• Nenhum resultado encontrado

O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador do açaí, bebida símbolo do país, rica em gorduras mono e poliinsaturadas, em fitosteróis e fibras, produzida a partir dos frutos do açaí. A bebida extraída da fruta é normalmente comercializada à temperatura ambiente ou então na forma congelada (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008). A Euterpe oleracea (açaí) é uma fruta típica da região Amazônica largamente consumida no Brasil e exportada para muitos países da Europa, Ásia e Américas. Estudos químicos revelam que a Euterpe oleracea é rica em antocianinas e em vários polifenóis (DEL POZO- INSFRAN; BRENES; TALCOTT, 2004; RODRIGUES et al.,, 2006; METENS-TALCOTT et al., 2008; CHIN, 2008; SANTOS, 2008). Alguns estudos demonstram que promove melhora da função endotelial além de aumentar a biodisponibilidade do óxido nítrico e a liberação do fator hiperpolarizante derivado do endotélio (ROCHA et al., 2007). Apresenta na sua composição ácidos graxos de boa qualidade (60% monoinsaturado e 13% poliinsaturado), e é também rico em fibras e vitamina E (EMBRAPA, 2006). Recentemente, alguns benefícios da Euterpe oleracea no perfil lipídico foram demonstrados num estudo envolvendo ratos hipercolesterolêmicos (DE SOUZA et al., 2010). Apesar de todos esses aspectos interessantes, seus efeitos no metabolismo lipídico e na aterosclerose são muito pouco conhecidos.

O açaí ocorre predominantemente na região Norte, e entre os estados mais valorizados produtores de açaí podemos citar o Pará, o Maranhão, o Amapá, o Acre e Rondônia, sendo o primeiro, responsável por 95% da produção, calculada em 100 a 180 mil litros/dia em Belém (HOMMA; FRAZÃO, 2002; OLIVEIRA et al., 2002; MENDES, 2003). Atualmente sua expansão econômica, já atinge novos mercados, no próprio país (sudeste) e até mesmo em alguns países da Europa, Estados Unidos, Japão e China (SOUTO, 2001; SILVA, 2002).

O açaizeiro (Euterpe oleracea) destaca-se na rica floresta amazônica, como sendo a palmeira mais produtiva desse estuário, tanto em frutos como em gêneros derivados, sendo o fruto o principal produto oriundo da palmeira. Faz parte da família das palmáceas (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008). Esta palmeira brasileira é uma

planta que se desenvolve próxima aos ribeirões, rios, igapó, várzea e nas matas de terra firme, e com menos freqüência, em terrenos mais afastados e locais pantanosos (figura 2). É uma palmeira delgada e alta que pode atingir uma altura de 20 a 25 metros. O açaizeiro apresenta farta perfilhação e alcança, no estado nativo, cerca de 20 palmeiras por "touceira" (das quais pelo menos três em produção). Cada touceira produz entre 6 e 8 cachos com 2,5 kg cada um, representando de 15 a 20 quilos de frutos por palmeira (em duas safras) e de 12 a 25 toneladas de frutos/ano. Os troncos são lisos, roliços, longos, de cor clara, sem espinhos. A palmeira do açaí apresenta folhas grandes, compridas e recortadas em tiras, de cor verde-escura, atingindo até 2 metros de comprimento. As folhas são usadas na cobertura das casas (MATTOS, 1993). A frutificação mais intensa do Euterpe oleracea é de outubro a janeiro (MENEZES; TORRES; SABAA-SRUR, 2008).Os frutos são pequenos, redondos, roxos, quase pretos e agrupados em

Figura 2: Palmeira do açaí

cachos pendentes. Tem um caroço grande e polpa muito fina (figura 3). O fruto é colhido subindo-se na palmeira com o auxílio de um trançado de folha amarrado aos pés (a peçonha).

O principal produto oriundo do fruto é uma bebida de consistência pastosa, denominada açaí. A consistência pastosa da bebida é devido aos elevados teores de amido (9,30%) e pectina (0,67%) encontrados na parte comestível do fruto. São necessários cerca de 2,5 quilos de frutos maduros para a produção de um litro de suco de açaí. De cor arroxeada, a bebida é

assim extraída: colocam-se os caroços do açaí de molho na água para amolecer a casca fina que os reveste, em seguida os caroços são amassados com certa quantidade de água e com o auxilio de pequenas despolpadeiras (Figura 4), originando assim o extrato de açaí (Figura 5), seu armazenamento se faz em pequenos sacos plásticos lacrados. (EMBRAPA, 2006).

No Estado do Pará existe um consumo extremamente elevado desta bebida que é rica em fibras, fitosteróis, ácidos graxos mono e poliinsaturados e antioxidantes (DEL POZO-INSFRAM; BRENES; TALCOTT, 2004). Segundo Rogez, o açaí possuí, em grande quantidade, o mesmo corante presente nas uvas, a antocianina e, segundo o pesquisador, um litro de açaí médio (entre a consistência fina e grossa) contém 33 vezes mais antocianina que um litro de vinho tinto “francês”. Na região, esta fruta é muito consumida sob a forma de “suco” ou “vinho”, sorvetes, cremes, geléias e etc. (ROGEZ, 2000).

