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Gestão Marta Suplicy: O Programa Bairro Legal

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3.3. Gestão Marta Suplicy: O Programa Bairro Legal

No dia 1º de janeiro de 2001, assume a prefeitura de São Paulo, a psicóloga Marta Suplicy (2001-2004), eleita pelo Partido dos Trabalhadores. “Seu governo caracterizou-se como contraposição aos dois anteriores e deu início a uma série de novos programas” (FRANÇA, 2009, p. 54).

De acordo com o Balanço qualitativo de gestão: 2001-2004, da SEHAB, havia seis objetivos na Política Habitacional e de Desenvolvimento Urbano, na gestão de Marta Suplicy:

1. Promover habitação na área central;

2. Estabelecer um plano consistente de ação em favelas e loteamentos irregulares e clandestinos e de melhoria dos conjuntos habitacionais existentes;

3. Manter um conjunto de políticas de atendimento habitacional de interesse social;

4. Garantir uma cidade mais segura e sem acidentes;

5. Garantir uma cidade mais acessível às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida;

Um dos principais propósitos divulgados pela nova gestão era o de estabelecer bases sociais duradouras para enfrentar o problema do déficit de moradia da cidade.

A Secretaria Municipal do Planejamento - SEMPLA apresentou as suas propostas dando destaque à política urbana que se desenharia: “construir nova estratégia de gestão que incida sobre a exclusão territorial e a degradação do ambiente urbano, ampliando a cidadania” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 157), com as seguintes propostas:

Descentralização das oportunidades econômicas e de desenvolvimento humano;

Recuperação do ambiente urbano;

Repovoamento das áreas centrais e urbanização das periferias;

Construção de um pacto pela universidade da cidade e pelo controle social da gestão (ALBUQUERQUE, 2006, p. 157).

A execução de tais estratégias aconteceria por meio da adoção das seguintes políticas:

Indução e controle de uso e ocupação do solo através de estratégias de regulação;

Investimentos diretos em infraestrutura e urbanismo;

Gestão do metabolismo urbano (controle dos fluxos e destinação dos refugos);

Execução de programas sociais e de desenvolvimento econômico; Execução de programas de ampliação da responsabilidade pública e da

cidadania (ALBUQUERQUE, 2006, p. 157).

A direção da SEHAB ficou à cargo do Deputado Estadual Paulo Teixeira e Jorge Hereda, que já trabalhara na gestão de Luiza Erundina e era ligado aos movimentos de moradia, assume a direção da Companhia Metropolitana de Habitação - COHAB-SP.

A Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo – COHAB-SP exerce o papel de agente do Sistema Financeiro de Habitação e sua abrangência é a Região Metropolitana de São Paulo. [...] A função da COHAB-SP é executar os programas habitacionais definidos pelas diretrizes da política habitacional da SEHAB, promovendo a construção de novas unidades para a população de menor renda, com recursos provenientes do Fundo Municipal de Habitação, de convênios com agentes financeiros, como a Caixa Econômica Federal ou outras entidades governamentais, e com a iniciativa privada (SÃO PAULO, 2004, p.09).

A COHAB-SP, que nessa gestão apresentava maior capacidade gerencial, continuou a construção de seus tradicionais conjuntos e retomou os mutirões, “mas em ritmo muito inferior ao do primeiro governo do PT” (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 288).

A gestão 2001-2004 se deu em um momento de transição, a partir da aprovação do Estatuto da Cidade, Lei no. 10.257/2001, pelo Congresso Nacional, sendo este um grande passo para o avanço das políticas habitacionais, regulamentando o direito à cidade e à moradia.

[...] Diferentemente das gestões anteriores [...], a gestão Marta encontrou uma situação muito mais favorável do ponto de vista da legislação. No primeiro ano de seu mandato, mais precisamente em julho de 2001, foi aprovado o Estatuto da Cidade, cuja implementação está prevista no Plano Diretor Estratégico (PDE). A própria gestão reconhece a relevância da aprovação do Estatuto da Cidade e as perspectivas de ação que este instrumento coloca para o poder público na questão habitacional urbana (ALBUQUERQUE, 2006, p. 157).

