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Lista de siglas

Capítulo 01: Favelas em São Paulo

2.2. Favela Nova Jaguaré

A favela Nova Jaguaré, popularmente conhecida como Favela do Jaguaré, começou a ser formada no final dos anos de 1950, resultado de sucessivas invasões na área cedida pelo loteamento à Prefeitura do PMSP para se transformar em um parque público, mas que não apresentou monitoramento pelo poder Municipal. O espaço, nunca aproveitado, passou a ser invadido a partir das décadas de 1960 e 1970, com a intensificação da migração para a cidade.

A Figura 2.23 mostra uma foto aérea de 1959, onde se observa o desmatamento e a retirada de terra da área do parque.

A farta oferta de emprego na região e o déficit habitacional formaram um cenário ideal para o início da ocupação dessa área pública. Além das indústrias presentes no bairro, outras vilas se formaram no entorno, crescendo e adensando-se continuamente desde a fundação do Centro Industrial do Jaguaré. “A mancha urbana de São Paulo ‘abraçou’ o bairro do Jaguaré, que passa de um pólo de urbanização para o trecho da cidade e que também faz a conurbação com o Município de Osasco” (PISANI, 2011, s/p.).

O processo de ocupação não se deu apenas por iniciativa popular. Junto aos fatos citados acima, no final da década de 60 a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo - COHAB coloca dezenas de famílias no terreno, em um programa de desfavelamento de outras áreas de habitações precárias próximas abrigou ali algumas dezenas de famílias.

Esta ação encorajou o aumento das invasões e a favela vai se expandindo para as áreas de maior risco, associado a escorregamentos, num processo comum na formação dessas áreas: primeiro se ocupa as áreas melhores para construção, sobre o ponto de vista dos acessos e declividade do terreno e as famílias que chegam a posteriori se apropriam dos espaços remanescentes, ficando com as áreas mais distantes e de maior risco por terem grandes inclinações (PISANI, 2011,s/p.).

Segundo dados da prefeitura de São Paulo (2010), a favela Nova Jaguaré ocupa um terreno de propriedade pública com uma área total de 168.359,9 m². Estima-se que existam aproximadamente 4.070 imóveis nesta favela. Considerada uma das mais antigas e adensadas favelas da cidade de São Paulo, com aproximadamente 750 hab/ha.

A favela Nova Jaguaré trata-se de uma ocupação de encosta íngreme, de solo instável. Apresenta áreas consideradas de alto risco geotécnico,

sujeitas a deslizamentos e solapamentos.

Sobre o crescimento da favela na década de 1960, tem-se que:

[Em 1962] já se apontava a existência de 135 barracos no bairro e a inexistência de rede de esgoto, com farta utilização de fossas negras, muitas vezes de uso comum a várias casas. [...] Em 1968, foram encontrados na área aproximadamente 370 barracos e uma escola de madeira com duas salas de aula. Apontando para o reconhecimento por parte da Prefeitura da existência da favela e início das ações institucionais na área (FREIRE 2006, p. 103).

O mesmo autor (FREIRE, 2006, p. 103) aponta o levantamento de Favelas e Favelados do Município de São Paulo realizado pela Secretaria do Bem Estar Social – SEBES indica 850 barracos instalados na favela do ano de 1973.

De acordo com Pisani (2011) a Favela Nova Jaguaré contava em 1973 com os seguintes equipamentos: ambulatório médico, escola primária, dez quitandas, vinte e um bares, uma barbearia, duas sapatarias, um salão de beleza, duas costureiras, e duas associações: uma religiosa, uma esportiva e uma de cunho reivindicatório. “Estes dados mostram a força e

organização que a comunidade vai atingindo ao longo de duas décadas" (PISANI, 2011, s/p).

