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CONSIDERAÇÕES SOBRE A CORRENTE PARADIGMÁTICA DOMINANTE NO CAMPO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

2 LEGITIMAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES

A) A primeira fonte de legitimação, endossamento, sugere “que membros individuais da equipe percebem o apoio ao

3 O PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E LEGITIMAÇÃO

3.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A CORRENTE PARADIGMÁTICA DOMINANTE NO CAMPO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Tão útil quanto diagnosticar os principais autores de um campo de pesquisa para valer-se de suas obras no estabelecimento de um novo

modelo teórico é perceber características paradigmáticas de suas construções teóricas. Este subitem oferecerá levantamentos comparativos de estudos bibliométricos que já diagnosticaram os principais autores, contribuindo para justificar a decisão dos mesmos serem aqui considerados, bem como apresentar particularidades epistemológicas do campo científico do Planejamento Estratégico.

Silva et al. (2013d) demonstraram que, a exemplo do que vem ocorrendo com os estudos no campo da Administração, o conhecimento teorizado sobre Planejamento Estratégico surgiu e foi tratado por seus autores a partir de um mesmo paradigma. Foram avaliados trabalhos dos principais autores na área, ou seja, autores que são considerados na comunidade científica como influentes no campo a partir de seus trabalhos, com base em levantamentos realizados por Bignetti e Paiva (2002) e por Rodrigues Filho (2004), indicando, inclusive, aqueles autores que, além das indicações destes levantamentos, são de notória aceitação na área do Planejamento Estratégico, os quais, portanto, tiveram suas contribuições consideradas para a consecução do objetivo aqui proposto.

Sobretudo chamou-se atenção para Porter e Mintzberg, enquanto os dois principais autores do Planejamento Estratégico, apontados em consenso entre levantamentos de Bignetti e Paiva (2002), de Rodrigues Filho (2004) e, o mais recente, de Roczanski et al. (2010), demonstrando a frequência de citações em trabalhos publicados no Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração - ENANPAD em determinado período.

Nossa construção foi além da restrição às opiniões e publicações de autores citados no parágrafo anterior, tendo em conta as múltiplas contribuições existentes no campo científico, incluindo autores nacionais que já publicaram centenas de artigos na área, como exemplo o Professor Doutor Maurício Fernandes Pereira, cujos estudos apresentam ampla difusão, presentes em anais e periódicos do Brasil e do exterior (CNPQ, 2013), além do elevado prestígio, considerado a partir da quantidade de acessos e downloads de seus estudos (SPELL, 2014a).

Porter e Mintzberg têm sua relevância enquanto referência de pesquisa em Planejamento Estratégico em número de citações, conforme o levantamento apresentado conforme levantamento realizado por Bignetti e Paiva (2002), e ressaltada por manterem-se à dianteira em outros levantamentos realizados em outros momentos posteriores, transparecendo sua consagração enquanto autores clássicos da área. Ao

se questionar a atualização destes autores, pode-se perceber a manutenção deste ranque nos anos seguintes. Corroborando com Bignetti e Paiva (2002), outros levantamentos posteriores apontam resultados semelhantes como os efetuados por Rodrigues Filho (2004) e o mais recente encontrado, de Roczanski et al. (2010), que também apontam Porter e Mintzberg, como os dois principais autores de referência, nesta ordem exata de importância, além de constarem Ansoff, Hammel, e Prahalad entre próximos 4 autores, na sequência, mais citados na literatura acerca do Planejamento Estratégico. Ainda conforme Roczanski et al. (2010), Porter e Mintzberg são reconhecidos tanto pela academia quanto por praticantes como os principais pensadores do Planejamento Estratégico.

Percebe-se, a partir da construção teórica destes autores, que o campo científico está inserido em um contexto social no qual são produzidas as pesquisas e, como não poderia deixar de ser, elas são feitas carregando características não apenas conceituais, mas determinantes do modelo estabelecido de se construir ciência no campo do Planejamento Estratégico. São considerados aspectos presentes no campo científico que refletem, direta ou indiretamente, a base social da qual elas surgem. A considerar, a priori, o poder de dominação na produção de conhecimento. Em segundo, a credibilidade do campo científico perante a sociedade e, por último o acúmulo do “capital social” decorrente dos avanços na ciência promovido por tais autores demonstrando o prestígio dos mesmos na área em que atuam (SILVA et al., 2013d).