De acordo com São Paulo (2004, p. 08) o Estatuto da Cidade3 introduziu no país um conjunto de instrumentos jurídicos capaz de dar ao poder público um controle maior sobre as dinâmicas de produção do espaço urbano, no sentindo de garantir o exercício da função social da propriedade e combater o mau uso da propriedade urbana, em especial dos terrenos não utilizados dotados de infraestrutura, geralmente objetos de especulação imobiliária.

Entre os instrumentos do Estatuto, destaca-se as Zonas de Interesse Social – ZEIS, que abrem uma nova possibilidade de ação em favelas, e que definiu “moradia digna” como:

[...] aquela que dispõe de instalações sanitárias adequadas, que garanta as condições de habitabilidade, e que seja atendida por serviços públicos

3 O Estatuto da Cidade estabeleceu, dentre outros instrumentos urbanísticos

destinados a auxiliar o poder público na exigência do cumprimento da função social da propriedade urbana, as Zonas Especiais de Interesse Social – ZEIS, que visam criar condições para a urbanização e regularização fundiária de favelas e loteamentos precários, bem como para a utilização de terrenos e edifícios ociosos, assim como de favelas, atribuindo ao poder público – por meio de dinâmicas participativas – a responsabilidade pelas diretrizes de urbanização e flexibilizando as diretrizes de uso e ocupação, desde que respeitadas as condições dignas de moradia e garantidos parâmetros de desempenho das infraestruturas urbanas (SÃO PAULO, 2004, p. 08).

essenciais, entre eles: água, esgoto, energia elétrica, iluminação pública, coleta de lixo, pavimentação e transporte coletivos, com acesso a equipamentos sociais básicos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 2003).

Pode-se citar também o mecanismo da outorga onerosa e a concessão de uso para fins de moradia. O instrumento tem por objetivo delimitar áreas que mereçam tratamento diferenciado do restante da cidade e que priorizem a construção de moradia para a população de baixa renda (habitação de interesse social – HIS).

Por exemplo, áreas ocupadas (ZEIS 1), como favelas e loteamentos irregulares, podem ser regularizadas sem os limites impostos pela Lei no. 11.775/95, ao mesmo tempo que os cortiços da região central (ZEIS 3) poderão ter tratamento diferenciado. De forma similar, podem ser produzidos incentivos para que as áreas vazias e subutilizadas (ZEIS 2) passem a ter utilização, em especial para habitação de interesse social. (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 287).

A partir destes progressos constitucionais, a prefeita Marta Suplicy pode proceder à regularização fundiária em favelas, desafetou 160 áreas municipais da categoria de bens de uso comum do povo, permitindo que

45,8 mil famílias moradoras de favelas fossem beneficiadas com instrumentos da garantia da posse (FRANÇA, 2009, p. 57).

De acordo com MARQUES E SARAIVA (2005, p. 287), no que diz respeito aos avanços legais, a Lei no. 13.425/02 criou o Conselho Municipal de Habitação – CMH com 48 integrantes, englobando o conselho do Fundo Municipal de Habitação – FMH e tendo composição partidária entre representantes do governo, dos movimentos de habitação e da sociedade civil.

[...] A criação do CMH, em 2003, instituído pela Lei no. 13.425/02, e que tem caráter consultivo, fiscalizador e deliberativo. Contando com representantes do poder público, da sociedade civil e de representantes dos movimentos de moradia, tem por função o estabelecimento, o acompanhamento, o controle e a avaliação da política municipal de habitação, tanto na gestão econômica, social como na financeira referente aos repasses do Fundo Municipal de Habitação (ALBUQUERQUE, 2006, p. 157).

Contudo, a exemplo dos governos anteriores, a maior parte dos recursos disponíveis e as ações de maior visibilidade, como o PROVER e o Bairro Legal, programa habitacional da gestão de Marta Suplicy que visava uma

requalificação urbana em áreas territorialmente definidas em regiões onde predominassem a precarização habitacional e urbana, ficaram fora do controle do conselho (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 161).

Foi também nesta gestão que ocorreu a elaboração do Plano Diretor Estratégico4 de São Paulo, aprovado pela Câmara Municipal em 13 de setembro de 2002, por meio da Lei 13.430. O Plano Diretor Estratégico – PDE, instrumento básico, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, fixa as diretrizes gerais da política de desenvolvimento e de expansão urbana no Município de São Paulo.

