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Considerações sobre o momento peculiar das universidades estaduais do Paraná durante a coleta de dados

8 DESCRIÇÕES E ANÁLISES DA PESQUISA

8.1.8 Considerações sobre o momento peculiar das universidades estaduais do Paraná durante a coleta de dados

Como foi noticiado no Carta Capital (2015), no período desta pesquisa de campo, o Paraná viveu uma crise sem precedentes. Com uma dívida vencida junto a fornecedores que superava 1,6 bilhões de Reais, para cobrir o rombo do estado adotou-se medidas impopulares, como elevar impostos em mais de 95 mil itens, propor o fechamento de 2,2 mil turmas de alunos em escolas estaduais e dispensa de 33 mil servidores temporários.

Com a crise, a Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público – APIESP, em defesa dos servidores e das universidades estaduais do Paraná, promoveu tentativas de negociação junto a representantes do governo sem conseguir avanços em seus esforços de negociação e de pressão (APIESP, 2015). O Presidente desta associação, em matéria publicada em portal de notícia no dia 23 de fevereiro de 2015, declarou que se o governo não repassasse R$ 124

milhões referentes a despesas de custeio, quatro das sete universidades estaduais poderiam fechar as portas antes mesmo do início do ano letivo, tendo em conta que tais recursos são direcionados para pagar despesas como limpeza, manutenção, vigilância e conta de energia elétrica (BOL, 2015).

Manifestos voltados a negociações incluíram docentes das universidades estaduais do Paraná (GAZETA DO POVO, 2015a), contribuindo para a sensibilização com a crise do estado do Paraná por parte da equipe destas IES, como transparece em trechos de entrevistas apresentados durante as análises deste estudo. Em adição, este não é um fato isolado nem inédito. Conforme Chauí (2001) já apresenta, nas universidades brasileiras existem discussões sobre a necessidade de defender as universidades públicas como um direito democrático. Um Pró-Reitor de Planejamento destacou apoio da comunidade local, neste sentido:

Tanto que no início desse ano, quando teve aquele problema lá que faltou o recurso de manutenção e que surgiu a ideia de: “Não, se nós não tivermos o recurso, nós vamos ter que fechar”. A comunidade, sim surgiu, apoiou integralmente: “Não, a universidade não pode fechar”. Por quê? Porque é o patrimônio da comunidade.

Em função das medidas, houve greve em todas as universidades estaduais do Paraná por um período aproximado de dois meses, até as sete universidades estaduais do Paraná optarem por suspendê-la, no decorrer da semana de 22 e 26 de junho (GAZETA DO POVO, 2015b), marcando o período desta pesquisa de campo. As entrevistas foram viabilizadas por terem sido previamente agendadas bem como por gestores e funcionários, docentes ou não, mesmo em greve, comparecerem às instituições. Cabe ressaltar, portanto, que há uma percepção generalizada sobre a influência da crise do estado nas equipes de todas as sete universidades, conforme exemplificam os relatos auferidos nas respectivas IES:

A) UENP

“Então, eu acredito que isso é um grande enfrentamento dos gestores das universidades públicas, [...] Temos que lembrar porque sua Tese vai ficar por muito tempo, não é? Fica na história.”

B) UNICENTRO

Houve uma conjugação de esforços muito bacana agora no meio do mês de Fevereiro e março por conta do risco do fechamento das portas da universidade. O Governo sinalizou que não faria mais o repasse de verba de custeio. Olha, sendo uma instituição pública, sem a verba de custeio não tem como funcionar, até porque a nossa universidade é nova e não tem fontes próprias de custeio. Então, ela não teria como sequer comprar cartucho de tinta, papel, papel higiênico, luz e tal. Então, a sociedade toda se uniu em torno da universidade, não só a comunidade interna, mas a sociedade externa também se reuniu e houve um movimento muito bacana no município em defesa da universidade.

C) UEL

“De alguma forma a gente tem que responder a essas questões ambientais, ou essas pressões que acontecem. O exemplo mesmo, essa questão da greve.”

D) UEM

A indefinição do governo. Eu sempre digo assim: Se o governo dissesse o que ele quer, nós nos posicionaríamos a favor ou reagiríamos contra, não é? [...] interfere fortemente na universidade. E) UNIOESTE

O que nós estamos vivendo hoje é a questão da greve. Então, existe uma pressão em relação ao retorno das atividades ou até a manutenção da greve. Então, muitas vezes nós ficamos meio que jogados nesse meio de jogo político.

Você vê, a gente está saindo agora de um período de greve que foi bastante desgastante; tem as pressões políticas; a própria sociedade, a própria comunidade que às vezes não entende as razões, e como funciona uma instituição pública. Então eu acho que várias pressões externas interferem nesse ambiente de universidade. E acho que a política é uma das mais fortes.

G) UEPG

“Uma fragilidade nossa é a interferência externa do governo do estado, do governo federal [...]. Esses são pontos frágeis nossos que foram colocados e foram elencados pelas pessoas.”

Como está ao final desta última citação, esses pontos “foram colocados e foram elencados pelas pessoas”, indicando que estas percepções ora expostas são representativas da situação percebida pela comunidade acadêmica, influenciando o conteúdo de alegações que seguem de agora em diante.

8.2 PRÁTICAS DE PROCESSOS DE PLANEJAMENTO

ESTRATÉGICO QUE PODEM CONTRIBUIR PARA A

LEGITIMAÇÃO DA GESTÃO DE UNIVERSIDADES

Seguindo a estrutura do modelo de processo de Planejamento Estratégico de Pereira (2010), são apresentadas práticas desse processo que contribuem para a legitimação de universidades e relações que indicam como ocorrem as contribuições nesse sentido. Os tópicos que seguem são organizados com base na sequência do modelo de Pereira (2010), para a sistematização da análise dos dados.

Em concordância com Suchman (1995), a legitimação tanto é atribuída de modo pragmático, a partir de julgamentos, se determinada atividade beneficia o indivíduo que a analisa, como de modo moral, ou seja, no julgamento se determinada atividade é o certo a se fazer. O comportamento de gestores das universidades estaduais do Paraná, a partir do processo de Planejamento Estratégico, importa para legitimá- los em função dos julgamentos que a equipe fará das atividades propostas por estes gestores, uma vez que estão todos envolvidos em um processo de exposição das pessoas, tornando mais visíveis suas