Considerando-se as características da sociedade em dias atuais, valorativa do utilitarismo e do pragmatismo, a tendência de valorizar, no campo da teoria administrativa, o que funciona é uma consequência lógica. Aquilo que funciona tende a ser acompanhado de um conteúdo prescritivo. A produção científica atuante sob esta base epistemológica tende a ser assimilada pelas organizações, inclusive no campo da estratégia, bem como pelos consultores, por estes valorizarem a dimensão normativa, inclusive, por questão de sobrevivência. A valorização do pragmatismo e o interesse das organizações por uma ferramenta para consecução de resultados foram fatores intervenientes para a disseminação de ferramentas administrativas, como o Planejamento Estratégico (MACHADO-DA-SILVA; VIZEU, 2007). Por outra via, há de se considerar que relações deste ambiente técnico apresentam efeitos diretos de legitimação no desempenho da organização quando melhora a legitimação das organizações junto a

seus parceiros, inclusive junto a agências de fomento (OLIVER, 1997), revelando a factibilidade em se tratar sobre a legitimação a partir da produção e entendimentos do campo do Planejamento Estratégico.

As teorias produzidas não apresentam uma transposição linear- racional para a prática, pois além das lógicas de produção de conhecimento devem ser considerados diferentes níveis de acesso e interpretação sobre o conhecimento teorizado. De alguma forma este conhecimento chega à organização e permite institucionalizar formas de agir e pensar (MACHADO-DA-SILVA; VIZEU, 2007), interferindo, inclusive na percepção que funcionários podem ter de seus gestores. Assim, a legitimação também é construída por filtros cognitivos pautados no conhecimento teórico acessado, interpretado e assimilado pelos indivíduos da organização.

Propor uma nova função para o Planejamento Estratégico incorre em inovação. Quando é almejada ampliação de legitimação da gestão a partir do Planejamento Estratégico, inova-se em processos e em discussões teóricas, requerendo um respaldo científico para sustentar os preceitos envolvidos na construção desta inovação. Neste sentido, considerar o modus operandi da corrente dominante de pesquisas na área diz respeito à legitimação da própria inovação. Para Suddaby e Greenwood (2005), nos estágios iniciais da inovação, sua legitimação baseia-se em sua compreensibilidade, ou na proporção em que seus atributos estão correlacionados com a lógica institucional dominante.

É de praxe da corrente dominante desta área os conhecimentos serem produzidos de maneira verificável e inspecionada, podendo os resultados dos esforços deste campo serem sentidos nas diversas camadas da sociedade e não apenas pela classe dominante. Tais autores, enquanto cientistas, comprometidos com a construção do conhecimento e consequente melhoria da vida humana, são grandes reconhecidos contribuintes dos benefícios que aprimoram as sociedades. Sendo assim, mesmo muitas vezes tendo os avanços no conhecimento sido de maneira errônea direcionados contra a sociedade por terceiros, como em guerras, esses avanços não são atribuídos apenas aos cientistas que não o fazem com este intuito, ou tem-se que os benefícios apresentados superam em grande magnitude as desvantagens ocasionadas pelos pormenores depreciativos do processo de construção da ciência. Evidenciam-se também pontos fortes da literatura existente de forma a ser reconhecido o avanço proporcionado até então a partir do acúmulo de conhecimento na área e sua eficiência em registrar e aperfeiçoar práticas administrativas estratégicas contribuindo ao desenvolvimento

encontrado na área maior da Administração até o presente (SILVA et al., 2013d).

Nesta literatura, também é possível observar a objetividade com relação às avaliações quantitativas. Conforme mencionado por Malinowski (1970), o funcionalismo tem seu foco em entender a natureza de fenômenos puramente ditos, ou seja, livres de manipulações especulativas, busca tratar os fatos de forma indutiva para que se possam produzir generalizações válidas.

Nesta corrente dominante, observa-se concordância e sinergia entre os autores, respaldando a construção teórica a partir de certo “avalizamento” por seus pares das teorias desenvolvidas, aumentando as probabilidades da acurácia dos modelos propostos. Entre estes modelos que são considerados para o objetivo desta investigação científica, as forças competitivas de Porter (1991), aceito e discutido por demais autores da área como Mintzberg e Quinn (2001), Ghemewat (2000) e Pereira (2010), está exposto doravante a partir de uma análise comparativa junto a isomorfismos institucionais.