Nele está contemplada a criação e a delimitação das Zonas Especiais de Interesse Social bem como a regulamentação, no nível local, dos novos

4 O Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo, aprovado em 2003, delimitou 964

perímetros de ZEIS na cidade de São Paulo, conforme a seguinte definição: ZEIS 1: favelas, loteamentos irregulares e conjuntos habitacionais de interesse social, nos quais podem ser feitas intervenções de recuperação urbanística, regularização fundiária, produção e manutenção de habitação de interesse social; ZEIS 2: terrenos baldios ou subutilizados, nos quais deve ser proposta a produção de moradias de interesse social, equipamentos sociais, culturais, etc.; ZEIS 3: terrenos ou imóveis subutilizados em áreas com infraestrutura urbana, serviços e oferta de emprego (geralmente na região central), nos quais se propõem a produção e reforma de moradias para a habitação de interesse social, assim como de mecanismos que impulsionem as atividades de geração de emprego e renda; ZEIS 4: glebas ou terrenos em áreas de proteção aos mananciais dotados de infraestrutura urbana, nos quais se permite a produção de habitações de interesse social, exclusivamente destinadas à população transferida de áreas de risco e de área de

instrumentos criados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Cidade. A Outorga Onerosa do Direito de Construir, que possibilita um fluxo mais regular de recursos para as políticas urbana e habitacional, através do Fundo de Desenvolvimento Urbano – FUNDURB5 é um dos instrumentos mais importantes (ALBUQUERQUE, 2006, p. 160).

As políticas implementadas deram continuidade tanto às iniciativas constituídas na administração anterior do partido – como os mutirões e a urbanização de favelas – quanto às desenvolvidas pelas administrações Maluf e Pitta – como o Cingapura e o Lote Legal6. De acordo com Albuquerque, a gestão de Marta Suplicy contou com poucos recursos disponíveis para novos investimentos. O número de famílias atendidas pelos programas, foram menos do que o esperado. “O problema, que é muito claro [...], é que os números do déficit habitacional da cidade

5 De acordo com a Legislação do Decreto nº 43.231, de 22 de maio de 2003, o Fundo de

Desenvolvimento Urbano - FUNDURB, de natureza contábil,foi criado pelo artigo 235 da Lei nº 13.430, de 13 de setembro de 2002, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Os recursos do FUNDURB são aplicados com a finalidade de apoiar ou realizar investimentos destinados a concretizar os objetivos, diretrizes, planos, programas e projetos urbanísticos e ambientais integrantes ou decorrentes do Plano Diretor Estratégico, em obediência às prioridades nele estabelecidas.

6 Foi implantado [na administração de Celso Pitta] o primeiro programa amplo de

regularização de loteamentos na cidade – o Lote Legal. [...] O Programa foi implantado em julho de 1997, mas teve as obras começadas apenas em agosto de 1999. O governo finalizou obras em doze loteamentos (2.738 lotes) até 2000, e deixou obras em andamento em outros 17.519. Entretanto, não foram finalizados os processos de regularização jurídica.

requerem uma programação de dez anos e recursos de ordem de 8,6 bilhões” (ALBUQUERQUE, 2006, p. 162).

Assim como foi apresentada no capítulo anterior, a administração de Marta Suplicy deu continuidade, “embora timidamente” (MARQUES E SARAIVA, 2005, p. 289) à construção do Projeto Cingapura – PROVER, Fase IV. Foram entregues oito conjuntos, sendo que o Empreendimento Heliópolis, foi desenvolvido pela COHAB. A gestão encerra-se com 2.668 unidades concluídas (SAMORA, 2009, p. 76-77).

Segundo a Base Cartográfica Digital das Favelas de São Paulo, trabalho elaborado pela Superintendência de Habitação Popular – HABI, da SEHAB, em parceria com o Centro de Estudo da Metrópole e a Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo – PRODAM, no começo da gestão petista, a cidade de São Paulo apresentava 2.018 favelas, com 291.983 domicílios, abrigando 1.160.597 moradores, que representa 11% da sua população morando em favelas (SÃO PAULO, 2004, p. 45).