Alguns estudos sugerem vários benefícios à Euterpe oleracea (açaí), dentre eles podemos citar a sua ação vasodilatadora, anti-hipertensiva, antiinflamatória, sua ação na redução dos fatores de risco e nas desordens metabólicas como sugeriu

Figura 4: Açaí sendo despolpado

Oliveira, que realizou um estudo em que induziu a síndrome metabólica em ratos e observou que no grupo alimentado com a Euterpe oleracea houve uma redução da Síndrome metabólica (de OLIVEIRA et al., 2010). Um estudo realizado por Udani, também observou redução nos fatores de risco para síndrome metabólica ao alimentar 10 adultos que apresentavam sobrepeso, com 100g de Euterpe oleracea ao dia por um período de 30 dias e observou que ocorreu redução dos níveis dos marcadores de risco selecionados para síndrome metabólica (UDANI, et al., 2011). Noratto também sugeriu uma possível ação anti-inflamatória da Euterpe oleracea num estudo realizado em que observou uma inibição da expressão das moléculas de adesão e da atividade do NF-kB, por diminuírem a proteína ICAM-1 e a PECAM - 1 (NORATTO et al.,2011).

Apesar de possuir um alto teor de gordura, 66% destas gorduras são monoinsaturadas, que são gorduras benéficas ao organismo porque diminuem os níveis de colesterol LDL e ajudam a aumentar os níveis de colesterol HDL, auxiliando, assim, na proteção do sistema cardiovascular (HORTON;

KUTHBERT;SPADY, 1993; SESSIONS; SALTER, 1995). Segundo as

recomendações nutricionais atuais o perfil ideal é 50% de ácidos graxos monoinsaturados, máximo de 33% de ácidos graxos saturados e 17% de poliinsaturados. No açaí temos a seguinte proporção de gorduras: 60% de gorduras monoinsaturadas, 13% poliinsaturados e < 3% de saturadas. (EMBRAPA, 2006; NEPA-UNICAMP, 2006).

O açaí contém 60% de ácido oleico, 22% de ácido palmítico, 12% de ácido linoléico e quanto aos fitosteróis um número recente do Journal of Agricultural and Food Chemistry, publicou uma pesquisa realizada com 12 voluntários saudáveis que consumiam o suco de açaí diariamente. De acordo com a pesquisadora responsável, Dra. Susanne Talcott, o açaí é pobre em açúcares e em sua visão, os benefícios são tantos que a fruta pode ser considerada uma "mistura de vinho tinto e chocolate". O estudo conduzido na Univesidade do Texas conseguiu mostrar que os antioxidantes (antocianinas e vitamina C) do açaí são muito bem absorvidos, o que pode contribuir para a prevenção de muitas doenças e condições como o câncer, os problemas cardiovasculares e o envelhecimento precoce (DEL POZO-INSFRAN; PERCIVAL; TALCOTT, 2006). Outros estudos, também referem importantes propriedades antioxidantes da Euterpe oleracea (METENS-TALCOTT et al., 2008; PACHECO-PALENCIA; MERTENS-TALCOTT; TALCOTT, 2008).

O açaí em si é uma fruta de grande valor energético e rico em valores nutricionais e até mesmo funcionais, então a sua ingestão deve ser o mais natural possível e em substituição a pequenas refeições. pois, como vimos na constituição do açaí a concentração de fibras alimentares totais é notavelmente elevada (em torno de 30g/100 g de matéria seca), lipídios totais em torno de 48g / 100g e as antocianinas em torno de 1.28 g em 1 litro de açaí do tipo médio, ou seja 1% da matéria seca. As fibras têm um papel muito importante na regulação do transito intestinal, sendo sua ingestão diária recomendada de cerca de 35g / adulto. A população do Pará consome esta fruta diariamente e em grande quantidade, portanto, atingindo facilmente essa cota, pois 1 litro de açaí do tipo médio contém 31,5 g de fibras alimentares totais, o que corresponde a 90% da recomendação diária, podendo o açaí realmente ser considerado uma excelente fonte de fibras e de lípides, pois, representam cerca de 90% das calorias contidas nessa bebida. Logo, o consumo de açaí permite assegurar um bom aproveitamento em ácidos graxos mono e poliinsaturados, de antioxidantes (flavonóides) e também de proteínas (12,6 g em 1 litro de açaí médio), sendo o valor nutricional muito semelhante ao do ovo (EMBRAPA, 2006). O Açaí é também uma importante fonte de fitoesteróis e apresenta a seguinte proporção: Sitosteróis (78%), stigmasterol (6.5%), campesterol (6.0%), avenasterol (6.5%) e colesterol (2.0%). (LUBRANO; ROBIN; KHAIAT, 1994; LEEDES; HUSSAIN, 1998; SILLBERBERG, 2000; COOK-FULLER, 2000; ROGEZ, 2000; RODRIGUES et al., 2006; SCHAUSS et al., 2006; PACHECO-PALENCIA; MERTENS-TALCOTT; TALCOTT, 2008; CHIN et al., 2008; METENS-TALCOTT et

al., 2008).

Segundo Rocha, o Euterpe oleracea Mart. melhora a função endotelial, provavelmente por aumentar a vasodilatação endotélio dependente, assim como a biodisponibilidade do óxido nítrico e do fator de hiperpolarização derivado do endotélio (ROCHA et al., 2007).

Recentemente, foram relatados alguns benefícios do Euterpe oleracea nos biomarcadores do estresse oxidativo e no perfil lipídico de ratos hipercolesterolêmicos induzidos experimentalmente (de SOUZA et al., 2010). Em outro estudo semelhante, foi observado melhora dos componentes da síndrome metabólica (de OLIVEIRA et al., 2010).

2. OBJETIVOS

Documentos relacionados