Conforme informações coletadas por TASCHNER junto à Associação dos Moradores, em 1978 (apud FREIRE, 2006, p. 103), a favela contava com aproximadamente 3.000 famílias, registrando um crescimento anual de 32,27% sobre as 850 famílias de 1973. Esta taxa de crescimento comparada à da população favelada para o Município de São Paulo no mesmo período (de 25%) pode ser explicada, também, pelas suas vantagens de localização.

A partir dos arquivos da Prefeitura a Favela Nova Jaguaré foi uma das primeiras áreas a receber o abastecimento de água potável e energia de forma coletiva no Município de São Paulo. Esta concessão fez com que a Favela atraísse novos moradores, tendo um adensamento intenso, dentro dos padrões das construções precárias existentes e das vielas e escadarias estreitas (PISANI, 2011, s/p.).

As figuras 2.24 e 2.25 mostram, respectivamente, imagens aéreas dos anos de 1968 e 1977, onde se observa o crescimento populacional e territorial no período.

Figura 2.24: Jaguaré em 1968.

Fonte: VAPS Aerofotometria SA apud FREIRE, 2006

É interessante notar na foto aérea de 1977 que a favela já ocupa toda a extensão do antigo parque, com exceção do campo de futebol no extremo sul da área, portanto todo o acréscimo populacional a partir desta data é feito através do adensamento das áreas já ocupadas, ou seja, da ocupação de espaços intersticiais e da verticalização das construções.

Na década de 1970, segundo a PMSP (1974), 96,7% das unidades habitacionais da Favela Nova Jaguaré eram feitas de madeira e apenas 0,4 % de alvenaria. Esse quadro vai sistematicamente se transformando e a porcentagem de residências de alvenaria é de 50% nos anos 1980, predominando a partir dos anos 1990.

Na década de 1980, a desindustrialização atingiu a região, que perdeu grande parte de suas empresas. Nesta data, parte do local recebeu redes de abastecimento de água e energia elétrica.

É também na década de 1980 que ocorre um dos acidentes, relacionado à escorregamentos, de maior vulto no Município de São Paulo, em julho de 1983, durante a gestão de Mario Covas (1983-1985).

e outros órgãos da PMSP removeram a população para um galpão próximo cedido pela CEAGESP- Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo. As [65] famílias que voltaram às áreas que se encontravam anteriormente foram notificadas pela Prefeitura de São Paulo sobre o alto risco, porém não abriram mão de ficar no mesmo local, tendo que reconstruir seus barracos próprios, pois não aceitaram a oferta dos órgãos públicos de serem removidas. Os vínculos empregatícios, de educação, lazer e relações pessoais com o local foram mais fortes que o perigo constante de acidente (PISANI, 2011).

Em 1987 a comunidade recebe os serviços de luz e água individuais, uma reivindicação antiga da União dos Moradores, legalmente constituída e muito atuante.

A localização da favela Vila Nova Jaguaré, em frente a Marginal Pinheiros e próximo a importantes vias de circulação, e sua visibilidade, resultou na precisão de inúmeros projetos e obras promovidas pela administração pública, sendo:

Gestão de 1983-1985 – Mário Covas: obras de drenagem e retaludamento;

hidráulica; obras de drenagem e retaludamento;

Gestão de 1993 – 2000 – Paulo Maluf e Celso Pitta: construção dos empreendimentos do Prover Nova Jaguaré I e II, com a implantação de 10 edifícios com 20 unidades habitacionais cada, na Rua Três Arapongas e outros três edifícios na Rua Barão de Antonina, esquina com a Marginal;

Gestão de 2001 – 2004 – Marta Suplicy: obras de contenção, retaludamento e drenagem; licitação dos conjuntos do programa Bairro Legal;

Gestão de 2001 – 2011 – José Serra e Gilberto Kabbab: construção dos conjuntos do Bairro Legal, Kenkiti Shimomoto e Residencial Alexandre Mackenzie.

E quando o primeiro começa Os outros depressa procuram marcar

Seu pedacinho de terra pra morar E assim a região sofre modificação