldarini, que

faz parte da Urbanização da Favela Nova Jaguaré, apresenta área total dos apartamentos entre 48 e 50m²; o projeto de Ruy Ohtake, para o programa de urbanização da Favela Heliópolis, conta com unidades de 50m².

situação socioeconômica muito precária” (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 285).

O PROVER – Programa de Urbanização de Favelas com Verticalização encerra-se com o não cumprimento das propostas apresentadas. As favelas participantes deste programa - que já inicia-se com a escolha das áreas devido à sua localização e visibilidade, não da real precariedade, riscos geotécnicos e necessidades de infraestrutura - não foram urbanizadas, ao contrário, foram ‘escondidas’ pelos conjuntos do programa, que não levava em consideração as condições urbanísticas existentes ou as caraterísticas locais, deixando o restante da favela sem nenhum intervenção.

As áreas escolhidas, na sua maioria, apresentavam problemas de regularização, que não foram solucionados durante as gestões de Paulo Maluf e Celso Pitta. Somada à isso, ao longo das gestões, foi cortado o subsídio do programa, tornando os apartamentos com custo elevado aos moradores. Portanto, além de pagarem um alto preço por unidades habitacionais de baixa qualidade, esse moradores não tornaram-se proprietários, pois a não regularização das áreas impediu que tivessem a escritura de sua moradia.

Os problemas expostos sobre o PROVER, mostra o desleixo desta gestão em relação à questão habitacional.

3.2.2 O Projeto de Urbanização de Favelas com Verticalização